O Blog da LBI em referência à véspera das "míticas
Jornadas de Junho" completarem três anos reproduz um artigo histórico,
elaborado em julho de 2013, onde de forma absolutamente precisa aponta um
prognóstico acerca dos desdobramentos políticos que este movimento de massas
provocaria na conjuntura brasileira. O pleno acerto teórico do prognóstico
realizado pela LBI, a despeito de todas as caracterizações impressionistas da
esquerda revisionista nesta ocasião, nos faz mencionar o "velho"
Trotsky quando afirmava que os êxitos de avaliação dos marxistas se aproximam
de uma "profecia revolucionária", termo que o historiador Isaac
Deutscher irá tomar emprestado para escrever algum tempo depois a biografia do
grande dirigente bolchevique. Os Comunistas Leninistas rejeitam de cara em
suas perspectivas de ação militante o "impressionismo mítico", erro
gravíssimo que marcou todos os balanços históricos da esquerda revisionista
sobre as multitudinárias mobilizações de junho de 2013 e que produzem sérios equívocos
programáticos de como enfrentar a atual
conjuntura nacional no quadro da profunda crise política da Frente
Popular (longe de ser terminal) e da emergência do neobanapartismo no país.
AS JORNADAS DE JUNHO MOSTRARAM QUE O CICLO ESTATAL DO PT
ESTÁ ESGOTADO?
Hoje um debate cruza o meio político, da extrema-esquerda à
direita todas as análises lançam o “enigma”, as multitudinárias jornadas de
junho revelaram o esgotamento do ciclo petista na gerência do Estado
capitalista? Candidato a responder esta questão, o decano Tucano José Serra em
conferência nacional realizada ontem (24/07) assevera o seguinte: “Me lembra os
últimos seis meses do governo Jango e os últimos dias do governo Collor”, para
depois concluir: “O ciclo do lulismo acabou, e o pior é que o governo não está
apresentando uma alternativa para a superação desse modelo”. Caracterização
semelhante a esta é compartilhada pelo conjunto da esquerda revisionista
argentina (e seus respectivos apêndices brasileiros). Para este segmento
político é correto afirmar que o: “Gigante acordou” (o mesmo mote da reação
tupiniquim!) e que em: “Junho: um novo país surgiu das maiores mobilizações”
(Site da LER, afiliada ao PTS argentino). Já para o Partido Obrero (PO) e seu
consultor “brargentino” Osvaldo Coggiola, a crise mundial teria finalmente
chegado ao Brasil e encerrado o “milagre Lulista” ancorado na China. Mas, será
mesmo que o móvel das mobilizações populares que cortaram o país teria sido uma
conjuntura econômica de “caos”, como tentam demonstrar a oposição burguesa
conservadora e seus “colegas” da esquerda revisionista? Que “novo” país teria
surgido após junho, estaríamos enfim vivendo os últimos estertores do governo
da Frente Popular?
Em primeiro lugar, para dissipar a “ignorância” dos
charlatães de “esquerda” é necessário dizer que o país continua exatamente o
mesmo, o Estado burguês mantém absolutamente intacta suas instituições de
dominação e regime político (governo e parlamento), sequer foi abalado pelos
massivos protestos nacionais. Estivemos bem distantes de atravessar qualquer
crise revolucionária de poder, e somente na mente ficcional de revisionistas
como Valério Arcary (PSTU) a burguesia perdeu suas noites de sono com medo dos
protestos, vejamos até onde pode chegar o delírio do dirigente Morenista: “Ontem,
toda a ordem econômica, social e política que preserva o Brasil como um dos
países mais injustos do mundo tremeu. Eles não podiam ir dormir.” (Blog da
Convergência18/06). Nesta “versão” messiânica da realidade estivemos na borda
de impor o socialismo, “derrubando” a ordem social capitalista com as jornadas
de junho. Só o completo desconhecimento da teoria marxista da luta de classes é
capaz de produzir “pérolas” do prognóstico catastrofista como estas da LER,
PSTU, PO etc... Como nos ensinou Lenin, a configuração de uma crise
revolucionária requer a dualidade de poderes, entre “os de cima e os de baixo”.
Exatamente neste confronto do embrião de poder das massas e o poder decadente
da burguesia emerge uma situação revolucionária. Mas, deixando um pouco de lado
os disparates lançados por uma “esquerda” que perdeu completamente a referência
nos conceitos do Leninismo, é importantíssimo definir duas questões sobre
junho, a saber o móvel político das mobilizações e a capacidade de
sobrevivência estatal do projeto da Frente Popular em um quadro político de
continua perda de apoio popular.
A primeira pergunta a ser respondida é, porque milhões de
pessoas foram às ruas protestar, sem que houvesse um eixo centralizado de
reivindicações. Estamos nos referindo logicamente ao momento posterior às
passeatas do Passe Livre, que conquistaram o congelamento parcial das tarifas
dos transportes urbanos. A ausência de um centro unificado de demandas nas
mobilizações é consequência direta do momento econômico relativamente estável
que atravessa o país, ou seja, não existe um pico de desemprego, nem tampouco a
inflação da cesta básica está fora de controle (como falsamente tenta provar o
PIG), o consumo e a poupança interna batem recordes e, por último, a renda
salarial média apresenta pela primeira vez um pequeno ganho real nos curso de
dez anos. Em resumo, se não estamos vivendo no “paraíso”, a economia
capitalista brasileira está longe de apresentar sinais de “default” como ocorre
em alguns países periféricos da Europa. Neste marco, o descontentamento da
juventude e dos setores populares que se mobilizaram (estamos aí excluindo os
milhares de “protestantes” reacionários da classe média alta) tem razões
sociais mais profundas do que a de uma crise política conjuntural ou mesmo uma
falência precoce do governo da Frente Popular.
A entrada organizada do movimento operário nas mobilizações
poderia alterar o panorama político do país, mas as paralisações do dia 11/07
ficaram limitadas a setores parciais da produção e serviços essenciais, em
função da orientação ultraburocrática das centrais sindicais governistas. A
nova convocatória para um dia de “luta” no final de agosto deve seguir o mesmo
“script”, servindo de fato como uma alavanca para o início das campanhas
salariais de setembro. A ausência de uma direção proletária e genuinamente de
esquerda nas mobilizações contribuíram em muito para “diluir” a construção
nacional de uma pauta progressista, livre da influência dos segmentos
direitistas que introduziram bandeiras reacionárias nos protestos.
Como se tratou de um movimento de massas difuso e sem
direção programática, o timbre histórico das jornadas de junho deve ser
creditado não ao sentimento de oposição direcionada ao governo do PT, como foi
o das “Diretas já” em relação ao regime militar ou o “Fora Collor”, mas a
sensação generalizada de descontentamento da maioria população com um modo de
produção capitalista baseado em valores exclusivamente do mercado de consumo.
No regime do capital financeiro tudo se transforma em mercadoria, saúde a
educação e cultura (não confundir com entretenimento) são acessíveis apenas
mediante pagamento a vista ou crédito. Neste universo de produção
mercantilizada, as gerências estatais (sejam neoliberais ou nacionalistas)
apenas administram a crise da civilização com doses homeopáticas, algumas muito
amargas como os Tucanos ou mais “suaves” como o PT.A experiência concentrada do
quadro Lula soube redirecionar( com o apoio da burguesia nacional) o mercado
exportador brasileiro para novas fronteiras, descolando o país do
"naufrágio" econômico norte-americano, e nisto consiste o
"milagre" petista que ainda está em plena vigência.
O modelo de gestão da colaboração de classes da Frente
popular sai profundamente arranhado desta conjuntura, não por razões de um
colapso político e econômico prematuro galvanizado pela ira popular, mas porque
repousa em um “vulcão” capitalista de imensas contradições sociais que apenas
estão “amortecidas” por medidas superficiais, de aparente mobilidade econômica
das camadas mais pauperizadas da população. Como gestor deste modo de produção
baseado na acumulação privada, que exclui milhões de pessoas dos serviços mais
elementares de uma sociedade “moderna”, o governo do PT sabe das limitações em
que opera na arena social e política e não se propõe a transformá-la. Os
artifícios da “bolha de crédito” e “gordura” monetária do caixa estatal não
podem eliminar a incapacidade estrutural do capitalismo em contemplar as
aspirações básicas dos trabalhadores. Mais além de um esgotamento cíclico dos
governos do PT, que apesar do “sufoco” (leia-se Marina Silva) deve ser
reconduzido para mais uma gestão estatal pelas classes dominantes, estamos
diante da falência histórica do capital, incapaz de desenvolver as forças
produtivas da humanidade!
(BLOG DA LBI, 25 de JULHO DE 2013)