sexta-feira, 29 de março de 2013


Entre provocações ianques, a guerra nuclear na península coreana é cada vez mais uma possibilidade concreta

A esquerda revisionista tem se esforçado para ignorar o fato concreto da possibilidade de ocorrer uma guerra nuclear na península coreana. Caso ocorra seria a segunda vez na história da humanidade que um país usaria este tipo de armamento contra outro, assim como ocorreu na Segunda Guerra Mundial onde o imperialismo ianque bombardeou cidades japonesas com este tipo de artefato bélico. Mesmo em quase cinquenta anos de tensão militar da chamada “guerra fria” nunca as potências “socialistas” ou capitalistas se enfrentaram com armamento nuclear, mas parece que a última órfã do Maoismo, a Coreia Popular, diante do isolamento econômico imposto pela China restaurada e das provocações do império ianque, poderá ser forçada a utilizar suas ogivas atômicas contra o território “enclave” da Coreia do Sul. Nos últimos quinze anos a tensão entre as duas Coreias tem se elevado bastante, principalmente após o governo Bush incluir o Estado operário norte-coreano como um país “terrorista e membro do eixo do mal”. Mas o atual nível de conflito entre os EUA e a Coreia Popular não tem paralelo desde o armistício celebrado em 1953. O dirigente norte-coreano Kim Jong-Un ordenou durante reunião de emergência com as principais autoridades militares do país que os mísseis: “estejam preparados para disparar e golpear em qualquer momento o território dos Estados Unidos e suas bases militares no Pacífico, inclusive o Havaí e Guam, assim como as da Coreia do Sul”.

quinta-feira, 28 de março de 2013


Os marxistas devem reivindicar a saída de Feliciano da Comissão dos Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal?

A escolha do deputado e pastor evangélico Marcos Feliciano (PSC-SP) para presidir a Comissão dos Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara Federal provocou uma série de protestos contra sua eleição, repúdio que uniu desde setores do PT/PCdoB, passando por “celebridades globais” e recebeu apoio entusiástico do PSOL e PSTU. Artistas, músicos e políticos de amplo espectro político logo aderiram à campanha “Fora Feliciano”, com direito a atos públicos e depoimentos “revoltados” de Fernanda Montenegro, Wagner Moura, Caetano Veloso, Chico Buarque... Feliciano é conhecido por suas declarações homofóbicas e racistas. Nas chamadas “redes sociais” o parlamentar do PSC lançou impropérios deste quilate: “os africanos descendem de um ancestral amaldiçoado” (O Estado de S.Paulo, 28/3) e reforçou um obscuro fundamentalismo religioso ao afirmar que “A maldição que Noé lança sobre seu neto respinga sobre o continente africano, daí a fome, pestes, doenças, guerras étnicas” (idem). As posições políticas ultrarreacionárias de Feliciano – puxador de votos para a candidata presidencial petista em 2010 com o slogan “Tô na bênção, tô com Dilma13” – são por demais conhecidas dentro do amplo cardápio conservador que domina o parlamento burguês, um retrato fiel da classe dominante que o controla. Justamente por isto ele foi eleito presidente da CDHM, o que demonstra que seus pares, em meio às negociatas que campeiam o parlamento burguês, o elegeram cientes da escolha. “Enfurecida”, a malfadada “oposição de esquerda”, que sempre se apresenta como paladina da moralização das instituições do apodrecido regime burguês, logo empunhou a campanha pelo “Fora Feliciano” e várias manifestações foram convocadas para retirá-lo da presidência da CDHM, exigindo sua substituição por outro parlamentar. Em meio à polêmica cabe a pergunta: os marxistas também devem se mobilizar para reivindicar a saída de Feliciano?

quarta-feira, 27 de março de 2013


Demissões em massa na GM: Quem semeia traições colhe vergonhosas derrotas!

O acordo celebrado entre o Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos (filiado a CSP-Conlutas e controlado há mais de 20 anos pelo PSTU) com a GM deu o resultado esperado... para a multinacional norte-americana! A montadora confirmou a demissão de 598 trabalhadores nesta terça-feira, 26 de março. Segundo nota da GM, a empresa informou que seguiu os termos do acordo assinado no último dia 26 de janeiro de 2013 com o sindicato. A demissão em massa envolve os empregados que estavam em “lay-off” (período de afastamento) desde agosto de 2012. Durante mais de um ano de “negociações”, o PSTU e a Conlutas se restringiram a pedir que o governo Dilma pressionasse a GM a não demitir, alimentando ilusões na frente popular, porém nunca convocaram uma única greve em qualquer das oito fábricas existentes no Complexo Industrial da empresa na cidade. Celebraram um acordo vergonhoso com a multinacional com direito a abraços e sorrisos cínicos de Macapá e Mancha, dirigentes do Sindicato e do PSTU, com os executivos da GM no Brasil. O resultado desse engodo foi que após a imposição de um PDV, da flexibilização trabalhista e da redução de salário para futuros novos contratados, a GM demitiu quase 600 trabalhadores com o aval do sindicato. Enfim... quem semeia traições colhe vergonhosas derrotas! Como sempre, o PSTU abriu mão da luta direta e da greve com ocupação de fábrica, único meio para barrar as demissões, para fazer um lobby inútil junto ao governo do PT. Foi assim nas demissões na Embraer, na derrota do Pinheirinho e agora na GM. Tanto que cinicamente, após o anúncio das demissões, o sindicato divulgou comunicado declarando “A postura absurda da GM tem a conivência da presidente Dilma Rousseff, que sempre se mostrou benevolente com as empresas, mas nunca exigiu que assumissem um compromisso para garantir empregos e direitos aos trabalhadores” (OESP, 26/03/2013). O PSTU esperava outra conduta do governo burguês do PT? A direção morenista corrompida pelos privilégios próprios da burocracia sindical, produto de uma política de completa adaptação ao regime burguês e ao imperialismo, apostou suas fichas para... negociar as demissões, cedendo à chantagem da empresa, sendo bastante “benevolente” com a GM.

terça-feira, 26 de março de 2013


Após votar na oposição Demo-Tucana para presidência do Senado, o PSOL decide entrar no bloco parlamentar governista em troca de vaga na CCJ

O único parlamentar do PSOL no Senado, Randolfe Rodrigues eleito graças ao apoio eleitoral da oligarquia Sarney no Amapá, acaba de alterar o status político de seu partido na casa, trocando a posição de “oposição” para a de “independência” em relação ao governo Dilma. A razão da drástica e repentina mudança política do jovem senador, que há pouco tempo apoiou a candidatura unificada da oposição à presidência do Senado, foi bem “pragmática” e mais uma vez completamente oportunista. Randolfe ao ingressar no bloco parlamentar de apoio ao governo foi “generosamente” contemplado com um assento na cobiçada Comissão de Constituição e Justiça, além da Comissão de Educação do Senado. A entrada do senador psolista na “base aliada” da gerentona Dilma, no último dia 20/03, foi entusiasticamente comemorada pela senadora amazonense do PCdoB, Vanessa Grazziotin, em seu Twitter. Já o líder do bloco governista, Senador Wellington Dias (PT-PI), afirmou que a presença de Randolfe vai fortalecer o bloco, que passa a agregar 26 dos 81 senadores. “O que tem de positivo é que a gente passa a discutir primeiro com ele (Randolfe) no bloco antes de ter uma posição”, afirmou um sorridente Wellington na TV Senado.

segunda-feira, 25 de março de 2013


Desaparecimento do POR (argentino): Uma crônica do revisionismo anunciado

O principal dirigente do POR argentino, Fernando Armas, acaba de ser expulso da organização que fundou em 1988, quando rompeu com o Partido Obrero de Jorge Altamira. Sua exclusão do POR foi produto de uma reação política empírica dos outros membros do Comitê Central às posições abertamente revisionistas de Armas, que há tempos vinha defendendo uma linha política cada vez socialdemocrata e, no último período, contestando a própria concepção leninista de partido. A tendência à dissolução e adaptação programática acabou por aproximar do POR novos arrivistas hostis ao leninismo, que tiveram em Fernando Armas seu porta-voz e principal representante no interior da corrente. O resultado deste processo foi um choque aberto com os outros membros do CC inclusive noticiada nas páginas do Jornal “Masas”, já que Armas buscava através de sua influência política pessoal sufocar os que ainda defendiam, mesmo que formalmente e de forma defensiva, a manutenção do programa e da própria organização. A profundidade da crise instalada no POR argentino desgraçadamente deve levar ao desaparecimento político da própria corrente porista do cenário político argentino. Para além dos aspectos “internos e prosaicos” que levaram à expulsão de Fernando Armas, a direção da LBI que estabeleceu uma jornada de discussões programáticas com o POR argentino no final da década de 90, compreende que as raízes desta crise são a pressão política, social e ideológica sobre as organizações que se reivindicam leninistas, uma força destruidora que se agigantou com a ofensiva do imperialismo e da democracia burguesa sobre a esquerda após a liquidação contrarrevolucionário da URSS e do Mudo de Berlim e que vem “socialdemocratizando” grupos que capitulam a esta onda de reação democrática.

sexta-feira, 22 de março de 2013



Aldeia Maracanã: Abaixo a repressão da PM de Sérgio “Caveirão” contra a população pobre em nome das obras da Copa do Mundo! Retomar a ocupação unindo índios, sem-tetos e trabalhadores!

No final da manhã desta sexta-feira, 22, a Aldeia Maracanã localizada no antigo Museu do Índio, na cidade do Rio de Janeiro, ocupado pelos índios desde 2006 foi brutalmente desocupada pelo Batalhão de Choque da polícia de Sérgio Cabral “Caveirão” (ver vídeo). Os índios foram expulsos em uma relação de forças desproporcional, com bombas de gás, spray de pimenta e balas de borrachas por 200 homens do Bope, quando se organizavam pacificamente para se retirar, em um autêntico operativo de guerra contra a população pobre da capital fluminense, a pretexto que “evitar um incêndio” duranteum ritual dos índios. O índio Michael Oliveira relata: “A gente estava fazendo nosso ritual e a polícia entrou desrespeitando a gente. Me bateram com cacetete, jogaram gás, ao contrário do que foi combinado” (UOL Notícias, 22/3). O prédio que os índios ocupavam estava abandonado desde o final dos anos 70, quando deixou abrigar o Museu do Índio e por se localizar ao lado do estádio do Maracanã estava previsto ser demolido como parte das “obras de mobilidade” da Copa do Mundo de 2014, mas diante dos protestos da população o governo decidiu por reformá-lo e erguer um suposto museu esportivo. Vários pedidos de “reintegração de posse” foram emitidos pela “justiça” burguesa, mas devido a resistência e mobilização não conseguiram vingar. No entanto, pressionada por gordas propinas das grandes empresas, a 8ª Vara Federal Cível do Rio concedeu emissão de posse em favor do governo, cujo parecer foi completamente desfavorável ao movimento de ocupação, afirmando que não mais cabia qualquer recurso. Assim, desde as 3 horas da manhã o Batalhão de Choque se utilizando de dois carros blindados (“caveirões”) invadiu a ocupação “Aldeia Maracanã”, atirando balas de borracha e bombas de efeito moral por todo lado.

quinta-feira, 21 de março de 2013


Frente Única Anti-imperialista para derrotar a ofensiva dos “rebeldes” da OTAN contra a Síria! Todos à caminhada contra a intervenção estrangeira!

Ocorrerá neste dia 23 de março, em São Paulo, uma manifestação “Em defesa da Soberania da Síria”. A atividade é convocada pelo Comitê de Solidariedade ao Povo Sírio e por várias organizações políticas e entidades, como PCB, PCdoB, UNE e MST. Apesar de não ter acordo integral com os eixos programáticos da caminhada, a LBI se soma a sua convocação porque compreende ser uma atividade de frente única de ação anti-imperialista para denunciar a agressão da OTAN e seus “rebeldes” contra a Síria, ofensiva que tem como alvo final o Irã. As recentes ações terroristas dos grupos financiados pelas potências capitalistas, Israel e seus aliados locais (Turquia, Catar, Arábia Saudita), inclusive com o uso de armas químicas, demonstra o objetivo da Casa Branca de derrubar o governo Assad para colocar um títere em Damasco. Por comandar um governo burguês de corte nacionalista, Bashar Al Aassd é incapaz de levar a frente, de forma consequente, a luta contra a ofensiva neocolonialista, buscando via de regra um acordo com o imperialismo ianque por meio da ONU e intermediado pela Rússia e a China. De nossa parte, como marxistas revolucionários, compreendemos que a única forma de derrotar a agressão em curso é através da unidade revolucionária do proletariado sírio com seus irmãos da região, particularmente os iranianos e palestinos, para expulsar o imperialismo e a OTAN do Oriente Médio e impedir que a barbárie social imposta na Líbia se repita em outros países, hecatombe cinicamente apresentada como uma “revolução” pela Casa Branca e vergonhosamente apoiada por setores da esquerda mundial.

quarta-feira, 20 de março de 2013


O “beijo da morte”: Papa Francisco I dirigirá cruzada reacionária contra governo CFK com a “benção” dos revisionistas do trotskismo

Logo após a escolha para o trono papal do Cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, como um passe de mágica a mídia “murdochiana” montou uma operação mundial para demonstrar que a desprestigiada Igreja Católica havia escolhido um “chefe à altura”, “humilde” e mais “próximo dos pobres”. Setores da esquerda, particularmente na Argentina, entretanto logo denunciaram o hoje Francisco I como um fiel colaborador da genocida ditadura militar argentina instaurada em 1976, o que se revelou a mais pura e incontestável verdade, há fartas denúncias de seu envolvimento no sequestro e tortura de dois jesuítas quando comandava a Companhia de Jesus no país. O que poucos denunciaram, particularmente os grupos revisionistas do trotskismo argentino, foi o papel que Bergoglio desempenhou bem mais recentemente, sendo um dos mais ferozes opositores pela direita do governo de Nestor Kirchner e da própria Cristina Fernandez Kirchner (CFK), usando sua função de Cardeal de Buenos Aires para atacar até mesmo as tímidas medidas adotadas pelo governo “nacional e popular dos K” como a Ley de Medios e o direito ao casamento entre os homossexuais. Se, como Cardeal, Bergoglio foi um dos apoiadores mais entusiastas dos “cacerolazos” promovidos contra CFK pela direita, manifestações reacionárias que foram também apoiadas por grupos pseudotrotskistas como PO e PTS, o que não fará agora na condição de chefe supremo da mafiosa Igreja Católica! O encontro entre CFK e Francisco I em Roma, nas celebrações de seu entronamento como Pontífice, com direito a um “beijo da morte” na presidente argentina, para além do cinismo de ambos, revela que a ofensiva política contra seu fragilizado governo ganhou um reforço decisivo, com a direita festejando ter a seu lado o Papa argentino. No momento em que Cristina enfrenta uma guerra aberta com os barões da mídia “murdochiana” e a oligarquia reacionária venezuelana comemora a morte de Chávez (às vésperas de uma eleição presidencial), a ascensão de Bergoglio a chefe da “Santa Sé” soa como música para os ouvidos da Casa Branca!

É necessário destacar as implicações a curto prazo da eleição do Papa argentino no cenário político interno portenho e também para a América Latina. Foi como “chefe espiritual” da oposição direitista ao governo Kirchner que o cardeal de Buenos Aires ganhou prestígio e notoriedade internacional. Sua nomeação trata-se de uma grande operação político-ideológica pensada e articulada desde os gabinetes dos órgãos de inteligência do imperialismo mundial para que Francisco I se converta em um eixo de aglutinação da classe dominante argentina e latino-americana em meio à crise por que passa o governo de Cristina Kirchner e a centro-esquerda burguesa no continente, uma aposta no crescimento e fortalecimento da arquirreacionária oposição patronal em cuja cabeça estará inapelavelmente Bergoglio. As relações promíscuas da Igreja argentina com a oposição oligárquica foram recentemente colocadas a público por documentos descobertos pelo WikiLeaks, os quais revelam o papel conspirativo do então Cardeal Bergoglio como um expoente da reação anti-K e flagrado em conversas com diplomatas americanos que o tinham como um “poderoso agente contra os desmandos do atual governo”. Assim foi durante a crise política do então governo Nestor Kirchner (morto em 2010) com os chamados “sojeros” e em 2010 quando foi aprovado o casamento homossexual, acirrando as tensões entre Igreja e governo. Nestor Kirchner chegou a qualificar o atual Papa como o “chefe espiritual da oposição política”. A crise ficou ainda mais acentuada quando no final do ano passado a “direitona” levou às ruas milhares de pessoas em setembro e outubro, com a ajuda da mídia “murdochiana”, de Macri e sua coalizão direitista - PRO, De la Sota, De Narváez, ou mesmo a UCR, grupos neonazistas,“sojeros” da Sociedade Rural e da Federação Agrária e como não poderia deixar de ser, da Igreja conservadora chefiada por Bergoglio, para protestar contra a “chavização” do regime político materializada na estatização (“trucha”) da YPF, contra um maior controle institucional dos meios de comunicação, o controle do câmbio e a aprovação da revisão constitucional que permitiu o voto opcional aos dezesseis anos. Tanto que entre os cartazes erguidos por alinhadas senhoras portenhas podia-se ler “liberdade”, “imprensa livre”, “respeito”, “não à corrupção”, “Cristina renuncie já”, “Abaixo a ditadura K”, ou seja, demandas políticas próprias da alta classe média insuflada por setores burgueses que não estão satisfeitos com o governo de Cristina e suas iniciativas populistas.

Logo depois, em 20 de novembro do ano passado, houve o “paro nacional” de 24 horas, convocado pela CGT comandada por Moyano, dirigente de uma ala da burocracia sindical mafiosa rompida pela direita com o governo CFK, a CTA de Michelli em aliança com as reacionárias Sociedade Rural e a Federação Agrária, que representam a classe dominante do campo, o primeiro contra a uma gestão kirchnerista desde 2003. A convocatória também teve a adesão da arquidireitista CGT “azul e branco” de Luis Barrionuevo e o apoio velado da oposição burguesa conservadora (Macri- PRO, De Narváez, UCR, FAP de Binner) assim como do Clarín e do La Nación, que jogaram com o desgaste do governo CFK, sendo apresentado na mídia como uma sequência natural dos dois “cacerolazos” ocorridos anteriormente sob a direção da direitona argentina. Novamente o protesto foi “abençoado” pela Igreja Católica, ou seja, formou-se uma ampla frente política contra o governo Cristina. Os revisionistas do trotskismo agrupados na FIT (PO, PTS, IS) assim como o MAS e outros grupos satélites menores (LIT/PSTU, CS, LOI-DO...) apoiaram entusiasticamente a paralisação. A grande família revisionista tratou de encobrir o fato que o móvel político do protesto não passa pelas reivindicações dos trabalhadores (ainda que elas estejam presentes de forma extremamente secundária entre os reclamos), mas a política de um setor da burocracia sindical que em aliança com a direita e particularmente com a oligarquia rural pretende chantagear o governo em benefício de seus próprios privilégios enquanto é funcional ao objetivo de debilitar o governo nacional.

Agora com a nomeação de Bergoglio como Papa, os revisionistas do trotskismo “comemoram” (ainda que disfarçadamente) o reforço de um importante aliado na frente política que combate o governo de Cristina, com o PTS declarando, por exemplo, que “se em nível mundial terá a tarefa de lavar a cara da desprestigiada Igreja... na Argentina é um incentivo para a oposição patronal, muito mais do que para o kircherismo. Bergoglio sempre foi porta-voz das propostas da oposição e tem relações muito próximas com o PRO ou Elisa Carrió ” (site do PTS, 14/3). O PTS só não diz é que o conjunto do revisionismo trotskista, incluindo a si próprio, assim como o agora Francisco I, também vem “incentivando” as mobilizações da oposição patronal contra o governo, emblocando-se entusiasticamente a iniciativa dos novos “companheiros” da direita, como Macri (PRO) e De Narvaez. Esta “esquerda” revisionista, postando-se até mesmo à direita de um governo burguês como os do “K”, perdeu completamente a noção política do trotskismo e também qualquer conteúdo de classe, repetindo a mesma “santa” aliança imperialista realizada na Líbia e na Síria contra governos nacionalistas burgueses, que incluiu a OTAN e a cúpula da Igreja Católica, já que o Banco do Vaticano é o principal acionista da maior indústria de armamentos do mundo. Lembremos que em todos os “cacerolazos” apoiados pela família revisionista (PO, PTS, MST, IS e afins), Bergoglio estava agindo nos bastidores para massificá-las, atuando em conjunto com os “medios” murdochianos e a direta. Tanto que para Macri o entronamento de Francisco I “começa a marcar um futuro promissor para todos os argentinos” declarado ainda que terá um efeito político pois temos que aproveitá-la para construir uma Argentina melhor”.

Os revolucionários não nutrem a menor simpatia pelo governo burguês de CFK, porque ao menor sinal de crise, faz com que os trabalhadores paguem o ônus comprimindo salários e impõe novos impostos, mas de modo algum nos colocaremos ao lado da escória direitista do calibre de Macri (PRO), De Narvaez ou o grupo Clarín, todos alimentados pela Igreja Católica em sua cruzada para “derrubar os K” contra o “comunismo e por liberdade” em manifestações muito similares às que ocorreram no Brasil contra João Goulart, conhecida como “marcha da família com Deus pela liberdade” em 1964, típica manifestação do fascismo clerical. Não será unindo-se à escória direitista, agora insuflada pelo Papa argentino, que os revolucionários combaterão os ataques de CFK ao movimento operário, mas denunciando que os possíveis novos “cacerolazos” e “paros” patrocinados pela alta classe média e os “sojeros” não são de modo algum uma alternativa ao populismo do atual governo. É preciso levantar as demandas dos trabalhadores e usar seus próprios métodos de luta para derrotar o CFK e a oposição conservadora, nunca unir-se a reação para o “derrumbe” de Cristina, denunciando o real significado do “beijo da morte” dado por Francisco I em CFK.

terça-feira, 19 de março de 2013

Leia o Editorial do Jornal Luta Operária nº 253, 1ª Quinzena de Março/2013
Impulsionar o sentimento anti-imperialista das massas! Apoiar Maduro sem capitular ao chavismo e seu programa nacionalista burguês!

A posição assumida pela LBI em apoiar criticamente a candidatura presidencial de Nicolás Maduro (PSUV) nas eleições presidenciais da Venezuela, que ocorrerão em 14 de abril, é uma inflexão política de todos nossos posicionamentos anteriores em relação ao chavismo, na medida em que nunca votamos em Chávez ou apoiamos cegamente seu governo, muito pelo contrário, defendemos publicamente o voto nulo nas eleições do ano passado como forma de publicitar a necessidade da construção de uma alternativa operária. Há de se perguntar então, quais as razões e motivações desta decisão política tão importante para o marxismo revolucionário nos tempos atuais? O intricado nó górdio da política venezuelana se apertou com a morte de Hugo Chávez, quando a população ocupou massivamente as ruas das principais cidades do país em reverência e memória ao líder bolivariano, em uma cristalina demonstração de seus sentimentos anti-imperialistas diante das incertezas para o próximo período, não obstante os obstáculos e limitações que o nacionalismo burguês lhes impunha. A esquerda reformista e seus “primos” revisionistas fez questão de apenas ver um “sentimento de dor” nas multitudinárias mobilizações que se sucederam ao assassinato do “comandante Chávez”. A nova conjuntura que se abre, de aberto assenso das massas que ainda está longe de configurar “um processo revolucionário”, foi prevista incisivamente por Barack Obama que ameaça: “Na Venezuela se inicia um novo capítulo em sua história, os Estados Unidos seguem comprometidos com políticas que promovam os princípios democráticos, o Estado de Direito e o respeito aos direitos humanos”. Ou seja, estamos na iminência da abertura de uma etapa de profundos ataques e ofensiva do imperialismo ianque contra o que o PIG classifica como a “ditadura chavista”. O povo venezuelano que apesar da mediação chavista, se confrontava com os fundamentos do establishment capitalista, deverá agora enfrentar mais duramente a oligarquia “crioula”, pela qual responde a chamada oposição liderada pelo multimilionário fascistizante Henrique Capriles, o herdeiro político dos golpistas de 2002. No dia 14 de abril, data das eleições presidenciais venezuelanas, a vanguarda do proletariado deve adotar uma política de “estimular” as tendências de radicalização do setor popular e camponês do nacionalismo burguês, estabelecendo uma unidade tática eleitoral com o chavismo contra a candidatura de Capriles e sua “oposição unificada” dos “esquálidos”, arquitetada e dirigida desde a Casa Branca, unidade tática que deverá ser materializada no apoio crítico à candidatura de Maduro, sem capitular politicamente ao “chavismo” e seu programa. Os marxistas devem se apoiar na tendência de giro à esquerda do movimento operário, utilizando os próprios instrumentos concretos construídos pela luta de classes, ainda que não sejam absolutamente “puros”, do ponto de vista de uma estratégia classista. A nova conjuntura iniciada com a brutal ofensiva imperialista de “ajuste” contra suas semicolônias e o covarde assassinato do maior símbolo contemporâneo da resistência nacionalista a esta ofensiva imperial, obriga os marxistas a estabelecer cada vez mais a tática da frente única, que neste caso venezuelano aplica-se no terreno eleitoral.

Muitas polêmicas e dissensões houve na história do trotskismo acerca do apoio crítico aos regimes nacionalistas burgueses e várias medidas que estes adotaram, exigindo posições claras dos revolucionários, sem subterfúgios e atalhos. Alguns dos exemplos aconteceram ainda em vida de Trotsky, como quando o “velho” bolchevique propôs aos bolcheviques leninistas a tática do entrismo nos partidos sociais-democratas no final da década de 30. Tratava-se da consecução de uma operação eminentemente temporária e a serviço da estratégia da construção do partido revolucionário em meio à ascensão do fascismo e não uma medida permanente (como adotaram o pablismo e o morenismo na década de 50). O objetivo consistia em arrancar os setores mais avançados da classe operária, que oscilavam à esquerda dentro de um aparato centrista ou reformista de massas, da influência das direções traidoras da social democracia. É temporária porque deve ser concluída em um curto prazo com a ruptura da fração trotskista quando as direções reformistas se verem esgotadas diante das reivindicações do proletariado. Na França, esta tática chegou a proporcionar bons frutos políticos, com a captação de centenas de novos militantes durante certo período. Evidentemente esta questão não foi compreendida por muitas seções da Quarta contaminadas pelo ultraesquerdismo, o que provocou a ruptura com Trotsky de grupos políticos ligados à oposição comunista na Bélgica, Grécia e Polônia. Na Inglaterra, a maioria de coletivos que se aproximavam do embrião da Quarta romperam com Trotsky acusando-o de capitulação à burguesia devido ao entrismo no Labour Party.

Trotsky, em meados de 30, orientou a que o pequeno grupo francês, o POI que simpatizava com suas posições, integrasse as listas eleitorais da frente popular, pela via do entrismo no Partido Socialista. Buscava, desta forma, intervir no processo concreto de organização do proletariado francês, profundamente embriagado pelas ilusões na social-democracia, no sentido de deslocar os setores mais à esquerda e combativos da vanguarda (organizada no interior do PS) para posições genuinamente revolucionárias. O velho bolchevique baseava-se na evidência de que a frente popular, encabeçada pelo “radical” Leon Blum, era a expressão de um processo de profunda instabilidade do regime capitalista, que diante da crise revolucionária teve que recorrer a um governo de colaboração de classes (frente popular) para estancar a profunda crise política e social. O voto aos “socialistas” dado pelos partidários de Trotsky na França, não tinha por objetivo encobrir o conteúdo contrarrevolucionário da frente popular, mas ao contrário, explorar suas contradições, baseando-se nas próprias tendências do proletariado francês à sua independência de classe, torpemente desviadas pela demagogia “operária” da social-democracia. O ponto de apoio para justificar o voto no PS era exatamente a referência política progressiva (afirmava-se a representação da classe operária) que este era forçado, pela pressão das massas, a veicular em sua campanha eleitoral. Usando este mesmo exemplo, justifica-se o apoio crítico dado ao burguês Mitterand em 1981 por parte de todos os grupos que se reivindicam trotskistas, o que é absolutamente diferente de capitular a seu governo frentepopulista, cuja expressão mais avançada foi a OCI lambertista.

Em outro cenário, mas com propriedades políticas similares, no México do general nacionalista Lázaro Cárdenas, logo após a chegada de Trotsky, as polêmicas e discussões foram bastante acaloradas em torno à caracterização do regime político levado a cabo pelo nacionalismo burguês, uma realidade que tem algum grau de paralelo com a Venezuela de hoje. Cárdenas havia estatizado a indústria do petróleo e promovia a seu modo uma reforma agrária no país asteca, o que foi suficiente para causar enormes fricções com o imperialismo. Além do mais, o período que se seguiu à crise de 29 impulsionou tensões sociais e políticas nas massas mexicanas, das quais Cárdenas era expressão destas tendências, fortemente marcado por um viés à esquerda. Não à toa, foi o único governo no mundo que concedeu asilo político ao dirigente bolchevique! Trotsky, com um balanço político fino, perspicaz e correto defendeu o apoio crítico às ações progressistas e democráticas de Cárdenas, mantendo a absoluta independência política do movimento operário em relação ao governo “bonapartista sui generis” que, apesar de suas medidas anti-imperialistas, preservava intocáveis os banqueiros, os latifundiários e os investidores estrangeiros. Mas, por outro lado, havia espaço para que as massas seguissem adiante com sua ação independente no sentido de colocar o regime político na berlinda. Contudo, a Liga Mexicana, seção da Quarta no país, lançou um panfleto que proclamava a necessidade da derrubada imediata de Cárdenas, desconsiderando as posições de Trotsky. Em carta a Diego Rivera, Trotsky criticara com veemência tal conduta, acabando por romper com esta seção, posto que significava quebrar o curso ascendente das massas mexicanas, se isolar das mesmas e, pior, mais infantilmente colocaria em risco a permanência do dirigente bolchevique no México, expondo-o à possibilidade de ser expulso sumariamente do país e não ter para onde ir. Claro, foi acusado de sacrificar os interesses dos operários e camponeses mexicanos às exigências de sua própria segurança, por isso “apoia Cárdenas” segundo seus detratores. Também por incompreensão e ultraesquerdismo, a seção argentina comandada por Libório Justo (Quebracho), segue o caminho da seção mexicana e rompe com Trotsky acusando-o infundada e delirantemente de ser um agente a serviço de Wall Street por ter declarado apoio às nacionalizações de Cárdenas. Via de regra, esses mesmos “puros” que acusaram Trotsky de “capitular ao nacionalismo” acabam se aproximando das posições mais direitistas e oportunistas, se aliando à direita reacionária e ao imperialismo!

Mais recentemente, o apoio crítico dado pelos revolucionários à candidatura Lula em 1989, diga-se de passagem, reivindicado por absolutamente todas as correntes políticas que se reivindicam trotskistas em nosso país, também pode explicar como é possível apoiar criticamente no terreno das eleições um candidato reformista ou nacionalista burguês, se em determinado momento as massas usam esta candidatura para expressar, ainda que deformadamente, sua luta contra o imperialismo. Não porque se tratava de se depositar confiança ou ilusões em Lula, ao contrário, compreendia-se perfeitamente seus limites programáticos e de classe. Porém, era no momento o que representava concretamente o apoio da parcela mais consciente da vanguarda no país, expressava a radicalidade (contida) e o ascenso das massas exploradas como produto da falência do antigo regime militar-civil de Sarney. Os comícios de Lula à época concentravam centenas de milhares de pessoas descontentes com o esgotamento do regime da chamada “Nova República”, perante a qual era possível a construção de uma alternativa dos trabalhadores independente da burguesia e da frente popular encabeçada pelo PT. Em resumo, a candidatura Lula de 1989, diferente das demais, se apoiava em uma força social e no ascenso das massas, tendo as mobilizações em seu apoio um claro corte de classe, independente da vontade de Lula e da direção do PT. Quando nós, da LBI, apontamos em nossa ruptura com Causa Operária em 1995, as profundas contradições políticas que cercavam a frente popular em 89, e a referência classista que Lula era obrigado a difundir, mesmo que deformadamente, pela pressão das massas em uma conjuntura de profunda instabilidade do regime da Nova República, fomos acusados por alguns “puros” de “apologistas de Lula”. Quando em 94, Lula deixa de apresentar-se como “candidato dos trabalhadores” — e isto não representa apenas a troca de um slogan político eleitoral por outro qualquer — para assumir diretamente o discurso da burguesia nacional e do capital financeiro internacional, desmontando completamente as mobilizações e greves da classe operária para desenvolver sua campanha totalmente “a frio”, em uma situação de aparente estabilidade política do regime democratizante, passamos a reivindicar o voto nulo. Estas diferenças são marcantes para definir a posição dos revolucionários e justamente é este o critério que adotamos agora na Venezuela.

Ácidas lições históricas como estas devem ser abstraídas da luta de classes para dar a dimensão exata do significado de apoiar criticamente, em determinados momentos de confronto com o imperialismo, regimes nacionalistas burgueses. Por isto, diante do ascenso multitudinal das massas venezuelanas após a morte provocada de Chávez (desde a Guerra Fria a CIA vem trabalhando com afinco para desenvolver substâncias que podem matar líderes “inconvenientes” de países não-alinhados sem deixar qualquer vestígio ou provas de envenenamento), as ameaças declaradas do monstro imperialista e da “oposição” golpista a soldo da Casa Branca e uma possível “mobilização democrática” organizada pela CIA, nada mais correto do que os genuínos revolucionários lançarem a palavra de ordem de acompanhar o apoio a Maduro sem capitular ao chavismo. Com o objetivo de impulsionar e dar vazão às enormes expectativas anti-imperialistas das massas em relação ao futuro político da Venezuela, deve-se apontar o voto crítico no PSUV. Isto porque sob a intensa pressão das massas o regime chavista foi obrigado a se confrontar, em certa medida, com os interesses políticos do imperialismo, como o apoio dado a Líbia e a Síria contra a intervenção militar da OTAN, apesar de nunca ter rompido os laços comerciais com os EUA (fornecimento do óleo cru às petrolíferas ianques). Cabe, portanto, aos Marxistas-leninistas potenciar o justo ódio das massas exploradas ao imperialismo demarcado após a morte (assassinato) de seu líder internacionalmente reconhecido, Hugo Chávez.

Com a ofensiva neoliberal do capital financeiro, que tem como sócias as oligarquias reacionárias, das quais o fascistizante Capriles (candidato único do bloco pró-imperialista), é a expressão mais acabada, os trabalhadores venezuelanos devem intervir taticamente neste processo eleitoral de forma independente, apoiando criticamente a candidatura de Nicolás Maduro no sentido de se constituir como alternativa aos setores patronais do chavismo, sem capitular uma vírgula sequer ao seu programa nacionalista burguês, estabelecendo uma profunda demarcação de campos com a reação pró-imperialista. Ao mesmo tempo, não devem depositar nenhuma confiança nas direções “bolivarianas” que a qualquer momento podem ceder às investidas da Casa Branca e às pressões da “oposição”, uma vez que desejam manter o regime de exploração capitalista seja com matizes “nacionalistas” ou entreguistas. A senda correta a ser percorrida é a luta em defesa e ampliação das conquistas sociais da classe operária, forjando no calor da batalha um programa genuinamente comunista de completa ruptura com o nacionalismo burguês. Devemos convocar a vanguarda classista para a ação direta, contemplando uma plataforma de ocupações de fábricas, nacionalizações de grupos econômicos sob o controle dos trabalhadores e socialização do latifúndio. A tarefa que se impõe nesta polarizada conjuntura, acompanhando a evolução política das massas, é a construção do partido operário revolucionário, única forma de combate consequente ao Estado capitalista.

LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA

 

segunda-feira, 18 de março de 2013


Randolfe e Luciana, “pré-candidatos” do PSOL ao Planalto, atolados até o pescoço na corrupção burguesa

Um dos “pré-candidatos” do PSOL à presidência da República em 2014, apresentado como “paladino da ética”, o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) vem sendo denunciado por ter recebido mesada de R$ 20 mil durante seis meses como deputado estadual do Amapá justamente pelo presidente da Assembleia Legislativa, que também recebeu os recursos no governo do hoje senador João Capiberibe (PSB-AP). Segundo denúncias o psolista deixou até recibos assinados da complementação de salário por baixo dos panos! A outra “pré-candidata” do PSOL, já lançada pela CST e o chamado “Bloco de Esquerda”, é Luciana Genro, do MES. Lembremos que em 2008, o PSOL em Porto Alegre estava coligado ao PV, com Luciana recebendo financiamento da Gerdau. Pelo visto, depois de bombardeadas suas “pré-candidaturas”, o PSOL vai mesmo ser “obrigado” a indicar o vice de Marina Silva fazendo parte de sua “rede” ecocapitalista. Apesar dos rumores internos que o PSOL só irá apoiar Marina no segundo turno de 2014, o certo é que os apetites eleitorais da legenda vão falar mais alto e o PSOL tende a se aliar a “verde” para conquistar mais postos no parlamento burguês.

A recente “polêmica” entre Milton Temer (aliado do bloco de Ivan Valente que, junto com Chico Alencar, vem defendendo o nome de Randolfe Rodrigues para presidente) com Roberto Robaina, dirigente do MES, é exemplar de quanto o PSOL encontra-se mergulhado na corrupção burguesa, política e materialmente. Segundo Temer, em seu blog, “Nunca pretendi fazer o MES e Luciana de alvos. Pelo contrário, a despeito de divergências eventuais, a tendência sempre contou com minha solidariedade, principalmente quando atacada duramente por alguns dos apoiadores que hoje recebe. Fui eu quem subiu no palco de um congresso estadual do PSOL-RJ para defender uma aliança – aliança de fato, e não apenas recebimento de apoio – com o PV do Rio Grande do Sul. Fui eu quem subiu no palco para defender como legítima a decisão dos companheiros em receber doação da Gerdau, na medida em que havia sido identicamente dada a todos os partidos, e não era produto de nenhum acordo bilateral. Tolice seria abrir mão. Fui eu também o primeiro, e talvez único, a me comunicar diretamente com Roberto Robaina, quando, em nome do PSOL retirava a candidatura ao Senado numa disputa em que o risco era de ver Paulo Paim superado pela direita mais reacionária. Por que o fiz? Simples. Porque considerei correta a iniciativa, no contexto que os companheiros enfrentavam em cada ocasião” (Blog Luta que Segue, Milton Temer, 02 de Março). Como se vê, as duas “alas” do PSOL defendem receber dinheiro dos empresários e as alianças com os partidos burgueses, por isto o escândalo envolvendo agora Randolfe e sua política eleitoral no Amapá nada mais é que uma consequência natural da própria política do PSOL, de conjunto! Soa cômica, portanto, a declaração de Luciana Genro ao jornal da CST de que “O primeiro ponto é que eu quero ser a pré-candidata que represente as forças políticas do bloco de esquerda que se formou no PSOL. Para isso, o que ocorreu em Belém e Macapá em termos de aliança e discurso político não pode ser aceito. Rejeitamos as as alianças sem princípios, seja com partidos da oposição de direita seja com os do governo” (Combate Socialista, março-abril.2013, nº 45). Piadas a parte, o certo é que Luciana assim como Randolfe representam a completa integração do PSOL à ordem burguesa.

Sobre o apoio a Marina para as eleições presidenciais em 2010, negociado em 2009 pelo próprio MES, o MTL e Heloísa Helena, ou seja, com a ajuda da corrente camaleônica que hoje é apoiada pelo (mal) chamado Bloco de Esquerda, segue Temer denunciando Robaina: “Nessa reunião já ficou clara a rejeição a algo que Robaina invoca como condicionante para o apoio, mostrando a falácia da sua argumentação. Por pressão minha, HH faz uma ligação telefônica a Marina. Propunha fornecer o vice e participar da discussão de programa. Marina pediu um tempo. Ia se reunir, naquele momento, com a direção do PV. Pouco depois, deu o retorno: o PV decidira uma estratégia de campanha e de política de alianças onde não existia compatibilidade possível de acordo político com o PSOL. Isto, repito, no primeiro semestre de 2009. Ou seja, peca por vício de origem a afirmação de Robaina quanto a condicionamentos de apoio a Marina–  cuja bajulação ficou mantida, de forma humilhante, até janeiro de 2010 . Foram necessárias duas entrevistas de Marina, uma delas elogiando Henrique Meirelles, para se concluir que a farsa não podia mais caminhar. Uma farsa que tinha, a partir do MTL, como causa, uma guinada à direita, hoje concretizada. Mas no que diz respeito ao MES, a uma operação casada pela qual a legenda via o caminho para a tomada da hegemonia do partido: Luciana, eleita deputada federal com ampla votação, e HH, senadora, se juntando e compondo maioria de prestígio social incontestável. Operação digna de uma “esquerda de resultados”, como bem classificou um outro membro do DN, e que todas as demais correntes viam e comentavam abertamente” (Blog Luta que Segue, Milton Temer, 02 de Março). Como se vê, membros das duas “alas” do PSOL defenderam o apoio a Marina Silva. Hoje esta questão encontra-se colocada na mesa, com HH e Martiniano Cavalcante sendo os porta-vozes da eco-capitalista junto ao PSOL. Mesmo fora do partido, deixaram seus representantes... É exatamente esta a principal “missão” do ex-MTL, hoje formalmente dissolvido, estabelecer uma “ponte” entre o Rede e o PSOL, deixando seus quadros posicionados em “duas frentes de batalha”. Tanto que apesar do vereador Jefferson Moura, ainda no PSOL-RJ, fazer campanha aberta pelo Rede, somente foi advertido e não expulso, já que a executiva do partido no Rio, cuja presidente é Janira Rocha, também do “MTL”, se limitou a reclamar da conduta do mesmo enquanto anunciou em nota que é solidária com o “esforço democrático” da fundação do Rede, declarando: “A Direção Estadual do PSOL/RJ, em função dos seguidos comentários públicos proferidos pelo vereador eleito pelo PSOL Jefferson Moura, com acusações falsas e tentativas abertas de prejudicar a imagem do partido, esclarece: O PSOL respeita a ex-senadora Marina Silva e é democraticamente solidário com seu esforço de obter a legalização de seu partido por entendermos que, apesar das diferenças que nos demarcam, é um esforço legítimo de construir um espaço de representação política. O PSOL reconhece a Jefferson Moura o direito de buscar aderir a essa nova agremiação, se for por ela aceito, dentro do previsto na lei. O PSOL, no entanto, repudia o método adotado pelo vereador de buscar publicamente um confronto desnecessário com o partido, criando toda a sorte de constrangimentos, não hesitando em desrespeitar práticas consolidadas e processos coletivos e democráticos de decisão, com o intuito de se passar por vítima de pretenso sectarismo inexistente no PSOL” (JB on line, 01/02/2013). Em resposta cínica, Jefferson declarou em nota publicado em sua página no Facebook: “Alguns dirigentes do PSOL se reuniram e decidiram me punir, no melhor estilo da tradição burocrática stalinista, por eu defender publicamente que nosso partido construa um campo democrático alternativo ao PT e ao PSDB com Marina Silva presidente. (...) Desta votação participaram 11 militantes do PSOL, esta votação se realizou na ausência da presidente estadual do partido [Janira Rocha] e com votos de militantes, os quais não são membros da executiva, mas expressam correntes internas que sonham em reeditar a revolução russa no Brasil, tomando o Palácio Alvorada de assalto. Desculpem, mas a sociedade com justiça, com liberdade e fraternidade à qual dedico minha vida de militante começa com novas práticas. Não houve legitimidade na decisão, mas foi uma votação reveladora que deixou claro que a luta por socialismo e liberdade para alguns não passa de conveniência!”.

É importante registrar também que o “MTL” goza de livre trânsito com o PSTU, foi a principal tendência do PSOL a permanecer no interior da CONLUTAS, após o racha de 2010, onde a quase totalidade dos psolistas se retiraram desta central sindical. Tanto que está convocando formalmente a marcha a Brasília chamada pela Conlutas para o dia 24 de abril! Nas últimas eleições municipais em Maceió, mesmo quando Heloísa Helena já tinha anunciado sua adesão ao MNP de Marina, o PSTU reivindicou estabelecer uma frente eleitoral com o grupo de Heloísa, apesar de bastante consciente do conteúdo reacionário e pró-imperialista do MNP dirigido pela ecocapitalista Marina Silva. Lembremos que em 2010, o PSTU conformou em Goiás uma frente eleitoral com o MTL, o mais aguerrido defensor de que o PSOL apoiasse Marina Silva. Lá, a aliança foi concretizada como manda o figurino: registro no TRE, programa de colaboração de classes... Apesar do jornal do PSTU “especial sobre as eleições” se limitar na época a anunciar Rubens Donizetti como candidato a senador naquele estado, como se desejasse esconder algo, o blog do candidato do PSOL em Goiás, Washington Fraga, revelou literalmente com todas as letras o caráter “republicano”, leia-se, burguês, dessa aliança: “Em nome dos direitos humanos, é preciso ainda condenar a violência policial. Humanizar as polícias militar e civil em Goiás. Com um programa republicano e de defesa do serviço público, valorizaremos o funcionalismo estadual. Contra o latifúndio, o nosso projeto prevê investimentos na agricultura familiar. Apoio aos sem-terras e sem-teto, transporte decente de qualidade, universalização da moradia também constituem bandeiras da coligação Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) e Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU)”.

Segundo a CST, que lançou Luciana Genro ao Planalto, porém segue sempre elogiosa a Chico Alencar e Marcelo Freixo, apesar destes defenderem a mesma política burguesa de Ivan Valente e apoiarem a “pré-candidatura” de Randolfe: “A reunião realizada no Rio entre Ivan Valente e Randolfe, junto com os parlamentares do PSOL do Rio de Janeiro, desencadeou a disputa do qual deve ser o candidato do PSOL à presidência em 2014... Por isto discutiram como ganhar o congresso do partido e que os candidatos do PSOL devem ser Randolfe e caso a resistência ao seu nome seja muita a alternativa seria Chico Alencar... A APS dissidência sabe das dificuldades em lançar Randolfe para 2014, pela enorme resistência que existe dentro do partido. Por isto necessitam se apoiar em lideranças prestigiadas como Chico Alencar, que é um parlamentar ético e de esquerda, que nos orgulha” (Combate Socialista, março-abril.2013, nº 45). Seja com Radolfe, Luciana ou Chico Alencar, a candidatura presidencial do PSOL – se chegar a ser lançada – não passará de uma barganha para o apoio de fato do partido a Marina Silva, com suas “alas” negociando o seu lugarzinho ao sol no parlamento burguês. Lembremos que o PSTU elegeu um vereador em Belém mesmo com o PSOL estando coligado com o PCdoB e recebendo apoio de Dilma e Lula. Se o PSTU chegou a este ponto, porque não a CST e o MES, seus irmãos “morenistas”, não o fariam... Apostamos que o PSOL deve mesmo é indicar a vice de Marina. Porém, ainda é muito cedo para bater o martelo a fim de definir o vice na chapa de Marina, muito provavelmente o PSOL indique um de seus quadros que pertencem a hegemônica corrente APS “dissidente”, do deputado federal Ivan Valente, ainda que a própria Heloísa já tenha manifestado intenção de acompanhar como vice sua colega da época do Senado. Como o Rede deve conseguir a legenda para as próximas eleições disporá de pouquíssimos minutos de TV para potenciar sua candidata ao Planalto, o que já obriga necessariamente Marina a “trabalhar” pela construção de uma frente política eleitoral com o PSOL e seus aliados de “esquerda”, PCB e PSTU. Vamos aguardar...


sábado, 16 de março de 2013

Leia a mais recente edição do Jornal Luta Operária, nº 253, 1ª Quinzena de Março/2013



EDITORIAL
Impulsionar o sentimento anti-imperialista das massas! Apoiar Maduro sem capitular ao chavismo e seu programa nacionalista burguês!

 
“REFORMA” MINISTERIAL
Mais um “troca troca” para acomodar os quadrilheiros que apoiam a reeleição de Dilma

 
OBCECADA PELA REELEIÇÃO
Fracassa a tentativa de Dilma em se apossar do PDT

 
UM DEBATE ABERTO COM A MORTE DE “CHORÃO”
A defesa da legalização das drogas não pode arrefecer o combate do marxismo contra o “ópio e alienação” da juventude

 
40 ANOS DO ASSASSINATO DE ALEXANDRE VANNUCHI
Honrar seu combate à ditadura militar seguindo na luta revolucionária contra a farsa da democracia dos ricos!

 
HÁ 49 ANOS DO GRANDE COMÍCIO DA CENTRAL DO BRASIL
A luta pelas “reformas”, dirigida pela burguesia, é a via mais curta para a derrota do proletariado

 
FRANCISCO I
Igreja faz opção política para combater o crescimento do nacionalismo latino-americano

 
ODILO SCHERER COROADO PAPA?
Uma nova aposta da reação para retomar a influência perdida no Brasil

 
HÁ 60 ANOS DA MORTE DE KOBA
A stalinofobia a serviço da reação imperialista

 
MORRE O “COMANDANTE CHÁVEZ”
A tarefa agora é impulsionar as massas para “decretar” a morte do imperialismo na Venezuela

 
LIGA BOLCHEVIQUE INTERNACIONALISTA

sexta-feira, 15 de março de 2013


“Reforma” ministerial: Mais um “troca troca” para acomodar os quadrilheiros que apoiam a reeleição de Dilma

O governo da “ex-poste” Dilma deve anunciar nas próximas horas a tão esperada “reforma ministerial”. Não se trata sequer de uma verdadeira mudança das pastas mais estratégicas do Planalto, que se mantém sob a mesma orientação programática neoliberal do governo da frente popular. As alterações que a neopetista Dilma irá realizar no seu gabinete vão mais no sentido de reacomodar figuras “menores” da política burguesa, especialistas em preparar saques nos “cofres públicos” a serviço de pequenas máfias partidárias. Acontece que a presidenta pretende solidificar sua campanha eleitoral de 2014 com a recomposição integral de sua base aliada, “arranhada” pelas fissuras das últimas eleições municipais. Para cumprir este objetivo, Dilma trará de volta o PR para o ministério dos transportes, o grupo pedetista de Carlos Lupi para a pasta do trabalho e, por último, reacomodará o PMDB do vice Temer em posições mais “vantajosas” para a realização de “negócios” lastrados pelo Estado capitalista. A tentativa de trazer o PSD de Kassab para o governo esbarra na insignificância dos cargos oferecidos, no caso a criação de uma nova pasta (pequenas empresas) para o vice-governador de São Paulo, Afif domingos. Como o PSD não obteve a agricultura, que deverá ser remanejada para o PMDB mineiro, Kassab optou por esperar mais um pouco para declarar apoio à candidatura de Dilma. O elemento em comum deste “troca troca” com status de “reforma ministerial” é o retorno para o Planalto de “figurinhas” carimbadas pela marca da corrupção mais escancarada, o que parece não preocupar em nada a anturragem Dilmista, segura de uma reeleição tranquila com a “cooptação” e o atendimento das “reivindicações” mais sentidas das diversas frações da parasitária oligarquia cartorial brasileira.

A pífia “minirreforma” da gerentona Dilma ocorre na esteira política do anúncio de mais um pacote de renúncia fiscal do governo para grandes grupos econômicos. Desta vez, os beneficiados foram os atacadistas de alimentos e empresas transacionais fabricantes de produtos de higiene pessoal. Neste último setor oligopolizado, as isenções foram ainda maiores, cerca de 12,5%, beneficiando diretamente a UNILEVER, P&G, Natura etc.. Dilma espera “aquecer o consumo" pela via de uma pequena redução de preços da cesta básica para o consumidor final e ao mesmo tempo atender as demandas da burguesia sedenta de mais “incentivos” do governo central. Parece mesmo que o anúncio, realizado pelo IBGE, do “pibinho” já está colhendo os primeiros frutos...

Mas, a economia do mundo real, que indicou o melhor desempenho do mês de Janeiro dos últimos cinco anos, irá mesmo pavimentar as pretensões eleitorais da presidenta, que não abriu mão de sua “caneta” para prolongar sua estadia no Palácio do Planalto. Os “sequelados” políticos da férrea determinação da presidenta por mais “poder” para sua “ala” estatal, estão não só no PT, mas também no PDT e até no PMDB. A antiga tendência petista “Articulação” sofre uma implacável perseguição judicial, que volta e meia ameaça inclusive a liderança de Lula. Já o neto do “velho” Brizola, teve mesmo que entregar seu cargo no governo para o retorno da máfia de Lupi. O novo Ministro do Trabalho será o inexpressivo Manoel Dias. No PMDB as coisas não foram muito diferentes, o Ministro da Agricultura Mendes Ribeiro, sem base no PMDB nacional, terá que ceder lugar aos seus “companheiros” mineiros, apadrinhados do bandido Temer.

A oposição “conservadora” assiste atônita às “diabrites” de Dilma, a espera de um cataclisma que não está no horizonte político. O “chefe” do bando tucano agora atende pelo nome do “mauricinho drogado” Aécio Neves, assessorado pelo decano das privatizações FHC. A oposição de “esquerda” aguarda ansiosa os próximos passos de Marina Silva para definir uma coligação eleitoral entre o PSOL e o debutante REDE. Existe no cenário eleitoral uma possibilidade do surgimento de uma chapa composta entre a ecologista do “Central Park” e novo herói do “PIG”, Joaquim Barbosa. A dúvida no ar é se os parceiros do PSOL, PSTU e PCB, o acompanhariam nesta “jornada” Marineira...

Para os marxistas revolucionários, a tarefa que se coloca no momento é a vigorosa denúncia do regime da democracia dos ricos, em todas as suas facetas políticas. Desde o farto “banquete” promovido pelo Planalto, passando pelo retorno dos quadrilheiros ao governo, até as “mobilizações” da esquerda pequeno-burguesa e reformista contra a posse de um sinistro parlamentar para a comissão de direitos humanos do Parlamento. Os comunistas leninistas devem explicar pacientemente às massas mais politizadas, que nomes como o de Renan e Marco Feliciano são na verdade as “melhores” indicações para comandar um congresso de picaretas e corruptos. Alimentar ilusões neste regime bastardo e seu Parlamento, “protestando” contra seus “melhores” representantes, não irá desenvolver a consciência de classe e a convicção de que é necessário por abaixo, pela ação direta do proletariado, este regime e o conjunto de suas instituições apodrecidas.

quinta-feira, 14 de março de 2013


Francisco I: Igreja faz opção política para combater o crescimento do nacionalismo latino-americano

O trono papal estava mesmo reservado para um cardeal latino-americano e não por uma razão “divina” ou mesmo evangélica, a escolha do bispo argentino Jorge Mario Bergoglio pela cúpula da Igreja Católica cumpre uma função estritamente política. Na abertura do conclave que elegeria o novo Papa, uma assembleia de 115 cardeais, pelo menos três latinos-americanos estavam bem cotados, com um forte favoritismo do brasileiro Dom Odilo Scherer, um discípulo fiel do renunciante Bento 16. Mas, a tendência majoritária ainda indicava para um retorno da coroa papal para a burocracia da cúria romana, em virtude da profunda crise institucional por que passa a hierarquia da Igreja Católica. Por estas circunstâncias a candidatura do italiano Angelo Scola inicialmente aparecia com mais densidade sobre os demais postulantes “forasteiros”. O nome do jesuíta ultraconservador Bergoglio surge então como um “tercius” diante do impasse entre as duas alas mais fortes da Igreja, os membros da “Congregação da Fé” ( liderados por Ratzinger) e os chamados gestores administrativos financeiros ligados ao Secretário de Estado do Vaticano (cardeal Bertone). Caso a opção papal tivesse recaído sobre Odilo, sua influência política estaria limitada às fronteiras brasileiras. Já a vitória do argentino Bergoglio tem um caráter bem mais amplo do que somente o peso sobre seu país de origem, está voltada principalmente a América do Sul e especificamente ao combate aos processos nacionalistas mais “agudos”, como Venezuela, Equador e Bolívia. O “prêmio” recebido pela Igreja argentina também não é acidental, com sua trajetória intimamente ligada aos crimes dos militares genocidas e a apologia aberta ao regime fascista instaurado em 1976. Bergoglio sofre a acusação, por parte de organismos de direitos humanos, de ter entregue à repressão assassina dois religiosos da sua própria ordem. Mas, foi como “chefe espiritual” da oposição direitista ao governo Kirchner que o cardeal de Buenos Aires ganhou prestígio e notoriedade internacional. Em um momento que a presidente Cristina enfrenta uma guerra aberta com os barões da mídia “murdochiana” e a oligarquia reacionária venezuelana comemora a morte de Chávez (às vésperas de uma eleição presidencial), o entronamento de Bergoglio na “Santa Sé” soa como música para os ouvidos da Casa Branca.

O “debut” eclesial do novo Papa já será na Jornada Mundial da Juventude Católica, a ser realizado na cidade do Rio de Janeiro em julho próximo. Neste encontro onde se espera a presença de mais de trezentos mil católicos, Bergoglio terá a oportunidade de “doutrinar” a juventude com suas concepções ultrarreacionárias contra o aborto e do obscurantista preconceito contra as relações homoafetivas. Foram exatamente estas questões que Bergoglio empunhou como bandeiras da oposição conservadora argentina, agora terá o aparato do Vaticano para potenciar suas retrógradas posições em todo nosso continente e no mundo. Ao mesmo tempo em pregava hipocritamente a “moralidade” da ordem burguesa estabelecida, Bergoglio acobertava os crimes de pedofilia dos párocos, ocorridos em sua diocese portenha, e muito provavelmente se espera a mesma conduta no comando do Vaticano.

O alvo preferencial da cúria romana tem sido nas últimas duas décadas a eliminação da influência da chamada “Teologia da Libertação” no continente latino e africano. Ratzinger comandou a moderna Inquisição da Igreja, chegando a excomungar frades “progressistas” como Leonardo Boff. Mas a chamada ala “progressista’ da Igreja operou ela mesma um profundo retrocesso filosófico, traindo os ideais de religiosos como o colombiano Camilo Torres por exemplo, que chegaram a defender a luta armada como uma opção legítima. Outros “progressistas” como Frei Beto, colaboradores políticos da guerrilha urbana, retrocederam para posições de integração a governos da “centro esquerda” burguesa. O Papa Francisco será um inimigo visceral dos poucos remanescentes da “Teologia da Libertação” no interior da Igreja, assim como do trabalho pastoral nas comunidades de base mais carentes e oprimidas da América Latina.

Como marxistas leninistas (ateus e materialistas) caracterizamos a Igreja Católica como um instrumento secular e contemporâneo da dominação imperialista. Denunciamos o papel contrarrevolucionário da instituição na chamada “Guerra fria”, tendo dado uma “contribuição” decisiva no crescimento do sindicato “SOLIDARIEDADE”, fabricando a liderança sindical “amarela” do polonês Lech Walesa. Na eliminação das conquistas operárias dos Estados do Leste Europeu, o então Papa Karol Wojityla atuou como um verdadeiro “ponta de lança” ideológico do sinistro governo Reagan. Os princípios do “livre mercado”, na Igreja, são bem mais profundos e arraigados do que os da “fraternidade” e “igualdade” que diz reivindicar o cristianismo. Na atual ofensiva imperialista contra povos e nações, sendo o nacionalismo burguês o adversário político e militar da “hora”, produto da derrota histórica já sofrida pela maioria dos regimes Stalinistas, o Papa Bergoglio, mascarado de Francisco I, será uma peça fundamental e exatamente por isso foi “ungido” à condição de interlocutor de “Deus” na barbárie humana do capitalismo.


terça-feira, 12 de março de 2013


Odilo Scherer coroado Papa? Uma nova aposta da reação para retomar a influência perdida no Brasil

A eleição do novo Papa, com a abertura do conclave na Capela Sistina nesta tarde do dia 12/03, passou a ser um elemento importantíssimo na antecipada disputa presidencial brasileira. Como já afirmou Raul Riff, um velho comunista colaborador do governo Jango: “O imprevisível continua sendo um fator determinante da política brasileira”. E neste caso foi a renúncia do Papa Bento 16, produto da profunda crise moral da cúpula da reacionária Igreja Católica, o elemento do “imponderável” que pode definir um novo rumo na conjuntura nacional. A inesperada saída de Ratzinger, o antigo chefe da nova “inquisição” católica coroado Papa em 2005 para depurar da instituição todos os elementos “esquerdistas”, abriu pela primeira vez na história a possibilidade concreta da eleição Papal de um brasileiro, o arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer. O Cardeal Scherer de 63 anos nascido de uma família de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul fez sua carreira religiosa no oeste do Paraná até ser nomeado bispo auxiliar da arquidiocese paulistana em 2002. No ano de 2007, nomeado por Bento 16, Odilo sagra-se arcebispo de São Paulo, ocupando na hierarquia católica uma posição de “extrema direita”, reposicionando assim a catedral paulista em um espectro ultrarreacionário considerado perdido pelos conservadores desde a gestão “progressista” de Dom Evaristo Arns. Em sintonia com o nazi-inquisitor Ratzinger, Scherer promoveu sua própria “caça às bruxas” tupiniquim, não se furtando de sua intervenção direta no processo eleitoral de 2010, impulsionando com outros bispos uma sórdida campanha fascista contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, considerada por esta escória religiosa uma apologista do “aborto e do fim da família cristã”. Agora, tudo indica que a decomposta oligarquia vaticanista pensa seriamente em coroar um Cardeal brasileiro para com um só golpe atingir dois objetivos: o primeiro seria resgatar a credibilidade mundial dos arcebispos corruptos e pedófilos na figura “limpa” de um “ortodoxo” latino-americano, e o segundo retomar a perdida influência político-evangélica no maior país católico do mundo.

A disputa pelo controle de um aparato estatal decadente, nas entranhas do Vaticano, levaram a uma situação de ingovernabilidade do Papa Bento16, forçando-o a uma renúncia quase que inédita na instituição, já que a anterior ocorreu a cerca de 600 anos atrás. O minúsculo Vaticano tem o status e soberania internacional de um país, apesar de não possuir nenhum cidadão natural do pequeno enclave incrustado na cidade de Roma (não existe sequer uma maternidade no Vaticano). Este anacrônico status, chancelado pela ONU, permite a Igreja Católica manejar suas “santas” e abundantes finanças sem a intromissão e fiscalização de nenhum organismo monetário (italiano ou europeu), concedendo a seu banco estatal (fundado em 1942 em plena II Guerra Mundial) a condição do maior paraíso fiscal do planeta. A imprensa “murdochiana” tem relatado casos de lavagem de dinheiro da Máfia italiana e da maçonaria pelo banco do Vaticano, mas estas denúncias são apenas a “ponta do iceberg”. A verdade é que as grandes transnacionais e corporações financeiras internacionais tem no Banco do Vaticano um “porto” bem mais seguro do que a Suíça ou os paraísos fiscais do Caribe.Comenta-se nos bastidores da chancelaria que até o poderoso FED norte-americano tem volumosos depósitos no Vaticano, lastreando em ouro físico seus bem cotados títulos financeiros.

A missão principal de Ratzinger no Papado era eminentemente ideológica, flexionar a Santa Sé para um caminho teológico ainda mais conservador, diante do avanço do islamismo no mundo ocidental e de seitas protestantes na América Latina, mas foi surpreendido com um séquito de pedofilia, homossexualismo e corrupção material incontrolável. A única saída diante de uma saúde frágil e uma anturragem cada vez mais hostil foi a renúncia. O ex-Secretário de Estado do Vaticano pivô da crise, cardeal Bertone, mantinha um rígido controle sobre as finanças da Igreja e seu banco estatal, gerando as denúncias que levaram a eclosão do chamado “vatileaks”, como ficou conhecido o caso de vazamentos dos documentos secretos da Santa Sé.

Mas a abrupta saída de Bento 16 está muito longe de por um fim à guerra de camarilhas no interior do Vaticano, e a simpatia dos cardeais reacionários mais ligados à chamada “doutrina da fé” se inclinam para o nome do brasileiro Scherer. Já os bispos europeus, incluído neste bloco a maioria italiana, manifesta preferência por uma saída doméstica, no caso um competente gestor testado na própria Cúria romana, Angelo Scola. Por último, mas não menos influente, está a postulação da rica igreja norte-americana, disposta a continuar a encobrir a prática comum da pedofilia nos mosteiros e seminários de formação de párocos, a aposta vai na direção do cardeal Timothy Dolan um novo viés de “modernizar” o catolicismo “escancarando” velhos tabus.

Na queda de braço das inúmeras frações sinistras da Igreja Católica, as chances de Scherer comandar “a matilha de lobos” não são pequenas. Caso se confirme esta vertente, a interferência na conjuntura política brasileira seria imediata e de forte impacto, capaz inclusive de alterar cenários quase que definidos. Em um país com tradições religiosas muito arraigadas nos setores mais plebeus da população, as “recomendações” de um Papa “nacional” teriam o peso de influenciar qualquer eleição. Não seria a primeira vez que a Igreja optaria por uma “saída regional”, focando na situação específica de um país, a escolha do polonês Karol Wojytila esteve centrada na decisão da Igreja em derrotar o regime stalinista do general Jaruzelski. Na condução da diocese de São Paulo, em 2010, Scherer não se furtou na tarefa inglória de empurrar Serra ao Planalto, imaginem só o que faria este mesmo “pastor” na condição do primeiro Papa brasileiro... Na falência política precoce da oposição Demo-Tucana, as tentativas da reação para derrotar eleitoralmente a frente popular são cada vez mais ousadas, primeiro um “herói negro togado”, e agora talvez até a possibilidade de um “fascista” com o hábito eclesiástico de Papa.

segunda-feira, 11 de março de 2013


Há 49 anos do grande comício da Central do Brasil: A luta pelas “reformas”, dirigida pela burguesia, é a via mais curta para a derrota do proletariado

O grande comício da Central do Brasil, realizado há 49 anos, no dia 13 de março de 1964, foi o último fôlego do governo nacionalista burguês do presidente João Goulart diante das forças mais reacionárias e golpistas, apoiadas pelo imperialismo ianque, que tramavam abertamente para implantar o regime semifascista da ditadura militar. Jango estava consciente de que a realização de um grande comício das massas radicalizadas aceleraria em muito a dinâmica golpista em pleno curso. Mas, pressionado pela ala “esquerda” de seu gabinete resolveu bancar a iniciativa, que envolvia vários segmentos políticos, desde as ligas camponesas, passando pelo CGT trabalhista e até o velho Partidão. O comício pelas “reformas” superou todas as expectativas, não só pelo número de participantes, mas fundamentalmente pela radicalidade de suas reivindicações, que incluíram até o armamento dos trabalhadores. Durante o comício, que reuniu cerca de 300 mil trabalhadores e estudantes, Jango assinou decretos de nacionalização das refinarias de petróleo e desapropriação terras com mais de 100 hectares ao longo das ferrovias e rodovias federais, para fins de reforma agrária. Sem o apoio dos setores decisivos da burguesia financeira e industrial, que estava cada vez mais vinculada aos interesses do imperialismo, Jango prometeu implantar o projeto nacional reformista das chamadas “Reformas de Base”, em defesa das quais vinham crescendo as mobilizações de operários, camponeses e estudantes em todo o país.

As “Reformas de Base” eram apresentadas como uma solução para a crise gerada pelo atraso nacional. Visando a ampliação do mercado interno, medidas como a desapropriação dos latifúndios improdutivos e a distribuição de terras às massas camponesas tinham como objetivo, além de fomentar o crescimento do número de trabalhadores com poder de compra, estendendo os direitos trabalhistas às massas assalariadas agrícolas, aumentar a produção de gêneros alimentícios a baixo custo para ampliar o mercado consumidor de produtos da indústria nacional. Para aumentar o poder aquisitivo dos trabalhadores urbanos, além do salário mínimo, repouso remunerado, férias e 13º salário, o governo prometia uma nova política habitacional que estimularia a redução dos custos dos aluguéis. O projeto das Reformas de Base buscava também a ampliar o mercado externo por meio da ampliação das relações comerciais com os Estados operários. Para conter a sangria de recursos financeiros, propunha a limitações às remessas de lucro das empresas estrangeiras para o exterior.

Mas, em si, as “Reformas de Base” estavam longe de representar uma ameaça ao capitalismo. O ascenso do movimento operário e popular, cujas mobilizações, impulsionadas pela luta em defesa das reformas de base, vinham crescendo rapidamente desde o início da década de 1960, era o que realmente constituía o centro das preocupações da burguesia e do imperialismo ianque. As grandiosas manifestações de massas em defesa das reformas eram utilizadas por João Goulart muito mais para chantagear os setores reacionários da burguesia e o imperialismo, exigindo que estes fizessem a opção entre o projeto burguês nacionalista das reformas ou a revolução social e o comunismo. A essa chantagem, os setores conservadores da burguesia nacional, com o apoio da igreja católica e do imperialismo ianque, responderam com a reacionária Marcha da Família com Deus pela Liberdade e com golpe contrarrevolucionário de 1º de abril de 1964, como uma ação preventiva diante do crescimento do movimento de massas operárias e camponesas, que se manifestava em inúmeras greves.

Na verdade, as reformas nunca sairiam do papel. Historicamente, tais reformas capitalistas constituem tarefas de uma revolução democrático-burguesa e, portanto, já não podem ser mais realizadas pela burguesia, que se tornou uma classe reacionária. Na etapa histórica do capitalismo em sua fase imperialista, essas tarefas só podem ser realizadas por um poder revolucionário, como parte da revolução proletária e da construção do socialismo. O governo Goulart e dos setores nacionalistas da burguesia eram politicamente incapazes de levar adiante o seu próprio projeto reformista, o que ficou confirmado quando o governo não organizou qualquer resistência contra os golpistas. Por sua vez, os stalinistas do PCB, que tinham o controle do movimento operário, não desejavam a revolução e a Ditadura do Proletariado, preferindo fazer das reformas nacionalistas do governo Jango e da política de colaboração de classes, os fundamentos de seu programa, preparando assim o caminho para a derrota do proletariado.

Frente às “Reformas de Base” do governo nacional populista de João Goulart, as chamadas políticas de “inclusão social” dos governos da frente popular (Lula/Dilma) parecem uma brincadeira inofensiva, perfeitamente aceitáveis e até elogiadas pela burguesia e o imperialismo. Mas, a enorme distância entre populismo do governo Jango e o atual governo da frente popular, apenas revela o profundo retrocesso ideológico e político do movimento operário nesses 49 anos. Porém, diante do acirramento da luta de classes, os governos burgueses sempre utilizaram as chamadas reformas estruturais ou de base como instrumento para enganar as massas trabalhadoras e preparar o caminho da derrota do proletariado. Hoje, portanto, o papel da vanguarda classista mais consciente, que reivindica o legado do marxismo, continua sendo o de construir um autêntico partido revolucionário leninista para assegurar a independência política da classe operária e apontar a revolução proletária e o socialismo como único caminho da vitória do proletariado.