Quase ocultada pela “grande mídia”, há cerca de duas
semanas a disputa pelo arquipélago situado no Mar da China (meridional) vem
servindo de pretexto para o imperialismo ianque lançar novas provocações contra
a China. As Filipinas violaram o território chinês a fim de reivindicar para
si, entenda-se para os EUA, o domínio colonial das centenas de ilhotas no Mar
da China, desabitadas, porém ricas em jazidas de petróleo e gás natural. “Os
EUA viraram a página após uma década de guerra no Afeganistão e no Iraque e,
oficialmente, dirigem seus olhos à crítica região da Ásia e do Pacífico”,
proclamou no início do ano, Barack Obama em sua “doutrina” voltada para cercar
a China. Manobras militares acontecem de forma sistemática desde o dia 22 de
abril, envolvendo as forças navais das Filipinas, EUA, Japão, Austrália e
Coreia do Sul, as quais já ocuparam a ilha de Huangyan, onde realizam
simulações de guerra. Em contrapartida, China e Rússia deslocaram armadas para
as proximidades da ilha: quatro mil homens, 16 navios, cinco destróieres, 13
aviões de guerra, navios de combate, cruzadores de mísseis etc., o que somente
aumenta o nível de tensão bélica nesta região do globo terrestre. A crise
iniciou-se no dia 10 último, quando navios militares filipinos tentaram prender
pescadores chineses que trabalhavam nos atóis de Scarborough. Pequim argumentou
que os filipinos violaram o território chinês e impediram as prisões. Assim,
estavam colocadas as escaramuças e iniciadas as provocações tanto para
intimidar a China, “aliada” da Coréia do Norte, como parte dos preparativos da
futura guerra ao Irã.
A estratégia de defesa do Pentágono tem a China como
alvo e por isso intensifica suas manobras no Oceano Pacífico: “EUA e Filipinas
têm um tratado de defesa comum que garante nosso compromisso na proteção mútua”
(Terra Notícias, 23/4), afirmou o tenente-general Duane Thiessen, comandante
dos soldados americanos no Pacífico. Evidentemente que as “intenções” ianques
não se resumem à questão meramente petrolífera. Trata-se, não obstante, da
expansão de seu domínio geopolítico e militar na região em litígio, ou seja,
visa não só minar a influência chinesa nesta parte do globo, como
principalmente “ganhar terreno” em direção a Coreia do Norte a fim de
enfraquecer a todo custo o Estado operário. De quebra, pressiona militarmente a
China visando neutralizá-la diante da futura agressão imperialista ao Irã. Não
por coincidência, as tensões subiram de tom pouco depois que Kim Jong-un
anunciou seu próximo teste nuclear: “A República Popular Democrática da Coreia
(RPDC), já realizou dois testes em 2006 e 2009, utilizando plutônio. Desta vez,
ela poderia usar urânio enriquecido por ele. Um eventual sucesso lhe permitiria
desenvolver mais facilmente com um arsenal, incluindo ogivas nucleares para os
mísseis” (Le Monde, 25/4).
A mídia murdochiana qualifica a China como uma grande
potência imperialista aliada, por exemplo, a Coreia do Norte, no que é
grotescamente imitada pela esquerda revisionista do trotsquismo. A realidade,
no entanto, é bem distinta deste mundo idílico. A China, após a restauração
capitalista, se transformou no maior entreposto comercial e industrial do
mundo, uma grande consumidora de commodities e é nisto que consiste a sua
“exuberância” econômica. Caracteriza-se por ser uma economia semicolinal com
fortes induções estatais, remanescentes da herança stalinista. Em suma, por
maior que seja o crescimento do PIB chinês, a hegemonia militar em todo o
planeta concentra-se plenamente nas mãos da Casa Branca. A China, sendo um país
capitalista, com pesados investimentos do imperialismo, certamente se vergará
às pressões, assim como a própria Rússia o faz também no papel de semicolonia
dos EUA em que se transformou após a destruição do Estado operário soviético.
Não por acaso, Putin acaba de autorizar a instalação de uma base militar da
OTAN na cidade onde nasceu Lênin. Ambos governos, por não terem autonomia
política perante o imperialismo, vão capitular no quesito enfrentamento aberto
com as grandes potências capitalistas ianque e europeias, como já o fizeram na
guerra de rapina contra a Líbia e agora vem ocorrendo na Síria, com a aceitação
dos observadores-espiões da ONU. Obama foi claro ao explicar sua nova
“doutrina”: “Nosso exército será menor (do que o da China), mas o mundo deve
saber que os EUA manterão sua superioridade militar, com forças armadas que
serão de intervenção imediata e dispostas a enfrentar qualquer eventualidade e
qualquer ameaça”.
A nova campanha militar na região está eminentemente
voltada para colocar em prática a fragmentação territorial da China e, com isto
levar à desestruturação social, política e econômica do país. A Casa Branca e o
imperialismo europeu vêm realizando um operativo para desestabilizar o país,
tal como aconteceu com a questão da independência do Tibet, o estímulo ao
separatismo islâmico e muçulmano em algumas províncias chinesas por força
atuante da CIA, sabotagens amplamente aceitas e apoiadas pela esquerda
revisionista do trotsquismo como fazem os morenistas da LIT em nome de um “Tibet
Livre”. As constantes provocações contra o Estado nacional chinês cumprem, em
última instancia, o objetivo de acabar com qualquer possibilidade de que algum
regime ao redor do planeta se oponha ainda que minimamente ao “american way
life”, como são os casos específicos da Coreia do Norte e Irã. Somente a
revolução proletária, encabeçada por um autêntico partido revolucionário poderá
retomar o controle para si da economia planificada na China e o controle do
Estado por parte dos trabalhadores e enfrentar frontalmente a barbárie
imperialista rumo à construção do socialismo.