A imprensa “murdochiana” não deixou por menos e
estampou em suas manchetes a “derrota do governo”, na votação em segundo turno
na Câmara dos Deputados da reforma do Código Florestal nesta última quarta-feira
(25/04). O confronto anunciado se deu entre o texto (apoiado por Dilma) vindo
do Senado, após ter passado pela Câmara em primeira votação, e o parecer do Deputado
Paulo Piau (PMDB-MG) apoiado por ruralistas e a reacionária bancada evangélica.
A diferença entre os dois textos propostos (Senado e maioria da Câmara) para o
novo Código Florestal é muito pequena, ambos representam os interesses do “agronegócio”
e a mão assassina do latifúndio. Mas, o governo ao bancar o acordo da reforma
feito no Senado, que teve o aval de lideranças do latifúndio, como a senadora
Katia Abreu (PSD), presidente da arquiconservadora Confederação Nacional da Agricultura
(CNA), tentou passar um colorido “progressista” ao texto que retornaria à Câmara
dos Deputados. A proposta do novo código pactuado com os ruralistas do senado
era tão “progressista”, que somente “idiotas úteis”, como o PT, PSOL e ONGs
poderiam crer neste verdadeiro conto de fadas, que entre outras “pérolas”
continha o seguinte: “1- A possibilidade de recuperar só metade das áreas que
foram desmatadas em beiras de rios e nascentes até junho de 2008. 2- A
permissão do plantio de lenhosas em áreas com inclinação maior de 45° e topos
de morros. 3- A desobrigação de recuperar as RLs desmatadas até 2008 para todos
os imóveis com até quatro módulos fiscais. 4- A autorização das RLs e APPs
serem recompostas com até 50% de espécies exóticas, o que aumentaria os
desertos verdes de eucalipto e pinus. 5- A possibilidade de recuperar ou
preservar a RL e/ou a APP em outra propriedade de um mesmo bioma. 6- Permissão
da regularização da expansão da carcinocultura nos mangues”. Armado o cenário
na Câmara do duelo entre “progres” e “reaças”, estes últimos comandados pela
extinta UDR, do deputado goiano Ronaldo Caiado (DEM) e os primeiros pela
liderança “vestal” do PT, o resultado da votação revelou que a grande maioria
da chamada “base aliada” do governo da frente popular prefere seguir a
orientação política da fascista UDR e não a dos cretinos petistas convertidos
em “socialistas neoliberais”.
Mas se enganou redondamente quem pensou que no “bloco
do não” (voto pelo não para a proposta vinda do senado) cabiam somente os
ruralistas tradicionais e “similares”. Os partidos da “esquerda”
social-democrata praticamente racharam nesta votação. Os parlamentares do PCdoB,
apesar da orientação do Comitê Executivo em votar pelo “sim”, dada por Renato
Rabelo, se dividiram meio a meio (6/6), refletindo o peso do ministro dos
esportes Aldo Rebelo que articulava abertamente o “bloco do não”. O racha no
interior do PCdoB, que ironicamente na semana passada publicou um artigo em
defesa do “marxismo leninismo”, assinado pelo próprio Renato, é produto das
poderosas forças centrífugas para liquidar a farsa da “foice e martelo”, em uma
organização que já se encontra totalmente rendida à burguesia. Também o PSB, os
“socialistas” das oligarquias regionais, verteu a maioria dos votos de seus
deputados para o pântano do “não”, no que foi seguido pelos falsos “nacionalistas”
do PDT, ao melhor estilo do finado Brizola. Até mesmo na bancada do PT o “não”
conseguiu colher um votinho, “pureza” mesmo só entre os deputados do PV,
aderentes na plenitude ao circo montado para vender a incautos o conto “progressista”
do novo Código Florestal.
A “derrota” do governo Dilma no seio de sua própria
base de apoio na Câmara dos Deputados não foi propriamente uma surpresa
política. Apesar dos altos índices de popularidade e da ampliação da base
social do governo, Dilma conhece muito bem o caráter reacionário e fisiológico
de seus “companheiros” parlamentares, que não vacilam em apoiar todas suas
medidas de ataques às conquistas históricas da classe trabalhadora, como a
recente aprovação por ampla maioria da previdência privada para os servidores públicos
federais. Quando lhe convém vestir a “aura” de progressista, Dilma conta
permanentemente com o apoio da “oposição de esquerda” (PSOL e PSTU), como agora
na votação do Código Florestal, onde os deputados do PSOL vestiram
vergonhosamente a camisa do “bloco do sim”, fazendo mais uma vez o jogo de dar
uma cobertura de “esquerda” a um governo que é declaradamente inimigo da mais
tímida reforma agrária. Já o PSTU, mesmo sem representação no Congresso Nacional,
apesar de todos seus malabarismos oportunistas, chancela integralmente a “prática”
parlamentar de seus “camaradas” do PSOL, descarregando nos ombros do governo
Dilma a exclusividade da capitulação aos latifundiários do Senado.
Não podemos nos esquecer que a votação de ontem (25/04)
na Câmara, ocorre no mesmo momento que precede a instalação da “CPI do
Cachoeira”, tendo sido já indicados o presidente (PMDB) e o relator (PT) da “explosiva”
comissão. Tendo como parâmetro político a derrota do governo, podemos esperar
que a quase totalidade do Congresso Nacional, comprometida até a medula com a
corrupção das empreiteiras e grandes corporações capitalistas, não investigue
seriamente absolutamente nada. A CPI do “bicheiro” que se envolveu em todos os
generosos negócios da “república dos barões”, no máximo deve servir como palco
de “vingança” entre bandos mafiosos, decapitando alguns cadáveres insepultos
como o próprio senador Demóstenes e alguns deputados do chamado “baixo clero”.
Enquanto a CPI serve como instrumento de distração política das massas, com a
ajuda dos reformistas arautos da “ética” do capitalismo, o próprio congresso
dos “picaretas” deve seguir a pauta do “ajuste” contra a classe operária e o
campesinato pobre, onde o novo Código Florestal aprovado é apenas o “aperitivo”
de uma receita monetarista violentíssima, imposta pela ofensiva mundial do
capital financeiro contra povos e nações.