domingo, 15 de maio de 2016

O "13 DE MAIO" OU OS ALICERCES DA COLONIZAÇÃO MERCANTILISTA DO BRASIL: A ESCRAVIDÃO COMO ELEMENTO CENTRAL DA GÊNESE DA ACUMULAÇÃO CAPITALISTA SEMICOLONIAL


Os primeiros escravos começaram a chegar no Brasil a partir de 1530, e eles iriam viabilizar a implantação da empresa açucareira, estabelecida pelos portugueses como modelo para a colonização do Brasil, associada ao monopólio português do tráfico negreiro que impunha seu contrato de exclusividade na utilização de mão-de-obra negra. Os principais fatores que contribuíram para a utilização da mão-de-obra negra foram econômicos já vinculados ao estabelecimento de monopólios capitalistas e não étnicos. O papel do Vaticano, instituição internacional sócia das metrópoles européias, foi muito importante na construção da imagem do negro, como um ser sem alma. A bula papal Romanus Pontifex, assinada por Nicolau V, outorgava poderes de captura dos negros aos navegantes portugueses. A "santíssima" Igreja Católica autorizou a tratá-lo como mera mercadoria. O tráfico negreiro instaurou decisivamente na história o racismo negro que se expandiu continuamente durante as primeiras décadas da colonização, englobando negros de diversas nações africanas, que passaram a ser comercializados já no cais do porto. A colonização do Brasil se deu no início da expansão comercial na Europa. Criou-se o sistema de plantations, voltado para o comércio exterior, tornando-se uma forma permanente de exploração do trabalho escravo. Sequestrado para o Brasil pela grande indústria do tráfico de escravos, passando pelas piores torturas nos navios negreiros, os africanos começaram as revoltas de maior proporção quando se encontraram reunidos coletivamente sob o tacão do trabalho escravo. A revolta se expressou inicialmente pela sabotagem da produção, depois, vieram as fugas e com elas a criação dos quilombos. Os quilombos se constituíram não somente como forma de luta contra o sistema escravista, mas também como propostas de uma nova sociedade, onde não havia divisões de classe. Eles abrigavam não somente negros, mas também brancos marginalizados, mestiços e indígenas.

O principal deles, formado no século XVI, foi o Quilombo dos Palmares, na capitania de Pernambuco, que sobreviveu por mais tempo aos ataques da repressão. Segundo o historiador Décio Freitas, do ponto de vista bélico, foi o maior entrave já visto contra a colonização portuguesa, tendo os colonizadores que empregar mais força do que contra os holandeses. Em 1678, após vários confrontos, Ganga-Zumba, o primeiro grande chefe de Palmares, pressionado, firmou um acordo de paz com o governador de Pernambuco que concedia a liberdade só para os nascidos em Palmares, a deposição de armas em troca de terra e da entrega de negros fugitivos que fossem abrigar-se nessas terras.

Zumbi tornou-se o líder da resistência ao acordo. O traidor Ganga-Zumba e seus homens abandonaram o quilombo. Sob o comando de Zumbi, desenvolveu-se um forte esquema militar e continuou a resistência, sendo ele denunciado por Antônio Soares, homem de sua confiança, capturado, torturado e assassinado em 20 de novembro de 1695. Após a morte, sua cabeça foi decepada, tratada em sal fino e enviada a Recife, onde fica exposta em praça pública para servir de exemplo aos negros que quisessem fugir e também para acabar com o mito popular de que Zumbi era imortal. No entanto, Zumbi permanece vivo, e sua luta para manter livre a sociedade do Quilombo dos Palmares é um exemplo para todos os trabalhadores. As revoltas dos negros continuaram nos séculos XVIII e XIX. Em 1835, ocorreu, em Salvador, na Bahia, a revolta dos Malês, uma importante rebelião urbana que culminou numa verdadeira guerra entre negros muçulmanos e as autoridades da Bahia. A revolta foi reprimida duramente, sendo seus líderes executados ou deportados para a África.

Para Marx, os "processos idílicos de acumulação primitiva" (antigo sistema colonial), se assentavam na exploração da mão-de-obra escrava, no tráfico negreiro e no saque das riquezas do Novo Mundo. O racismo, na verdade, é a expressão ideológica dessas relações econômicas capitalistas, obedecendo às necessidades do mercado, tendo o Estado brasileiro se organizado sobre um rígido sistema de classes, capitaneado pelos senhores da terra.

A produção colonial brasileira foi, desde o início, dominada pela necessidade do mercado externo. A dependência crescente da metrópole portuguesa pela metrópole inglesa levou à superação do capitalismo português pelo inglês, que era tecnologicamente mais avançado, devido à Revolução Industrial. O alto custo da manutenção da escravidão devido à resistência quilombola, por um lado, e aos obstáculos que lhe opunha a Inglaterra, por outro, cuja expansão comercial esbarrava na arcaica economia açucareira de plantation do Brasil, tornou-se um indicador da necessidade de extinção do regime escravista. A escravidão tornava-se um empecilho à libertação das forças produtivas e à formação de um mercado consumidor na colônia. A instituição do trabalho "livre" fez-se necessária e começou a introdução do trabalho assalariado nas lavouras paulistas. A imigração, principalmente européia e asiática, foi uma verdadeira empresa substitutiva ao tráfico negreiro africano, pela demanda do próprio modo de produção capitalista. A escravidão e o racismo contra o povo negro, que perduram até nossos dias sob formas "modernas" contra o proletariado enquanto classe é um dos pilares do capitalismo no Brasil.