quinta-feira, 8 de junho de 2017

HÁ QUATRO ANOS DAS “JORNADAS DE JUNHO”: DA FALSA “REVOLUÇÃO NA ESQUINA” PARA O PROFUNDO RECRUDESCIMENTO DO REGIME POLÍTICO BURGUÊS


Republicamos o Editorial do Jornal Luta Operária nº 263, 1ª Quinzena de Agosto/2013, dedicado a análise das chamadas “Jornadas de Junho” que acabam de completar 04 anos. Daquele período até agora, se aprofundou o recrudescimento do regime político com o golpe parlamentar contra o governo Dilma. Nesse texto polemizamos tanto com a chamada “oposição de esquerda” a gerência estatal do PT que apresentava as “jornadas” como a antevéspera da revolução como também com a Frente Popular que apregoava que os protestos eram orquestrados somente pela direita e o PSDB. Naquele momento pontuamos que se ausência de uma direção classista nas jornadas abriu espaço para a direita reacionária “pautar” as mobilizações, levando o movimento para um impasse político e arrefecimento da luta de massas, não podemos negar que o “legado” de junho repousa hoje nos ombros de uma nova vanguarda juvenil que persiste em manter vivo o movimento das ruas, ainda que em uma escala bem mais reduzida e depurada tanto da direita tradicional (induzida pelo PIG) como dos “agentes” sindicais “chapa branca”. Essa caracterização acertada acabou por se confirmar plenamente no pós-Jornadas. Com a reeleição de Dilma o PT aprofundou seu compromisso com a agenda neoliberal não fazendo nenhuma concessão ou atendendo qualquer reivindicação das mobilizações de 2013. Esse cenário de “estelionato eleitoral” possibilitou o avanço da direita fascista e pavimentou a vitória do impeachment em 2016. Agora, diante da crise do governo Temer a Frente Popular volta a se apresentar novamente como opção de gerência capitalista mas como pontuamos já em 2013, quando a Rede Globo inflava a figura de Joaquim Barbosa como o novo “herói caçador” dos “mensaleiros” petistas, a tendência é que emerja de toda essa crise do regime político um neoBonaparte, reafirmando nossa avaliação que nada de progressivo surgiu das chamadas “Jornadas de Junho” porque estavam marcadas pelo anti-partidarismo e havia a ausência de uma direção revolucionária que apontasse como norte das mobilizações a entrada em cena da classe operária que acaudilhasse a juventude plebeia e o conjunto dos explorados na perspectiva da destruição do Estado capitalista

QUE NOVO PAÍS SURGIU APÓS AS “JORNADAS DE JUNHO”?
(Agosto/2013)

A pergunta que empresta o título a este artigo deverá ser respondida sem a menor demagogia ou concessão oportunista: Nenhum novo país surgiu desde as multitudinárias “jornadas de junho”! A correlação de forças entre as classes sociais continua exatamente a mesma, ou seja, o proletariado em completa defensiva diante da ofensiva capitalista neoliberal. Do ponto de vista do regime político vigente não ocorreu o menor abalo em nenhuma das instituições republicanas, o governo petista já recuperou a popularidade temporariamente perdida e a oposição burguesa conservadora em nada avançou em seus planos de recuperar a presidência nas eleições de 2014. Tampouco economia não entrou em default, mantendo praticamente os mesmos níveis de emprego, renda e consumo do início do ano. A decantada crise inflacionária, por parte do PIG, não ultrapassou as páginas da delirante fascistóide “VEJA”, embora a alta do Dólar atue como um fator de pressão sobre os insumos básicos. O governo Dilma sequer deu-se ao trabalho de impulsionar uma “agenda positiva” após as jornadas, atendendo não as demandas populares, mas sim as reivindicações dos banqueiros e empresários, que conseguiram a elevação da taxa de juros e a ampliação da renúncia fiscal em vários setores da economia. Na esteira do “reformismo sem reformas” o PT arquivou sumariamente a bandeira de uma constituinte limitada à legislação político-eleitoral, sacada como manobra distracionista no ápice das manifestações de junho, e deslocou a “engessada” CUT para protagonizar um ensaio diluído de “greve geral”, contando com a valorosa colaboração do PSTU e PSOL. Mas, se ausência de uma direção classista nas jornadas abriu espaço para a direita reacionária “pautar” as mobilizações, levando o movimento para um impasse político e arrefecimento da luta de massas, não podemos negar que o “legado” de junho repousa hoje nos ombros  de uma nova vanguarda juvenil que persiste em manter vivo o movimento das ruas, ainda que em uma escala bem mais reduzida e depurada tanto da direita tradicional (induzida pelo PIG) como dos “agentes” sindicais “chapa branca”. Sem a menor dose de ufanismo oportunista podemos afirmar que no Brasil a “revolução” não andava pelas “esquinas” em junho, assim como na Líbia e Egito o que assistimos é o desencadear da brutal ofensiva imperialista contra os povos e suas conquistas históricas. As heroicas lutas de resistência do proletariado quase sempre ocorrem para defender o que está sendo atacado pela burguesia e desgraçadamente acabam sendo derrotadas pela ausência de uma direção revolucionária. Esta é a característica principal da atual etapa mundial da luta de classes (contrarrevolução em toda linha), aberta com a histórica derrota da classe operária soviética em 1990. Esta dinâmica internacional determinou os rumos do esvaziamento das “jornadas de junho” em nosso país, cedendo lugar a todo tipo de charlatanice política que afirma que estamos “melhores e mais conscientes” (O gigante despertou!?), ainda que esta falsa consciência concentre as ilusões nas instituições mais corruptas do regime ou em sinistros personagens criados pelo PIG, como o novo “herói caçador” dos “mensaleiros” petistas.


Outro elemento central do período mundial que atravessamos é o profundo retrocesso na consciência de classe das massas, as ações de resistência cada vez mais radicalizadas são “desconectadas” de objetivos estratégicos socialistas ou mesmo anti-imperialistas. As massas pela completa ausência de consciência seguem as variantes mais reacionárias do cenário político dominante, e ainda por cima aparecem os canastrões de esquerda para “anunciar” que se trata de “revoluções” inconscientes ou inacabadas. Este fator contrarrevolucionário imprimiu sua lógica de ferro às “jornadas de junho” no Brasil. Em uma dinâmica que se inicia com autênticas manifestações juvenis contra o aumento das tarifas dos transportes urbanos, orientadas por uma ONG (MPL), rapidamente a evolução dos acontecimentos apontava para uma tentativa da extrema-direita desestabilizar o governo pela via das mobilizações que tomaram conta do país.

Mas o PIG temeu “bancar o feiticeiro” que vê seu “feitiço” ganhar vida própria, exatamente porque lhe faltava uma opção confiável ao vácuo político que poderia se abrir com a débâcle prematura do governo da Frente Popular. A oposição Demo-Tucana mal sustenta sua própria unidade interna e o REDE de Marina Silva ainda está em fase de gestação para somente debutar eleitoralmente em 2014. Neste cenário político provocar uma instabilidade artificial poderia ser muito perigoso para os negócios da burguesia e o PIG decidiu parar de “brincar de Praça Tahrir” no Brasil.

Recomposta a base social do governo Dilma, na senda do aprofundamento das medidas neoliberais, o ônus da crise política provocada pelas jornadas parece mesmo ter sido herdada pelos governos estaduais do Rio e São Paulo. Cabral e Alckmin são hoje alvos de protestos diários, ainda que em proporções extraordinariamente mais reduzidas do que os de junho. A dupla também passou a ser o foco do PIG na denúncia de escândalos estatais de corrupção, debitando na conta do PT apenas o ranço ideológico da reação por conta da “importação” dos médicos cubanos. Parece até que o PIG e o governo Dilma chegaram a um denominador comum, pelo menos até 2014, cujo eixo é o “sacrifício” da antiga direção do PT e o afastamento de Lula das futuras possibilidades eleitorais, seja ao Planalto ou mesmo ao Bandeirantes.
  
Se o preço da “trégua” pago por Dilma é a aplicação mais dura da ortodoxia neoliberal e a ampliação da “generosidade” estatal para as oligarquias regionais, seu governo parece gostar de “brincar com fogo” ao recolocar o país na trilha econômica iniciada pela era FHC. O retorno do déficit em nossa balança comercial, causado em grande parte pela desastrosa gestão da PETROBRAS, poderá “secar” em breve nossas enormes reservas cambiais responsáveis pelo lastro financeiro, gerador da atual bolha de crédito que movimenta o aquecido consumo nacional. Mesmo ainda bem distante de um quadro de recessão econômica, o que desorientou a esquerda revisionista e os neofascistas nas “jornadas de junho”, o Brasil poderá ingressar novamente em um delicado ciclo de dependência dos EUA, levando a ruptura do país com o bloco comercial dos BRICs.
  
O jogo político ainda está aberto e o rescaldo das jornadas ainda não foi completamente “apagado”, a direita promete uma reentrance no próximo dia 7 de setembro. Por outro lado, a esquerda reformista promete ser o dia nacional de luta (30/08) um “marco” na retomada das iniciativas do movimento operário. Ambas as “apostas” parecem destinadas ao fracasso na medida que carecem de um programa enraizado nas reivindicações mais sentidas do movimento de massas. A alternativa a ser construída pacientemente pela vanguarda do proletariado não poderá ser a de uma mudança cosmética deste regime da democracia dos ricos. O “novo” só realmente surgirá a partir da ação revolucionária da classe operária, forjando na luta uma alternativa de poder que aponte a construção soviética da Ditadura do Proletariado. A demolição violenta deste staff burguês, conduzida por um partido Leninista, será a única esperança real para a libertação histórica e definitiva dos oprimidos por este sistema de acumulação do capital, que ameaça o conjunto da humanidade com a barbárie.