terça-feira, 31 de maio de 2016

O Blog da LBI em referência à véspera das "míticas Jornadas de Junho" completarem três anos reproduz um artigo histórico, elaborado em julho de 2013, onde de forma absolutamente precisa aponta um prognóstico acerca dos desdobramentos políticos que este movimento de massas provocaria na conjuntura brasileira. O pleno acerto teórico do prognóstico realizado pela LBI, a despeito de todas as caracterizações impressionistas da esquerda revisionista nesta ocasião, nos faz mencionar o "velho" Trotsky quando afirmava que os êxitos de avaliação dos marxistas se aproximam de uma "profecia revolucionária", termo que o historiador Isaac Deutscher irá tomar emprestado para escrever algum tempo depois a biografia do grande dirigente bolchevique. Os Comunistas Leninistas rejeitam de cara em suas perspectivas de ação militante o "impressionismo mítico", erro gravíssimo que marcou todos os balanços históricos da esquerda revisionista sobre as multitudinárias mobilizações de junho de 2013 e que produzem sérios equívocos programáticos  de como enfrentar a atual conjuntura nacional no quadro da profunda crise política da Frente Popular (longe de ser terminal) e da emergência do neobanapartismo no país.


AS JORNADAS DE JUNHO MOSTRARAM QUE O CICLO ESTATAL DO PT ESTÁ ESGOTADO? 

Hoje um debate cruza o meio político, da extrema-esquerda à direita todas as análises lançam o “enigma”, as multitudinárias jornadas de junho revelaram o esgotamento do ciclo petista na gerência do Estado capitalista? Candidato a responder esta questão, o decano Tucano José Serra em conferência nacional realizada ontem (24/07) assevera o seguinte: “Me lembra os últimos seis meses do governo Jango e os últimos dias do governo Collor”, para depois concluir: “O ciclo do lulismo acabou, e o pior é que o governo não está apresentando uma alternativa para a superação desse modelo”. Caracterização semelhante a esta é compartilhada pelo conjunto da esquerda revisionista argentina (e seus respectivos apêndices brasileiros). Para este segmento político é correto afirmar que o: “Gigante acordou” (o mesmo mote da reação tupiniquim!) e que em: “Junho: um novo país surgiu das maiores mobilizações” (Site da LER, afiliada ao PTS argentino). Já para o Partido Obrero (PO) e seu consultor “brargentino” Osvaldo Coggiola, a crise mundial teria finalmente chegado ao Brasil e encerrado o “milagre Lulista” ancorado na China. Mas, será mesmo que o móvel das mobilizações populares que cortaram o país teria sido uma conjuntura econômica de “caos”, como tentam demonstrar a oposição burguesa conservadora e seus “colegas” da esquerda revisionista? Que “novo” país teria surgido após junho, estaríamos enfim vivendo os últimos estertores do governo da Frente Popular?

Em primeiro lugar, para dissipar a “ignorância” dos charlatães de “esquerda” é necessário dizer que o país continua exatamente o mesmo, o Estado burguês mantém absolutamente intacta suas instituições de dominação e regime político (governo e parlamento), sequer foi abalado pelos massivos protestos nacionais. Estivemos bem distantes de atravessar qualquer crise revolucionária de poder, e somente na mente ficcional de revisionistas como Valério Arcary (PSTU) a burguesia perdeu suas noites de sono com medo dos protestos, vejamos até onde pode chegar o delírio do dirigente Morenista: “Ontem, toda a ordem econômica, social e política que preserva o Brasil como um dos países mais injustos do mundo tremeu. Eles não podiam ir dormir.” (Blog da Convergência18/06). Nesta “versão” messiânica da realidade estivemos na borda de impor o socialismo, “derrubando” a ordem social capitalista com as jornadas de junho. Só o completo desconhecimento da teoria marxista da luta de classes é capaz de produzir “pérolas” do prognóstico catastrofista como estas da LER, PSTU, PO etc... Como nos ensinou Lenin, a configuração de uma crise revolucionária requer a dualidade de poderes, entre “os de cima e os de baixo”. Exatamente neste confronto do embrião de poder das massas e o poder decadente da burguesia emerge uma situação revolucionária. Mas, deixando um pouco de lado os disparates lançados por uma “esquerda” que perdeu completamente a referência nos conceitos do Leninismo, é importantíssimo definir duas questões sobre junho, a saber o móvel político das mobilizações e a capacidade de sobrevivência estatal do projeto da Frente Popular em um quadro político de continua perda de apoio popular.

A primeira pergunta a ser respondida é, porque milhões de pessoas foram às ruas protestar, sem que houvesse um eixo centralizado de reivindicações. Estamos nos referindo logicamente ao momento posterior às passeatas do Passe Livre, que conquistaram o congelamento parcial das tarifas dos transportes urbanos. A ausência de um centro unificado de demandas nas mobilizações é consequência direta do momento econômico relativamente estável que atravessa o país, ou seja, não existe um pico de desemprego, nem tampouco a inflação da cesta básica está fora de controle (como falsamente tenta provar o PIG), o consumo e a poupança interna batem recordes e, por último, a renda salarial média apresenta pela primeira vez um pequeno ganho real nos curso de dez anos. Em resumo, se não estamos vivendo no “paraíso”, a economia capitalista brasileira está longe de apresentar sinais de “default” como ocorre em alguns países periféricos da Europa. Neste marco, o descontentamento da juventude e dos setores populares que se mobilizaram (estamos aí excluindo os milhares de “protestantes” reacionários da classe média alta) tem razões sociais mais profundas do que a de uma crise política conjuntural ou mesmo uma falência precoce do governo da Frente Popular.

A entrada organizada do movimento operário nas mobilizações poderia alterar o panorama político do país, mas as paralisações do dia 11/07 ficaram limitadas a setores parciais da produção e serviços essenciais, em função da orientação ultraburocrática das centrais sindicais governistas. A nova convocatória para um dia de “luta” no final de agosto deve seguir o mesmo “script”, servindo de fato como uma alavanca para o início das campanhas salariais de setembro. A ausência de uma direção proletária e genuinamente de esquerda nas mobilizações contribuíram em muito para “diluir” a construção nacional de uma pauta progressista, livre da influência dos segmentos direitistas que introduziram bandeiras reacionárias nos protestos.

Como se tratou de um movimento de massas difuso e sem direção programática, o timbre histórico das jornadas de junho deve ser creditado não ao sentimento de oposição direcionada ao governo do PT, como foi o das “Diretas já” em relação ao regime militar ou o “Fora Collor”, mas a sensação generalizada de descontentamento da maioria população com um modo de produção capitalista baseado em valores exclusivamente do mercado de consumo. No regime do capital financeiro tudo se transforma em mercadoria, saúde a educação e cultura (não confundir com entretenimento) são acessíveis apenas mediante pagamento a vista ou crédito. Neste universo de produção mercantilizada, as gerências estatais (sejam neoliberais ou nacionalistas) apenas administram a crise da civilização com doses homeopáticas, algumas muito amargas como os Tucanos ou mais “suaves” como o PT.A experiência concentrada do quadro Lula soube redirecionar( com o apoio da burguesia nacional) o mercado exportador brasileiro para novas fronteiras, descolando o país do "naufrágio" econômico norte-americano, e nisto consiste o "milagre" petista que ainda está em plena vigência.

O modelo de gestão da colaboração de classes da Frente popular sai profundamente arranhado desta conjuntura, não por razões de um colapso político e econômico prematuro galvanizado pela ira popular, mas porque repousa em um “vulcão” capitalista de imensas contradições sociais que apenas estão “amortecidas” por medidas superficiais, de aparente mobilidade econômica das camadas mais pauperizadas da população. Como gestor deste modo de produção baseado na acumulação privada, que exclui milhões de pessoas dos serviços mais elementares de uma sociedade “moderna”, o governo do PT sabe das limitações em que opera na arena social e política e não se propõe a transformá-la. Os artifícios da “bolha de crédito” e “gordura” monetária do caixa estatal não podem eliminar a incapacidade estrutural do capitalismo em contemplar as aspirações básicas dos trabalhadores. Mais além de um esgotamento cíclico dos governos do PT, que apesar do “sufoco” (leia-se Marina Silva) deve ser reconduzido para mais uma gestão estatal pelas classes dominantes, estamos diante da falência histórica do capital, incapaz de desenvolver as forças produtivas da humanidade!

(BLOG DA LBI, 25 de JULHO DE 2013)