terça-feira, 24 de abril de 2012

COB convoca “greve geral” para pressionar governo Evo Morales a “mudar de rumo”

Teve início neste 24 de abril uma paralisação de dois dias convocada pela COB em apoio a luta dos médicos e estudantes bolivianos. La Paz foi palco de uma jornada de protestos contra a política de arrocho salarial do governo de Evo Morales, que desferiu uma brutal repressão através da polícia para dispersar manifestações de mineiros, médicos e estudantes. O protesto reuniu pela manhã milhares de trabalhadores, que se defenderam jogando pedras e bananas de dinamite contra a polícia na Praça Murillo, próximo à sede do governo. Os trabalhadores reivindicam aumento salarial superior a 8% e denunciam o aumento no custo de vida. A manifestação começou em El Alto e prosseguiu até o centro de La Paz, com a direção da COB limitando a luta a reivindicações econômicas sem apontar nenhum eixo de denúncia política do caráter burguês da gestão de colaboração de classe do MAS porque acredita que pode pressionar Morales “a mudar o rumo de seu governo”, algo bastante parecido com a cantilena distracionista que a CUT faz no Brasil com o governo Dilma ou praticou durante todos os dois mandatos de Lula.

No último dia 19 de abril, um ampliado da COB rejeitou a proposta feita pelo governo Morales que estipulou em míseros 7% o aumento dos salários de várias categorias e em 18% no salário mínimo nacional. Apesar disso não convocou a greve geral por tempo indeterminado, mas apenas uma paralisação de dois dias. Segundo o presidente da COB, Juan Carlos Trujillo, “a central não é nem oposição nem oficialismo ante Morales”, criticando no máximo a “direitização do governo”, o que na prática significa que a burocracia cobista se nega a denunciar a gestão do MAS como inimiga de classe dos trabalhadores bolivianos, fazendo dos protestos um instrumento de barganha para que Morales possa atender algumas reivindicações, diminuindo a pressão da bases sobre a burocracia sindical.

Frente a essa limitada resistência convocada pela COB, o governo se recusa a propor um novo aumento salarial, tentando impor sua política pela via da cooptação das direções sindicais. Apesar disso, desde o final do ano passado, Evo vem enfrentando várias lutas populares. Um exemplo foi a mobilização dos povos originários contra a construção de uma estrada no meio de um parque indígena. Mais uma vez a reação do governo foi lançar uma violenta repressão contra a marcha indígena. Esta é uma clara evidência do esgotamento do chamado “Socialismo do Século XXI”. A via “bolivariana” de gestão do Estado capitalista é uma alternativa burguesa com corte demagógico “socialista” que se nega a atender as demandas populares mais elementares. Está claro que Evo efetivou um pacto com as oligarquias regionais e os imperialismos ianque e europeu para “estabilizar” o regime político e arrefecer os ânimos das massas através da repressão estatal e da cooptação. A repressão aos indígenas e aos trabalhadores em geral nada mais é do que a expressão deste vergonhoso pacto oligárquico.

A cada confronto das massas exploradas bolivianas fica patente a ausência de uma direção revolucionária dos trabalhadores, onde a COB joga todo seu peso para isolar e dispersar as lutas em curso, no máximo utilizando-as para pressionar o governo. Para romper com este quadro é necessário que os trabalhadores estejam orientados por uma clara plataforma revolucionária, mas tragicamente as correntes políticas que se reivindicam trotskistas no país, mais particularmente o POR boliviano, não passa hoje de um apêndice de “esquerda” da direção da COB. Está colocada na ordem do dia a luta por forjar uma alternativa de direção revolucionária para o proletariado boliviano e essa tarefa passa por ganhar os trabalhadores do campo e da cidade para se colocar no terreno da oposição operária e revolucionária a governo Evo, superando a política de colaboração de classes da direções sindicais oficialistas e da própria COB que finge ser “independente” diante do governo do MAS, mas na verdade bloqueia a luta política para que a vanguarda classista encare a gestão da frente popular como um instrumento da burguesia contra os trabalhadores.