Morte do Procurador Nisman: Argentina tem o seu “Charlie Hebdo”!
Comoção nacional favorece a direita que acusa os “terroristas do Irã” e o
governo Cristina de terem ordenado seu “silêncio sepulcral”
O grosso da esquerda revisionista do “trotsquismo”
argentino, como já é "tradição", reproduziu a versão divulgada pela
mídia “murdochiana” sob o comando do reacionário jornal Clarín que
responsabiliza a Casa Rosada pela eliminação de Nisman. O Partido Obrero (PO),
tendo como porta-voz Jorge Altamira, foi o agrupamento revisionista que mais se
destacou por acusar diretamente o governo Kirchner pela autoria da morte.
Segundo o eterno candidato a presidente da república pela FIT e a deputado
federal, que busca desesperadamente conquistar uma vaga no parlamento nacional
se aliando as posições da oposição conservadora, “A morte de Nisman mostra
claramente a gravidade desta guerra de serviços de inteligência, onde o Estado
nacional é o principal responsável pelo que aconteceu. É claro que o promotor
Nisman possuía informações altamente explosivas que comprometia figuras do
governo. Os serviços de inteligência desempenham um papel fundamental no
encobrimento do assunto. Isso vem acontecendo desde o atentado a embaixada de
Israel, que nunca foi investigado e só concentraram a atenção sobre o ocorrido
na AMIA. Nosso Partido foi o único que marchou em 1994 ao Congresso para exigir
respostas” (sítio PO, 19.01). Como nas vezes anteriores dos “cacerolazos”
convocados pela direita e a classe média abastada, Altamira e seu PO (tendo os
membros da FIT – PTS e IS – ao seu lado) se coloca como linha auxiliar da
oposição conservadora contra o governo CFK, buscando capitalizar nas eleições
de novembro deste ano o voto contra o kirchenerismo tendo por base uma
tendência direitista. Enquanto o PTS cinicamente prefere não apontar
responsáveis pela morte de Nisman (La guerra de los servicios se cobró una
nueva muerte) o que em muito facilita suas relações diplomáticas oportunistas
com os demais parceiros da FIT que estão à sua direita, os “morenistas
ortodoxos” da Convergência Socialista (CS) se esmeraram nas diabrites contra o
governo CKF, acusando Cristina, Assad e o Irã de serem parceiros de Obama e
Israel que unidos desejam encobrir os responsáveis pela morte do promotor, já
que os primeiros seriam apenas súditos servis dos segundos. A delirante CS
afirma “Nunca saberemos quem foram os executores materiais do assassinato,
porém sim existem pistas mais que suficientes para chegar a verdade. Mas o
governo de Cristina nunca as investigará! Mas além da sua espetacularidade, as
acusações de Nisman não eram mais que chicanas, realizadas para sabotar as
relações com o Irã. Cristina não aprofundou a relação com os Aiatolás persas
somente para concretar alguns ‘negócios’, mas avançar no mesmo sentido do que
estão fazendo seus amos imperiais!”. Como se observa Altamiristas e Morenistas
de todas as cores conformam uma frente política que elimina por completo as
contradições entre governos burgueses de corte nacionalista, o imperialismo
ianque e o enclave sionista. Desta forma estes revisionistas acabam por se
colocar a reboque da reação burguesa e apoiam em nome de supostas “revoluções”
e “levantes populares” ofensivas contrarrevolucionárias travestidas de
movimentos democráticos contra Cristina, Assad e o regime do Irã! O episódio
envolvendo a morte de procurador Nisman é mais um elo desta cadeira, bastam ver
as “marchas” convocadas ontem e hoje em frente à Casa Rosada pela oposição
conservadora e apoiadas pelos revisionistas da FIT!
A atual posição de Altamira frente ao caso Nisman não é
nenhuma uma surpresa. O histórico do PO desde o atentado da AMIA (Associação de
Ajuda Mútua aos Judeus) vai desde a solidariedade com o sionistas na Argentina
até a apresentação de Israel como uma merca colônia explorada pelos EUA, como a
LBI denunciou no artigo “A Questão Palestina a Queima Roupa” (Novembro de
1995). Neste texto pontuamos que após o atentado à AMIA em Buenos Aires no ano
de 1994, o PO não só compareceu, como também convocou, entusiasticamente, em
conjunto com a embaixada israelense e os sionistas portenhos, uma caminhada em apoio
ao Estado de Israel, exigindo por parte do governo Menem medidas repressivas
enérgicas contra os possíveis responsáveis pelo atentado, ou seja, ativistas
vinculados de alguma forma a organizações que lutam contra o enclave terrorista
de Israel. Longe de ser uma calúnia ou um exagero de nossa parte foi o próprio
PO que reivindicou sua atitude a época “O Partido Obrero foi a única corrente
de esquerda que não só participou do ato contra o atentado, mas também chamou a
fazê-lo com antecipação....No dia 20, garantimos a mobilização do nosso partido
no ato, destacando a consigna: ‘a autêntica solidariedade é fazer justiça’, por
sua relação com a consigna histórica ‘justiça e castigo para todos os
culpados’” (Prensa Obrera, nº 424). Parece inacreditável, mas o PO e Altamira
exigiram que Menem “fizesse justiça” e o criticam pela lentidão como agiu no
caso. Seria possível acreditar que alguém que se diga “revolucionário” possa
confiar ao Estado burguês e seus tribunais a tarefa de “fazer justiça” contra
organizações ou militantes que se utilizam do método equivocado do terrorismo,
como forma de luta política? A posição assumida pelo Partido Obrero no caso
AMIA, gerou o repúdio da vanguarda de esquerda na Argentina, o que lhe obrigou
a uma série de retificações teóricas em seu arsenal programático. Segundo
Altamira, o Estado sionista de Israel não seria mais um enclave do imperialismo
na região, passando agora à condição de semicolônia oprimida, da mesma forma
que os outros países do Oriente Médio. Em polêmica com o MAS, vejamos qual é a
afirmação do PO sobre o caráter do Estado de Israel: “Que Israel é um Estado
terrorista como afirma o MAS, no Solidariedade Socialista nº 479, é uma
afirmação justa, mas dentro de determinadas condições." (Prensa Obrera, nº
426) para depois concluir: "O Estado de Israel é uma nação artificialmente
criada por um acordo internacional entre o imperialismo norte-americano e a
burocracia russa, que nasceu como uma semicolônia ianque... É também o caso do
Líbano que até 1975 foi uma colônia do imperialismo francês."(idem). É o
caso mais espetacular de mudança de posição que se tem conhecimento no
movimento trotskista. Israel passa a ser considerada como uma semicolônia do
imperialismo ianque, igual ao Líbano ou outros países oprimidos. Desta forma, o
conflito palestino versus Estado sionista torna-se um conflito de iguais.
"Pena" que os palestinos não tenham recebido mais de 500 bilhões de
dólares em ajuda financeira e militar do imperialismo ianque, sem falar das
armas nucleares estacionadas em território israelense apontadas para as cabeças
de todos os povos árabes. Quais seriam as "determinadas condições"
que o Estado de Israel, após exterminar mais de cem mil palestinos e árabes em
todas suas beligerâncias pela região, deixaria de ser terrorista? Cabe ao
próprio PO responder aos combatentes palestinos e árabes, sendo que diferente
de 1994 agora Altamira tem ao seu lado o PTS e a IS. Os três agrupamentos que
homogeneizaram suas posições nos últimos 10 anos em torno de um política
ultra-revisionista hoje em nome de uma suposta “revolução árabe” apoiam os
“rebeldes” a serviço do sionismo na Síria, Iraque e Líbano assim como na
Argentina somam-se a oposição conservadora nos protesto cujo lema é “Yo soy
Nisman! Cristina Basta!”.
Nisman passava bem longe de promover uma investigação
rigorosa dos verdadeiros autores do atentado à AMIA em 1994, na verdade
atualmente procurava provar o suposto "encobrimento" dos governos
Kirchner (Nestor e Cristina) ao Hezbolah, que segundo o promotor era o
responsável pelo ataque ao centro judaico. Nesta direção pouco se importava com
as "conexões locais" do ato terrorista, fundamentalmente com a
sinistra SIDE, uma espécie de CIA argentina. Sua morte está envolta no ventre
do aparato de repressão do Estado burguês, herdado do regime militar, e
subordinado até hoje a organismos de inteligência do imperialismo. Culpar o
governo Cristina pela morte de Nisman parece uma clara provocação política da
direita às vésperas de uma eleição, tampouco se pode "inocentar" o
conjunto das instituições do regime burguês do qual o governo Kirchner somente
controla um seguimento estatal. Não se deve "olvidar" que foi o
próprio Nestor quem no passado designou Nisman a tarefa de "explodir a
bomba da AMIA no colo" das autoridades iranianas. Porém estabelecer um
bloco de ação com a oposição de direita para criminalizar Cristina, como faz o
conjunto da esquerda revisionista, é completamente vergonhoso!