sexta-feira, 23 de janeiro de 2015


José Dirceu "ameaça" com a formação de uma nova tendência mais à esquerda no PT e logo foi "enquadrado" pela "Lava Jato"

O ex-presidente nacional do PT, José Dirceu, talvez a figura política mais influente do primeiro governo Lula onde ocupou a chefia da Casa Civil até ser "abatido" pela reacionária operação institucional batizada de "Mensalão", esteve em destaque nas manchetes da mídia corporativa duas vezes somente nesta última semana. A primeira "aparição" midiática foi por conta de um artigo recente publicado pela equipe do seu blog (Dirceu cumpre atualmente pena de prisão domiciliar em Brasília e em função da draconiana legislação penal em vigor no país está impedido de assinar matérias em sua página na internet) onde critica os rumos atuais da política econômica do governo Dilma. O "Blog do Zé" afirmou que: "O aumento de impostos e dos juros são apenas consequências, desdobramentos da busca de um superávit de 1,2% do PIB este ano. A elevação dos juros visa derrubar a demanda e vem casada com o aumento do IOF – Imposto sobre Operações Financeiras para os empréstimos às pessoas físicas. Aí, também refreando o consumo. Caminhamos assim – conscientemente, espero, por parte do governo – para uma recessão com todas as suas implicações sociais e políticas". O ataque aberto ao governo Dilma foi imediatamente compreendido pela imprensa e também pela anturragem dilmista como um primeiro passo do ex-ministro para a formação de uma nova tendência política mais a "esquerda" no interior do PT. Dirceu foi um dos fundadores e dirigente histórico da tendência hegemônica do PT, a "temida" e burocrática Articulação, hoje denominada de "CNB" (Construindo um Novo Brasil), porém desde que foi escolhido pela burguesia nacional como o "símbolo da antiga esquerda guerrilheira" e cassado no Congresso Nacional foi perdendo gradativamente sua influência no PT. No curso do processo farsa do "Mensalão" os seus companheiros da Articulação, incluindo neste bojo o próprio Lula, foram se afastando e migrando para a "sombra" mais confortável do governo Dilma, Dirceu isolado e condenado pelos "togados" do STF não recebeu a solidariedade política que esperava permanecendo calado. Agora passada a reeleição e com o agressivo curso neoliberal do governo petista, Dirceu resolveu iniciar uma nova "articulação" petista (apesar das severas restrições da lei) com dirigentes e parlamentares do partido descontentes com a política econômica. Vale ressaltar que quando esteve à frente do governo Lula, Dirceu compartilhou com Antônio Pallocci (então Ministro da Fazenda) uma plataforma monetarista muito semelhante a que implementa o atual ministro Levy. Mas os tempos eram de "fartura" nas contas da Balança Comercial do Brasil, lastreando a equipe econômica de Lula para impulsionar o "modelo da bolha de crédito". Neste sentido Dirceu e Dilma não possuem divergências programáticas de fundo, o que não significa que defendemos a "caça a bruxa" ao ex-guerrilheiro da corajosa ALN. Só foi Dirceu "ameaçar" criar algum tipo de "problema" ao governo que logo Dilma ordenou aos novos "parlapatões" da operação policial "Lava jato" que incluíssem o nome do ex-presidente do PT como "beneficiário das empreiteiras". Para o Ministério Público Federal, há indícios de que a empresa de consultoria de Dirceu (JD Assessoria LTDA) tenha recebido recursos de empreiteiras ligadas ao esquema de "comissões" na Petrobras. Na decisão judicial consta que a consultoria recebeu, entre 2009 e 2013, R$ 3.761.000 das construtoras Galvão Engenharia, OAS e UTC Engenharia. Em seu blog, Dirceu afirma que sua empresa prestou consultoria às empreiteiras "para atuação em mercados externos, sobretudo na América Latina e Europa". Ora se a operação "Lava Jatos" decidir indiciar todos os políticos do regime burguês por terem recebido recursos financeiros de grandes empreiteiras, terão que incluir todos os congressistas, todos os governadores desde 1982 e também todos os presidentes da república a partir de 1989! Está absolutamente claro que se trata de um "aviso" do governo (que manipula o MPF ao seu gosto) a todos os petistas que decidam fazer "oposição" a Dilma. Dirceu e seu círculo político não são "puros", do ângulo de uma política da classe operária, foram cooptados já a algum tempo pelo "establishment capitalista".

Seria uma completa sandice teórica e oportunismo político sem precedentes caracterizar qualquer ala petista que possa flexionar a esquerda, consequência de uma resposta ao feroz "ajuste" neoliberal dilmista, como sendo um retorno às "origens proletárias" do partido. Nesta conjuntura de tensão social, o PT deve ser "provocado" internamente por duas vertentes, uma como expressou politicamente Dirceu girando a esquerda e a outra representada pela senadora Marta Suplicy exigindo uma adaptação completa do partido ao mercado, sem nenhuma mediação populista. Ambas correntes petistas são produto de um histórico acordo programático, que mantém o partido como um gestor confiável da crise estrutural do capitalismo.

Os rumores de uma cisão política e pessoal entre Lula e Dilma não passam de especulações da mídia "murdochiana", o que existe de fato é uma "divisão de tarefas" entre os dois dirigentes que comandarão o PT nos próximos quinze anos. Neste espectro é óbvio que Dirceu perdeu muito espaço, não é mais o "número 2" do partido, porém ainda mantém uma forte liderança no chamado "campo majoritário", podendo atrair tendências como a DS e "Articulação de Esquerda" para um confronto interno. Mercadante ainda está muito longe de ameaçar a indicação de Lula para 2018, mantendo-se como um "testa de ferro" das medidas impopulares da presidência. O próprio Dirceu tem limitações legais para travar uma luta aberta contra Dilma, uma nova condenação judicial o levaria de volta ao regime prisional fechado. Os abutres do Planalto manejam com esta chantagem contra a ala petista de Dirceu.

Para os Marxistas Revolucionários não está descartado estabelecer uma frente de ação conjunta com setores do PT e da CUT que se proclamem contra a atual ofensiva do governo. Qualquer frente ou bloco de unidade deve estar condicionado a ação direta das massas e nunca para pressionar o parlamento burguês para "atenuar" o ajuste fiscal e monetário em pleno curso. O discurso "moralista" da direita ou dos falsos vestais Morenistas contra os "mensaleiros" petistas significa apenas uma cortina de fumaça para encobrir uma vergonhosa adaptação a campanha do imperialismo contra a esquerda de uma forma mais ampla.