Odilo Scherer coroado Papa? Uma nova aposta da reação para retomar a influência perdida no Brasil
A eleição do novo Papa, com a abertura do conclave na Capela Sistina nesta tarde do dia 12/03, passou a ser um elemento importantíssimo na antecipada disputa presidencial brasileira. Como já afirmou Raul Riff, um velho comunista colaborador do governo Jango: “O imprevisível continua sendo um fator determinante da política brasileira”. E neste caso foi a renúncia do Papa Bento 16, produto da profunda crise moral da cúpula da reacionária Igreja Católica, o elemento do “imponderável” que pode definir um novo rumo na conjuntura nacional. A inesperada saída de Ratzinger, o antigo chefe da nova “inquisição” católica coroado Papa em 2005 para depurar da instituição todos os elementos “esquerdistas”, abriu pela primeira vez na história a possibilidade concreta da eleição Papal de um brasileiro, o arcebispo de São Paulo Dom Odilo Scherer. O Cardeal Scherer de 63 anos nascido de uma família de imigrantes alemães no Rio Grande do Sul fez sua carreira religiosa no oeste do Paraná até ser nomeado bispo auxiliar da arquidiocese paulistana em 2002. No ano de 2007, nomeado por Bento 16, Odilo sagra-se arcebispo de São Paulo, ocupando na hierarquia católica uma posição de “extrema direita”, reposicionando assim a catedral paulista em um espectro ultrarreacionário considerado perdido pelos conservadores desde a gestão “progressista” de Dom Evaristo Arns. Em sintonia com o nazi-inquisitor Ratzinger, Scherer promoveu sua própria “caça às bruxas” tupiniquim, não se furtando de sua intervenção direta no processo eleitoral de 2010, impulsionando com outros bispos uma sórdida campanha fascista contra a candidata do PT, Dilma Rousseff, considerada por esta escória religiosa uma apologista do “aborto e do fim da família cristã”. Agora, tudo indica que a decomposta oligarquia vaticanista pensa seriamente em coroar um Cardeal brasileiro para com um só golpe atingir dois objetivos: o primeiro seria resgatar a credibilidade mundial dos arcebispos corruptos e pedófilos na figura “limpa” de um “ortodoxo” latino-americano, e o segundo retomar a perdida influência político-evangélica no maior país católico do mundo.
A disputa pelo controle de um aparato estatal decadente, nas entranhas do Vaticano, levaram a uma situação de ingovernabilidade do Papa Bento16, forçando-o a uma renúncia quase que inédita na instituição, já que a anterior ocorreu a cerca de 600 anos atrás. O minúsculo Vaticano tem o status e soberania internacional de um país, apesar de não possuir nenhum cidadão natural do pequeno enclave incrustado na cidade de Roma (não existe sequer uma maternidade no Vaticano). Este anacrônico status, chancelado pela ONU, permite a Igreja Católica manejar suas “santas” e abundantes finanças sem a intromissão e fiscalização de nenhum organismo monetário (italiano ou europeu), concedendo a seu banco estatal (fundado em 1942 em plena II Guerra Mundial) a condição do maior paraíso fiscal do planeta. A imprensa “murdochiana” tem relatado casos de lavagem de dinheiro da Máfia italiana e da maçonaria pelo banco do Vaticano, mas estas denúncias são apenas a “ponta do iceberg”. A verdade é que as grandes transnacionais e corporações financeiras internacionais tem no Banco do Vaticano um “porto” bem mais seguro do que a Suíça ou os paraísos fiscais do Caribe.Comenta-se nos bastidores da chancelaria que até o poderoso FED norte-americano tem volumosos depósitos no Vaticano, lastreando em ouro físico seus bem cotados títulos financeiros.
A missão principal de Ratzinger no Papado era eminentemente ideológica, flexionar a Santa Sé para um caminho teológico ainda mais conservador, diante do avanço do islamismo no mundo ocidental e de seitas protestantes na América Latina, mas foi surpreendido com um séquito de pedofilia, homossexualismo e corrupção material incontrolável. A única saída diante de uma saúde frágil e uma anturragem cada vez mais hostil foi a renúncia. O ex-Secretário de Estado do Vaticano pivô da crise, cardeal Bertone, mantinha um rígido controle sobre as finanças da Igreja e seu banco estatal, gerando as denúncias que levaram a eclosão do chamado “vatileaks”, como ficou conhecido o caso de vazamentos dos documentos secretos da Santa Sé.
Mas a abrupta saída de Bento 16 está muito longe de por um fim à guerra de camarilhas no interior do Vaticano, e a simpatia dos cardeais reacionários mais ligados à chamada “doutrina da fé” se inclinam para o nome do brasileiro Scherer. Já os bispos europeus, incluído neste bloco a maioria italiana, manifesta preferência por uma saída doméstica, no caso um competente gestor testado na própria Cúria romana, Angelo Scola. Por último, mas não menos influente, está a postulação da rica igreja norte-americana, disposta a continuar a encobrir a prática comum da pedofilia nos mosteiros e seminários de formação de párocos, a aposta vai na direção do cardeal Timothy Dolan um novo viés de “modernizar” o catolicismo “escancarando” velhos tabus.
Na queda de braço das inúmeras frações sinistras da Igreja Católica, as chances de Scherer comandar “a matilha de lobos” não são pequenas. Caso se confirme esta vertente, a interferência na conjuntura política brasileira seria imediata e de forte impacto, capaz inclusive de alterar cenários quase que definidos. Em um país com tradições religiosas muito arraigadas nos setores mais plebeus da população, as “recomendações” de um Papa “nacional” teriam o peso de influenciar qualquer eleição. Não seria a primeira vez que a Igreja optaria por uma “saída regional”, focando na situação específica de um país, a escolha do polonês Karol Wojytila esteve centrada na decisão da Igreja em derrotar o regime stalinista do general Jaruzelski. Na condução da diocese de São Paulo, em 2010, Scherer não se furtou na tarefa inglória de empurrar Serra ao Planalto, imaginem só o que faria este mesmo “pastor” na condição do primeiro Papa brasileiro... Na falência política precoce da oposição Demo-Tucana, as tentativas da reação para derrotar eleitoralmente a frente popular são cada vez mais ousadas, primeiro um “herói negro togado”, e agora talvez até a possibilidade de um “fascista” com o hábito eclesiástico de Papa.