Francisco I: Igreja faz opção política para combater o crescimento do nacionalismo latino-americano
O trono papal estava mesmo reservado para um cardeal latino-americano e não por uma razão “divina” ou mesmo evangélica, a escolha do bispo argentino Jorge Mario Bergoglio pela cúpula da Igreja Católica cumpre uma função estritamente política. Na abertura do conclave que elegeria o novo Papa, uma assembleia de 115 cardeais, pelo menos três latinos-americanos estavam bem cotados, com um forte favoritismo do brasileiro Dom Odilo Scherer, um discípulo fiel do renunciante Bento 16. Mas, a tendência majoritária ainda indicava para um retorno da coroa papal para a burocracia da cúria romana, em virtude da profunda crise institucional por que passa a hierarquia da Igreja Católica. Por estas circunstâncias a candidatura do italiano Angelo Scola inicialmente aparecia com mais densidade sobre os demais postulantes “forasteiros”. O nome do jesuíta ultraconservador Bergoglio surge então como um “tercius” diante do impasse entre as duas alas mais fortes da Igreja, os membros da “Congregação da Fé” ( liderados por Ratzinger) e os chamados gestores administrativos financeiros ligados ao Secretário de Estado do Vaticano (cardeal Bertone). Caso a opção papal tivesse recaído sobre Odilo, sua influência política estaria limitada às fronteiras brasileiras. Já a vitória do argentino Bergoglio tem um caráter bem mais amplo do que somente o peso sobre seu país de origem, está voltada principalmente a América do Sul e especificamente ao combate aos processos nacionalistas mais “agudos”, como Venezuela, Equador e Bolívia. O “prêmio” recebido pela Igreja argentina também não é acidental, com sua trajetória intimamente ligada aos crimes dos militares genocidas e a apologia aberta ao regime fascista instaurado em 1976. Bergoglio sofre a acusação, por parte de organismos de direitos humanos, de ter entregue à repressão assassina dois religiosos da sua própria ordem. Mas, foi como “chefe espiritual” da oposição direitista ao governo Kirchner que o cardeal de Buenos Aires ganhou prestígio e notoriedade internacional. Em um momento que a presidente Cristina enfrenta uma guerra aberta com os barões da mídia “murdochiana” e a oligarquia reacionária venezuelana comemora a morte de Chávez (às vésperas de uma eleição presidencial), o entronamento de Bergoglio na “Santa Sé” soa como música para os ouvidos da Casa Branca.
O “debut” eclesial do novo Papa já será na Jornada Mundial da Juventude Católica, a ser realizado na cidade do Rio de Janeiro em julho próximo. Neste encontro onde se espera a presença de mais de trezentos mil católicos, Bergoglio terá a oportunidade de “doutrinar” a juventude com suas concepções ultrarreacionárias contra o aborto e do obscurantista preconceito contra as relações homoafetivas. Foram exatamente estas questões que Bergoglio empunhou como bandeiras da oposição conservadora argentina, agora terá o aparato do Vaticano para potenciar suas retrógradas posições em todo nosso continente e no mundo. Ao mesmo tempo em pregava hipocritamente a “moralidade” da ordem burguesa estabelecida, Bergoglio acobertava os crimes de pedofilia dos párocos, ocorridos em sua diocese portenha, e muito provavelmente se espera a mesma conduta no comando do Vaticano.
O alvo preferencial da cúria romana tem sido nas últimas duas décadas a eliminação da influência da chamada “Teologia da Libertação” no continente latino e africano. Ratzinger comandou a moderna Inquisição da Igreja, chegando a excomungar frades “progressistas” como Leonardo Boff. Mas a chamada ala “progressista’ da Igreja operou ela mesma um profundo retrocesso filosófico, traindo os ideais de religiosos como o colombiano Camilo Torres por exemplo, que chegaram a defender a luta armada como uma opção legítima. Outros “progressistas” como Frei Beto, colaboradores políticos da guerrilha urbana, retrocederam para posições de integração a governos da “centro esquerda” burguesa. O Papa Francisco será um inimigo visceral dos poucos remanescentes da “Teologia da Libertação” no interior da Igreja, assim como do trabalho pastoral nas comunidades de base mais carentes e oprimidas da América Latina.
Como marxistas leninistas (ateus e materialistas) caracterizamos a Igreja Católica como um instrumento secular e contemporâneo da dominação imperialista. Denunciamos o papel contrarrevolucionário da instituição na chamada “Guerra fria”, tendo dado uma “contribuição” decisiva no crescimento do sindicato “SOLIDARIEDADE”, fabricando a liderança sindical “amarela” do polonês Lech Walesa. Na eliminação das conquistas operárias dos Estados do Leste Europeu, o então Papa Karol Wojityla atuou como um verdadeiro “ponta de lança” ideológico do sinistro governo Reagan. Os princípios do “livre mercado”, na Igreja, são bem mais profundos e arraigados do que os da “fraternidade” e “igualdade” que diz reivindicar o cristianismo. Na atual ofensiva imperialista contra povos e nações, sendo o nacionalismo burguês o adversário político e militar da “hora”, produto da derrota histórica já sofrida pela maioria dos regimes Stalinistas, o Papa Bergoglio, mascarado de Francisco I, será uma peça fundamental e exatamente por isso foi “ungido” à condição de interlocutor de “Deus” na barbárie humana do capitalismo.