Há 60 anos da morte de Koba:
A stalinofobia a serviço da reação imperialista
Há exatos 60 anos, no dia 05 de março de 1953, falecia o Secretário Geral do Partido Comunista da União Soviética Josef Stalin. Sua morte anunciada oficialmente na época como produto de um derrame cerebral fez parte, na verdade, de uma feroz luta interna no interior do PCUS, a partir da deflagração da própria sucessão de Stalin em função de sua precária saúde e idade relativamente avançada, 73 anos. Os meses de janeiro e fevereiro daquele rigoroso inverno de 53 foram marcados por intensas movimentações nos bastidores do partido, culminando com o anúncio da descoberta do chamado “complô dos médicos” onde fora relatado que catedráticos da Universidade de Moscou seriam membros de uma organização de espionagem britânica empenhados em assassinar as mais altas lideranças soviéticas. Estava dada a senha para um novo processo de expurgos no politburo, onde Stalin pretendia “depurar” a lista de seus mais prováveis sucessores. Mas, o temido Lavrentiy Beria, comissário do povo para assuntos internos, teria agido mais rápido e de forma “preventiva”. Beria, temendo a nova purga stalinista que certamente o atingiria, tratou de envenenar o “Guia Genial dos Povos” e, por ironia da história, com veneno para matar ratos, como ficou comprovado somente em 2003 por uma equipe de legistas e historiadores russos absolutamente isenta. Segundo o grande historiador Isaac Deutscher, a absurda preparação de mais um “julgamento espetáculo” por Stalin às vésperas de sua morte, correspondia a sua já deteriorada condição ideológica comunista (se mostrava cada vez mais simpático às ideias de Mussolini) e, por consequência, em mudanças no caráter do regime soviético. Como afirmou Trotsky, a burocracia atua como uma casta que defende “até a morte” seus próprios privilégios materiais (que só podem sobreviver sobre as bases sociais do Estado operário), e nada mais coerente que diante da ameaça de Stalin de solapar os fundamentos do Estado soviético os próprios stalinistas dessem cabo de seu “chefe”. A verdade é que o homem de aço (Koba), elogiado por Lenin pela sua determinação incorruptível, vivia seus piores momentos no início da década de 50, após quase ter levado a derrota da URSS na Segunda Guerra mundial com a assinatura do pacto de cooperação com a Alemanha nazista, mais conhecido como “Pacto Ribbentrop-Molotov”. Pressionado pelas potências imperialistas consideradas “amigas” após a assinatura dos acordos de cooperação e não agressão de Yalta (1945), na Crimeia às margens do Mar Negro, Stalin leva às últimas consequências sua política contrarrevolucionária de coexistência pacífica com a burguesia mundial, debilitando assim sua própria liderança no movimento comunista internacional. Revoluções no mundo capitalista ocidental são “afogadas” pela URSS (França, Itália e Grécia) em nome do respeito às “zonas de influência”, neste período surge até o conceito do “socialismo só em meio país”, como no Vietnã e Coreia. Na China, rompendo a orientação de Stalin em dissolver o Partido Comunista no movimento nacionalista burguês, se insurge Mao Tsé-Tung, assumindo assim a direção política de um novo viés da esquerda revolucionária, que anos depois se repetiria em Cuba. Passados sessenta anos da morte de Stalin, com todos seus graves erros de estratégia e traições ao legado teórico leninista, desgraçadamente a vertente revisionista do trotsquismo (seguida de toda intelectualidade pequeno-burguesa) insiste em identificar o “fenômeno histórico” do Stalinismo como sendo sinônimo de “ausência de democracia” e “provocador de calúnias”. Com este binômio, que com certeza é um elemento acessório da praxis stalinista, os revisionistas tentam enquadrar os marxistas revolucionários que denunciam seu programa de colaboração política permanente com o imperialismo, este sim um legítimo tributo à continuação da estratégia stalinista da colaboração de classes e subordinação ao “grande amo do norte”.
A tentativa de apresentar a figura de Stalin como o “grande demônio”, muito pior do que qualquer ditador fascista ou imperialista não é propriamente uma “novidade”. O próprio Trotsky no final dos anos 30 teve que combater esta posição liquidacionista no seio da seção norte-americana da IV Internacional, o SWP, representada pela fração antidefensista de Shachtman e Burnham. Para este setor do “velho” SWP que deu origem ao revisionismo atual, Stalin era igual a Hitler, um “ditador sanguinário”, esta caracterização impediria, portanto a possibilidade de se estabelecer qualquer política de frente única com o Stalinismo na defesa das bases sociais do Estado operário soviético. No seu livro “Em defesa do marxismo”, Trotsky elaborou um artigo, “De um simples arranhão ao perigo de uma gangrena”, onde desconstrói na gênese a stalinofobia, tanto praticada pelos revisionistas da atualidade. Para Trotsky: “Stalin derrubado pelos trabalhadores significava a revolução, mas Stalin derrubado pelos imperialistas representava a contrarrevolução”. Não por coincidência, os dirigentes revisionistas do SWP acabaram seus dias de vida como colaboradores diretos do imperialismo norte-americano, inclusive a serviço das suas intervenções militares para “salvar a democracia”.
Os revisionistas contemporâneos (LIT, UIT, CWI etc.) não em poucas oportunidades se perfilaram no campo do imperialismo em nome da “luta contra o autoritarismo Stalinista”. O processo contrarrevolucionário que destruiu as conquistas sociais do Estado operário soviético, e na sequência de todo Leste europeu, contou com o apoio frenético de organizações revisionistas como o PSTU e “similares” Morenistas. Para estes canalhas que enlameiam a referência do genuíno trotsquismo, a defesa das “liberdades democráticas” formais estava acima da luta para conservar as bases da economia socializada da URSS. Também não tem a menor vergonha política de saírem na defesa de agentes da contrarrevolução aberta em Cuba, como a blogueira da CIA Yoani Sánchez, tudo em nome da “democracia” e da “oposição ao Stalinismo”. Não por acaso, estes revisionistas stalinofóbicos do PSTU/LIT tem seguido o mesmo caminho político de seus “mestres” Shachtman e Burhnam, colaborando com as ações militares da OTAN contra as “ditaduras sanguinárias” da Líbia e Síria.
Nos sessenta anos da morte de Stalin, os bolcheviques-leninistas reafirmam todas as denúncias das traições da colaboração de classes que levaram ao fim da III Internacional e ao enfraquecimento das bases do Estado soviético, alimentando a ofensiva da contrarrevolução interna, comandada pelo arrivista bêbado Boris Yeltsin. Muito mais além das falsificações e da política de extermínio dos quadros da “oposição de esquerda”, como Trotsky e Zinoviev entre tantos dirigentes comunistas da revolução de outubro, o grande “crime” de Stalin se concentra na adoção da estratégia do “socialismo em só país” (ou até meio) e na política de colaboração de classes com a burguesia mundial. A linha do “reformismo” como “tática” oficial dos partidos comunistas stalinizados em todo o mundo, tomada por empréstimo da velha social democracia, parece que contaminou o conjunto da esquerda socialista, “derivando” até para um revisionismo “trotsquista”, tão simpático às democracias imperialistas.