Teve início neste 24 de abril uma paralisação de dois
dias convocada pela COB em apoio a luta dos médicos e estudantes bolivianos. La Paz foi
palco de uma jornada de protestos contra a política de arrocho salarial do
governo de Evo Morales, que desferiu uma brutal repressão através da polícia
para dispersar manifestações de mineiros, médicos e estudantes. O protesto
reuniu pela manhã milhares de trabalhadores, que se defenderam jogando pedras e
bananas de dinamite contra a polícia na Praça Murillo, próximo à sede do governo.
Os trabalhadores reivindicam aumento salarial superior a 8% e denunciam o
aumento no custo de vida. A manifestação começou em El Alto e prosseguiu até o
centro de La Paz, com a direção da COB limitando a luta a reivindicações
econômicas sem apontar nenhum eixo de denúncia política do caráter burguês da
gestão de colaboração de classe do MAS porque acredita que pode pressionar
Morales “a mudar o rumo de seu governo”, algo bastante parecido com a cantilena
distracionista que a CUT faz no Brasil com o governo Dilma ou praticou durante
todos os dois mandatos de Lula.
No último dia 19 de abril, um ampliado da COB rejeitou
a proposta feita pelo governo Morales que estipulou em míseros 7% o aumento dos
salários de várias categorias e em 18% no salário mínimo nacional. Apesar disso
não convocou a greve geral por tempo indeterminado, mas apenas uma paralisação
de dois dias. Segundo o presidente da COB, Juan Carlos Trujillo, “a central não
é nem oposição nem oficialismo ante Morales”, criticando no máximo a “direitização
do governo”, o que na prática significa que a burocracia cobista se nega a
denunciar a gestão do MAS como inimiga de classe dos trabalhadores bolivianos,
fazendo dos protestos um instrumento de barganha para que Morales possa atender
algumas reivindicações, diminuindo a pressão da bases sobre a burocracia
sindical.
Frente a essa limitada resistência convocada pela COB,
o governo se recusa a propor um novo aumento salarial, tentando impor sua
política pela via da cooptação das direções sindicais. Apesar disso, desde o
final do ano passado, Evo vem enfrentando várias lutas populares. Um exemplo foi
a mobilização dos povos originários contra a construção de uma estrada no meio
de um parque indígena. Mais uma vez a reação do governo foi lançar uma violenta
repressão contra a marcha indígena. Esta é uma clara evidência do esgotamento
do chamado “Socialismo do Século XXI”. A via “bolivariana” de gestão do Estado
capitalista é uma alternativa burguesa com corte demagógico “socialista” que se
nega a atender as demandas populares mais elementares. Está claro que Evo
efetivou um pacto com as oligarquias regionais e os imperialismos ianque e
europeu para “estabilizar” o regime político e arrefecer os ânimos das massas
através da repressão estatal e da cooptação. A repressão aos indígenas e aos
trabalhadores em geral nada mais é do que a expressão deste vergonhoso pacto
oligárquico.
A cada confronto das massas exploradas bolivianas fica
patente a ausência de uma direção revolucionária dos trabalhadores, onde a COB
joga todo seu peso para isolar e dispersar as lutas em curso, no máximo
utilizando-as para pressionar o governo. Para romper com este quadro é
necessário que os trabalhadores estejam orientados por uma clara plataforma
revolucionária, mas tragicamente as correntes políticas que se reivindicam
trotskistas no país, mais particularmente o POR boliviano, não passa hoje de um
apêndice de “esquerda” da direção da COB. Está colocada na ordem do dia a luta
por forjar uma alternativa de direção revolucionária para o proletariado
boliviano e essa tarefa passa por ganhar os trabalhadores do campo e da cidade
para se colocar no terreno da oposição operária e revolucionária a governo Evo,
superando a política de colaboração de classes da direções sindicais
oficialistas e da própria COB que finge ser “independente” diante do governo do
MAS, mas na verdade bloqueia a luta política para que a vanguarda classista
encare a gestão da frente popular como um instrumento da burguesia contra os
trabalhadores.