Há dezenove anos da ruptura revolucionária com o revisionismo
de Causa Operária era fundada a LBI:
Uma “necessidade histórica” para o reagrupamento da vanguarda comunista no Brasil
Vladimir I. Lenin nos
ensinou que uma ruptura política e orgânica somente poderá ser justificada
historicamente, no interior de um partido revolucionário, quando este
ultrapassa inteiramente a fronteira de classe (proletária) passando a assumir posições
políticas diretamente vinculadas a uma das frações da burguesia ou mesmo do
imperialismo. Foi assim que, mesmo rompido organizativamente (não confundir com
organicamente, no que diz respeito ao programa) com o menchevismo desde 1903,
Lenin e sua fração bolchevique do POSDR só vieram proclamar o nascimento de uma
nova organização política, o Partido Bolchevique, somente em 1912, em razão da
capitulação dos mencheviques, que assumiram abertamente o apoio à burguesia
russa às vésperas da eclosão da I Guerra Mundial. Esta posição menchevique
significou uma traição de classe, muito mais além do que um erro tático
conjuntural, representava a necessidade da completa ruptura entre as frações
menchevique e bolchevique. Lenin não vacilou nenhum momento nesta tarefa e
proclamou a formação do novo partido revolucionário. O apoio político integral
dado por Causa Operária (hoje PCO), seguindo a mesma linha do seu “progenitor”
programático, o Partido Obrero (PO) da Argentina, à reunificação capitalista da
Alemanha (anexação imperialista do Estado operário burocratizado da RDA), assim
como posteriormente a frente única que estabeleceram com o bando de Yeltsin no
contragolpe que destruiu a União Soviética em 1991, significaram a passagem
definitiva do PCO para o outro lado do rubicão de classe, neste caso concreto,
para o campo do imperialismo, que festejou a destruição dos Estados operários
deformados, como o “fim da história”, desencadeando a maior ofensiva militar,
econômica, política e ideológica contra os povos do planeta, no limiar da
barbárie capitalista. Como polícia suprema do planeta, sob o esteio do fim do
Pacto de Varsóvia, o imperialismo ianque teve as “mãos livres” para invadir,
bombardear e saquear países, recolonizar economicamente continentes inteiros, impondo
seus planos de “ajuste” neoliberal, que tanto produziram precarização,
desemprego e miséria em nossa América Latina, África e Ásia, além de usurpar
conquistas operárias históricas, inclusive no seio de países imperialistas,
como na Europa. A destruição contrarrevolucionária dos Estados operários, e
mais particularmente da URSS, não significou apenas a perda de conquistas
sociais para o proletariado destes países, adquiridas a partir da revolução
socialista de 1917 na Rússia, como o pleno emprego; saúde, educação e habitação
gratuitas (garantidas constitucionalmente), monopólio do comércio exterior
etc., mas também para o proletariado mundial representou o aumento brutal dos
ritmos de produção, privatizações, aumento do desemprego etc. Foi a consequência
direta da hegemonia absoluta assumida pelo imperialismo no cenário mundial a
partir do início dos anos 90.
Apesar de toda a
degeneração burocrática, promovida pelo stalinismo a frente dos Estados
operários, estes representavam um contraponto à dominação imperialista e seus
planos de expansão militar e econômica sobre todo o planeta. Foi assim que a
humilhante derrota militar do imperialismo, há 39 anos no Vietnã, diante do
stalinismo a frente das massas vietnamitas, representou uma imensa vitória do
proletariado mundial. A unificação operária do Vietnã do Norte (Estado operário
deformado) com o Vietnã do Sul (capitalista), após a guerra, mesmo sob a
condução do stalinismo, Partido Comunista Vietnamita, representou um tremendo
avanço e estímulo político para a luta das massas em todo o mundo. Já a
anexação imperialista da Alemanha Oriental, apesar desta ter sido controlada
pelo stalinismo por mais de 40 anos, trouxe consigo desemprego para o
proletariado alemão oriental, perda de suas conquistas históricas, maior
presença militar ianque em uma região estratégica do planeta etc., em resumo:
uma derrota histórica do proletariado mundial.
O Muro de Berlim
significava militarmente a divisão entre as tropas imperialistas da OTAN, que
hoje bombardeiam impunemente os povos do Leste europeu, e as tropas do Pacto de
Varsóvia, representante militar dos Estados operários burocráticos.
Simbolicamente, era expressão da fronteira de dois modos antagônicos de
produção existentes até então. De um lado, o “livre” comércio, o mercado “soberano”,
a exploração da força de trabalho, o desemprego, a fome e a prostituição; do
outro, o pleno emprego, o monopólio do comércio exterior, o direito à saúde e
educação estatizadas, em síntese, a socialização da economia, apesar do
planejamento autoritário imposto pela burocracia stalinista. Como nos ensinou
Trotsky, os revolucionários não poderiam hesitar, sob hipótese alguma, de que
lado lutariam no confronto entre o imperialismo e o Estado operário soviético.
Apesar do stalinismo, uma corrente contrarrevolucionária até a medula, estariam
na linha de frente defendendo as conquistas sociais do Estado operário contra o
imperialismo e, neste lado da trincheira, preparando as condições para a
derrubada revolucionária da casta stalinista que, com seus métodos burocráticos
de defesa do Estado operário não faria outra coisa, senão preparar em última
instância a própria vitória do imperialismo. Como afirmou o velho bolchevique: “Esta
perspectiva torna bastante concreta a questão da defesa da URSS. Se amanhã, o
grupo burguês fascista ou, por assim dizer, a ‘Fração Butenko’ entrar na luta
para a conquista do poder, a ‘Fração Reiss’ tomará, inevitavelmente, o seu
lugar no lado oposto da barricada. Encontrando-se momentaneamente aliada a
Stalin, defenderá, é claro, não a camarilha bonapartista deste, mas as bases
sociais da URSS, isto é, a propriedade arrancada dos capitalistas e estatizada.
Se a ‘fração Butenko’ está aliada a Hitler, a ‘Fração Reiss’ defenderá a URSS
contra a intervenção militar, tanto no interior da URSS, como na arena mundial.
Qualquer outra conduta seria uma traição” (Programa de Transição, Leon
Trotsky). Assim como os mencheviques e a socialdemocracia europeia, que deram o
seu apoio à burguesia nacional durante a I Grande Guerra imperialista de
rapina, Causa Operária e uma ampla franja dos revisionistas do trotskismo
(morenistas, lambertistas etc.) cometeram uma traição histórica ao perfilar-se
ao lado da “Fração Butenko”, ou seja, Yeltsin e seus asseclas, para liquidar as
bases sociais do Estado operário soviético. Hoje, os efeitos da restauração
capitalista na ex-URSS e em todo o Leste europeu são devastadores para todos os
povos do mundo.
A Rússia teve sua
economia arrasada (anteriormente, a segunda potência mundial), transformando-se
em mais uma semicolônia do imperialismo. Sua atual recuperação econômica está
baseada na venda de commodities minerais para o imperialismo europeu e de forma
alguma altera o caráter de sua dependência associada aos mercados
imperialistas. A fome, o desemprego, a prostituição infantil, o genocídio dos
velhos que perderam até suas aposentadorias foram os efeitos imediatos após a
restauração contrarrevolucionária do capitalismo, ou seja, da vitória do “livre
mercado” e da “democracia”! A fração burguesa dominante (Yeltsin, Putin,
Chernomyrdin, Chubais etc.), parida das próprias entranhas da burocracia
stalinista, nas palavras de Trotsky, a “Fração Butenko”, comanda a acumulação
primitiva de capital, através da rapinagem mafiosa das antigas empresas
estatais, assim como pela opressão militar dos antigos povos soviéticos, como a
Chechênia e o Daguestão. Mas a restauração capitalista, para o partido da Causa
Operária, não passou de uma “revolução antiburocrática das massas”, o importante
mesmo era liquidar o stalinismo, sendo apenas um “detalhe” de menor importância
se, junto com o stalinismo, caísse também o Estado operário, afinal, a classe
operária teria mais “liberdade” para lutar, sobre os escombros do Estado
operário, pelo verdadeiro socialismo... O “jornalista” Rui Pimenta, editor do
Jornal Causa Operária, em um acesso de insanidade e arrogância estúpida, chega
mesmo a ironizar a defesa que o próprio Trotsky faz da URSS. Vejam o que este
bastardo escreveu sobre a LBI (os grifos e os sic são do próprio Rui Pimenta): “Segundo
os farsantes, contudo, esta seria a posição do próprio Trotsky: ‘Como Trotski
nos ensinou ‘Stalin derrotado pelos trabalhadores será um passo adiante para o
socialismo, Stalin aplastado (sic, os sábios quizeram dizer ‘esmagado’) pelos
imperialistas significa a contra-revolução (sic) triunfante. Este é o sentido
preciso da nossa defesa da União Soviética em escala Mundial.’ (‘Uma vez mais a
URSS e sua defesa’, L. Trotsky). Já na época dos padres da Igreja e do
escolasticismo foi verificado este grave problema com citações, ou seja, que
tomadas abstratamente dão lugar a todo o tipo de sandices. Então Trotski era a
favor de que os trabalhadores, e não o imperialismo, derrubassem Stalin:
extraordinário!... (sic) O único problema é que as coisas não ocorreram desta
forma.O muro de Berlim não foi derrubado pelas tropas norte-americanas
estacionadas em Berlim Ocidental, mas por um LEVANTE POPULAR popular que
sacudiu toda a Alemanha Oriental... Mas os impostores não conseguiram
distinguir a revolução política no panorama do Leste europeu...” (“Um grupo de
impostores políticos”, Rui C. Pimenta, CO pp.58-59).
Vejam que, como diz o
ditado popular, “Pimenta nos olhos dos outros é colírio”. Aguentar as asneiras
do Sr. Pimenta não é fácil, mas vamos à demolição teórica e política destes
revisionistas, quinta-colunas do imperialismo no movimento operário. Trotsky
elaborou o “Programa de Transição” e posteriormente “Em defesa do marxismo” à
época em que a URSS sofria a ameaça real da invasão militar nazista, o que
acabou por configurar-se pouco depois. Mas apesar da ameaça militar externa,
Trotsky nunca abordava a questão da “defesa da URSS” exclusivamente sob esta
ótica. Se o “professor” Pimenta se dispusesse a pelo menos ler com atenção o
Programa de Transição, poderia observar que Trotsky alerta sobre o perigo da “‘Fração
Butenko’ entrar em luta pela conquista do poder”. A “Fração Butenko” nada mais
é do que um setor da própria burocracia stalinista, em contato direto com o
imperialismo, que acaba por romper com seu próprio núcleo original, o
stalinismo, para alçar-se como fração burguesa dominante, mediante a destruição
contrarrevolucionária das bases sociais do Estado operário, ou seja, a
socialização dos meios de produção. Como assinalou Trotsky em seu livro “A
Revolução Traída”, não poucos funcionários do aparelho stalinista serão
recrutados pela fração burocrática restauracionista na empreitada pela
destruição do Estado operário soviético e a sua conversão em um estado
capitalista. Para o Partido Obrero, guia “teórico” do PCO até os dias de hoje,
o contragolpe de Yeltsin, que não conseguiu reunir mais de 10 mil funcionários
medianos, deslumbrados com a perestroika, na Praça Vermelha – significou um
verdadeiro levante revolucionário de massas: “As massas abriram caminho da
revolução política e agora abertamente social” (En Defensa del Marxismo, nº 1,
revista do PO outubro de 1991). E como não houve o “cenário clássico” de uma
intervenção militar imperialista, que segundo estes revisionistas seria a única
possibilidade de defenderem a URSS, acabaram por apoiar entusiasticamente o
bando restauracionista de Yeltsin, justificando-se com o argumento de que
estariam seguindo as “massas”, pouco se importando sob que direção política se
orientavam, ou mesmo por qual setor social eram guiadas. Nas próprias palavras
do Sr. Pimenta: “...para construir um partido revolucionário no Leste europeu
(em Cuba, na China etc.) seria, e é, necessário impulsionar o movimento
antiburocrático das massas e disputar no seu interior a sua direção com todas
as forças direitistas e reacionárias que apresentassem suas candidaturas à
direção deste movimento...” (“Um grupo de impostores políticos”, pág. 60, CO).
Para Causa Operária, os trotskistas teriam que estabelecer uma frente única
(movimento antiburocrático) com os “gusanos” e a própria “CIA” norte-americana
em Cuba, por exemplo, caso contrário, estaríamos agindo “...como alguém que
tivesse sofrido lobotomia, apoiando a ditadura da burocracia contra as massas”
(idem, pág. 60). Segundo Causa Operária e o Sr. Pimenta, o próprio Trotsky
seria um destes “lobotomizados” quando defendia, no “Programa de Transição”,
exatamente o contrário: “Assim, não é possível negar antecipadamente a
possibilidade, em casos estritamente determinados, de uma frente única com a
parte termidoriana da burocracia contra a ofensiva da contrarrevolução
capitalista.” (“Programa de Transição”).
A lógica de todas as
tendências pseudo-trotskistas ou não, que defenderam e defendem hoje em Cuba,
por exemplo, uma aliança com setores “reacionários” e “direitistas” (gusanos)
para impulsionar o “movimento antiburocrático” baseia-se em dois eixos “teóricos”,
completamente antimarxistas. O primeiro destes eixos é que desconhecem a
diferença fundamental de classe entre um Estado operário e um Estado
capitalista. Neste último, está absolutamente correto “acompanhar” (com total
independência política) a genuína mobilização das massas contra o poder
capitalista estatal, independentemente do caráter político da direção deste
movimento, seja uma direção nacionalista burguesa ou socialdemocrata. Os
revolucionários têm a obrigação de disputar politicamente a direção do legítimo
movimento de massas (não confundir com uma “algazarra” organizada pela reação)
com todas as variantes contrarrevolucionárias, através da delimitação política
implacável e incentivando os próprios métodos da classe operária contra o
Estado burguês: ação direta, greves, comitês de autodefesa etc. Já um Estado
operário, mesmo que degenerado sob a direção da casta parasitária stalinista,
engendra conquistas sociais para o proletariado, obtidas da expropriação da
burguesia e da instauração de uma economia socializada, ou seja, planificada
não em função da geração do lucro mercantil e da acumulação privada do capital.
Trotsky, nestes países, apontava a necessidade da realização de uma revolução
política para livrar a classe operária da planificação burocrática da economia,
assim como do domínio político do stalinismo, uma correia de transmissão do
imperialismo no interior do próprio Estado operário. Por isto mesmo, Trotsky
procurava estabelecer o conteúdo de classe das “movimentações antiburocráticas”,
para determinar se eram progressivas, ou seja, rumo à revolução política, ou
reacionárias, em direção à restauração capitalista, mesmo que
inconscientemente. Ele próprio a frente do Exército Vermelho teve que reprimir
um levante dos operários marinheiros de Kronstadt, que naquele momento, apesar
dos reclamos “antiburocráticos”, jogavam objetivamente no campo do
enfraquecimento do Estado operário soviético. Apoiar incondicionalmente
qualquer mobilização, levante, ou panaceias que tenham slogans “antiburocráticos”
contra a existência das bases sociais de um Estado operário significa jogar
objetivamente no campo da contrarrevolução imperialista. Ao vestirem a camisa
do time “antiburocrático” de Yeltsin e CIA, os Altamira, Pimenta, Lambert,
Moreno, Lora etc. foram cúmplices, e corresponsáveis políticos na arena
mundial, pela tragédia social (restauração capitalista mafiosa) que ocorreu nos
antigos Estados operários do Leste europeu. Não é à toa que hoje os operários
de vanguarda revolucionária da antiga URSS e da Alemanha Oriental, mobilizam-se
ainda que molecularmente, justamente pelo retorno de suas antigas conquistas,
sob o lema de “Voltar à URSS”.
A conquista das chamadas
“liberdades democráticas”, que facilitariam a luta pela “revolução” no interior
dos Estados operários burocráticos, é o segundo “eixo teórico” erguido pelos
revisionistas do trotskismo, como o PCO. Segundo esta lógica, a genial
categoria teórica construída por Trotsky da “revolução política” é apenas uma
abstração, sem nenhuma utilidade prática, ou seja, esta consigna nunca estaria
colocada concretamente porque se “lutamos ao lado de forças reacionárias e
direitistas contra a burocracia”, evidentemente, esta luta só poderá desembocar
no surgimento não de Estados operários sãos, mas sim de regimes burgueses “democráticos”
(direito à propriedade privada, liberdade de mercado etc.). Neste caso, então,
estaria colocada a luta pela revolução social, como de fato, assim ocorreu em
todo o Leste europeu. O problema deste engodo “teórico” é que a luta operária
conspirativa pela revolução política é absolutamente incompatível com o
estabelecimento de “frentes únicas entre revolucionários, direitistas e
reacionários” pelo simples e óbvio motivo que a luta pela revolução política
pressupõe a manutenção das bases sociais do Estado operário, exatamente o que
mais objetivam destruir todos os setores reacionários restauracionistas “antiburocráticos”.
Trotsky é bem preciso nesta questão: “Só o partido da IV Internacional é capaz
de conduzir as massas soviéticas à insurreição” (Programa de Transição).
Nossos detratores,
logicamente, esgrimam seu último argumento: não havia partidos revolucionários
e trotskistas nos Estados operários e as “massas” estavam desencadeando
mobilizações “antiburocráticas”, então, nada mais justo do que “acompanhar”
(seguidismo) estas mobilizações para disputar sua direção política, mesmo que
isto significasse a destruição das bases sociais dos Estados operários e o
abandono completo da luta pela revolução política. Na boca do próprio Sr.
Pimenta, quando tenta ridicularizar a LBI, revela toda a essência de sua
política descaradamente restauracionista na antiga Alemanha Oriental: “Certos
processos mentais, no entanto, são irreversíveis e, neste sentido, temos que
ouvir que ‘nenhuma unificação (da Alemanha) conduzida pelos capitalistas
poderia ser apoiada pelos revolucionários. E nestes dias não havia partidos
revolucionários, somente partidos capitalistas’ [citando a LBI, nota do
editor]. Porque não havia partidos revolucionários, não podíamos defender a
unificação da Alemanha.” (!) (“Um grupo de impostores políticos”, pp. 60-61,
CO). Brilhante sinceridade destes stalinofóbicos. Não concebem a construção de
partidos revolucionários no interior dos Estados operários, exatamente na luta
política contra os stalinistas que sufocam as conquistas operárias, assim como
em oposição de classe aberta aos restauracionistas de todos os matizes. Como na
RDA não havia um partido revolucionário, nada melhor que encontrar um atalho e
emblocar-se diretamente com os que defendiam a unificação (anexação) capitalista
da Alemanha Oriental, um Estado operário apesar de suas deformações, pela
Alemanha Ocidental, uma potência imperialista. O importante mesmo, para os
democratas pequeno-burgueses, era a “unificação” a “qualquer preço” (Viva a
democracia!) independente do caráter de classe que esta poderia assumir.
Os revisionistas do PCO
também nos dão uma bela demonstração de sua fidelidade aos “ensinamentos”
pablistas, quando se trata da questão da defesa incondicional dos Estados
operários. O axioma formal posto é o seguinte: defenderam a unificação
capitalista na Alemanha porque não havia um partido revolucionário para lutar
pela revolução política, assim como não poderia haver revolução política porque
não existia um partido trotskista na Alemanha Oriental. Seguindo esta lógica
antimarxista, abriram mão da árdua tarefa da construção do partido
revolucionário, para ingressarem em uma frente única “antiburocrática” com
setores “reacionários” e “direitistas”, para liquidarem o stalinismo e o Estado
operário de uma mesma tacada. O atual pablismo às avessas destes revisionistas
(Michel Pablo renunciou a construção de partidos revolucionários em todo o
mundo, alegando um suposto caráter progressivo dos partidos comunistas) é ainda
mais contrarrevolucionário do que o seu antecessor, dotou os agentes da
restauração capitalista, como Yeltsin, de um caráter “progressista” e “antiburocrático”,
e o que é mais criminoso, abdicaram da imperiosa necessidade de construir
partidos trotskistas, em nome de “acompanhar” acriticamente o “movimento das
massas” dirigidas por “reacionários” a serviço do imperialismo.
Uma política justa e
revolucionária para aqueles decisivos dias por que passou a RDA no final de
1989, passava essencialmente por desmascarar a mitificação que envolvia parte
considerável da população do “paraíso capitalista alemão ocidental”. Um partido
revolucionário deveria “engatinhar” sua formação no paciente trabalho de
propaganda entre a classe operária, que permaneceu inerte e confusa, diante das
mobilizações populares que exigiam a queda do Muro e a unificação a qualquer
custo das duas Alemanhas, desmistificando politicamente a noção de que os
partidos imperialistas da Alemanha capitalista poderiam garantir melhores
condições de vida para o proletariado oriental, do que a que já tinham
conquistado, apesar da opressão política stalinista. Os Marxistas
Revolucionários deveriam estar na linha de frente da vigorosa denúncia do
controle burocrático da economia e da vida social do país, que exercia a casta
parasitária de Honnecker, mas alertando aos operários que a unificação com o
vizinho imperialista significaria um tipo ainda pior de opressão, a opressão e
exploração imperialista.
A luta pela defesa das
conquistas operárias e, portanto, a manutenção das bases sociais do Estado
operário, de forma nenhuma é contraditória com a defesa da liquidação
revolucionária da burocracia stalinista (revolução política). Abdicar desta
batalha, em nome do etapismo contrarrevolucionário dos revisionistas, ou seja,
primeiro as “liberdades democráticas”, para depois lutar pela revolução
socialista, já no marco da restauração capitalista, é sinônimo da pior traição
de classe, que qualquer corrente que se reivindique revolucionária e trotskista
pode cometer. O Partido Obrero, Causa Operária e seus “parentes” revisionistas
do Morenismo estiveram na linha de frente desta traição histórica ao
proletariado mundial. Neste sentido, se impunha a ruptura principista com o
revisionismo e a necessidade da construção de uma nova ferramenta
revolucionária para a vanguarda comunista, a LBI! Passados quase vinte anos de
nossa ruptura, o PCO segue firme na trilha da contrarrevolução, como demonstrou
claramente no processo de derrubada do regime nacionalista burguês do coronel
Kadaffi, impulsionado pela reação interna e o imperialismo. Para os
revisionistas do PCO o que se passou na Líbia não foi um sangrento golpe de
estado de direita apoiado belicamente pela OTAN, mas sim uma “insurreição de
massas” que deveria ser saudada politicamente pelos revisionistas de todo o
mundo. Como não “souberam” defender as conquistas da URSS e combater o
imperialismo, na Líbia seguiram o mesmo roteiro... Repetido agora na guerra
civil na Síria. A história da luta de classes e a força do programa
revolucionário é bem superior a estrutura circunstancial dos aparatos, baseados
quase sempre nas “tetas” do Estado burguês. A LBI em suas quase duas décadas de
existência soube abstrair muito bem esta lição do Trotsquismo, não se rendendo à
cantilena fácil do “seguidismo de massas” nem tampouco às “benesses” materiais
oferecidas por este regime da democracia dos ricos.