Como já havíamos prognosticado há dois meses, os dias
de Sarkozy no palácio do Élysées parecem estar com os dias contados. No último
domingo (22/04), no primeiro turno das eleições presidenciais francesas, o partido
socialista (PS) obteve uma significativa vitória contra a UMP do fascistizante
Nicolas Sarkozy, ainda que por uma pequena margem de 1,5% de votos. Em terceiro
lugar, com uma votação excepcional (cerca de 18%), ficou a neonazista Frente
Nacional, da candidata “filhote” Marine Le Pen. Atrás da extrema direita, com uma
votação abaixo da expectativa gerada, aparece Jean Luc Mélenchon da Frente de
Esquerda com um pouco mais de 11% dos votos. Com o segundo turno marcado para o
próximo 06 de maio, o burocrata do PS François Hollande parte com o importante
trunfo de pela primeira vez na história da V República um presidente ter sido
derrotado no primeiro turno das eleições.
A derrota parcial de Sarkozy, castigado politicamente
por uma gestão de profundos ataques às conquistas sociais da classe operária,
ocorre em uma etapa de “pico” do ciclo da crise capitalista e de nítido ascenso
do neonazismo europeu. Pela margem apertada do triunfo do PS, ganha peso no
segundo turno a decisão da Frente Nacional, que tende a referendar Sarkozy
apesar de considerá-lo “frouxo” no combate xenófobo aos imigrantes. No outro
campo da “esquerda” social-democrata, começou a cruzada de apoio ao programa
neoliberal do “socialista” Hollande, começando é claro pela Frente de Esquerda
de Mélenchon. Se alguns ainda nutriam “esperanças” que a Frente de Esquerda
viesse a delimitar com o PS, co-responsável pela política de “ajuste” da troika
levada a cabo por Sarkozy, enganaram-se redondamente. Enquanto o velho traidor
do proletariado, Partido Comunista integrante da Frente de Esquerda, negocia
descaradamente sua participação em um futuro governo do PS, Mélenchon posando
de “vestal” declara: “Convoco todos para que nos reunamos dia 6 de maio – e sem
nada pedir em troca de nosso voto –, para derrotar Sarkozy!”.
Mas se se a posição tomada pela Frente de Esquerda, de
apoio envergonhado ao PS, já era esperada, “surpresa” mesmo foi o rápido
anúncio feito pelo Novo Partido Anticapitalista (NPA) de legitimar Hollande na
segunda volta presidencial. O revisionista NPA que obteve 1% dos votos com a
candidatura de Philippe Poutou, retrocedendo quase cinco vezes de sua votação
de 2007, declarou ao canal France 2 Television que: “No próximo dia 06 de maio
a eleição servirá a um propósito: colocar para fora Nicolas Sarkozy”. Outro “segmento”
do revisionismo francês, Luta Operária (LO), que cravou meio ponto percentual
no último domingo, perdendo cerca de dez vezes de seus votos em comparação a
sua melhor eleição em 2002, afirmou cinicamente que: “Obviamente aconselharemos
a classe trabalhadora a não votar por Nicolas Sarkozy, o presidente dos ricos”.
Outros grupos pseudotrotsquistas sem nenhuma expressão real na luta de classes
da França, como o de Alan Woods e do finado Lambert, também engrossam o caudal
frente populista de “todos juntos para derrotar Sarkozy”. Estes arautos das
reformas no putrefato regime capitalista, “todos juntos” pretendem repetir as
escandalosas traições de classe praticadas durante os quatorze anos do governo “socialista”
de Mitterrand.
A derrota da direita francesa, UMP e Frente Nacional, não
virá pela via eleitoral, ao contrário, uma nova gerência do PS a frente do Estado
imperialista só reforçará as tendências fascistas presentes em um período de
agravamento da crise capitalista. A velha receita estalinista de “frente ampla”
parlamentar contra a direita, hoje desgraçadamente seguida pela grande “família”
do revisionismo trotsquista, é historicamente o caminho mais curto para “colher”
as piores derrotas para a classe operária. Os bolcheviques leninistas apontam
vigorosamente a senda da frente única operária de ação direta, com absoluta
independência de classe em relação aos setores “progressistas’ da burguesia,
como é o caso atual da social democracia europeia já convertida em força
política capitalista. Nas eleições da França, assim como no primeiro turno, a
esquerda revolucionária não tinha candidato, no próximo dia 06 de maio a
vanguarda classista do proletariado deve reforçar a denúncia das duas
candidaturas siamesas, UMP e PS, ambas comprometidas com o draconiano programa
de “ajustes” do FMI (até pouco tempo dirigido por um quadro “socialista”).
Somente a ação direta e revolucionária das massas será capaz de estabelecer as
bases, não para a “refundação da V República” como pregam os reformistas de
todos os matizes, mas sim para fundação da república socialista dos povos europeus.