segunda-feira, 26 de maio de 2014


Com o profundo retrocesso na consciência das massas, eleição europeia expressa crescimento da extrema-direita e do fascismo no lastro da ofensiva imperialista reacionária na Ucrânia!

Neste domingo, 25 de maio, ocorreram as eleições europeias para escolher os 751 parlamentares que representam 28 países do chamado “Velho Mundo”. Houve uma abstenção recorde de 57% dos eleitores, expressando o amplo descontentamento popular com o sistema de democracia representativa burguesa que gerencia o continente. Os partidos nacionalistas e de extrema-direita se confirmaram como grandes vitoriosos das eleições para o Parlamento Europeu (PE) ao conquistar mais de cem dos 751 assentos da casa, uma ascensão histórica frente aos 53 da legislatura anterior. Reforçando esse bloco, vem o conservador Partido Popular Europeu (PPE) que manteve seu domínio na Eurocâmara com 212 assentos. A centro-esquerda burguesa saiu derrotada pagando o preço por aplicar os planos de ajuste ditados pela Troika. O único partido de “esquerda” que cresceu foi o Syriza na Grécia, que conquistou 26,7% dos votos, justamente por encarnar o sentimento anti-UE, apesar de seu programa reformista não apontar neste sentido. Ao lado do pleito houve também a escolha do “novo presidente” da Ucrânia em um processo eleitoral voltado a legitimar a continuidade do governo golpista imposto em Kiev em fevereiro. Como podemos observar, continua ascendente a tendência política de deslocamento à direita na Europa e em todo o planeta, com o avanço do fascismo que questiona pela direita a representatividade da democracia burguesa. Este processo reacionário está baseado em um profundo retrocesso na consciência do proletariado (apesar do revisionismo do trotskismo caracterizar que “revoluções” estão pipocando em todo o planeta) e somente pode ser barrado com a resistência operária e popular aos planos do imperialismo, como vimos no leste ucraniano, apontando a Ditadura do Proletariado como alternativa revolucionária à crise do capital e seu regime político senil.

Na França, por exemplo, onde Hollande é o carrasco neoliberal dos trabalhadores, a Front National (FN) conseguiu 25% dos votos e terá direito a 23 assentos. Cinicamente o Partido Socialista Europeu (PSE) convocou uma reunião de urgência nesta segunda-feira para analisar um resultado que qualificou de “terremoto político: “Este é um momento muito sério e grave para a França e para a Europa. Estamos em uma crise de confiança, uma ira que repercute também na adesão ao projeto europeu”, disse o primeiro ministro da França, Manuel Valls. Na Alemanha, os conservadores (CDU/CSU), da chanceler Angela Merkel, lideravam as apurações, apesar de um avanço do partido eurocético AfD e dos social-democratas do SPD, de acordo com pesquisas de boca de urna. Os conservadores da CDU/CSU tinham 36% dos votos (contra 37,9% em 2009), à frente do SPD, com 27,5% (contra 20,8 em 2009). A extrema-direita saiu vencedora na França, Grã-Bretanha e na Dinamarca, avançou na Áustria e na Hungria. O Parlamento poderá ter também representantes de partidos neonazistas da Grécia e da Alemanha.

Na Ucrânia, o presidente “eleito” em um processo boicotado no leste do país, o milionário direitista Pedro Porochenko, prometeu nesta segunda-feira, 26, restaurar o controle sobre o leste separatista com uma operação militar mais “eficaz”, com as unidades melhor aparelhadas. Em resumo anunciou o recrudescimento da ofensiva militar contra as “repúblicas populares” que proclamaram suas independências em 11 de Maio. Porochenko, que derrotou a ex-primeira-ministra Yulia Tymoshenko, em uma disputa dentro dos próprios partidos que apoiaram o golpe de 22 de fevereiro, declarou que “Os milicianos não têm interesse em falar com ninguém. Da mesma forma que os milicianos somalis, querem se manter na ilegalidade. É inadmissível. Os terroristas não representam ninguém, querem atemorizar todo o mundo, pois é sua única forma de sobreviver” (O Estado de S.Paulo, 26/05). Neste momento é preciso cobrir de solidariedade a luta das milícias de autodefesa das “repúblicas populares” e exigir do governo russo e seus aliados o fornecimento de armas, munições e tanques para os revoltosos, já que a Casa Branca e o governo golpista de Kiev rompeu unilateralmente o chamado “Acordo de Genebra”. Todos estes elementos apontam que já está em curso a guerra civil na Ucrânia fomentada pelas potências imperialistas para impedir que o Leste do país se separe ou amplie seu status federativo, esvaziando assim o governo pró-imperialista e nazifascista imposto em fevereiro com a ajuda da CIA. O magnata Porochenko está a serviço desta linha contrarrevolucionária!

Durante o ápice do crash capitalista mundial de setembro de 2008, quando o conjunto da esquerda revisionista alardeava que o “fim do capitalismo” estava próximo, alertamos justamente o contrário, ou seja, que devido à ausência de direção revolucionária com peso de massas e o quadro de ofensiva ideológica imposto pelo grande capital desde a queda da URSS, a tendência era não só que a burguesia utilizasse a crise econômica para incrementar sua investida contra as conquistas operárias em todo o planeta, mas que esta situação abriria uma etapa política de ascensão de governos de direita ou extrema-direita nos países mais castigados pela débâcle financeira. Hoje, sete anos após o crash financeiro, os exemplos acima dramaticamente confirmam nossos prognósticos. Frente a essa realidade cabe a pergunta: qual tendência política e ideológica está alimentando a crise capitalista entre os explorados? Um rebaixamento no nível de consciência das massas, um giro à direita no terreno da política e um retrocesso no campo da cultura. Diante disso, na arena política, a esquerda pseudotrotskista recusa-se a tirar lições de como os capitalistas, diante da superprodução de capitais, desviam seus investimentos para o capital fictício e para as forças destrutivas. Se acreditam que os patrões e seus governos vão querer obrigar a classe trabalhadora a pagar pela crise quando os mesmos já se encontram em uma situação de extrema exploração, deveriam supor que serão necessárias medidas extremas, um recrudescimento do regime político ainda maior do que o que já visto. Nesse sentido, é preciso alertar, preparar e organizar o proletariado e, particularmente, sua vanguarda mais combativa para um período de fascistização dos regimes e de mais aventuras militares. No entanto, o conjunto da esquerda apresenta nada mais do que impotentes programas sindicalistas, opondo-se a armar com uma plataforma revolucionária a classe para os novos embates que emergem desta nova conjuntura.

Vale a pena reafirmar mais uma vez a lição programática de que a onda de descontentamento social que percorre vários países europeus está sendo provocada pelos planos de austeridade por parte de governos burgueses de vários matizes políticos. Estas lutas de caráter defensivo ocorrem no marco de uma nova investida capitalista 25 anos depois da derrota histórica que o proletariado sofreu com a restauração capitalista da URSS e a queda contrarrevolucionária do Muro de Berlim, acontecimentos que abriram uma etapa de profunda ofensiva econômica, política e ideológica contra os trabalhadores. Aos genuínos marxistas cabe a tarefa de intervir ativa e pacientemente sobre estas lutas para elevar o nível de consciência dos setores mais radicalizados, a fim de fazê-la avançar da resistência defensiva atual para a disputa pela conquista do poder político contra seus algozes, superando a criminosa influência política que a centro-esquerda reformista e seus satélites revisionistas exercem sobre o proletariado. A materialização deste longo e paciente processo de evolução da consciência dos trabalhadores é a construção de um partido internacionalista e revolucionário que lute por derrotar a União Europeia imperialista, sob a qual a vida das massas converte-se em uma bárbara escravidão, para edificar em seu lugar uma Federação das Repúblicas Socialistas da Europa, apontando a única saída verdadeiramente progressista para o velho continente.