quarta-feira, 28 de maio de 2014


Ascenso grevista “agita” o país: Passar por cima dos aparatos sindicais (CUT, CONLUTAS) para derrotar a ofensiva patronal, sem ter nenhuma ilusão no
circo eleitoral!


Uma série de greves “agita” o país às vésperas da Copa da FIFA em sintonia com os crescentes protestos populares contra o mundial de futebol que se inicia no dia 12 de junho. Rodoviários, operários da construção civil, servidores públicos federais das universidades, professores estaduais e municipais paralisaram suas atividades e saíram às ruas por aumento salarial e contra os ataques às suas conquistas. Ainda que estas lutas tenham um caráter eminentemente economicista ocorrem no marco das manifestações que contestam os gastos bilionários com a Copa e o sucateamento dos chamados “serviços públicos”, ou seja, questionam as condições de vida impostas ao povo trabalhador pelo regime capitalista. Muitas greves inclusive eclodiram contra a vontade de suas direções tradicionais e das máfias sindicais governistas. O governo Dilma, pelo controle que tem das direções sindicais (CUT, CTB e as demais centrais “chapa branca”), vem conseguindo que esta revolta crescente se limite a questões corporativas, entretanto, seus reflexos acabaram “respingando” no campo eleitoral, com as pesquisas inicialmente indicando uma queda na popularidade da “gerentona” petista. Não resta a menor dúvida de que a burguesia tem plena consciência de classe que somente o governo da frente popular é capaz de atravessar essa conjuntura turbulenta e ainda assim manter a estabilidade política do país no lastro de uma economia ainda com gordura para queimar e crédito para distribuir. A certa reeleição de Dilma (em segundo turno com uma disputa artificialmente apertada com a dupla Aécio-Campos) demonstra que o grosso da classe dominante mais uma vez “elegeu” o PT para seguir na gerência da administração central preparando as condições para o endurecimento do regime no curso do próximo mandado petista, quando em 2018 deve exigir que suba a rampa do Palácio do Planalto um governo de corte mais conservador, possivelmente guiado por Alckmin ou uma saída de alinhamento com o imperialismo ianque capitaneado por Marina Silva. Neste momento, sob estas “fissuras” da burguesia, vem avançando o movimento de massas, que de forma alguma pode cair na armadilha eleitoral da frente popular, da oposição conservadora ou mesmo da esquerda revisionista, sob pena de perder sua radicalidade transformando-se em mais um elemento de barganha política do circo eleitoral da democracia dos ricos.

O certo é que as lutas em curso demonstram que é possível resistir pela via da ação direta à ofensiva patronal e dos governos capitalistas, sejam comandados pela centro-esquerda burguesa (PT) ou pela oposição conservadora (PSDB-DEM-PSB-REDE). As greves nos transportes públicos são uma expressão clara dessa realidade. Paralisações no Rio, São Paulo, Goiânia, Salvador, São Luis, Florianópolis e outras cidades revindicam aumentos maiores do que os fechados pelas máfias sindicais com as administrações estaduais e municipais. Na contramão deste movimento, em São Paulo, o PSTU-Conlutas que dirige o Sindicato dos Metroviários, deixou passar o pico da greve dos condutores e boicotou a paralisação de 24h do Metrô para o dia 30 de maio, impondo na assembleia da categoria apenas uma paralisação no dia 05 de junho, que mais uma vez deve não ocorrer de fato em virtude da burocracia de “esquerda” apostar suas fichas nas negociações com a justiça do trabalho. No máximo deve se realizar uma paralisação nos horários de pico ou adoção da catraca livre. Como se observa, a Conlutas e a Intersindical, que dirigem sindicatos importantes como o SEPE-RJ ou mesmo os Metroviários-SP, se somam ao esforço da burocracia “chapa branca” em manter as categorias fazendo suas campanhas salariais “ordinárias” sem aprofundar o ascenso em curso para questionar o conjunto do regime político da democracia dos ricos.

No meio desta ebulição, o conjunto dos partidos da ordem burguesa, inclusive sua ala “esquerda” (como o PSOL-PSTU) desejam que as mobilizações prossigam no máximo até o final do mundial da FIFA para que deem início ao circo eleitoral. Para todos esses senhores o “prazo de validade” para as mobilizações vai até meados de julho. Até lá o governo do PT tenta manter o controle da situação trabalhando em duas frentes: repressão aos lutadores que o PIG chama de “vândalos e baderneiros” do Movimento “Não Vai ter Copa” e contenção das lutas das categorias através da atuação de seus aliados sindicais tendo a frente a CUT. Passado o mundial da FIFA, a “gerentona” e Lula vão apostar todas suas fichas nos acordos com as oligarquias estaduais e seus partidos, como o PMDB. Já a direta demo-tucana e seu satélite (PSB-REDE-PPS) espera que a ofensiva midiática do PIG sobre o governo Dilma e as manifestações contra a Copa desgastem ao máximo a candidatura petista. Aécio vai vender caro sua derrota eleitoral em segundo turno (com a ajuda de Campos e Marina) justamente para o imperialismo ianque incidir com força nos rumos do segundo mandato de Dilma e preparar a transição conservadora para 2018. “Correndo por dentro”, o PSOL espera fortalecer sua bancada parlamentar sem abrir espaço para os outros membros da “Frente de Esquerda” via coligações proporcionais. O PSTU tem o mesmo objetivo, apesar de formalmente manter a pré-candidatura de Zé Maria anunciando “divergências programáticas” com a direção psolista. Depois que foram descartados pelo PSOL na aliança de âmbito nacional, os morenistas desejam pelo menos costurar uma aliança regional que viabilize a eleição da vereadora Amanda Gurguel (RN) a deputada federal. Não por acaso, na nova “nota pública” que o PSTU rasteja neste sentido: “A alternativa que o PSTU defende, e que expressamos quando buscamos construir a Frente com os companheiros não cabe no conteúdo definido pelo PSOL. Por essa globalidade é que se inviabilizou a Frente de Esquerda, o que levou o PSTU a lançar candidatura própria à Presidência da República. Esta decisão, aliás, foi tomada em nosso Encontro Nacional, após debate em todo o partido e é nossa tradição respeitar as decisões tomadas desta forma. Por outro lado, a decisão de lançar candidatura própria em nível nacional não interfere nem traz prejuízos às frentes que já foram feitas em alguns estados ou às discussões em curso em outros estados, sempre em base a acordos programáticos, na independência de classe e no respeito ao espaço dos partidos” (Os debates sobre Frente de Esquerda no interior do PSOL e a posição do PSTU, 26/05). Ao contrário de patrocinar esse engodo eleitoralista, os marxistas revolucionários lutam por colocar na ordem do dia a tarefa de utilizar o debate eleitoral em curso nos movimentos sociais, inclusive “aquecendo” as mobilizações contra a Copa, a publicidade leninista em torno do lançamento de uma anticandidatura operária e popular para propagandear o comunismo e a Ditadura do Proletariado vinculado a uma plataforma de ação direta da classe.
No curso do atual ascenso de greves e das lutas populares, a tarefa é passar por cima dos aparatos sindicais oficiais, sejam eles ligados a burocracia “chapa branca” ou à “oposição de esquerda” para construir um amplo movimento independente em todo país, pela via da ação direta! Nenhuma confiança na quadrilha da CUT-CTB que vai sabotar as campanhas salariais do segundo semestre para fazer campanha para Dilma e muito menos nos oportunistas eleitoreiros da Conlutas/Intersindical, que traficam a política de apostar que as “lutas” sejam o combustível de suas candidaturas reformistas. O desafio prioritário neste momento para reverter uma conjuntura de “derrotas acumuladas” que marca a atual etapa defensiva da luta dos trabalhadores dos últimos anos, é construir uma nova direção revolucionária para o movimento operário e popular, sem ter nenhuma ilusão do circo eleitoral da democracia dos ricos que vai ser armado logo após o mundial da FIFA!