segunda-feira, 9 de abril de 2012


Para além da cachaça “made in Brazil”, Dilma e Obama discutem os preparativos do ataque ao Irã e a ofensiva para liquidar as conquistas operárias de Cuba

A “grande mídia” tem apresentado a visita da presidente Dilma a Obama, iniciada nesta segunda-feira, 09 de abril, como um encontro que consolidará as “boas relações” comerciais entre Brasil e os EUA. Quando pastelões como o Estadão e a Folha de São Paulo dão esse tom a visita não só estão fazendo pressão para que o governo brasileiro se aproxime ainda mais da Casa Branca, refletem de fato a conduta de subserviência aos EUA que vem marcando a gestão da frente popular, como expressam os votos do Brasil contra o Irã e a Síria na ONU. Já alguns porta-vozes da esquerda chapa-branca que não estão diretamente aboletados no governo, como Emir Sader e Altamiro Borges, insistem em apresentar o contrário: será um encontro de “afirmação” da soberania brasileira frente ao imperialismo ianque. Nada mais falso! Obama, que tem a reeleição praticamente garantida, vai reafirmar junto a Dilma os interesses econômicos do império em nosso país e, o mais importante, vai reforçar a necessidade do alinhamento do Palácio do Planalto e do Itamaraty com Washington. Dilma, que recebeu Obama no Rio de Janeiro em março de 2011, ficando absolutamente em silêncio quando o carniceiro ianque autorizou o bombardeio à Líbia, seguirá sua política de submissão ao imperialismo ianque, porém mantendo alguma margem de manobra frente aos ditames do amo do norte, o que permite ao Brasil assumir o papel-chave de interlocutor dos governos da centro-esquerda burguesa do continente junto a Casa Branca em temas estratégicos como Irã, Síria, Cuba...

Nesse sentido, a discussão sobre a presidência do Banco Mundial (BM), hoje nas mãos dos EUA, é apenas uma expressão desta política. Como não houve nem mesmo um consenso acerca de uma candidatura única dos BRICs para disputar a presidência do BM no último encontro de seus membros realizado na Índia, Dilma pode até anunciar “em off” o apoio ao candidato ianque em troca de potenciar novos negócios e atrair investimentos para o país, já que nossa economia semicolonial “avança” como uma linha associada financeiramente às grandes corporações transnacionais. Prova disso é que o Brasil registra déficit comercial crescente com os EUA, de US$ 8,1 bilhões e têm adotado várias políticas de blindagem das transnacionais ianques instaladas do Brasil associadas à burguesia nacional, recorrendo ao cínico discurso de proteção da “indústria nacional” contra a concorrência predatória chinesa. Quanto aos acordos comerciais propriamente ditos serão pífios, o único é o que reconhece a cachaça como produto genuinamente brasileiro a ser exportado para os EUA.

Por outro lado, Dilma irá “negociar” a participação de Cuba na Cúpula das Américas de 2016, já que o assento do Estado operário na reunião que começa neste 14 de abril em Cartagena, na Colômbia, foi vetado por Obama. Essa política do governo brasileiro não tem nada de progressista, como apresentam seus servis propagandistas na blogosfera “chapa branca”. Na verdade, visa a integração de Cuba nos organismos multilaterais controlados por governos capitalistas justamente para que se consolide o processo de restauração capitalista na Ilha. A recente visita do Papa nazi Bento XVI a Cuba, antecedida pela própria ida de Dilma a Ilha, em que anunciou altos investimentos do BNDES, foram uma espécie de passaporte para que Cuba volte a participar da reunião, justamente como prova do compromisso da direção do PCC ao processo de transição ordenada a economia de mercado. Nesse tema, Obama prefere uma saída ao estilo “primavera árabe” enquanto Dilma aposta na “via chinesa”, porém, ambos estão unidos contra a manutenção da economia planificada.

Por fim, enquanto Obama prepara a guerra contra o Irã para depois de novembro de 2012, já reeleito, Dilma, em meio às provocações imperialista contra a Síria e a ameaça explícita de uma guerra de ocupação sionista contra o Irã, se limitará a pedir uma “solução negociada” para o conflito, omitindo-se de assumir uma posição política claramente anti-imperialista. Os votos do governo brasileiro contra a Síria e o Irã na ONU já revelaram o verdadeiro conteúdo dessa “saída política”, em um claro sinal verde a próxima guerra ianque de rapina contra uma nação oprimida. Foi assim quando o Brasil se absteve na votação sobre a Líbia, de fato avalizando a intervenção militar da OTAN para logo depois saudar a vitória da “democracia” no país do Magreb africano quando o mercenário CNT anunciou o controle de Trípoli.

Mais do que nunca, a visita de Dilma a Obama está voltada a reforçar os laços com o imperialismo ianque no marco do Brasil compor o BRICs. Longe da versão fantasiosa  da “inserção soberana” no mercado capitalista mundial alardeada pela esquerda reformista, que está bem aquém da política de impulsionar uma indústria nacional de substituição de importações dos países imperialistas, como pregavam os governos nacionalistas burgueses como Vargas ou mesmo Jango, Dilma buscar um acordo para manter nossa economia em crescimento artificial, totalmente refém em última instância da enxurrada de dólares ianques que inundam o país e depois voltam aos seus países de origem indexados pelas taxas de juros mais caras do mundo pagas pelo Estado brasileiro. Como se vê, a plataforma da frente popular em nada representa um desenvolvimento nacional independente dos centros imperialistas, ao contrário, está umbilicalmente ligada à crise financeira internacional, onde o Brasil com suas gordas reservas cambiais e seu pujante mercado consumidor é um porto seguro para a agiotagem internacional, já que não tem qualquer capacidade tecnológica e industrial para se contrapor aos monopólios imperialistas.