O governo de Bassar Al-Assad assinou nesta quinta-feira, 19/04, em Damasco, um acordo com a ONU autorizando o envio de seus observadores-espiões à Síria sob a justificativa de supervisionar o cessar-fogo no país. O acordo foi mediado por Kofi Annan, representando a ONU e a Liga Árabe e teve o apoio da China e da Rússia, sendo aprovado por unanimidade pelo Conselho do Segurança (CS) das Nações Unidas. Mais de 300 observadores devem compor a missão. Esta tem como verdadeiro objetivo monitorar o governo sírio enquanto a debilitada oposição financiada pelo imperialismo se recompõe na fronteira do país com a Turquia, onde a OTAN montou uma base de apoio ao chamado ELS (Exército Livre da Síria), mercenários a serviço das potências abutres imperialistas.
Segundo Kofi Annan “Este acordo detalha as funções dos observadores no cumprimento de seu mandato na Síria e as tarefas e responsabilidades do governo sírio a respeito” (Actualidad-RT, 19/04). Ele foi assinado pelo governo sírio, sob forte pressão da China e da Rússia, depois que o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, ventríloquo da Casa Branca, declarou em carta ao CS que a Síria não cumpriu suas obrigações determinadas por um “plano de paz” que previa a retirada de tropas e armamentos pesados de áreas urbanas, ou seja, manteve os ataques aos agentes do imperialismo mesmo durante o chamado “cessar-fogo”. Nesta mesma carta, Ban Ki-moon defendeu que sejam fornecidos aviões e helicópteros aos “observadores”, já pedidos à União Europeia, leia-se OTAN, para que seja montada uma base militar das forças da ONU dentro da Síria! Não por acaso, o CS se reúne ainda nesta quinta-feira para discutir o relatório de Annan e as ordens de Ban Ki-moon, enquanto grupos de oposição tem em Paris um encontro com os ministros de Relações Exteriores da Europa e a Secretária de Estado, Hillary Clinton, para discutir como agirão de forma conjunta frente à presença de seus novos aliados no país, os espiões da ONU na Síria.
Inicialmente uma equipe de seis observadores chegou esta semana passada à Síria, como parte do “plano de paz” negociado por Kofi Annan. Entre eles estavam um oficial militar brasileiro, o que demonstra que assim como a China e a Rússia, o Brasil vem pressionando Bassar Al-Assad a cumprir as exigências da ONU que nada mais são que ditames voltados a barrar a ofensiva do exército nacional contra os grupos mercenários organizados no ELS e sob orientação política do Conselho Nacional Sírio (CNS), ambos financiados pela Casa Branca, como anunciou a própria víbora Hillary Clinton recentemente na Turquia. A visita da Secretária de Estado dos EUA ao Brasil antes da reunião dos "Amigos da Síria" em Paris teve como objetivo justamente fechar a “parceria” com os BRICS para que estes países “emergentes” incrementem as pressões sobre o regime sírio. Como se vê, por trás dos vetos no CS na ONU da Rússia e China e do discurso por uma “saída política” na Síria e no Irã proferido pelo chanceler Antônio (nada)Patriota durante a visita da Madame Clinton, está em curso uma avançada negociação para neutralizar a resistência síria à futura agressão imperialista ao país e ao próprio Irã.
Não esqueçamos que esses observadores-espiões repassam informações chaves sobre o poder de fogo do exército sírio, dados que vão diretamente para o Pentágono e a OTAN melhor planeja sua ofensiva sobre a região. Justamente por isso, o carniceiro presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou também nesta quinta-feira durante a reunião com os mercenários sírios em Paris que a solução para a crise na Síria é o estabelecimento de “corredores humanitários” pela ONU que possam permitir a sobrevivência da oposição e arrematou comparando a Síria à Líbia: “Bashar al-Assad está mentindo... ele quer varrer Homs do mapa assim como Gaddafi queria destruir Benghazi. Nós pedimos que esta reunião una todos que não aceitem que um ditador esteja matando seu povo. A solução é o estabelecimento de corredores humanitários de modo que a oposição possa existir na Síria” (G1, 19/04). No mesmo sentido foram as declarações da Secretária de Estado norte-americana, a víbora Hillary Clinton, que também está na reunião dos “Amigos da Síria” em Paris com ministros árabes e europeus.
Pressionado pela China e a Rússia, que vetaram a agressão militar via OTAN, porém buscam um acordo com a Casa Branca para uma “solução política” do conflito, o governo Sírio vem cedendo sistematicamente. Anteriormente havia aceitado uma missão de avaliação humanitária preliminar da ONU para viabiliza o cessar-fogo, agora perminte o envio de centenas de observadores-espiões a serviço da CIA, Mossad e M-16 para mapear as debilidades internas do exército nacional sírio visando uma nova ofensiva militar na região. Como se vê, Rússia e China, pelo caráter de classe burguês de seus governos, são incapazes de levar adiante uma oposição consequente aos planos do imperialismo, buscando simplesmente preservar defensivamente suas zonas de influência na região. Lembremos o exemplo líbio, onde em nome do suposto combate a “ditadura Kadaffi,” o imperialismo, com o aval da China e da Rússia que se abstiveram no CS da ONU, bombardeou o país e agora está dividindo seu território para melhor explorar as reservas de petróleo da Líbia, como se comprova com a declaração de “autonomia regional” da zona oriental do país, onde se localiza Benghazi e se concentra até 66% dos poços de óleo cru líbio. Ao lado das potências imperialistas, a esquerda revisionista do trotskismo, como a LIT e seus satélites, apoiou a farsesca “revolução árabe” na Líbia e agora faz o mesmo na Síria alegando combater a “sangrenta ditadura de Assad”.
Para derrotar a ofensiva política e militar das potências abutres e de seus aliados internos é preciso que o proletariado sírio em aliança com seus irmãos de classe do Oriente Médio se levante em luta contra a investida imperialista na região, travestida pela retórica de defesa dos “direitos humanos e democracia”. Neste momento é fundamental estabelecer uma clara frente única anti-imperialista com as forças populares que apoiam o regime nacionalista burguês sírio assim como com o Hezbollah para derrotar a ofensiva da OTAN e da ONU sobre o país. Combatendo nesta trincheira de luta comum, os revolucionários têm autoridade política para rechaçar inclusive as concessões feitas pelo governo de Bashar Al-Assad a esses organismos imperialistas que pretendem subjugar o país, forjando no calor do combate as condições para a construção de uma genuína alternativa revolucionária as atuais direções burguesas que via de regra tendem a buscar acordos vergonhosos com a Casa Branca.