quarta-feira, 18 de abril de 2012

A estatização “trucha” da Repsol e o enorme fortalecimento do projeto “nacional e popular” dos K

A presidente Cristina Kirchner acaba de anunciar nesta segunda-feira (16/04) a retomada de 51% das ações da YPF, privatizada no final da década de 90 pelo governo Menem, para o controle do Estado Argentino. A fração acionária majoritária da YPF (Yacimientos Petrolíferos Fiscales), fundada em 1922, foi vendida a espanhola gigante do setor de energia Repsol em 1999 em plena “queima” total das estatais argentinas. Agora Cristina enviou ao Congresso Nacional um projeto de lei de recompra compulsória das ações que a Repsol detém no controle da YPF, como ela mesmo definiu em uma movimentada coletiva a imprensa mundial: “não se trata de estatização mas sim da recuperação da soberania hidrocarburífera da república Argentina”. A operação planejada pelos K, não expropria nenhum grupo econômico privado nacional, que continuam a ter incólumes cerca de 30% das ações da YPF, tampouco confisca a Repsol que será remunerada pelas suas ações nos marcos estabelecidos pelos preços do mercado internacional. Na própria segunda-feira a “indignada” direção da Repsol em Madrid, coberta de solidariedade pelo governo franquista de Rajoy e pelos “socialistas” do PSOE, estipulou em oito bilhões de dólares o preço de sua “indenização”, para logo depois elevar em mais de dois bilhões o valor a ser pago pelo governo Argentino. Por sua vez, Cristina já mandou avisar que não pagará os dez bilhões de dólares reivindicados pela Repsol (talvez chegue a US$ 6 bi), iniciando assim um longo processo de negociações portenhas e ameaças imperialistas, que obviamente em muito interessa ao governo argentino, que assiste sua popularidade política atingir níveis só alcançados pelo lendário general Juan Domingo Perón.

Mas engana-se redondamente quem pensa que a recompra da YPF representaria apenas uma manobra “eleitoral” de demagogia nacionalista, como parece ser o caso dos dementes do Partido Obrero (PO). A Argentina tem um enorme potencial em reservas de petróleo e gás natural, estima-se que detenha o segundo maior manancial ainda não explorado de gás de toda a América e o terceiro do planeta. Recentemente foi descoberta a jazida petrolífera de “Vaca Muerta”, no sopé dos Andes, o que poderá multiplicar por oito a produção de hidrocarburetos do país. Acontece que pelo intenso processo de sucateamento vivido pela YPF nos últimos quatro anos, a Argentina perdeu sua autossuficiência histórica em petróleo, atingida bem antes mesmo do Brasil. A multinacional espanhola Repsol, em função da crise financeira europeia, vinha canalizando seus investimentos para a rapinagem imperialista sobre os países árabes, incluindo a Líbia recentemente saqueada pelas “gigantes europeias”, deixando a YPF argentina sobreviver as suas “próprias custas”. Sob o “abandono” da matriz não restou outra alternativa ao governo argentino senão a “desapropriação” remunerada da Repsol e o mais importante no momento, impulsionar com a própria burguesia argentina um projeto energético de grande fôlego e de bem mais consistência do que o falacioso “pré-sal” brasileiro.

O “modelo” pensado pelos K para a “nova” YPF não tem o menor traço de “estatismo” e tampouco de “nacionalismo”, ao contrário, “copia” a estrutura acionária da Petrobras e suas “parcerias” com as multinacionais do setor na exploração das reservas nacionais de petróleo. Como é provável que em um primeiro momento as bravatas do imperialismo resultem em um certo “boicote” a investimentos diretos na YPF, o governo argentino já conta com o apoio decidido da China, expulsa da Líbia pelo cartel de piratas saqueadores, que está disposta a “tocar” a parceria com a YPF, principalmente na exploração do gás natural, investindo imediatamente cerca de dois bilhões de dólares, dinheiro que será utilizado pelos K para amortizar sua “dívida” com a Repsol. Portanto, estaremos em breve assistindo um enorme potenciamento da economia argentina em um setor que estava “congelado” e arrastando várias províncias a bancarrota. Também a semelhança do que ocorre no Brasil e Venezuela, núcleos da burguesia serão diretamente beneficiados com o “aquecimento” do setor energético, principalmente em época de alta dos preços das commodities minerais no mercado internacional. Obviamente, estes segmentos capitalistas ascendentes emergirão no cenário político 100% governistas, gerando uma base de apoio confortável ao projeto de longo prazo “nacional e popular” dos K.

O movimento operário classista argentino deve compreender toda a complexidade da conjuntura aberta, para não ficar simplesmente repetindo como os idiotas catastrofistas de PO que “Cristina va al derrumbe”, como fizeram às vésperas da eleição presidencial quando a viúva K conquistou uma vitória acachapante. Em primeiro lugar, é preciso denunciar e mobilizar as massas contra o pagamento escandaloso aos abutres imperialistas da Repsol, que levaram do canalha Menem a empresa estatal a preço de banana. Em segundo lugar, para uma nacionalização efetiva de YPF, como é a verdadeira aspiração popular, se faz necessário colocar a empresa sob controle dos seus operários, sob uma nova gestão anticapitalista, expulsando os burgueses nativos do controle (minoritário) da empresa. E, por último, mas não menos importante, é fundamental a construção de uma ferramenta política independente dos explorados que polarize o cenário nacional, sempre a frente do projeto de colaboração de classes da família K.

Representa uma vergonha para o trotsquismo revisionista argentino, agrupado na “Frente de Esquerda” sempre se colocar como “furgón de cola” (reboque) das tímidas ações de desbotada coloração “nacionalista” dos K. Assim ocorreu na questão das Malvinas quando recentemente afirmaram ser contra uma ocupação militar das ilhas, declarando o seu apoio apenas “platônico” à reivindicação nacional de retomada do arquipélago, roubado pelos piratas imperialistas ingleses do povo e da nação argentina. Agora novamente repetem o “erro” e voltam a minimizar o impacto sobre as massas das medidas adotadas por Cristina na questão da YPF. Talvez quando a “Frente de Esquerda” começar a ser rechaçada nos bairros operários da grande Buenos Aires resolvam dar um passo a frente diante do engodo K e pelo menos assumir uma postura anti-imperialista minimamente consequente, mas por enquanto devem seguir “torcendo” com a OTAN de Rajoy, Sarkozy e Madame Clinton por uma intervenção “humanitária” na Síria...