sábado, 31 de maio de 2014


Em lembrança ao 5º aniversário de morte do dirigente trotsquista boliviano Guillermo Lora, o Blog da LBI republica um artigo elaborado em março de 2011 sobre as vergonhosas posições assumidas pela TPOR durante o covarde ataque da coalizão imperialista contra a Líbia. Com a morte de Lora seus seguidores revisionistas no Brasil parecem ter "esquecido" uma das principais lições de seu legado político: a Frente Única Anti-imperialista. A TPOR não teve o menor escrúpulo ao se juntar a grande "família"  revisionista (PSTU, PCO, LER etc.) para objetivamente apoiar o bombardeio da OTAN sobre a nação oprimida, em nome de uma suposta "luta de massas" em oposição ao "ditador" Kadaffi. Negando visceralmente a teoria leninista acerca da centralidade do combate anti-imperialista, a TPOR coloca na lata do lixo da História este princípio programático que deve reger a intervenção dos genuínos trotsquistas na luta de classes em nível mundial. Por este gravíssimo erro os revisionistas da TPOR hoje "repetem a dose" da traição de classe quando se negam a estabelecer a Frente Única Anti-imperialista na Síria, ameaçada pelas provocações bélicas do imperialismo ianque.


Com a morte de Guillermo Lora, o POR (Brasil) perde de vez o fio e o prumo do programa revolucionário

Nos últimos dias os prognósticos para a crise na Líbia por nós levantados vêm tragicamente se confirmando. As pressões políticas e militares do imperialismo sobre o governo líbio com a criação de uma “zona de exclusão aérea” e o deslocamento de navios anfíbios de guerra com centenas de fuzileiros à bordo através do Canal de Suez rumo ao Mediterrâneo para atracar no litoral de Trípoli são típicas ameaças de uma guerra de ocupação. Mas o fato que mais revelou o embuste da tal “revolução Líbia” pelo seu conteúdo político reacionário foi o pedido feito pelos “rebeldes” de ajuda à ONU para que esta autorize uma operação militar da OTAN para bombardear as tropas leais a Kadaffi. Os “gloriosos” insurgentes pró-democracia especificaram ainda que não era o momento de uma invasão por terra e que agradeciam a restrição aérea monitorada pela OTAN. Aqui se dissolvem como sorvete ao sol as delirantes teses da esquerda revisionista, a qual o POR brasileiro integrou-se sem pudores, segundo as quais o imperialismo ianque teria adotado a estratégia de “ajudar” Kadaffi a derrotar a “revolução democrática”.

Os “rebeldes” da oposição reacionária, remanescentes da antiga Líbia monárquica que estão à cabeça dos protestos, estão clamando junto ao Conselho de Segurança da ONU para que este antro de bandidos autorize bombardeio sobre locais estratégicos nos quais Kadaffi ainda exerce hegemonia e controle militar. O clamor partiu do porta-voz da oposição, Abdelhaflz Hoga, em Benghazi, afirmando que “a ajuda viria como um ataque aéreo estratégico” (Folha de S.Paulo, 2/3). Outro dirigente da coalizão anti-Kadaffi e pró-ocidente, Mustafa Gheriani, confirma o pedido macabro: “nós provavelmente iremos pedir ajuda externa, possivelmente bombardeios aéreos em locais estratégicos para colocar o prego no caixão dele [Kadaffi]” (idem) e, como conclusão lógica, levar a população líbia a um banho de sangue.

Vejamos o que afirma categoricamente o POR em seu “manifesto” do dia 1 de março: “A intervenção do imperialismo não põe em risco o regime de Kadafi, mas sim à revolução”. Esta é uma avaliação que bate a cabeça frontalmente com a parede da realidade! Os ditos “revolucionários” que têm como QG a cidade de Benghazi – sede das multinacionais petrolíferas - e cuja expressão é o “Comitê da Liberdade e Justiça” financiado pela CIA, são os que querem a restauração monarquista pró-ocidente e espalham este programa político pelo resto do país disseminado por ONGs e entidades de “direitos humanos” promovidas pela Casa Branca. Pior, são os critérios dos loristas brasileiros agora órfãos, quanto ao que fazer: propõem a consecução de uma “Frente Única Antiimperialista” com estes setores ligados a Washington! Quem sabe a frente única antiimperialista do POR pudesse até ser encabeçada provisoriamente pela senhora Clinton até que os revoltosos encontrassem uma liderança capaz de substituir Kadaffi.

Como temos analisado, o lorismo brasileiro, com a morte de seu dirigente internacional, perdeu completamente o rumo e, órfão de seu matiz programático, está sem um fio condutor. Sem eixo programático, navegam na direção para onde sopram os ventos da opinião pública burguesa e copiam acriticamente as posições farsescas e oportunistas do morenismo. Em resumo, são reféns dos informes tendenciosos das agências de notícias e de todo o arco da esquerda revisionista do trotskismo que faz todo um malabarismo teórico para justificar suas posições pró-imperialistas expressas na consigna da LIT que defende “a mais ampla unidade de ação de todos os setores” (a LIT, OTAN, ONU, monarquistas...) em prol da “revolução” made in USA. Com “aliados” deste quilate fica mais fácil “ajudar” os “revoltosos” desfraldarem a bandeira da monarquia nos territórios tomados de Kadaffi. Um verdadeiro e criminoso desserviço para a consciência de classe do proletariado em nível mundial!

Contra esta maré pró-imperialista cabe aos marxistas revolucionários convocar a formação de uma frente única militar contra a intervenção imperialista, apoiada pelos “rebelados”, sem depositar nenhuma confiança e com total independência em relação ao governo nacionalista burguês de Kadaffi.

Os trotskistas não têm dúvidas de que lado ficar em um conflito desta dimensão. O velho mestre, Trotsky, nos apontava o caminho com muita clareza e sem malabares políticos acerca de que lado estariam os revolucionários no caso de uma possível invasão de um país semicolonial pelo imperialismo: “Existe atualmente no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que, amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil. Eu pergunto a você de lado que do conflito estará a classe operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’. Por que? Porque o conflito entre os dois países não será uma questão de democracia ou fascismo. Se a Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário, se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à consciência nacional e democrática do país e levaria à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento revolucionário do proletariado inglês. É preciso não ter nada na cabeça para reduzir os antagonismos mundiais e os conflitos militares à luta entre o fascismo e a democracia. É preciso saber distinguir os exploradores, os escravagistas e os ladrões por trás de qualquer máscara que eles utilizem!” (Entrevista com Leon Trotsky, Mateo Fossa, 23/9/1938).

Assim, em contraposição àqueles que perderam o fio condutor da História, os revolucionários sem vacilar devem se colocar na defesa incondicional da nação líbia perante a iminente ocupação do país pelas assassinas tropas da OTAN.