As “quatro irmãs” e o ocaso da Delta
A construtora Delta emergiu dos “subterrâneos do mundo
dos negócios”, que envolve os milionários contratos de governos municipais,
estaduais e federal, para as páginas dos principais “jornalões” brasileiros
depois que seus altos executivos foram flagrados em conversas com Carlinhos
Cachoeira. Este, apresentado como o “grande corruptor” pela imprensa
murdochiana, está preso por “contravenção” e sob investigação por participar de
um poderoso esquema de fraudes em torno de obras públicas. Muito embora Cachoeira
tenha inúmeros contatos com partidos da chamada “base aliada” do governo Dilma
e também com os da “oposição conservadora” e até com a esquerda, as fraudes da
Delta são apenas uma ponta do iceberg da podridão burguesa. Os contratos da
Delta entre 2009 e 2010 chegam aos R$ 220 milhões, claro, alimentados por
superfaturamentos de materiais e serviços. Apenas em uma obra, no Mato Grosso,
por exemplo, na recuperação da via rodoviária federal dos R$ 39 milhões
previstos o preço do serviço aumentou mais de 22% em um ano. Como a Delta tem
grande participação nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) do
governo Dilma, o esquema expõe um verdadeiro saque das máfias burguesas sobre o
botim estatal. Contudo, as denúncias acerca das fraudes desta construtora
cumprem um papel bastante prático: o de preservar os principais “corruptores”,
ou seja, aqueles que financiaram a campanha eleitoral do governo Lula/Dilma.
Entram de soslaio nesta questão as chamadas “quatro irmãs”, a Camargo Correa,
Norberto Oldebrech, Andrade Gutierrez e Queiróz Galvão.
Para se ter uma ideia, somente estas quatro maiores
empreiteiras concentram para si mais de R$ 138 bilhões em obras no país, entre
elas Belo Monte (Pará), Rio Madeira (Roraima). Graças aos contratos
multimilionários se converteram em autênticos conglomerados da infraestrutura
(petróleo, energia elétrica, telecomunicações, agronegócio) e integram, ao
mesmo tempo, as maiores obras do PAC, além de “ganharem” as licitações para as
reformas e construção dos estádios de futebol voltados para a Copa do Mundo de
2014. Neste sentido, os “negócios” da Delta perante os das “quatro irmãs” são
brincadeira de criança!
Aqui repousa a principal questão, ou seja, são as
“quatro irmãs” que concentram em suas mãos todo o poder decisório das
“licitações”, dos contratos das grandes obras. Determinam, portanto, quem pode
entrar e aqueles que devem ficar fora dos projetos e “consórcios” por elas
montados referentes à subcontratação de empresas para executar as várias etapas
das obras país afora. Trata-se do “toma lá dá cá” da política burguesa, quando
o governo Dilma “retribui” as gordas quantias doadas pelas empreiteiras a sua
campanha eleitoral com favorecimentos econômicos. Figuras como Cachoeira,
Demóstenes Torres e todos os envolvidos devem ser rifados como “peixes
pequenos” em benefício das oligarquias regionais e governos que abrem os cofres
para as empreiteiras saquearem. Aliás, o papel ativo como corruptores de
empreiteiras não é nenhuma novidade. Há muito isto ocorre, como a “Operação
Navalha” em 2007, ocasião em que se descobriu um esquema da construtora Gautama
que envolvia até o governador do Maranhão e diversos empresários. Em 2009, no
conhecido escândalo do DNIT, quando o ministro Anderson Adauto foi pego
favorecendo a Queiroz Galvão na cobrança de dívidas contraídas desde 2002.
Assim funciona o Estado burguês, como um comitê
executivo dos grandes negócios dos capitalistas. Qualquer tentativa de
moralizá-lo, como fazem os deputados do PSOL e os falsos vestais do PT, significa
eliminar de vez a participação ativa neste processo da classe operária e semear
a ilusão de que é possível reformar o Estado. Somente o proletariado em sua
ação revolucionária, através da ocupação das obras destas megaconstrutoras, da
ação direta das massas com manifestações, passeatas, ocupações de fábricas e
terras, rumo à estatização completa dos meios de produção, poderá por um fim à
corrupção. A finalidade da ação do proletariado é a destruição completa do
Estado capitalista e, sobre as suas ruínas, edificar as novas bases para um
novo modo de produção.