terça-feira, 13 de junho de 2017

O MRT E SUA ATUAL DEFESA DA “ASSEMBLEIA CONSTITUINTE”: FALTA EXPLICAR QUE GOVERNO (PODER) A CONVOCA


Militantes do MRT (ex-LER) acabam de ser expulsos de forma burocrática da organização, como afirmam no documento intitulado “DECLARAÇÃO CONTRA O BUROCRATISMO DO MRT: EXPULSOS SUMARIAMENTE DO MRT SEM NENHUM DIREITO A DEFESA” (reproduzido abaixo), segundo seus signatários por “divergências táticas relativas ao que víamos como uma aproximação demasiada do discurso petista; uma aproximação acrítica com o PSOL para poder disputar as eleições com sua legenda e talvez compor tal partido”. São críticas corretas, ainda que o conjunto do programa do MRT e seu progenitor, o PTS argentino assim como de seu agrupamento internacional, a FT, seja historicamente de adaptação ao imperialismo (no caso da contrarrevolução na URSS e, mais recente, em apoio a “Primavera Árabe” patrocinada pela OTAN na Líbia) e ao regime democrático burguês, como agora no Brasil, ao defender a convocação de uma “Assembleia Constituinte” sem agregar o caráter do poder estatal e que tipo de regime político a convocaria . A LBI há tempos pontuava essa adaptação do MTR à Frente Popular e ao PSOL. Primeiro, como em um passe de mágica, o MRT “descobriu” que estava em curso no Brasil um “Golpe Institucional” contra o governo do PT, depois de seguir acriticamente a linha do PSTU. Logo passou de malas e bagagens para o campo “Contra o Impeachment”, é verdade que antes mesmo de “pular de lado” já vinha elogiando entusiasticamente os atos convocados pela Frente Popular em defesa de Dilma (não por coincidência copiando a linha do neófito MAIS que surgiu neste período). De apoiador do “Fora Todos” para novo satélite da trincheira cutista e da Frente Popular! (que também abarca o PSOL). Depois do giro dado pelo MRT ao romper sem nenhuma autocrítica com a linha de “Fora Todos” que colava do PSTU para a seguir ao lado do PT e PSOL na denúncia do “Golpe de Estado”, o MRT deu um passo ainda maior de adaptação do regime político, ao defender a proposta de Assembleia Constituinte. Não que a consigna da Constituinte em si não possa ser levantada em determinados momentos históricos, porém defendê-la em pleno esgotamento do ciclo democrático brasileiro, nos estertores da “Nova República” instaurada com o fim do regime militar, nos parece um enorme equívoco teórico. Mas o pior é que o MRT ultrapassa o erro teórico e adentra na capitulação política ao regime democratizante quando sequer define em sua elaboração qual o caráter do poder estatal que convocaria uma nova constituinte, após mais de 30 anos da última realizada no país. Quando a Nova República de Sarney (PMDB, PFL e PDT) convoca a Constituinte de 86, os Marxistas Revolucionários denunciamos o conteúdo burguês de seu governo (poder), ao mesmo tempo que afirmávamos que somente um governo operário poderia aferir um caráter realmente soberano, democrático e socialista a uma nova constituição. Não muito politicamente distinto foi quando em pleno governo militar defendíamos uma constituinte soberana colando esta consigna a palavra de ordem de um novo poder: "Abaixo a Ditadura!" e "Por um Governo Operário e Popular!". Ou seja, mesmo nos regimes semifascistas ou democráticos a defesa da constituinte deve sempre estar associada ao combate por uma alternativa de poder proletário, como demonstrou o Partido Bolchevique quando defendeu esta consigna antes de tomar o poder na Rússia. A covardia e adaptação do MRT a democracia dos ricos é vergonhosa ao ponto de sequer publicitarem em seus artigos a defesa de uma "Constituição Vermelha"(moción roja), como fez Nahuel Moreno no Perú quando de fato seu partido (PST no interior da FOCEP) teve a oportunidade de concretizar na prática esta reivindicação histórica. Para os tímidos trotskizantes do MRT associar a defesa da constituinte com alguma questão programática do poder operário fugiria o espectro "democrático" do seu arco de influência totalmente pequeno burguês. Por esta razão tanto diante da crise do governo Dilma como agora com Temer sua consigna de poder é limitada a convocação de “uma nova constituinte imposta pela força da mobilização”!!! Definitivamente, o MRT está totalmente perdido em meio à complexa situação nacional, levantando a palavra de ordem “Assembleia Constituinte” como uma saída nos marcos do próprio regime político vigente. Imaginemos que neste quadro estatal de ofensiva política e ideológica da direita e neoliberais (o que inclui o próprio PT) que tipo de parlamentares constituintes seriam eleitos e que “pérola” de nova constituição seria elaborada! Somente uma direção com profunda ilusões nas instituições burguesas, como é o caso do MTR, pode pensar que neste retrocesso político das massas surgiria uma bancada revolucionária ou mesmo progressista capaz de impor alguma conquista social em uma nova constituição federal. Essa é uma das propostas mais direitistas do cardápio democratizante apresentado pela esquerda revisionista (Eleições Gerais, Diretas Já) na medida em que a Constituinte abriria um caminho para um ataque de maior envergadura da burguesia e da direita para retirar direitos dos trabalhadores. O bloco que pugna neste momento por uma “Constituinte Soberana” teria que parar de tergiversar e responder a seguinte questão: que poder estatal convocaria uma constituinte e que tipo de nova carta magna poderia ser elaborada nesta conjuntura de ofensiva total da direita mais recalcitrante? Obviamente a resposta só pode ser a de um desastre total. Pensar que nessa conjuntura um governo burguês tampão que surgirá com a saída de Temer, possa convocar uma "constituinte progressista" é no mínimo uma piada de mau gosto, tanto que um novo governo do PT levaria um programa não muito diferente no quadro de ajuste neoliberal em curso no parlamento. Desde a LBI defendemos que o proletariado não deve apresentar simplesmente uma “agenda democrática” para a crise capitalista, como pretendem os revisionistas do MRT. O MRT abomina conceitos como “Ditadura do Proletariado” e “centralismo democrático” em sua senda oportunista é mais um agrupamento a ceder as fortes pressões do chamado “campo democrático” formado pelo PT e PSOL, incapaz de combater de forma consequente e coerente a linha direitista do PSTU sem cair nos braços da Frente Popular e capitular a sua política de colaboração de classes! Lembremos que nas últimas eleições, no processo de adaptação ao PSOL, o MRT criticou o apoio do MAIS a Luciana Genro, porém não viu problemas em votar na candidatura burguesa da ex-prefeita burguesa Erundina e no socialdemocrata Freixo, cujas campanhas forma financiadas por empresas de ônibus e empreiteiras! No combate à linha de adaptação do MRT, alertamos aos camaradas que foram expulsos do MRT mas continuam a defender a linha geral da FT, que esse curso reformista não é só burocratismo, mas sim uma dose forte de revisionismo democratizante e adaptação ao regime! A única saída realmente progressista diante da barbárie capitalista é por abaixo a ditadura de classe da burguesia e construir o Estado de "novo tipo", de caráter Operário. A falência histórica da democracia formal emoldurada pelas elites burguesas reacionárias já demonstrou para os trabalhadores que sua única alternativa é a luta pelo socialismo! Os partidários desta “metamorfose ambulante” são os mesmos que apoiaram a “Primavera Árabe” na Líbia e depois fingem que estavam contra a intervenção da OTAN contra Kadaffi, os cínicos que saudaram a queda do Muro de Berlim e o fim da URSS pelas mãos da direita e do imperialismo, mas hoje “lamentam” os efeitos da barbárie social que se abateu no Leste Europeu, chegando a balbuciar lamúrias contra a restauração capitalista que apoiaram e festejaram! Longe de construtores de um partido revolucionários e da IV Internacional não passam de satélites do reformismo. O MRT é mais um agrupamento a ceder as fortes pressões do chamado “caudal democrático”, seguindo a mesma trilha do PTS argentino fascinado com a eleição de deputados nacionais e provinciais no bojo da Frente de Esquerda (FIT), apesar do discurso da ação direta das massas e da “proximidade da revolução” o que realmente vislumbram é a possibilidade de ocupar postos parlamentares em coligações políticas com partidos da ordem capitalista. Nós comunistas compreendemos que a tática eleitoral não pode comprometer a estratégia revolucionária, rejeitamos a via da cobertura política das alternativas da nova social democracia (PSOL, Syriza, Podemos etc..), ainda mais danosas para avançar na consciência de classe do proletariado. A trajetória do MRT em direção ao PSOL e de adaptação ao PT indica uma tendência que deve ser acompanhada de outras vertentes do revisionismo, como o MAIS por exemplo, que há muito já abandonaram o norte da revolução socialista.

Nahuel Moreno (circundado de vermelho) 
na histórica marcha da FOCEP em 78 no Perú
DECLARAÇÃO CONTRA O BUROCRATISMO DO MRT: EXPULSOS SUMARIAMENTE DO MRT SEM NENHUM DIREITO A DEFESA

No dia quinze de maio, às 13h e 32min, fomos informados por e-mail de nossa expulsão sumária do MRT por parte da direção da organização. A decisão foi tomada de forma unilateral pelo Comitê Central, por fora de qualquer debate nos organismos de base (núcleos ou células) que compúnhamos e sem fundamento em nenhuma acusação moral, ou divergência teórica, estratégica ou programática que pudesse justificar tal atitude.

Santiago militava e construía o MRT há 7 anos e militou próximo por 11 anos, construía hoje a organização no movimento operário metalúrgico de Osasco, sendo parte da luta contra o fechamento da fábrica Mecano Fabril, no ano passado. Juca militava há 2 anos no MRT, tendo uma experiência anterior de militância em outros grupos, construindo a organização no ME da Letras USP e sendo parte da ligação entre o ME e a construção do grupo no movimento operário industrial.

Poucos meses antes do congresso do MRT, que começou em 18 de março, construímos uma tendência interna na qual pautávamos alguns pontos políticos críticos as posições majoritárias. Para o congresso escrevemos, junto a outros camaradas, propostas alternativas de orientação. Logo após o congresso encerramos a tendência, informando isso à direção partidária. As divergências táticas que apresentávamos eram perfeitamente aceitáveis numa organização saudável que funcione a partir da concepção leninista de centralismo democrático.

Estas divergências táticas eram relativas ao que víamos como uma aproximação demasiada do discurso petista; uma aproximação acrítica com o PSOL para poder disputar as eleições com sua legenda e talvez compor tal partido; e a priorização da construção na juventude em detrimento à construção na classe trabalhadora.

Em nenhum momento de toda nossa trajetória jamais e nenhuma só vez rompemos com o centralismo da organização. Toda e qualquer discussão divergente sempre foi interna ao grupo.  Toda e qualquer atuação nossa sempre foi com consentimento da direção partidária.

Reconhecemos absolutamente a legitimidade de todos os fóruns e organismos de funcionamento interno do MTR. Apesar disso, temos a posição política de que no congresso em questão, no momento dos encaminhamentos (votação de resoluções), houve uma manobra burocrática.

Quando fomos convidados por uma comissão do Comitê Central para debater o fim da tendência, reivindicamos o direito de pautar com o conjunto da militância partidária este tema e a manobra burocrática nos encaminhamentos congressuais, e não a portas fechadas apenas com aqueles que justamente em nossa opinião haviam dirigido tal manobra burocrática.

Após a nossa reivindicação de debater o encerramento da tendência interna e a manobra burocrática com o conjunto da militância partidária, sem sequer nos responder se consideravam nossa reivindicação legítima, de “supetão”, a direção nos expulsou sumariamente de todos os espaços da organização.

Esta atitude extremamente burocrática e autoritária de expulsar sumariamente militantes sem nenhum direito a defesa ou debate nos organismos internos democráticos da organização não tem precedente histórico em nossa tradição (trotskista) e só pode nos levar a conclusão que a intenção daqueles que fazem ou concordam com isso é sufocar e inibir as divergências sem debatê-las a fundo.

Esse absurdo burocratismo e autoritarismo nada têm a ver com o efetivo leninismo, apenas com a caricatura burguesa ou deformação stalinista de uma imposição autoritária do Comitê Central sobre todo o partido. Isto em nada apaga nossa confiança e convicção no marxismo revolucionário, na classe operária como sujeito da revolução, na forma partido como instrumento fundamental para a emancipação política, econômica e social do proletariado.

Reivindicamos fortemente a tradição do trotskismo que se construiu em luta profunda contra a degeneração do burocratismo. A pequena experiência que vivemos de deformação burocrática certamente em nada se compara com a vivida por milhares de revolucionários sinceros ao longo do século XX.

Continuamos na luta pela emancipação de nossa classe, o proletariado, e pela construção de sua ferramenta fundamental, um partido leninista de combate, centralizado de forma democrática, sem deformações burocráticas.

Saudações revolucionárias a todos os militantes sinceros da classe operária,

Juca Lima e Santiago Marimbondo