terça-feira, 27 de janeiro de 2015


Vitória do Syriza: Mais uma gerência socialdemocrata de “esquerda” à serviço da Troika! Convocar o KKE, principal referência da esquerda classista, a encabeçar uma Oposição Operária e de massas ao governo Tsipras!

O esperado aconteceu com o Syriza vencendo com “folga” as eleições legislativas na Grécia deste último domingo, 25.01. O partido de Alexis Tsipras, agora primeiro-ministro, conquistou 149 cadeiras das 300 do parlamento. Logo fechou um acordo com o partido “Gregos Independentes”, legenda da direita nacionalista (uma cisão reacionária do Nova Democracia) que garantiu 13 cadeiras (4,75%), para ter a maioria parlamentar absoluta. O imperialismo já esperava a vitória do Syriza tanto que as principais bolsas de valores pelo mundo e inclusive na Europa se mantiveram em alta nesta segunda-feira. Nos últimos meses Tsipras garantiu que cumpriria os acordos celebrados com a Troika pelo governo conservador controlado pela Nova Democracia, derrotada nas urnas. Ele assegurou antes das eleições que reconheceria as “obrigações frente às instituições europeias e os tratados europeus. Estes tratados preveem objetivos fiscais que devem respeitar-se, mas não as medidas para consegui-los. A austeridade não faz parte dos tratados europeus”. Em resumo, estamos diante de mais uma gerência socialdemocrata de “esquerda” que critica a “austeridade” mas pretende manter o país e os trabalhadores submetidos aos planos de ajuste ditados pela UE, BCE e FMI, inclusive mantendo a Grécia na “Zona do Euro” e na OTAN. Não há dúvidas que os trabalhadores escolheram o Syriza como principal expressão eleitoral de seu repúdio aos ataques a seus direitos perpetrados desde a crise de 2008, derrotando tanto a Nova Democracia como a velha socialdemocracia do Pasok, responsáveis diretos pela catástrofe social impostas nos últimos anos. Mas cabe ressaltar que também cresceu a extrema-direita, o Aurora Dourada, que ficou em quarto lugar conquistando cerca de 6,3% dos votos, à espera do desgaste futuro do Syriza que não romperá com a UE, para patrocinar com mais força a xenofobia e o fascismo. Por outro lado, o Partido Comunista da Grécia (KKE) saiu reforçado das eleições conquistando 15 cadeiras no parlamento (5,7%) e o mais importante, recusando qualquer aliança com o Syriza e a compor o novo governo. Antes das eleições, Secretário Geral do CC do KKE, Dimitris Koutsoumpas, corretamente declarou “Não apoiaremos o Syriza. Estamos contra a UE, a OTAN e as cadeias do capitalismo” e denunciou “Pela responsabilidade ante o povo, depois de ter examinado bem o que diz o Syriza, não podemos participar de um Governo burguês capitalista, que continuará esta barbaridade. Há uma semana, o Syriza nos interpelou para dar o voto de investidura, porém não o fez sinceramente. Eles sabem nossas posições de todos esses anos e que estaremos em oposição a este Governo, porque o mesmo estará nas mãos da oligarquia enquanto estiver na UE. Não podemos manchar nossas mãos, não podemos dar um salto ao vazio enquanto o povo está do outro lado. Além disso, fazem parte de sua fileira o mais podre do Pasok, com deputados que votaram memorandos e que boicotaram o movimento operário e sindical”. A justa posição do KKE é um ponto de apoio para a vanguarda classista grega fazer oposição operária ao governo Tsipras desde agora, sem conciliação de classes com o novo gerente de “esquerda” e sim pelo seu combate revolucionário nas ruas, fabricas e escolas para operar a ruptura radical com o capital financeiro e não simplesmente com a “Zona do Euro”. Desde a LBI apoiamos a posição classista do KKE e denunciamos os revisionistas do trotskismo, um amplo arco político que vai do PSTU do Brasil até a FIT argentina (PTS, PO, IS), passando pelo MES de Luciana Genro, que cinicamente criticam a suposta “política sectária do KKE” por não apoiar o governo do Syriza. Os arautos do revisionismo “pilantrosko” esgrimam o caráter histórico stalinista do KKE para desqualificar suas posições atuais de combate ao engodo que representa o Syriza. Esse canalhas não passam de frente populistas que desejam estabilizar o regime político burguês pela via de um “governo de esquerda” que está até a medula comprometido com o imperialismo europeu, já que manterá o país na OTAN! Está colocado derrotar a União Europeia imperialista, sob a qual a vida das massas converte-se em uma bárbara escravidão, para edificar em seu lugar uma Federação das Repúblicas Socialistas da Europa, apontando a única saída verdadeiramente progressista para o velho continente. A tarefa dos Marxistas-Leninistas neste momento crucial da luta de classe na Grécia é combater as ilusões dos explorados na nova gerência socialdemocrata e organizar desde as bases operárias e populares a luta direta contra a política de colaboração de classes do Syriza e não o contrário, como desgraçadamente fazem o integrantes da família revisionista pelo mundo, semeando falsas expectativas no governo burguês sob o comando de Alexis Tsipras.

A UE determinou o fim de fevereiro como data limite para que a Grécia cumpra novas reformas neoliberais para o desbloqueio de cerca de 7 bilhões de euros de “ajuda”. O ministro alemão das finanças, Wolfgang Schaeuble, no dia 18 de janeiro, no momento em que todas as agências de pesquisas e de sondagens eleitorais gregas e europeias garantiam a vitória de SYRIZA, declarou com a máxima tranquilidade: “As novas eleições na Grécia não mudarão absolutamente nada na dívida pública da Grécia. Qualquer governo que será eleito deverá respeitar e assumir os compromissos de seus predecessores...”. Não se trata apenas de especulação, ao assumir como primeiro-ministro Alexis Tsipras se comprometeu a seguir com este plano, reivindicando simplesmente a renegociação da dívida. O novo gabinete está alinhado com esta perspectiva de cumprir os acordos com novas bases. Apesar deste programa socialdemocrata, que segue os mesmos passos do PT no Brasil quando Lula assumiu em 2002, os revisionistas do trotskismo apoiaram a eleição do Syriza e não o denunciaram como aliado da Troika. O PSTU declara “Nestas eleições, o Syriza converte-se na principal ferramenta dos trabalhadores gregos para derrubar aos partidos do memorando e do saque” enquanto o PO argentino assevera sobre a eleição de Tsipras “Saudamos com entusiasmo este primeiro passo dos trabalhadores da Grécia em sua luta contra o ajuste e o capitalismo internacional”. Por seu turno, o PTS ataca o KKE por não se aliar ao Syriza declarando “O Partido Comunista Grego (KKE), um partido de arraigada tradição estalinista, propõe a saída imediata da UE e da OTAN e defende a cessação imediata do pagamento da dívida, uma proposta ‘soberanista de esquerda’. Tem uma importante presença nos sindicatos e militância operária, mas leva a frente uma orientação sectária, avessa às ações unificadas com o resto dos trabalhadores agrupados em outros sindicatos e movimentos”. O MES de Luciana foi ainda mais longe, declarando que o KKE faz o jogo da Troika. Thiago Aguiar, dirigente da Juventude do MES, a Juntos afirmou, “Como vejo muitos companheiros no Brasil em dúvida sobre por que Syriza não compôs com o KKE ou por que, apesar de todas as sinalizações em contrário dos comunistas há anos, Tsipras não os privilegiou para compor o gabinete, uma última notícia do dia: o líder do KKE, Dimitris Koutsoubas, NÃO ACEITOU REUNIR-SE COM SYRIZA. Isto mesmo, nesta segunda-feira os "comunistas" que gostam de ver a Troika governando a Grécia. SE RECUSARAM A REUNIR-SE COM SYRIZA, alegando que uma reunião não teria "nenhum sentido". Com uma esquerda destas, ninguém precisa de Merkel, Draghi e Samarás”. Já a CMI de Allan Woods demonstrando sua eterna “surpresa” diante da política das direções frente populistas de formar governos com representantes da burguesia lamenta “É um grave erro da parte do SYRIZA cooperar com os ‘Gregos Independentes’! Não desperdicem essa oportunidade histórica! Deve ser feita uma coalizão entre o SYRIZA e o KKE”. Na verdade, o conjunto da família revisionista, apoiando eleitoralmente o Syriza ou atacando os que se opõe a sua político como “sectários” não faz mas que legitimar a orientação socialdemocrata do governo Tsipras, negando-se a convocar desde já os trabalhadores a se postar no campo da oposição ao novo gerente capitalista na Grécia. Tanto que a CMI faz um “apelo” ao KKE: “Da sua parte, a liderança do KKE deve urgentemente adotar uma autêntica postura leninista na questão da formação do governo, que seja capaz de conectar o comunismo com as massas em vez de marginalizar o partido. Essa tática envolve apelar à direção do SYRIZA para comprometer-se com políticas pró-operárias com decisivas medidas anticapitalistas e socialistas. Com base nestas demandas o KKE deveria declarar que está disposto a apoiar o governo do SYRIZA, desse modo mantendo a liderança do SYRIZA responsável pelas suas políticas e expondo assim a existência de qualquer tendência no SYRIZA que favoreça o compromisso e a colaboração de classe, o que, infelizmente, existe em seu núcleo”. Esta política propalada por Woods em nada tem de leninista na medida que o Syriza passou toda a campanha se comprometendo com a UE e hostilizando o KKE com ataques de cunho anti-comunista, próprios da socialdemocracia “radical” que abomina o leninismo e se propõe a gerenciar o Estado burguês de forma “alternativa” porém dentro do regime político dos grandes monopólios.

Historicamente sempre fomos críticos da política do KKE por centrar suas ações de massa na pressão ao parlamento burguês, mas neste momento temos que reconhecer que sua delimitação púbica e decidida com o Syrzia, denunciando o governo comandado por Alexis Tsipras como “burguês capitalista” e convocando desde já a oposição de classe a nova gerência social democrata na Grécia represente sem dúvida um posição justa e corajosa, que deve ser apoiada pelos Trotskistas e Revolucionários. A PAME, conjunto de sindicatos dirigidos pelo KKE e que tem peso social e político entre a classe operária pode ser justamente o polo de resistência classista a política de colaboração de classes do Syrzia. Nesse sentido a verdadeira frente política anticapitalista deve ter o KKE em sua vanguarda, cabendo aos genuínos trotskistas intervir neste processo  para que os ativistas combativos e militantes que se proclamem leninistas superem no curso da luta política e ideológica os limites da posição do stalinismo, que nesse momento encontra-se sem dúvida à esquerda dos revisionistas do trotskismo!

Os Bolcheviques Leninistas colocam todos seus esforços na tarefa de intervir ativa e pacientemente sobre as lutas que virão para elevar o nível de consciência dos setores mais radicalizados, a fim de fazê-la avançar da resistência defensiva atual para a disputa pela conquista do poder político contra seus algozes sociais-democratas, superando a criminosa influência política que a centro-esquerda reformista e seus satélites revisionistas exercem sobre o proletariado. A materialização deste longo e paciente processo de evolução da consciência dos trabalhadores é a construção de um partido internacionalista e revolucionário que lute por derrotar a União Europeia imperialista e o criminoso mito da "democratização" do modo de produção capitalista.