José Dirceu "ameaça" com a formação de uma nova
tendência mais à esquerda no PT e logo
foi "enquadrado" pela "Lava Jato"
O ex-presidente nacional do PT, José Dirceu, talvez a figura
política mais influente do primeiro governo Lula onde ocupou a chefia da Casa
Civil até ser "abatido" pela reacionária operação institucional
batizada de "Mensalão", esteve em destaque nas manchetes da mídia
corporativa duas vezes somente nesta última semana. A primeira
"aparição" midiática foi por conta de um artigo recente publicado
pela equipe do seu blog (Dirceu cumpre atualmente pena de prisão domiciliar em
Brasília e em função da draconiana legislação penal em vigor no país está
impedido de assinar matérias em sua página na internet) onde critica os rumos
atuais da política econômica do governo Dilma. O "Blog do Zé" afirmou
que: "O aumento de impostos e dos juros são apenas consequências, desdobramentos
da busca de um superávit de 1,2% do PIB este ano. A elevação dos juros visa
derrubar a demanda e vem casada com o aumento do IOF – Imposto sobre Operações
Financeiras para os empréstimos às pessoas físicas. Aí, também refreando o
consumo. Caminhamos assim – conscientemente, espero, por parte do governo –
para uma recessão com todas as suas implicações sociais e políticas". O
ataque aberto ao governo Dilma foi imediatamente compreendido pela imprensa e
também pela anturragem dilmista como um primeiro passo do ex-ministro para a
formação de uma nova tendência política mais a "esquerda" no interior
do PT. Dirceu foi um dos fundadores e dirigente histórico da tendência
hegemônica do PT, a "temida" e burocrática Articulação, hoje
denominada de "CNB" (Construindo um Novo Brasil), porém desde que foi
escolhido pela burguesia nacional como o "símbolo da antiga esquerda
guerrilheira" e cassado no Congresso Nacional foi perdendo gradativamente
sua influência no PT. No curso do processo farsa do "Mensalão" os
seus companheiros da Articulação, incluindo neste bojo o próprio Lula, foram se
afastando e migrando para a "sombra" mais confortável do governo
Dilma, Dirceu isolado e condenado pelos "togados" do STF não recebeu
a solidariedade política que esperava permanecendo calado. Agora passada a
reeleição e com o agressivo curso neoliberal do governo petista, Dirceu
resolveu iniciar uma nova "articulação" petista (apesar das severas
restrições da lei) com dirigentes e parlamentares do partido descontentes com a
política econômica. Vale ressaltar que quando esteve à frente do governo Lula,
Dirceu compartilhou com Antônio Pallocci (então Ministro da Fazenda) uma
plataforma monetarista muito semelhante a que implementa o atual ministro Levy.
Mas os tempos eram de "fartura" nas contas da Balança Comercial do
Brasil, lastreando a equipe econômica de Lula para impulsionar o "modelo
da bolha de crédito". Neste sentido Dirceu e Dilma não possuem
divergências programáticas de fundo, o que não significa que defendemos a
"caça a bruxa" ao ex-guerrilheiro da corajosa ALN. Só foi Dirceu
"ameaçar" criar algum tipo de "problema" ao governo que
logo Dilma ordenou aos novos "parlapatões" da operação policial
"Lava jato" que incluíssem o nome do ex-presidente do PT como
"beneficiário das empreiteiras". Para o Ministério Público Federal,
há indícios de que a empresa de consultoria de Dirceu (JD Assessoria LTDA)
tenha recebido recursos de empreiteiras ligadas ao esquema de
"comissões" na Petrobras. Na decisão judicial consta que a
consultoria recebeu, entre 2009 e 2013, R$ 3.761.000 das construtoras Galvão
Engenharia, OAS e UTC Engenharia. Em seu blog, Dirceu afirma que sua empresa
prestou consultoria às empreiteiras "para atuação em mercados externos,
sobretudo na América Latina e Europa". Ora se a operação "Lava
Jatos" decidir indiciar todos os políticos do regime burguês por terem
recebido recursos financeiros de grandes empreiteiras, terão que incluir todos
os congressistas, todos os governadores desde 1982 e também todos os
presidentes da república a partir de 1989! Está absolutamente claro que se
trata de um "aviso" do governo (que manipula o MPF ao seu gosto) a
todos os petistas que decidam fazer "oposição" a Dilma. Dirceu e seu
círculo político não são "puros", do ângulo de uma política da classe
operária, foram cooptados já a algum tempo pelo "establishment
capitalista".
Seria uma completa sandice teórica e oportunismo político
sem precedentes caracterizar qualquer ala petista que possa flexionar a
esquerda, consequência de uma resposta ao feroz "ajuste" neoliberal
dilmista, como sendo um retorno às "origens proletárias" do partido.
Nesta conjuntura de tensão social, o PT deve ser "provocado"
internamente por duas vertentes, uma como expressou politicamente Dirceu
girando a esquerda e a outra representada pela senadora Marta Suplicy exigindo
uma adaptação completa do partido ao mercado, sem nenhuma mediação populista.
Ambas correntes petistas são produto de um histórico acordo programático, que
mantém o partido como um gestor confiável da crise estrutural do capitalismo.
Os rumores de uma cisão política e pessoal entre Lula e
Dilma não passam de especulações da mídia "murdochiana", o que existe
de fato é uma "divisão de tarefas" entre os dois dirigentes que
comandarão o PT nos próximos quinze anos. Neste espectro é óbvio que Dirceu
perdeu muito espaço, não é mais o "número 2" do partido, porém ainda
mantém uma forte liderança no chamado "campo majoritário", podendo
atrair tendências como a DS e "Articulação de Esquerda" para um
confronto interno. Mercadante ainda está muito longe de ameaçar a indicação de
Lula para 2018, mantendo-se como um "testa de ferro" das medidas
impopulares da presidência. O próprio Dirceu tem limitações legais para travar
uma luta aberta contra Dilma, uma nova condenação judicial o levaria de volta
ao regime prisional fechado. Os abutres do Planalto manejam com esta chantagem
contra a ala petista de Dirceu.
Para os Marxistas Revolucionários não está descartado
estabelecer uma frente de ação conjunta com setores do PT e da CUT que se
proclamem contra a atual ofensiva do governo. Qualquer frente ou bloco de
unidade deve estar condicionado a ação direta das massas e nunca para
pressionar o parlamento burguês para "atenuar" o ajuste fiscal e
monetário em pleno curso. O discurso "moralista" da direita ou dos
falsos vestais Morenistas contra os "mensaleiros" petistas significa
apenas uma cortina de fumaça para encobrir uma vergonhosa adaptação a campanha
do imperialismo contra a esquerda de uma forma mais ampla.