sexta-feira, 16 de janeiro de 2015



Vitória ou derrota adiada? Sindicato dos Metalúrgicos “troca” 800 demissões por PDV de 2500 operários na Volks! CUT comemora fim da greve via acordo idêntico ao celebrado pela Conlutas com a GM!
Mais uma derrota "vendida" como “grande vitória” pela direção do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a CUT. Após 11 dias de greve que poderia ter imposto uma verdadeira derrota aos patrões, a Volks fechou um acordo com a direção sindical onde condiciona o retorno dos 800 operários a aplicação imediata de um PDV para demitir 2500 trabalhadores, proposta que tinha sido rejeitada no final do ano! Frente a pressão da multinacional e do sindicato, os operários foram forçados a aceitaram a proposta como um “mal menor”. Como afirma o comunicado da montadora alemã: “Ambas as partes chegaram a uma proposta balanceada que possibilitará a adequação da estrutura de custos e efetivo da unidade. O resultado contempla a continuidade dos mecanismos de adequação de efetivo por meio de Programas Voluntários, com incentivo financeiro” (G1, 16.01). Por seu turno, o presidente do sindicato e membro da Articulação (PT), Rafael Marques, repetiu a mesma cantilena: “Nós garantimos que R$16.576 sejam pagos aos trabalhadores a título de PLR e abono ainda no mês de janeiro, que os 800 trabalhadores fossem reintegrados e também a abertura de um Programa de Demissão Voluntária. O PDV será aberto a um grupo de cerca de 2500 trabalhadores” (Idem). Ocorre que o acordo negociado e anunciado como uma “vitória” tem como base a proposta que foi recusada na assembleia no final de dezembro. Prevê reajuste zero dos salários neste ano (nem a inflação) e inflação mais 1% no ano que vem. A diferença na proposta atual é que os trabalhadores receberão em 2015, na forma de abono, o correspondente ao reajuste da inflação (ou seja, recebem em dinheiro o correspondente ao aumento da inflação, mas sem incorporar ao salário). Por fim abre um PDV para reduzir o número de trabalhadores da fábrica de SBC que não tem nada de voluntário pois a empresa já estipulou o número que deseja pôr no olho da rua. Em resumo, venceu a política de demissões não, PDV sim... rejeitada anteriormente pela base. Fica a lição que conquistas reais poderiam ter sido arrancadas se tivesse ocorrido a ocupação da fábrica e a paralisação em todas as plantas da Volks, medidas que a direção sindical e a CUT se recusaram a tomar para não polarizar a situação política e colocar o governo Dilma e os patrões como responsáveis pelo desemprego. Esta política foi a mesma aplicada pela GM de São José dos Campos em 2013 e aceita pelo Sindicato dos Metalúrgicos controlado pela Conlutas e o PSTU. Por esta razão, José Maria de Almeida classificou o acordo fechado hoje na Volks desta forma “Termina em vitória a greve da VW - Os 800 demitidos são reintegrados”. Em resumo, uma mão lava a outra, com a burocracia de “esquerda” da Conlutas lavando a cara da burocracia sindical chapa branca da CUT!

O poder de pressão da greve era enorme, a planta do ABC produz os modelos Gol, Polo, Polo Sedan, Saveiro e Saveiro Cross, sendo o Gol o mais vendido pela empresa. Além disso, São Bernardo do Campo é o berço político de Lula e o prefeito é Luiz Marinho, ex-presidente do Sindicato. Essa confluência de fatores colocaria o governo Dilma no centro do debate sobre as demissões, já que eles foram anunciada pela montadora alemã para pressionar o Planalto a manter a redução do IPI. Como o governo não recou, a Volks fechou o acordo com o sindicato para demitir não 800 mas 2500 operários através de PDV! Esta política foi a mesma aplicada pela GM em 2013 e aceita pelo Sindicato dos Metalúrgicos controlado pela Conlutas. Por esta razão, José Maria de Almeida celebrou “Os trabalhadores comemoraram efusivamente a aprovação do acordo, apesar de tratar-se de um acordo que, como se pode ver, tem aspectos muito ruins. E estão certos os trabalhadores em comemorar, pois a reintegração dos demitidos era o objetivo fundamental da greve e, na circunstancia em que se deu este conflito, é uma vitória muito importante do movimento. E dificilmente se conseguiria um acordo em condições melhores” (PSTU, 16.01)! Enfim... quem semeia traições colhe vergonhosas derrotas! Como sempre, CUT e Conlutas abriram mão da luta direta e da greve com ocupação de fábrica, único meio para barrar as demissões, para fazer acordos vergonhosos com os patrões!

O mais revelador desse enredo é que a CUT, Conlutas as outras centrais sindicais convocaram para 28 de janeiro um Dia Nacional de Lutas em defesa do Emprego e dos Direitos mas estas centrais avalizam as demissões via o PDV. A CUT inclusive reuniu-se com o governo antes dele anunciar a restrição ao acesso ao seguro desemprego e o corte nos benefícios do INSS, apoiando tais medidas covardes! Portanto, trata-se de um manifestação midiático e sem efeito concreto na medida em que as empresas estão demitindo e o governo atacando direitos mas os sindicatos não convocaram nenhuma paralisação organizada desde a base das categorias, se limitando a protestar no máximo com meia dúzia de dirigentes sindicais liberados que recebem gordas diárias em suas “marchas turísticas”. Não por acaso, a CUT apresentou ao governo o chamado PPE (Programa de Produção e Emprego) que flexibiliza direitos e reduz salário em nome da manutenção dos empregos, proposta apoiada pelas montadoras. Esta proposta não é nova. Foi trazida na bagagem de uma delegação de membros do governo, empresários e sindicalistas da CUT e FS que visitou a Alemanha em setembro de 2012, inspirada na “jornada reduzida” existente naquele país: numa situação de crise, ao invés de demitir, os patrões reduzem a jornada de trabalho e os salários proporcionalmente! O salário pode atingir até 60% do valor, retirando-se a diferença do que a empresa paga de um fundo com dinheiro do governo e de fundos dos próprios trabalhadores. No modelo alemão no qual a CUT se baseia, a redução de jornada e de salário pode durar por um prazo de até 2 anos.

A tarefa colocada para o ativismo classista, inclusive na reunião convocada pelo MTST em São Paulo no próximo dia 19 de Janeiro é a aprovação de um plano de luta que comtemple ainda neste mês uma paralisação geral dos trabalhadores da cidade e do campo, contra os ataques aos seus direitos, benefício do INSS e as demissões em curso, com os professores que tiveram o piso salarial nacional “reajustado” abaixo do índice legal e os metalúrgicos com as demissões na Mercedes-Benz e as da própria Volks via PDV. Para impulsionar a resistência operário e popular é necessário romper o pacto social implícito que a CUT celebrou com o governo, derrotar propostas como o PPE e levantar um programa de reivindicações operárias via uma verdadeira campanha contra o desemprego, pela redução da jornada de trabalho sem redução salarial e sem banco de horas. Para barrar os ataques do governo Dilma e dos patrões a fim de flexibilizar direitos trabalhistas é necessário à construção de um plano de lutas unitário que aponte para um programa operário e anticapitalista: salário-mínimo vital, aumento geral dos salários, contra as demissões e o arrocho salarial, ocupação das empresas que demitirem em massa ou falirem, exigindo a sua estatização sob controle dos trabalhadores; pelo controle operário da produção, repartição das horas trabalhadas com os operários desempregados, através da redução da jornada de trabalho sem redução salarial, utilizando a escala móvel de salários; Fim dos selvagens ritmos de produção, pela formação de comitês de fábrica que estabeleçam tetos de produtividade para absorver a mão de obra desempregada; Formar comitês de trabalhadores demitidos, sustentados financeiramente pelos sindicatos, até que possam impor a efetivação da repartição das horas de trabalho, reposição das perdas salariais!