quarta-feira, 20 de março de 2013


O “beijo da morte”: Papa Francisco I dirigirá cruzada reacionária contra governo CFK com a “benção” dos revisionistas do trotskismo

Logo após a escolha para o trono papal do Cardeal de Buenos Aires, Jorge Mario Bergoglio, como um passe de mágica a mídia “murdochiana” montou uma operação mundial para demonstrar que a desprestigiada Igreja Católica havia escolhido um “chefe à altura”, “humilde” e mais “próximo dos pobres”. Setores da esquerda, particularmente na Argentina, entretanto logo denunciaram o hoje Francisco I como um fiel colaborador da genocida ditadura militar argentina instaurada em 1976, o que se revelou a mais pura e incontestável verdade, há fartas denúncias de seu envolvimento no sequestro e tortura de dois jesuítas quando comandava a Companhia de Jesus no país. O que poucos denunciaram, particularmente os grupos revisionistas do trotskismo argentino, foi o papel que Bergoglio desempenhou bem mais recentemente, sendo um dos mais ferozes opositores pela direita do governo de Nestor Kirchner e da própria Cristina Fernandez Kirchner (CFK), usando sua função de Cardeal de Buenos Aires para atacar até mesmo as tímidas medidas adotadas pelo governo “nacional e popular dos K” como a Ley de Medios e o direito ao casamento entre os homossexuais. Se, como Cardeal, Bergoglio foi um dos apoiadores mais entusiastas dos “cacerolazos” promovidos contra CFK pela direita, manifestações reacionárias que foram também apoiadas por grupos pseudotrotskistas como PO e PTS, o que não fará agora na condição de chefe supremo da mafiosa Igreja Católica! O encontro entre CFK e Francisco I em Roma, nas celebrações de seu entronamento como Pontífice, com direito a um “beijo da morte” na presidente argentina, para além do cinismo de ambos, revela que a ofensiva política contra seu fragilizado governo ganhou um reforço decisivo, com a direita festejando ter a seu lado o Papa argentino. No momento em que Cristina enfrenta uma guerra aberta com os barões da mídia “murdochiana” e a oligarquia reacionária venezuelana comemora a morte de Chávez (às vésperas de uma eleição presidencial), a ascensão de Bergoglio a chefe da “Santa Sé” soa como música para os ouvidos da Casa Branca!

É necessário destacar as implicações a curto prazo da eleição do Papa argentino no cenário político interno portenho e também para a América Latina. Foi como “chefe espiritual” da oposição direitista ao governo Kirchner que o cardeal de Buenos Aires ganhou prestígio e notoriedade internacional. Sua nomeação trata-se de uma grande operação político-ideológica pensada e articulada desde os gabinetes dos órgãos de inteligência do imperialismo mundial para que Francisco I se converta em um eixo de aglutinação da classe dominante argentina e latino-americana em meio à crise por que passa o governo de Cristina Kirchner e a centro-esquerda burguesa no continente, uma aposta no crescimento e fortalecimento da arquirreacionária oposição patronal em cuja cabeça estará inapelavelmente Bergoglio. As relações promíscuas da Igreja argentina com a oposição oligárquica foram recentemente colocadas a público por documentos descobertos pelo WikiLeaks, os quais revelam o papel conspirativo do então Cardeal Bergoglio como um expoente da reação anti-K e flagrado em conversas com diplomatas americanos que o tinham como um “poderoso agente contra os desmandos do atual governo”. Assim foi durante a crise política do então governo Nestor Kirchner (morto em 2010) com os chamados “sojeros” e em 2010 quando foi aprovado o casamento homossexual, acirrando as tensões entre Igreja e governo. Nestor Kirchner chegou a qualificar o atual Papa como o “chefe espiritual da oposição política”. A crise ficou ainda mais acentuada quando no final do ano passado a “direitona” levou às ruas milhares de pessoas em setembro e outubro, com a ajuda da mídia “murdochiana”, de Macri e sua coalizão direitista - PRO, De la Sota, De Narváez, ou mesmo a UCR, grupos neonazistas,“sojeros” da Sociedade Rural e da Federação Agrária e como não poderia deixar de ser, da Igreja conservadora chefiada por Bergoglio, para protestar contra a “chavização” do regime político materializada na estatização (“trucha”) da YPF, contra um maior controle institucional dos meios de comunicação, o controle do câmbio e a aprovação da revisão constitucional que permitiu o voto opcional aos dezesseis anos. Tanto que entre os cartazes erguidos por alinhadas senhoras portenhas podia-se ler “liberdade”, “imprensa livre”, “respeito”, “não à corrupção”, “Cristina renuncie já”, “Abaixo a ditadura K”, ou seja, demandas políticas próprias da alta classe média insuflada por setores burgueses que não estão satisfeitos com o governo de Cristina e suas iniciativas populistas.

Logo depois, em 20 de novembro do ano passado, houve o “paro nacional” de 24 horas, convocado pela CGT comandada por Moyano, dirigente de uma ala da burocracia sindical mafiosa rompida pela direita com o governo CFK, a CTA de Michelli em aliança com as reacionárias Sociedade Rural e a Federação Agrária, que representam a classe dominante do campo, o primeiro contra a uma gestão kirchnerista desde 2003. A convocatória também teve a adesão da arquidireitista CGT “azul e branco” de Luis Barrionuevo e o apoio velado da oposição burguesa conservadora (Macri- PRO, De Narváez, UCR, FAP de Binner) assim como do Clarín e do La Nación, que jogaram com o desgaste do governo CFK, sendo apresentado na mídia como uma sequência natural dos dois “cacerolazos” ocorridos anteriormente sob a direção da direitona argentina. Novamente o protesto foi “abençoado” pela Igreja Católica, ou seja, formou-se uma ampla frente política contra o governo Cristina. Os revisionistas do trotskismo agrupados na FIT (PO, PTS, IS) assim como o MAS e outros grupos satélites menores (LIT/PSTU, CS, LOI-DO...) apoiaram entusiasticamente a paralisação. A grande família revisionista tratou de encobrir o fato que o móvel político do protesto não passa pelas reivindicações dos trabalhadores (ainda que elas estejam presentes de forma extremamente secundária entre os reclamos), mas a política de um setor da burocracia sindical que em aliança com a direita e particularmente com a oligarquia rural pretende chantagear o governo em benefício de seus próprios privilégios enquanto é funcional ao objetivo de debilitar o governo nacional.

Agora com a nomeação de Bergoglio como Papa, os revisionistas do trotskismo “comemoram” (ainda que disfarçadamente) o reforço de um importante aliado na frente política que combate o governo de Cristina, com o PTS declarando, por exemplo, que “se em nível mundial terá a tarefa de lavar a cara da desprestigiada Igreja... na Argentina é um incentivo para a oposição patronal, muito mais do que para o kircherismo. Bergoglio sempre foi porta-voz das propostas da oposição e tem relações muito próximas com o PRO ou Elisa Carrió ” (site do PTS, 14/3). O PTS só não diz é que o conjunto do revisionismo trotskista, incluindo a si próprio, assim como o agora Francisco I, também vem “incentivando” as mobilizações da oposição patronal contra o governo, emblocando-se entusiasticamente a iniciativa dos novos “companheiros” da direita, como Macri (PRO) e De Narvaez. Esta “esquerda” revisionista, postando-se até mesmo à direita de um governo burguês como os do “K”, perdeu completamente a noção política do trotskismo e também qualquer conteúdo de classe, repetindo a mesma “santa” aliança imperialista realizada na Líbia e na Síria contra governos nacionalistas burgueses, que incluiu a OTAN e a cúpula da Igreja Católica, já que o Banco do Vaticano é o principal acionista da maior indústria de armamentos do mundo. Lembremos que em todos os “cacerolazos” apoiados pela família revisionista (PO, PTS, MST, IS e afins), Bergoglio estava agindo nos bastidores para massificá-las, atuando em conjunto com os “medios” murdochianos e a direta. Tanto que para Macri o entronamento de Francisco I “começa a marcar um futuro promissor para todos os argentinos” declarado ainda que terá um efeito político pois temos que aproveitá-la para construir uma Argentina melhor”.

Os revolucionários não nutrem a menor simpatia pelo governo burguês de CFK, porque ao menor sinal de crise, faz com que os trabalhadores paguem o ônus comprimindo salários e impõe novos impostos, mas de modo algum nos colocaremos ao lado da escória direitista do calibre de Macri (PRO), De Narvaez ou o grupo Clarín, todos alimentados pela Igreja Católica em sua cruzada para “derrubar os K” contra o “comunismo e por liberdade” em manifestações muito similares às que ocorreram no Brasil contra João Goulart, conhecida como “marcha da família com Deus pela liberdade” em 1964, típica manifestação do fascismo clerical. Não será unindo-se à escória direitista, agora insuflada pelo Papa argentino, que os revolucionários combaterão os ataques de CFK ao movimento operário, mas denunciando que os possíveis novos “cacerolazos” e “paros” patrocinados pela alta classe média e os “sojeros” não são de modo algum uma alternativa ao populismo do atual governo. É preciso levantar as demandas dos trabalhadores e usar seus próprios métodos de luta para derrotar o CFK e a oposição conservadora, nunca unir-se a reação para o “derrumbe” de Cristina, denunciando o real significado do “beijo da morte” dado por Francisco I em CFK.