sexta-feira, 18 de outubro de 2024

ASSASSINATO DE SINWAR: UM GRANDE LEGADO DEIXADO VIVO QUE ALIMENTARÁ A RESISTÊNCIA ARMADA PALESTINA 

Sinwar caiu em pleno combate nas ruas e vielas de Gaza, não estava escondido nos túneis do Hamas ou exilado no Catar, desta forma de “peito aberto” para enfrentar os sionistas colocou em dúvida a suposta superioridade israelense em termos de “inteligência militar”. 

Yahya Ibrahim Hassan al-Sinwar, de 62 anos , também conhecido como Abu Ibrahim, nasceu em Gaza em 1962, numa época marcada pela repressão, toques de recolher, prisões, interrogatórios e ocupação militar israelense. Desde jovem, Sinwar se sentiu profundamente conectado com a juventude islâmica de Gaza.

Em 1973, ainda adolescente, durante a Guerra do Yom Kipur, apoiou a nova ação árabe de enfrentar militarmente Israel. Entretanto viu suas esperanças de vitória se desmoronarem, especialmente quando o presidente egípcio Anwar Sadat foi para o parlamento israelense em busca da “paz”.  Sinwar considerou este ato como uma traição à causa Palestina.

Em dezembro de 1987, ocorreu em Gaza a Primeira Intifada, um levante popular contra a ocupação israelense que rapidamente se estendeu à Cisjordânia. No período seguinte, o xeique Ahmed Yassin, líder islâmico influente e membro dos irmãos muçulmanos, reuniu-se com seus colaboradores no campo de refugiados de al-Shati, em Gaza. Após discussões acaloradas, o Hamas foi fundado como alternativa islâmica a OLP, com o objetivo de destruir o enclave de Israel. Na redação de sua carta fundacional, acusa o estado israelense de “nazismo judeu”.

Sinwar foi o fundador do aparelho de segurança de Hamas, conhecido como Mujd, e se tornou um dos líderes mais veteranos do Movimento. Há menos de um ano assumiu a Secretaria Geral do Hamas após o covarde assassinato de Ismail Haniyeh no Irã. Israel considerou Sinwar o principal responsável pelo ataque (Dilúvio) de 7 de outubro, sua “eliminação” foi  considerada um dos objetivos prioritários para os terroristas judeus. Desde o seu início, o Hamas se comprometeu com a Jihad , uma luta tanto espiritual quanto militar para o povo palestino.

Em fevereiro de 1999, Sinwar, então com 36 anos e cumprindo uma condenação de quatro penas perpétuas em uma prisão do deserto de Néguev, confessou ter planejado, desde o cárcere, o sequestro de um soldado israelense um ano antes. Embora o plano não tenha sido concretizado, seu objetivo era libertar 400 presos palestinos. Esta operação foi orquestrada junto com seu companheiro de cela, Mohammad Sharata, um comandante do Hamas que cumpria uma condenação de longa duração pelo sequestro e assassinato de soldados israelenses. Este episódio destaca a capacidade de Sinwar de influenciar e dirigir operações da Resistência desde a prisão, uma verdadeira "universidade" para aprender o idioma, a psicologia e a história do inimigo sionista.

Como muitos outros prisioneiros palestinos, Yahya Sinwar aproveitou seu tempo no círculo israelense para aprender hebraico com perfeição. Lia jornais israelenses, ouvia a rádio em hebraico e estudava livros de teóricos sionistas e políticos israelenses. Embora estivesse encarcerado, Sinwar se preparava constantemente para o dia de sua libertação, com o objetivo de fortalecer a Resistência. Na prisão, continuou sua luta e se consolidou como líder.

Para os prisioneiros palestinos o cárcere não é apenas um lugar de punição, mas também uma oportunidade para conhecer melhor a sociedade israelense e fortalecer a coesão interna. Nesse sentido, o próprio Sinwar reconheceu anos depois , em uma entrevista para a mídia árabe que: “A prisão te forma, especialmente se você for palestino, porque só você conhece outros palestinos, tem tempo para falar e refletir sobre o preço que está disposto a pagar”.

Em 2006, combatentes do Hamas iniciaram uma operação a partir de um túnel em Gaza, infiltrando-se em uma base militar israelense em Kerem Shalom. Durante a incursão, a Resistência matou dois soldados e capturou Gilad Shalit, um cabo israelense de 19 anos. Apesar do intenso debate interno em Israel sobre se valeria a pena intercambiar a Shalit por prisioneiros palestinos, finalmente, em 2011, foi aprovada uma troca de mais de mil palestinos, entre eles estavam Sinwar e seu companheiro de prisão, Mohammad Sharata.

Após sua libertação, Sinwar assumiu rapidamente a liderança de Hamas em Gaza. Em 7 de outubro de 2023, junto com Mohammed Deif, comandou a Operação “Dilúvio de Al-Aqsa”, considerada o ataque militar mais devastador contra Israel em 50 anos. Desde então, Sinwar se converteu no principal objetivo do exército israelense. Em uma entrevista, Sinwar reconheceu a capacidade militar de Israel, mas concluiu que não poderia depender dessa superioridade para sempre. Segundo ele, em 20 anos, Israel ficou debilitado, e esse seria o momento ideal para lançar um ataque letal e definitivo.

O ataque de 7 de outubro de 2023, cuidadosamente planejado por Sinwar, coincidiu com o Shabat e a festividade de Simjat Torá, nos últimos dias das principais celebrações otonais em Israel. Nos primeiros dias, o impacto foi tão devastador que causou temores sobre um possível colapso do país. Nenhum evento nos 75 anos da história de Israel foi minado tanto no sentido de segurança e superioridade militar como esse ataque da Resistência Palestina.

Depois da morte de Yahya Sinwar, não se deve esperar uma mudança significativa na direção do Hamas. Sinwar estava à frente dos destacamentos de rua da Resistência e estava consciente que sua vida estava correndo perigo. Novos quadros da Resistência estavam se formando no exemplo vivo de Sinwar, seu legado “adubava” o crescimento de centenas de novos dirigentes. A organização Hamas simboliza hoje a legítima resposta palestina contra a colonização sionista, a partir de uma perspectiva da ação direta das massas. Na verdade, a morte de Sinwar não proporcionará “maior segurança a Israel”, como cinicamente afirmou o genocida Biden e a cadela Kamala. Para cada dirigente como Sinwar, Haniya ou Nasralá que Israel “eliminou”, uma nova geração de valorosos líderes anticoloniais surgirá nos territórios da ocupação sionista.