Caro companheiro Arnaldo Guedes
Como sabes, estivemos no ato político realizado pelo PCB no Rio de Janeiro no último dia 23 de março publicitando nosso livro “90 anos do PCB: Uma análise trotskista desde a gênese revolucionária até a trajetória de colaboração de classes do ‘partidão’’. Em torno dessa publicação abrimos um debate com vários companheiros do PCB sobre a trajetória de vosso partido durante a própria atividade realizada na sede da ABI. Portanto, consideremos sua “resposta” a nosso balanço do ato político de 90 anos do PCB como parte dessa discussão em andamento. Em primero lugar é preciso esclarecer que você confunde as posições da LBI como a orientação defendida pela LIT na Líbia e na Síria. Para fazer um debate claro entre as posições da LBI e a orientação reivindicada pelo PCB devemos travar a polêmica em torno de nossas verdadeiras posições. Nesse sentido, ante de mais nada, informamos a você e aos demais camaradas do PCB que acompanham essa discussão que nossa corrente política foi a primeira em nível mundial a denunciar, ainda em fevereiro de 2011, que as “manifestações” em Benghazi tinham um caráter abertamente pró-imperialista e em nada se aproximavam de uma “revolta popular” e muito menos de uma “revolução”, como delira a seita morenista.
O livro da LBI atrai o interesse dos militantes do PCB
A partir dessa caracterização marxista, desgraçadamente naquele momento única em toda a esquerda mundial, desmascararmos os “rebeldes” mercenários a serviço da CIA, treinados no Katar com o apoio do Mossad, como agentes da contrarrevolução que buscavam derrubar o regime nacionalista burguês de Kadaffi para liquidar as conquistas sociais existentes no país, produto da revolução democrática dirigida pelos coronéis pan-arabistas que colocou um fim a monarquia do rei Idris em 1969. Enquanto adotávamos essa posição principista, o PCB seguia a linha do castrismo que chegou no site Cubadebate a demonstrar inicialmente simpatia com os “rebeldes” monárquicos da Líbia. Naquele momento, o PCB não denunciou o caráter pró-imperialista do movimento dos “rebeldes” de Benghazi, ao contrário, o apresentava como parte das “revoltas populares” iniciadas na Tunísia e no Egito. Basta procurar nos artigos da época publicados pelo partido. Esta posição demonstra claramente que foi o PCB e não a LBI que teve inicialmente ilusões na falsa “revolta” patrocinada pela Casa Branca na Líbia. Somente quando se delineou a intervenção militar da OTAN, Fidel Castro percebeu que o “conto” da tal “revolução árabe” estava voltado a dar uma cobertura “humanitária” a mais uma invasão ianque, denunciando-a publicamente. A partir desse momento o PCB copiou tal posição, o que consideramos sem dúvida como um avanço.
Apesar disso, o deslocamento rumo a uma genuína posição anti-imperialista por parte do PCB foi extremamente limitado. Prova disso é que enquanto o PCB se colocava contra a intervenção imperialista de forma abstrata na Líbia e sem apontar seus desdobramentos concretos no terreno da luta entre as forças em combate, nós da LBI previamente denunciamos a genocida ação da OTAN contra o país norte-africano e defendemos a frente única militar com o governo de Kadaffi e a vitória das milícias populares que apoiavam o regime contra as tropas abutres invasoras, mantendo nossa independência política diante de sua direção burguesa. Como se vê, sabemos muito bem o que se passa no Oriente Médio e estamos na trincheira de luta contra a ingerência das potências abutres na região não apenas agora na Síria, como fez o PCB, mas desde o início das provocações armadas pela CIA na Líbia. Portanto, a acusação de que somos “um grupo fracionário ao apoiar a ação da aliança Washington, Riad, Tel-aviv contra a Síria que em última instância é o jogo para atacar o Irã” infelizmente mais se parece com um verdadeiro amálgama político próprio do stalinismo quando deseja se defender das críticas de seus adversários atribuindo-lhes posições que não são as suas. Lembremos que Stálin chegou a acusar Trotsky nos Processos de Moscou de ser um agente de Hitler e do nazismo contra a URSS! Sabemos que hoje o PCB e sua militância está envolvida em um processo de autocrítica acerca dos erros políticos cometidos tanto no passado como na conjuntura mais recente, portanto compreendemos que tais recursos metodológicos não servem ao debate leal e franco que tenha o sentido de romper e superar com esses graves equívocos, que acabaram por fragilizar o próprio PCB.
Em sua “resposta” acerca de nosso balanço ao ato político de 90 anos do PCB você teve que recorrer a uma grosseira falsificação política para não responder a uma questão muito simples: como pode o PCB ser hoje, como você afirma, o “partido brasileiro que defende a revolução socialista e tem sua ação pautada nas teorias de Marx e Lenin” se na mesa de abertura do ato político realizado na ABI no último dia 23 de março estava presente o deputado federal Alessandro Molon, representando o PT, legenda que comanda o governo burguês de Dilma Rousseff, inimigo de classe dos trabalhadores brasileiros! Somos forçados a declarar que só um partido que se move por uma política de colaboração de classes adota essa conduta e, desgraçadamente, esse é o caso do PCB ainda hoje! Esperamos que esses esclarecimentos sirvam para que os militantes do PCB envolvidos no debate possam fazer um sério e profundo balanço da política do partido frente a temas tão importantes da luta de classes rumo à adoção de uma verdadeira política anti-imperialista e revolucionária.
Saudações revolucionárias,
Marco Queiroz
Pela direção nacional da LBI