Um debate aberto com a morte de “Chorão”: A defesa da legalização das drogas não pode arrefecer o combate do marxismo contra o “ópio e alienação” da juventude
No meio desta semana a morte do fundador e vocalista da banda Charlie Brown Jr. ocupou grande destaque na mídia “murdochiana”, numa tentativa de fazer um contrapeso à importância política da morte do “comandante” Hugo Chávez e a comoção popular que tomou conta da Venezuela. A prematura morte de Alexandre Magno Abrão, conhecido como “Chorão”, aos 42 anos de idade, no dia 6 de março, muito provavelmente causada por overdose em consequência de uma profunda depressão, foi um ícone para a geração dos anos 90. “Chorão” conseguiu dar uma roupagem “pop” ao hardcore, ao rap e ao reggae, além de ajudar a desenvolver a prática do skate profissional no Brasil. Sua trajetória artística (produtor e roteirista) obteve inclusive reconhecimento internacional por diversos grupos musicais. O fim, de certo modo trágico, de “Chorão”, mergulhado em seu “vazio” existencial, apesar de todo sucesso e fama alcançados, pode trazer à tona um importante debate teórico-programático para a esquerda revolucionária acerca do que representa o uso de entorpecentes e suas consequências políticas dentro da perspectiva da luta de classes. De um lado temos um setor da pequena burguesia (apoiado inclusive por organizações que se reivindicam trotsquistas) que defende acriticamente e em geral a legalização das drogas, em particular da maconha; de outro, as posições balizadas pelo programa leninista que tem princípios bem claros, de que a distribuição e difusão das drogas cumprem um papel de dominação de classe, posto que servem para a burguesia diluir, massacrar, idiotizar e reprimir com virulência principalmente a juventude, além de servir como justificativa do imperialismo para intervir militarmente em países da América Latina num suposto “combate” ao tráfico (Plano Colômbia) em meio ao profundo retrocesso cultural e ideológico das massas em todo o mundo. Assim, a questão da luta pela legalização das drogas deve ser levada a cabo como parte de todo um cabedal programático de enfrentamento com a burguesia e seu aparato repressivo estatal.
De um lado, enquanto a burguesia e a elite palaciana se “deleitam” livremente com a cocaína/heroína de alta qualidade (a “puríssima”) sem serem perturbados pela polícia em suas mansões e rodas de artistas globais que necessitam dos chamados “barões do tráfico” (Cabralzinho “Caveirão”, por exemplo) que moram em luxuosas mansões e condomínios fechados e não nos morros e favelas; por outro, nas “cracolândias” de São Paulo e Rio de Janeiro, cujos consumidores pobres de “crack” (a borra da coca misturada com bicarbonato de sódio) sofrem a mais brutal repressão através dos “internamentos compulsórios”, conformando uma verdadeira operação de guerra e “higienização” contra os pobres nas principais metrópoles do país. Isto que parcelas cada vez maiores da população passaram a consumir drogas com mais frequência e sistematicidade, um claro sintoma do “imenso” vazio proporcionado pela profunda decomposição e barbárie social a que chegou o capitalismo.
Neste sentido, a classe dominante bestializada e “cheirada” empurra de roldão a classe média, que já perdeu qualquer referência cultural e ideológica após a queda contrarrevolucionária da URSS, para o gueto das drogas, adotando uma “vida de micróbio”, acomodada e vazia sem a menor perspectiva de um futuro melhor para a humanidade. Ainda parte deste sistema, as massas populares muitas vezes sem emprego e marginalizadas, são os alvos mais vulneráveis ao consumo das drogas baratas como o crack e o “oxi” (mistura de pasta-base de cocaína, querosene e cal virgem), as quais transformam inapelavelmente os seres humanos em “mortos-vivos” por causarem rápida dependência e morte em poucos meses. Aqui, a mídia “ética” e os “barões do tráfico” fazem todo tipo de negócios nos bastidores obscuros do Estado burguês e depois buscam “laranjas” nos morros e favelas para encobrirem seus crimes, os quais são taxados de “traficantes” por esta mesma mídia.
A esquerda pequeno burguesa trata de conceber como “progressista” o uso de droga (a maconha no interior do movimento estudantil como faz a LER) em nível individualista e descolado da realidade. Porém, os marxistas defendem que a questão da liberação das drogas deve estar atada intimamente ao programa do partido revolucionário, ou seja, ao combate pela derrubada de todo o aparato da repressão estatal contra o proletariado e os setores oprimidos da sociedade. Em outras palavras, o uso em si de entorpecentes da consciência não cumpre de modo algum um papel progressista dentro de uma coletividade, haja vista que estimula apenas a “euforização individualizada”, o que só serve para aprofundar a desagregação social e a alienação (como foi o caso de “Chorão”) em especial da juventude. Combatemos com vigor a criminalização do uso de drogas e as medidas repressivas-coercitivas desencadeadas pelo Estado burguês. Muito além da questão meramente moral, somos, portanto, a favor da total legalização do uso das drogas como produto da luta não só contra a repressão estatal como também no combate ao processo de decomposição moral e espiritual que nos impõe o capitalismo. Somente com o norte programático do partido mundial da revolução socialista, a Quarta Internacional, o proletariado poderá conquistar o seu direito ao pão, ao lazer e ao prazer, colocando abaixo todo o edifício da ordem burguesa, responsável pela barbárie cultural e ideológica que assola a humanidade nos dias atuais.