Santos apresenta a
eliminação das FARC obtida pela via das “negociações de paz” como credencial ao
imperialismo para garantir sua reeleição na Colômbia
“Votar pela Paz!”. Este
é o principal slogan da candidatura à reeleição do genocida Juan Manuel Santos
a presidente da Colômbia. Como pode se observar, ele usa as “negociações” com
as FARC para garantir sua manutenção no governo, já que enfrenta em 25 de maio
um candidato apoiado pelo ex-presidente Uribe, Óscar Iván Zuluaga. Santos
lidera as pesquisas eleitorais com 28,3% das intenções de voto, seguido pelo
candidato de Uribe com 16% e Enrique Peñalosa 15,7%, da Aliança Verde. Por
último nas pesquisas está a candidatura do Polo Democrático Alternativo que se
coligou com a União Patriótica (UP), Clara López, também apoiada pela
ex-senadora Piedade Córdoba. A disputa deve ir para o segundo turno,
polarizando o país pela direita, já que enquanto finge negociar com a
guerrilha, o exército de Santos já assassinou quase 150 militantes das FARC e
estabelece relações militares estreitas com a OTAN. Mas até o teatro em torno
das “negociações de paz” é questionado por Uribe, eleito senador nas eleições
parlamentares de março, quando o “novo” partido que criou - o Centro
Democrático - alcançou uma expressiva votação, sendo a maior força isolada no
Senado e a segunda na Câmara dos Deputados. Não resta dúvida que Santos e Uribe
são dois lados da mesma moeda na política de eliminação física e política da
FARC patrocinada pelo imperialismo ianque, sendo o atual presidente partidário
de uma orientação que está sendo bem mais sucedida que a do chacal Uribe, de
quem foi ministro da defesa, já que vem neutralizando tanto a guerrilha como a
própria “esquerda” colombiana. Prova disso é que o Polo Democrático e a UP,
apesar de na provável disputa em segundo turno declararem que não apoiarão
oficialmente Manuel Santos, tendem a “liberar” seu eleitoral em um sinal
explícito de simpatia pela política de “negociações de paz” levada a cabo pelo
atual presidente, posição que tem o aval da própria FARC. Nesse sentido, a
direção da guerrilha vem cada vez mais apostando em uma ilusória solução
negociada para o enfrentamento que já dura várias décadas. Tanto que as FARC
anunciaram que pretendem formar um partido político depois que for firmado o
acordo de paz em negociação com o governo colombiano comandado por Santos. A
história está prestes a se repetir na Colômbia, desta vez como uma segunda
tragédia, posto que as FARC parece ter esquecido o desastre do passado quando
se “converteu” em partido institucional, em nome da “paz” e teve a maioria de
seus quadros dirigentes assassinados pelo regime burguês.
Em comunicado divulgado
em 29 de abril em Havana pela delegação de negociadores da guerrilha declara-se
textualmente que “Se agora estamos dialogando pela reconciliação é porque
existe uma força clandestina e forte, que representa uma massa disposta a
tomar, de uma vez por todas, a condução de seu destino”. No mesmo dia, o
Movimento Bolivariano pela Nova Colômbia afirmou que “Aqui está o Movimento
Bolivariano, vital, e pronto para tomar o caminho da paz, disposto a, caso se
alcance a assinatura do acordo final, tirar a máscara que o protege (...) um
partido político aberto, legal, que reúna as maiorias dissidentes para
continuar a luta pela democracia, a reconciliação e a justiça social”, diz
comunicado lido por Pablo Catatumbo, dirigente dos guerrilheiros no processo de
paz com o governo colombiano. Sentindo esse terreno propício para a eliminação
das FARC via “negociações de paz” Santos afirmou em entrevista a Efe nesta
segunda-feira (05 de maio) que “o processo é complexo, repleto de dificuldades,
inimigos e de contradições. Isso as FARC entendem, há vontade da parte deles.
Por isso espero que, ao longo deste ano, possamos terminar este processo tão
complexo e importante. Nestes quatro anos conseguimos criar muitíssimas
condições para que o país avançasse no social e no econômico, e isso é parte do
processo de paz, da redução da pobreza e da solidez da economia. Este país
gerou mais emprego que qualquer outro da América Latina, mas a grande diferença
seria colocar fim a um conflito que já está nos fazendo sangrar por 50 anos. Se
conseguirmos tirar esse freio, o potencial do país, que avançou muitíssimo no
meio do conflito, se multiplicaria, por isso estou tão empenhado em trazer a
paz ao país”. Demonstrando os verdadeiros objetivos de sua política, Santos
comentou sobre a possibilidade de ser assinado um cessar-fogo durante os
próximos meses das negociações: “não há cessar-fogo. A ofensiva militar será
mantida até o momento de assinarmos os acordos. Nesse momento, cessa o
conflito. Definitivamente, eu não quero que isto se prolongue. Um cessar-fogo
agora estimularia as FARC a prolongar a negociação e isto tem que acabar o
quanto antes”. Santos lembrou que ele, primeiro como ministro da Defesa no
governo de Álvaro Uribe (2002-2010) e depois como presidente, foi “quem mais
duro bateu contra as FARC” e concluiu: “Estou disposto a voltar à guerra se
isto fracassar, mas o que quero é a paz”. Esta é política de Santos para
combater Uribe e ser o candidato preferencial do imperialismo ianque, já que há
uma clara disputa interburguesa em curso. O “novo” partido do ex-presidente
(que não pode ser candidato a presidente), o Centro Democrático, conquistou 20
assentos no Senado, ou 14,4% dos votos, contra 21 assentos, ou 15,4% dos votos,
do Partido da Unidade Nacional, de Santos, cuja ampla coligação inclui membros
do Partido Liberal, Partido Conservador e do Partido da Mudança Radical. Na
Câmara, o Centro Democrático conquistou 36 cadeiras, 15,8% do total. Estavam em
jogo 102 vagas no Senado e 168 na Câmara.
A centro-esquerda
burguesa na Colômbia segue a linha de apoio as “negociações de paz”. Omer
Calderón, presidente do partido colombiano União Patriótica (UP), anunciou que
seu partido junto com o Polo Democrático apoiam as iniciativas de Santos em
torno do tema. A candidata a presidente será Clara López do Polo e Aida Avella
da UP concorrerá na qualidade de vice-presidente. Esta decisão foi tomada pelas
duas candidatas depois dos resultados das eleições legislativas de março, onde
o Polo Democrático só conseguiu cinco cadeiras das oito que tinha no Senado,
enquanto na Câmara conseguiu três. A UP, por sua vez, que voltou à política
ativa após mais de duas décadas, depois que o Conselho de Estado devolvesse sua
identidade jurídica, não levou nenhuma cadeira no parlamento. Calderón destacou
que a expectativa do povo colombiano é que as negociações de paz avancem para
que prevaleça a democracia no país e que o fim das agressões a militantes
populares faz parte da campanha da chapa UP/Polo. Lembremos que por conta desta
mesma política suicida a União Patriótica, surgida em 1985 teve dois candidatos
presidenciais seus mortos (a candidata atual, Aida, também sofreu atentado
recente do qual escapou). 5 mil militantes da UP foram assassinados incluindo
oito congressistas, 13 deputados, 70 vereadores, 11 prefeitos.
As “negociações de paz”
entre as FARC e o governo Manuel Santos, saudadas pela esquerda reformista
nacional e internacional como um grande avanço, mostraram sua real face macabra
desde que começaram: mais de 150 guerrilheiros mortos desde o início. Em meio
aos “diálogos” o governo anunciou novos investimentos no combate às FARC e a
aproximação com a OTAN, tanto que a proposta de formalizar um cessar-fogo
durante as “negociações” foi rechaçada pelo presidente colombiano, que rejeitou
essa possibilidade veementemente. Como observamos, trata-se de uma farsa
montada justamente para eliminar fisicamente a guerrilha, como a LBI já
denunciava quase isoladamente na “esquerda” quando se anunciou o acordo
costurado por Chávez e Fidel entre a guerrilha e o governo capacho do
imperialismo ianque. O próprio Ministro da Defesa afirmou que “A ordem do
presidente Santos foi clara: não podemos baixar a guarda em nenhum milímetro” e
completou: “Em 2014 teremos um aumento de 25 mil homens, 20 helicópteros, 10
aviões e mais sistemas de inteligência”, o que significa que na verdade está em
curso uma ofensiva geral contra a guerrilha no lastro do recrudescimento global
da ação do imperialismo contra os povos, nações e forças políticas que são
obstáculos a seus ditames, como as FARC, a Síria e o Irã, alvos imediatos da
sanha imperialista.
Apesar do verdadeiro
massacre de seus membros, a direção das FARC anunciou em abril que ratifica a
agenda para iniciar o “processo de paz”. Em um comunicado assinalou que “O
Acordo, dado a conhecimento público formalmente a partir do anúncio da primeira
semana de setembro, tem um conteúdo que pode ser reafirmado” em vários
aspectos. Entre eles, diz a guerrilha no texto, “o diálogo parte de um Acordo
Geral que tem o propósito de terminar o conflito que é armado, político e
social para construir a paz estável e duradoura, que não pode ser outra cosa
que a paz com justiça social”. A “agenda de diálogo” está voltada a desarmar as
FARC, o que na prática significa um verdadeiro suicídio político e militar para
a guerrilha e tem seis pontos básicos, porém, pela primeira vez se discute
assuntos como a desmobilização de guerrilheiros, o fim das hostilidades e a
entrega de armas, assuntos que segundo o governo Santos haviam “limitado” no
passado as negociações. Como se vê, tal “diálogo” está voltado a por um fim nas
FARC. Isolada pelo chavismo, que chegou a entregar vários de seus dirigentes ao
próprio governo Santos e suas masmorras, a direção da guerrilha dá passos
concretos para fechar um acordo com o governo lacaio dos EUA na América Latina.
As “negociações de paz” têm como consequência direta e prática não só o
enfraquecimento político da guerrilha, mas a sua completa exterminação física,
tendo em vista a experiência das próprias FARC, que na década de 80 deslocou
parte de seus quadros para a constituição da Unidade Patriótica e impulsionou
um partido político legal, tendo como resultado o assassinato de cerca 5 mil
dirigentes pelas forças de repressão do Estado, pilar-mestre da democracia
bastarda colombiana. Essa tragédia teve como base as mesmas ilusões reformistas
hoje patrocinadas pela direção da guerrilha e o conjunto da esquerda. Ao
narcotraficante regime burguês colombiano não interessa sequer a conversão da
guerrilha em partido político desarmado, apenas sua extinção. Diante do cerco crescente
da reação democrática neste momento de maior fragilidade das FARC, os marxistas
revolucionários declaram seu apoio incondicional à guerrilha diante de qualquer
ataque militar do imperialismo e do aparato repressivo de Santos.
Simultaneamente, apontamos como alternativa a superação programática da
estratégia reformista da direção das FARC baseada na reconciliação nacional com
a oposição burguesa e a unificação da luta armada com o movimento operário
urbano sob a estratégia da revolução socialista para liquidar o regime
facistóide e organizar a tomada do poder pelos explorados colombianos.
Defendemos que uma política justa para o confronto entre a guerrilha e o Estado
burguês passa por aplicar a unidade de ação contra Santos, com a mais absoluta
independência política em relação ao programa reformista das FARC. Ao lado dos heroicos
guerrilheiros das FARC e honrando o sangue derramado pelos comandantes Afonso
Cano, Manuel Marulanda e Mono Jojoy, que morreram em combate, apontamos como
alternativa programática a defesa da estratégia da revolução socialista e da
ditadura do proletariado, sem patrocinar nenhuma ilusão na possibilidade de
construir uma “Nova Colômbia” sem liquidar o capitalismo e seus títeres!