13 de Maio: Da Lei Áurea
à campanha “Banana para o racismo”, duas expressões da hipocrisia da classe
dominante frente à opressão ao povo negro
A campanha “somos todos
macacos” desencadeada por celebridades globais a partir da banana lançada ao
jogador Daniel Alves em uma partida de futebol do campeonato espanhol é uma
expressão “atualizada” da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel em 13 de
maio de 1888, que formalmente aboliu a escravidão no Brasil. Assim como a “banana para o racismo” amplamente divulgada via
fotos da elite dominante não passa de hipocrisia da burguesia que sustenta o
modo de produção capitalista sobre sangue e suor dos explorados
(particularmente dos trabalhadores negros), a decisão de “libertar os escravos”
há 126 anos não passou de uma formalidade baseada em uma necessidade econômica
capitalista, que manteve a terra nas mãos dos grandes proprietários que
conseguiram mão de obra assalariada barata face à inexistência para o escravo
de uma opção que não fosse vender sua força de trabalho aos antigos senhores. O
fato do jogador do Barcelona e da Seleção Brasileira afirmar que o combate ao
racismo ter que ser feito de forma “irreverente e sem ódios, sempre pela
positiva”, na verdade visa tirar o conteúdo de classe da denúncia do racismo
patrocinado pela classe dominante, que tem como alvo o proletariado negro. Não
por acaso, a mesma acumulação originária do capitalismo que aprisionou o negro na África e o escravizou
no Brasil, joga-o nas favelas e cortiços das cidades, explorando-o nas
indústrias, utilizando-o como exército de reserva para pagar menores salários.
Hoje, como ontem, os trabalhadores negros continuam lutando ao lado de seus
irmãos de classe pela verdadeira abolição da escravidão, que só pode vir pela
liquidação do modo de produção capitalista e não pela via de sórdidas campanhas
hipócritas patrocinadas pela classe dominante e suas abjetas celebridades.
Assim como a Lei Áurea
foi uma farsa, há vários indícios de que a banana lançada a Daniel Alves não
passou de uma ação minuciosamente planejada para desencadear uma campanha de
marketing que envolveu Neymar e outras “personalidades” identificadas como
setores do povo que ascenderam no capitalismo, ou seja, para levar a crer que
tanto o racismo como as diferenças de classe podem ser resolvidos no marco do
modo de produção burguês. Em pleno século XXI, os que comemoram o 13 de maio
desejam nos fazer crer que a libertação dos escravos foi uma dádiva da classe
dominante. Nada mais falso! A lei foi uma exigência do sistema capitalista,
devido ao esgotamento do regime escravista (o Brasil foi o último país a
libertar seus escravos na América), a necessidade do enfraquecimento da
produção do açúcar brasileiro que competia com o açúcar do imperialismo inglês
produzido nas Antilhas (o que gerou o fim do tráfico), além do medo constante
de uma revolução comparável à do Haiti (1792). Portanto, não é mera
coincidência que a burguesia hoje use figuras como Daniel Alves, Neymar e o
eterno “negro cativo” Pelé para, de uma forma modernosa, incutir nas massas o
mesmo conceito do passado: o racismo não é patrocinado pelo capitalismo e sim consiste
em uma atitude pessoal que deve ser questionada de forma “irreverente”.
Esta farsa vem de longe.
Tanto que depois que se “celebrou” a Lei Áurea a regra geral foi a
desintegração do negro na sociedade, não tendo condições de concorrer com o
imigrante melhor qualificado tecnicamente. A maioria negra deslocou-se para as
cidades, onde os aguardavam o desemprego e uma vida marginal. Hoje, “dados
estatísticos comprovam que os ramos de atividades agrícolas, das indústrias da
construção civil e prestação de serviços absorvem cerca de 68% de negros e
mulatos, contra 32% de brancos; 54% dos trabalhadores negros recebem em média
até 1 salário mínimo, 16% recebem de 2 a 5 salários mínimos. Quanto à mulher
negra, chega a receber até 50% dos vencimentos da mulher branca, além de
exercerem, em sua maioria, funções de trabalhadora doméstica” (IBGE/2010). A
mulher negra deixou as obrigações das fazendas e os caprichos dos senhores para
servir aos caprichos da “patroa”. Já os homens negros configuram a maior
população carcerária não só do país como também uma das maiores do mundo,
ficando atrás apenas dos EUA nesta questão.
A evolução capitalista
aperfeiçoa as teorias racistas para explicar o fracasso do sistema em
proporcionar empregos para todos e condições de vida adequadas. A pobreza do
negro, consequência da incapacidade do capitalismo em absorver sua força de
trabalho assalariada, faz com que aspectos inerentes às condições subumanas de
vida sejam interpretados como devido à raça. Por isso, o preconceito racial
permanece até hoje, apesar da grande miscigenação ocorrida no Brasil, onde
estudos realizados por cálculos de frequências gênicas demonstraram que a
população do Nordeste e de parte do Sudeste já atingiu 97% de panmixia, ou
seja, de mistura total. Mesmo assim, o racismo é uma realidade cotidiana. Fica
fácil, então, compreender que o problema do negro no Brasil não é simplesmente
étnico. A raiz do problema é o capitalismo que marginaliza e explora a sua
força de trabalho, fortalecendo o racismo.
Poucos são os negros que
conseguiram acumular capital no país. Estes se “aculturaram” e adotam a
ideologia da classe dominante, inclusive, com preconceitos contra sua própria
raça. Figuras populares (antes pobre e negras) como Pelé, Anita e tantos outros
servem vergonhosamente a este fim. Não por acaso o “rei do futebol” diz que ser
normal operários morrerem na construção de estádios para a Copa do Mundo.
Apesar disso, as atuais direções do movimento negro, considerando a questão
étnica como principal fator de discriminação dos negros, pregam a unidade de
todos os negros (inclusive os burgueses) contra o racismo. No sistema
capitalista, não podemos alcançar o pleno emprego e a socialização dos meios de
produção, que são as bases da diferença de classe que em muito fortalecem o
racismo. Atualmente não se pode falar de libertação dos negros sem vinculá-la à
luta de classes e à necessidade de emancipação do proletariado. A consciência
meramente étnica é uma falsa consciência e o preconceito racial, uma ideologia
da classe dominante como é a campanha “somos todos macacos”. Para proporcionar
a real libertação dos negros de sua secular exploração e de todo tipo de
preconceito é necessária a destruição do sistema que o escraviza, humilha-o e
explora-o até hoje: o capitalismo. Definitivamente, essa luta não é apenas dos
negros. O objetivo não é somente a libertação de uma raça, mas de todo o
proletariado, portanto, devemos dar uma “banana” é ao capitalismo e sua elite
racista!