AONDE VAI O GRUPO DE VALÉRIO ARCARY? DECOMPOSIÇÃO IDEOLÓGICA APONTA O RUMO DA SOCIAL DEMOCRACIA
Analisar a trajetória de Valério Arcary e seu grupo revisionista desde que saíram do PSTU em 2016 até a atual posição que adotaram no 2º turno das eleições municipais brasileiras de 2024 é uma tarefa inglória porém precisa ser feita pelos Marxistas Revolucionários na busca de uma rigorosa delimitação político-programática com estes filisteus que ainda ousam “nos dias de festa” utilizar o nome de Lênin e Trotsky para justificar as enormes capitulações que operam no interior da Frente Ampla burguesa comandada pelo Lulopetismo, um processo de rápida decomposição ideológica rumo a Social Democracia.
Comecemos analisando as posições mais recentes do grupo de Arcary a fim de que os leitores do Blog da LBI tenham a dimensão completa do grau de involução política e ideológica para não falar diretamente da corrupção material do outrora MAIS, atual Resistência (PSOL). No artigo “A batalha do 2° turno contra a extrema-direita” (18/10), o Editorial do Esquerda OnLine (EOL) expressa literalmente a linha oficial do Lulopestismo, ou seja, votar nas candidaturas da Frente Ampla e onde ela não estivesse disputando diretamente dever-se-ia apoiar “direita não Bolsonarista” (PSD, UB, MDB, PP...) Com esse engodo político justifica-se em nome de “combater o fascismo” fazer todo tipo de alianças burguesas. Em resumo, o grupo de Valério Arcary (então MAIS) que saiu do PSTU por criticar a posição da LIT de não se posicionar contra o golpe institucional contra Dilma (PT), alegando que se tratava de uma aliança com a direta, acabou por agora em 2024 abraçar eleitoralmente os candidatos da própria direita que dizia combater!
Não por acaso, o texto de EOL declara “O resultado do 2° turno será decisivo para o balanço geral dessas eleições. Por isso, até o dia 27 de outubro, a tarefa fundamental é a batalha eleitoral contra o bolsonarismo. Nas ruas e nas redes, é hora de fortalecer as candidaturas de esquerda, lutando por cada voto! Nos municípios em que há duelos entre um candidato da centrão não-bolsonarista e outro da extrema direita, consideramos que a tática correta é o chamado ao voto no candidato da direita para evitar a vitória do bolsonaristas. Mas há cidades nas quais a disputa se dá entre dois candidatos bolsonaristas. Nesses casos, o chamado ao voto nulo é a melhor opção. Mas pode haver situação em que há uma candidatura abertamente fascista contra outra menos reacionária, ainda que possa essa última ter apoio de alguma ala do bolsonarismo. Nestes casos, nos parece válido o chamado a ‘nenhum voto’ no candidato diretamente fascista”. Para os revisionistas da Resistência é absolutamente natural para o PT&PSOL estabelecer suas coligações com Republicanos, PP, MDB, PSD, UB (ex-PFL), etc... desde que é claro estejam no mesmo palanque eleitoral contra o Bolsonarismo.
Agora vamos adentrar no “Especial Eleições 2024”, particularmente no artigo “A vitória do PT em Fortaleza: pensando ‘para além’ da capital cearense” (Fábio José de Queiroz, 28/10). Fábio José, que já foi vereador pelo PSTU em Juazeiro do Norte (CE) integrando o bloco parlamentar burguês com o PT e PHS no ano de 2003, estava em completo “orgasmo político” quando escreveu o texto comemorando a vitória do filhote de Oligarca do falido e rachado Clã Gomes, o neopetista Evandro Leitão, em Fortaleza! Não esqueçamos que tamanho esmero da Resistência em apoiar Evandro deve-se também ao fato que no Ceará o grupo de Valério Arcary é integrado por Raquel Dias, burocrata sindical do ANDES, que atua como testa de ferro do ex-governador Camilo Santana para sabotar a luta dos professores universitários estaduais, como vimos na sua traição a última greve dos docentes da UECE.
Segundo EOL “Evandro Leitão e as lideranças de esquerda denunciaram o candidato do PL como fascista e ajudaram no processo de formação de uma massa crítica em torno da luta contra a extrema-direita, desmascarando o filhote de Bolsonaro. Assim, tornou-se popular a ideia de ‘votar 13 para derrotar o fascismo’”. Fábio esconde que a cidade de Fortaleza novamente volta ao centro das atenções petistas, assim como em 1985 foi a única capital a dar uma vitória eleitoral ao partido do presidente Lula, quase 40 anos depois repete o “feito” político, só que desta vez pelas mãos de um deputado oligarca e fascista, coligado com o PP, PSD e Republicanos. Trata-se de um enorme equívoco programático afirmar que existem diferenças significativas entre a velha direita e a nova direita representada pelo Lulopetismo. Tanto é assim que o único (neo)petista vitorioso (Evandro Leitão), além de estar coligado com todos os partidos bolsonaristas, foi um ardoroso defensor do golpe institucional que derrubou a então presidente Dilma Rousseff.
Esquerda OnLine afirma que a campanha da suposta vitória do PT em Fortaleza se deve ao fato de ter incorporado o ativismo de esquerda e o “movimento de massas” em torno do corrupto Leitão. Será então que o “ativismo de esquerda” para estes picaretas da “Resistência” são os parlamentares do Partido Progressista, Republicanos (Igreja Universal), PSD de Kassab e MDB? Todo este lixo humano fascista engajado e coligado organicamente a candidatura do PT em Fortaleza agora é denominado de “ativismo de esquerda” pelos seguidores de Valério Arcary do PSOL!
Ao final de seu texto delirante Fábio Queiroz declara entusiasticamente “Em horas como essas, e a eleição de Fortaleza demonstrou isso de forma cabal, ‘é necessário aproveitar as menores possibilidades de conseguir um aliado de massas, mesmo que temporário, vacilante, instável, pouco seguro, condicional’, como afirma Vladimir Lênin em O esquerdismo, doença infantil do comunismo (Lênin, 1989, p. 78). Certamente, sem esse aliado de massas, o fascismo teria se apoderado da prefeitura de Fortaleza, transformando-a em uma poderosa casamata, pensando na eleição de 2026, mas para além dela. A vitória de Evandro Leitão, portanto, deve ser saudada como uma vitória da esquerda e um exemplo de que, apesar das dificuldades da etapa histórica na qual vivemos, é possível lutar e vencer o fascismo, ainda que, no caso, apenas eleitoralmente”.
É justamente nesse “pequeno detalhe” que está a farsa montada por Valério Arcary, Fábio Queiroz e sua “trupe” revisionista que está se convertendo em abertamente Social Democrata. Nem Lenin nem Trotsky defenderam estabelecer frente eleitorais para derrotar o “fascismo” votando na direta ou mesmo em candidatos da burguesia “progressista”.
Com estes argumentos “excepcionais” chegamos à conclusão que a Resistência é crédula que esse processo eleitoral pode barrar a extrema-direita, por essa razão resolveram integrar uma suposta “Frente Única Antifascista” eleitoral. A formação de uma frente única para combater o fascismo, nada tem a ver com apoio parlamentar ou eleitoral a socialdemocracia.
Na Espanha Trotsky defendeu ampla unidade contra o franquismo, porém criticou duramente o POUM (organização centrista) que votou a favor do governo Largo Caballero, derrubado posteriormente pela reação fascista...
Vejamos o que denuncia nosso mestre bolchevique no artigo “A traição do ‘Partido Operário de Unificação Marxista’ espanhol” escrito em 1936: “Os jornais nos informam que na Espanha o conjunto dos partidos ‘de esquerda’, tanto burgueses como operários, constituíram um bloco eleitoral sobre a base de um programa comum, que, evidentemente, em nada se distingue do programa da ‘Frente Popular’ francesa nem de todos os outros programas charlatanescos do mesmo gênero. Ali encontramos ‘a reforma do tribunal de garantias constitucionais’, a manutenção rigorosa do 'princípio de autoridade' (!!), a 'libertação da justiça de todas as pressões de ordem política ou econômica' (A libertação da justiça capitalista da influência do capital!) e outras coisas do mesmo gênero. O programa constata a recusa, da parte dos republicanos burgueses que participam do bloco, de nacionalização da terra, porém, em 'em compensação', ao lado das habituais promessas baratas aos camponeses (créditos, revalorização dos produtos da terra etc.), ele proclama (como um dos seus objetivos) o saneamento (!!) da indústria', e a 'proteção da pequena indústria e do comércio' segue-se o inevitável 'controle sobre os bancos' no entanto, uma vez que os republicanos burgueses segundo o texto de este programa, rejeitam o controle operário, trata-se do controle sobre os bancos... pelos próprios banqueiros, por intermédio dos seus agentes parlamentares, do mesmo gênero de Azaña e de seus semelhantes. Enfim, a política exterior da Espanha deverá seguir 'os princípios e os métodos da Sociedade das Nações'. E que mais? Assinaram, ao pé deste documento vergonhoso, os representantes dos dois grandes partidos burgueses de esquerda, o Partido Socialista Operário Espanhol, a União Geral dos Trabalhadores, o Partido Comunista (evidentemente!), as Juventudes Socialistas - ai! -, o 'Partido Sindicalista' (Pestaña) e, por último, o 'Partido Operário de Unificação Marxista' (Juan Andrade). A maioria destes partidos esteve à cabeça da revolução espanhola durante os anos do seu ascenso e eles fizeram tudo ao seu alcance para esgotá-la. A novidade consiste na assinatura do partido de Maurín-Nin-Andrade. Os antigos 'comunistas de esquerda' se transformaram simplesmente no vagão a reboque da burguesia 'de esquerda'. É difícil conceber uma queda mais humilhante!”.
Aqui Trotsky literalmente repudia o apoio eleitoral a socialdemocracia em nome de derrotar nas urnas a “ameaça fascista” em uma realidade análoga a que passamos hoje. Os Trotskistas estão pela unidade de ação contra o fascismo e não pela formação de um bloco político comum eleitoral com a Frente Popular, que desarma a resistência de classe a ascensão do verdadeiro fascismo.
O pior é que o PSTU vai no mesmo caminho da Resistência, apenas com passos mais lentos! Chamou a votar no segundo turno em Boulos (SP) e nos candidatos do PT, como Evandro Leitão (Fortaleza), Maria do Rosário (Porto Alegre), Natália (Natal) em nome de “derrotar o Bolsonarismo”!
O PSTU chega pateticamente a declarar “Agora, no segundo turno defendemos o voto crítico em Evandro. Fazemos isso porque entendemos o desejo de milhões de trabalhadores e jovens que esperam que o bolsonarismo seja derrotado eleitoralmente” (Opinião Socialista, 12/10).
Como vemos os Morenistas tupiniquins acabaram reféns da armadilha burguesa da falsa polarização eleitoral e não denunciam que ambos os candidatos são reacionários, sendo o representante Lulopetista ainda pior do que o Bolsonarismo (fascismo institucional) na medida que a Frente Ampla no Brasil representa o programa da Nova Ordem Mundial capitalista patrocinado pelo Fórum de Davos, que apoia o terror sanitário, o cerco as liberdades democráticas, a ditadura do Judiciário ("Xandão" e os togados do STF), o "identitarismo" patrocinado pelo imperialismo ianque, sendo o PT neste momento a opção preferencial do rentismo internacional e das grandes corporações capitalistas (Big Pharma, BlackRock).
Até 2018 o PSTU tentava nos convencer que “Não é avanço do fascismo o que está acontecendo no Brasil” (02.04.2018). De repente o PSTU deu um giro de 180º e para justificar sua frente “democrática” com PT, PDT, PSB, nos explicava que “Bolsonaro, diante da luta dos trabalhadores pela defesa nossos direitos, não só vai reprimir nossa luta como fizeram e farão outros governos, inclusive os do PT. Ele ameaça colocar os militares nas ruas e impor uma ditadura que impeça o trabalhador de lutar, de defender os seus direitos e os seus interesses. Ameaça acabar com toda liberdade de organização e manifestação em nosso país. Não podemos facilitar para que Bolsonaro, uma vez no governo, tenha força para fazer tudo isso. Não tem sentido dar a ele e a seu vice a possibilidade de tirar nosso direito de organização, de greve, de manifestação e de expressão. Por isso, nenhum operário, nenhum trabalhador deve votar em Jair Bolsonaro. Por isso, mesmo sem dar nenhuma confiança ou apoio político ao PT devemos votar 13 (Haddad) no 2º turno” (10.10.2018). Fez o mesmo em 2022 ao apoiar Lula no segunto turno! Em resumo, segundo o PSTU faz-se imperioso neste momento uma frente eleitoral com o PT e seus aliados de direita para derrotar a extrema-direita como fez agora no segundo turno das eleições municipais e havia feito antes, nas disputas presidenciais de 2018 e 2022!
A militância do PSTU deve esta confusa porque antes seu partido criticava duramente as posições do atual PSTU, recorrendo a Trotsky no artigo “O fascismo e o Brasil” (15.05.2018) “Para Trotsky, o fascismo não seria detido através das eleições. Isto porque o objetivo do fascismo era aniquilar a democracia burguesa e construir um regime de terror a serviço dos grandes monopólios. Desmoralizar a classe operária com métodos de guerra civil, antes que possa dar um golpe ou mesmo conquistar o governo pela via eleitoral. Por isso, ao mesmo tempo em que defende a profunda unidade na luta, Trotsky polemiza com as organizações do movimento operário que propõe ao PC alemão uma coalizão eleitoral com a Social Democracia, para ‘barrar o fascismo’. Ao contrário, defendeu que o Partido Comunista Alemão (PCA) tivesse seus próprios candidatos: A ideia de propor o candidato à presidência, pela frente única operária, é uma ideia radicalmente errônea. Só se pode propor um candidato na base de um programa definido... Defendia a Frente Única, um acordo baseado em: Como combater, quem combater e quando combater? Nisto, pode-se entrar em um acordo com o próprio diabo, com a sua avó…”. Qual PSTU tem razão, o que capitula a Frente Popular ou o que reivindica Trotsky? A resposta desgraçadamente é que Eduardo Almeida está seguindo os passos de Valério Aracy, apenas em um ritmo um pouco mais lento!
O que esses irmãos revisionistas (Resistência e PSTU) pregam é a defensa da democracia burguesa em nome do combate eleitoral à extrema-direita, amarrando a classe trabalhadora a política de colaboração de classes do Lulopetismo, orientação que desarma a vanguarda classista e pavimenta o caminho para o crescimento social e político do Bolsonarismo, tudo obviamente tendo como eixo estratégico a defesa da democracia burguesa como faz a Social Democracia!