terça-feira, 3 de abril de 2012

Nana Caymmi anuncia o fim de sua carreira: é o resultado da “indústria” do entretenimento que destrói a cultura nacional

Durante um show que acontecia no Rio de Janeiro, sábado, 31, Nana Caymmi anunciou ao público que vai se aposentar. Suas palavras foram enfáticas quanto às razões desta inesperada decisão. Ela referiu-se ao que vem passando a MPB e a cultura nacional: “Já dei o que tinha que dar. Estou me aposentando aos poucos. Tenho 50 anos de disco e ganhei um de ouro. Então eu quero que o mundo se exploda. Hoje a música é outra, é bunda, é aeróbica” (O Estado de S.Paulo, 02/4). Aqui ela expressa o pensamento de inúmeros outros grandes artistas da MPB que não mais tem espaço para divulgar sua obra e caem no ostracismo da grande mídia.Esta declaração, muito mais que uma “anunciação” de aposentadoria, significa um desabafo quanto aos rumos da produção musical no Brasil. As músicas que chegam aos ouvidos das grandes massas são aquelas que as grandes gravadoras (multinacionais) escolhem. Como uma lei do capitalismo industrial, expresso hoje na economia “neoliberal”, a música, a cultura é uma mercadoria voltada para a obtenção do lucro máximo a um preço de produção mínimo e descartável. Desta forma, uma produção deve ser nivelada por baixo e ter curto período de existência para logo em seguida ser substituída por outra, muito provavelmente de pior qualidade e com “maior valor de mercado”. Para tanto, criam novas “modas” e ditam padrões estéticos aos quais todo mundo deve estar submetido ideologicamente; caso contrário é considerado “velho” e ultrapassado. Nana Caymmi, então se referia à chamada “indústria” do entretenimento que nos dias atuais impõe padrões e comportamentos às massas através dos meios de comunicação.

Nana, com todo seu quilate artístico, nos palcos desde o início dos anos 60, ao lado de grandes nomes da MPB, como Edu Lobo, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymmi (seu pai e mestre), Ivan Lins, Toquinho, Milton Nascimento, Fátima Guedes e tantos outros, criticou com muita autoridade as músicas que a mídia empurra goela abaixo para alienar ainda mais os trabalhadores. Todos os elementos acima enunciados, aliados com a facilidade das linhas de crédito proporcionada pelo governo da frente popular, com o consumo em expansão, provocam um profundo embotamento na consciência da classe operária, desnorteando politicamente inclusive a esquerda revisionista que facilmente se adapta aos “novos fenômenos culturais” da mesma forma como faz na política.

Mas toda esta alienação não é obra do acaso, tem uma explicação bastante lógica. O imperialismo e a mídia murdochiana criam mitos e falsos heróis (os “rebeldes” da falsa “revolução árabe” são o melhor exemplo), impõem seus padrões culturais não só sobre a atual geração como também está voltada para modelar as futuras, dissociando-as de qualquer conteúdo social ou elaboração político-intelectual. O objetivo dos estrategistas da Casa Branca e seus agentes, principalmente com o fim da URSS, é formar uma geração nos moldes belicosos do “Big Brother” global e fãs dos lutadores de UFC, sem qualquer referência de coletividade (“jogos” onde um atua contra todos): corpos sarados, individualismo exacerbado, pouca inteligência e “muita bunda” como mercadoria. É precisamente para este segmento que a “indústria” do entretenimento está voltada! Quer dizer, um país com uma progressiva perda ou destruição da identidade cultural onde predominam idiotas é muito mais fácil de ser explorado e dominado pelo grande capital.

As tendências à barbarização cultural (forró eletrônico, axé-music, hip-hop comercial, duplas sertanejas, pagode mauricinho, Kuduro, novelas globais, BBB, UFC, etc.) são produtos da “indústria” do entretenimento, consequência de uma etapa de profunda reação ideológica e de ofensiva imperialista sobre todos os povos do planeta após a queda do Muro de Berlim e da destruição da URSS. Assim, o mercado “esquece” a preciosidade artística de uma Nana Caymmi, Paulinho da Viola ou a genialidade da obra de Chico Buarque, porque muitos são colocados à margem da mídia e deixam de produzir ou se adaptam silenciosamente a essa realidade. Não é o caso de Nana. É, portanto, necessária uma forte resistência cultural e política a estes ataques e um drástico rompimento com este modo de produção que nos impõe a barbárie em todos os âmbitos da atividade humana. Somente a revolução socialista poderá edificar uma cultura como genuína expressão de uma coletividade e não considerada como mercadoria para encher os bolsos dos capitalistas.