HÁ QUATRO ANOS DAS “JORNADAS DE JUNHO”: DA FALSA “REVOLUÇÃO
NA ESQUINA” PARA O PROFUNDO RECRUDESCIMENTO DO REGIME POLÍTICO BURGUÊS
Republicamos o Editorial do Jornal Luta Operária nº 263, 1ª
Quinzena de Agosto/2013, dedicado a análise das chamadas “Jornadas de Junho”
que acabam de completar 04 anos. Daquele período até agora, se aprofundou o
recrudescimento do regime político com o golpe parlamentar contra o governo
Dilma. Nesse texto polemizamos tanto com a chamada “oposição de esquerda” a
gerência estatal do PT que apresentava as “jornadas” como a antevéspera da
revolução como também com a Frente Popular que apregoava que os protestos eram
orquestrados somente pela direita e o PSDB. Naquele momento pontuamos que se
ausência de uma direção classista nas jornadas abriu espaço para a direita
reacionária “pautar” as mobilizações, levando o movimento para um impasse
político e arrefecimento da luta de massas, não podemos negar que o “legado” de
junho repousa hoje nos ombros de uma nova vanguarda juvenil que persiste em
manter vivo o movimento das ruas, ainda que em uma escala bem mais reduzida e
depurada tanto da direita tradicional (induzida pelo PIG) como dos “agentes”
sindicais “chapa branca”. Essa caracterização acertada acabou por se confirmar
plenamente no pós-Jornadas. Com a reeleição de Dilma o PT aprofundou seu
compromisso com a agenda neoliberal não fazendo nenhuma concessão ou atendendo
qualquer reivindicação das mobilizações de 2013. Esse cenário de “estelionato
eleitoral” possibilitou o avanço da direita fascista e pavimentou a vitória do
impeachment em 2016. Agora, diante da crise do governo Temer a Frente Popular
volta a se apresentar novamente como opção de gerência capitalista mas como
pontuamos já em 2013, quando a Rede Globo inflava a figura de Joaquim Barbosa
como o novo “herói caçador” dos “mensaleiros” petistas, a tendência é que
emerja de toda essa crise do regime político um neoBonaparte, reafirmando nossa
avaliação que nada de progressivo surgiu das chamadas “Jornadas de Junho”
porque estavam marcadas pelo anti-partidarismo e havia a ausência de uma
direção revolucionária que apontasse como norte das mobilizações a entrada em
cena da classe operária que acaudilhasse a juventude plebeia e o conjunto dos
explorados na perspectiva da destruição do Estado capitalista
QUE NOVO PAÍS SURGIU
APÓS AS “JORNADAS DE JUNHO”?
(Agosto/2013)
A pergunta que empresta o título a este artigo deverá ser
respondida sem a menor demagogia ou concessão oportunista: Nenhum novo país
surgiu desde as multitudinárias “jornadas de junho”! A correlação de forças
entre as classes sociais continua exatamente a mesma, ou seja, o proletariado
em completa defensiva diante da ofensiva capitalista neoliberal. Do ponto de
vista do regime político vigente não ocorreu o menor abalo em nenhuma das
instituições republicanas, o governo petista já recuperou a popularidade
temporariamente perdida e a oposição burguesa conservadora em nada avançou em
seus planos de recuperar a presidência nas eleições de 2014. Tampouco economia
não entrou em default, mantendo praticamente os mesmos níveis de emprego, renda
e consumo do início do ano. A decantada crise inflacionária, por parte do PIG,
não ultrapassou as páginas da delirante fascistóide “VEJA”, embora a alta do
Dólar atue como um fator de pressão sobre os insumos básicos. O governo Dilma
sequer deu-se ao trabalho de impulsionar uma “agenda positiva” após as
jornadas, atendendo não as demandas populares, mas sim as reivindicações dos
banqueiros e empresários, que conseguiram a elevação da taxa de juros e a
ampliação da renúncia fiscal em vários setores da economia. Na esteira do
“reformismo sem reformas” o PT arquivou sumariamente a bandeira de uma
constituinte limitada à legislação político-eleitoral, sacada como manobra
distracionista no ápice das manifestações de junho, e deslocou a “engessada”
CUT para protagonizar um ensaio diluído de “greve geral”, contando com a valorosa
colaboração do PSTU e PSOL. Mas, se ausência de uma direção classista nas
jornadas abriu espaço para a direita reacionária “pautar” as mobilizações,
levando o movimento para um impasse político e arrefecimento da luta de massas,
não podemos negar que o “legado” de junho repousa hoje nos ombros de uma nova vanguarda juvenil que persiste em
manter vivo o movimento das ruas, ainda que em uma escala bem mais reduzida e
depurada tanto da direita tradicional (induzida pelo PIG) como dos “agentes”
sindicais “chapa branca”. Sem a menor dose de ufanismo oportunista podemos
afirmar que no Brasil a “revolução” não andava pelas “esquinas” em junho, assim
como na Líbia e Egito o que assistimos é o desencadear da brutal ofensiva
imperialista contra os povos e suas conquistas históricas. As heroicas lutas de
resistência do proletariado quase sempre ocorrem para defender o que está sendo
atacado pela burguesia e desgraçadamente acabam sendo derrotadas pela ausência
de uma direção revolucionária. Esta é a característica principal da atual etapa
mundial da luta de classes (contrarrevolução em toda linha), aberta com a
histórica derrota da classe operária soviética em 1990. Esta dinâmica
internacional determinou os rumos do esvaziamento das “jornadas de junho” em
nosso país, cedendo lugar a todo tipo de charlatanice política que afirma que
estamos “melhores e mais conscientes” (O gigante despertou!?), ainda que esta
falsa consciência concentre as ilusões nas instituições mais corruptas do
regime ou em sinistros personagens criados pelo PIG, como o novo “herói
caçador” dos “mensaleiros” petistas.
Outro elemento central do período mundial que atravessamos é o profundo retrocesso na consciência de classe das massas, as ações de resistência cada vez mais radicalizadas são “desconectadas” de objetivos estratégicos socialistas ou mesmo anti-imperialistas. As massas pela completa ausência de consciência seguem as variantes mais reacionárias do cenário político dominante, e ainda por cima aparecem os canastrões de esquerda para “anunciar” que se trata de “revoluções” inconscientes ou inacabadas. Este fator contrarrevolucionário imprimiu sua lógica de ferro às “jornadas de junho” no Brasil. Em uma dinâmica que se inicia com autênticas manifestações juvenis contra o aumento das tarifas dos transportes urbanos, orientadas por uma ONG (MPL), rapidamente a evolução dos acontecimentos apontava para uma tentativa da extrema-direita desestabilizar o governo pela via das mobilizações que tomaram conta do país.
Mas o PIG temeu “bancar o feiticeiro” que vê seu “feitiço”
ganhar vida própria, exatamente porque lhe faltava uma opção confiável ao vácuo
político que poderia se abrir com a débâcle prematura do governo da Frente
Popular. A oposição Demo-Tucana mal sustenta sua própria unidade interna e o
REDE de Marina Silva ainda está em fase de gestação para somente debutar
eleitoralmente em 2014. Neste cenário político provocar uma instabilidade
artificial poderia ser muito perigoso para os negócios da burguesia e o PIG
decidiu parar de “brincar de Praça Tahrir” no Brasil.
Recomposta a base social do governo Dilma, na senda do
aprofundamento das medidas neoliberais, o ônus da crise política provocada
pelas jornadas parece mesmo ter sido herdada pelos governos estaduais do Rio e
São Paulo. Cabral e Alckmin são hoje alvos de protestos diários, ainda que em
proporções extraordinariamente mais reduzidas do que os de junho. A dupla
também passou a ser o foco do PIG na denúncia de escândalos estatais de
corrupção, debitando na conta do PT apenas o ranço ideológico da reação por
conta da “importação” dos médicos cubanos. Parece até que o PIG e o governo
Dilma chegaram a um denominador comum, pelo menos até 2014, cujo eixo é o
“sacrifício” da antiga direção do PT e o afastamento de Lula das futuras possibilidades
eleitorais, seja ao Planalto ou mesmo ao Bandeirantes.
Se o preço da “trégua” pago por Dilma é a aplicação mais
dura da ortodoxia neoliberal e a ampliação da “generosidade” estatal para as
oligarquias regionais, seu governo parece gostar de “brincar com fogo” ao
recolocar o país na trilha econômica iniciada pela era FHC. O retorno do
déficit em nossa balança comercial, causado em grande parte pela desastrosa
gestão da PETROBRAS, poderá “secar” em breve nossas enormes reservas cambiais responsáveis
pelo lastro financeiro, gerador da atual bolha de crédito que movimenta o
aquecido consumo nacional. Mesmo ainda bem distante de um quadro de recessão
econômica, o que desorientou a esquerda revisionista e os neofascistas nas
“jornadas de junho”, o Brasil poderá ingressar novamente em um delicado ciclo
de dependência dos EUA, levando a ruptura do país com o bloco comercial dos
BRICs.