domingo, 18 de maio de 2014


15M revelou forte disposição de luta,
mas também nova tentativa de “infiltração” política do PIG

O Dia Mundial contra a Copa do Mundo ocorrido neste último 15 de Maio expressou um crescente de lutas no país contra as péssimas condições de vida do nosso povo. O grito de “Não vai ter Copa” ecoou pelo país e sintetizou o repúdio popular contra os gastos milionários do governo Dilma e das oligarquias regionais que controlam os governos estaduais com o mundial da FIFA, enquanto os chamados “serviços públicos” como saúde, educação e transporte estão completamente sucateados. Desde cedo, bloqueios de estradas, avenidas e ruas marcavam principalmente em São Paulo as mobilizações de sem-teto reivindicando mais moradias e o fim da especulação imobiliária incrementada pela Copa do Mundo. À tarde, atos e passeatas ocorreram em várias capitais os quais foram duramente reprimidos pela PM, cujas forças especiais vêm sendo inclusive treinadas nos EUA. As manifestações demonstraram a forte disposição de luta dos trabalhadores e da juventude plebeia, conseguindo ser um ponto de apoio para as lutas em curso, como professores estaduais e municipais, servidores federais, operários da construção civil e rodoviários. A ampla cobertura dos meios de alienação de massa sob o comando da Rede Globo (com várias horas da programação dedicadas aos protestos em um tom simpático) demonstrou, porém, uma nova tentativa de “infiltração” do PIG, como ocorreu durante as “Jornadas de Junho”. A mídia “murdochiana” claramente atuou no sentido de insuflar novas manifestações que tenham como alvo principal o governo do PT com o objetivo de polarizar ainda mais a disputa eleitoral de 2014. Este quadro reforça a responsabilidade dos marxistas revolucionários intervirem ativamente nos protestos contra a Copa por meio de um programa classista, proletário e comunista, centrando suas forças militantes não somente na denúncia do governo da frente popular, mas também da oposição conservadora (PSDB-DEM-PSB-REDE-PPS), ambos sustentáculos do regime da democracia dos ricos que visam disputar entre si o botim estatal no circo eleitoral que ocorrerá após o mundial futebolístico da FIFA.

Não resta a menor dúvida que a menos de um mês da abertura do Mundial vemos no “país do futebol” uma frieza popular diante da Copa. Apesar da campanha midiática em favor da seleção brasileira e seus “astros” mercenários, amplos setores das massas já compreenderam que a FIFA está fazendo um grande negócio capitalista no Brasil, onde o Tesouro Nacional banca gastos milionários com obras desnecessárias e alimenta a orgia das empreiteiras. Os capitalistas estão fazendo “caixa” e todos os partidos do regime (desde o PT até o PSDB, passando pelo PSOL) aguardam as gordas doações para a campanha presidencial que se avizinha. A disposição de luta presente nas mobilizações expressou a “puteza” contra o conjunto do regime político, onde a classe dominante faz do Mundial de futebol um espetáculo mercadológico para a elite racista enquanto incrementa a repressão às manifestações por direitos sociais. Ainda que no 15M as concentrações tenham chegado no máximo a 3 mil pessoas (como vimos em São Paulo no final da tarde) o fato é que as manifestações tendem a engrossar nesta reta final antes da Copa, sendo previsto um grande ato no dia 12, na abertura do campeonato.

Ciente deste quadro, a direção do PT teme que todo esse movimento se volte contra candidatura da “gerentona” Dilma, que não por acaso está em queda nas pesquisas eleitorais. Lula já declarou que a campanha presidencial será muito difícil, uma verdadeira “guerra”. Acionou os blogueiros “chapa branca” para atacarem o “Não vai ter Copa” e chamou a CUT para mobilizar as direções sindicais em defesa do Mundial. O PCdoB fez o mesmo via UNE. O próprio Palácio do Planalto deslocou Gilberto Carvalho para “dialogar (cooptar) com os movimentos sociais”! Enquanto isso, o PIG vem insuflando as candidaturas de Aécio e Campos para valorizar ao máximo uma vitória apertada do PT, levando a disputa presidencial para um duro segundo turno. Globo, Veja, Estadão, Folha e a direita reacionária associada ao tucanato não tem força para derrotar imediatamente a frente popular em 2014 no terreno eleitoral, mas vai desgastá-la ao máximo. Até porque a gerência burguesa de centro-esquerda do PT ainda é bastante útil ao grande capital, sendo necessário fazer uma transição segura para um novo eixo de poder mais conservador que assumirá em 2018. É aí que entra a cobertura simpática aos protestos, visando claramente pautar o movimento como a Rede Globo fez em junho do ano passado, inclusive “derrubando a grade” da programação de sua TV aberta, ampliando o horário do Jornal Nacional em uma evidente “infiltração” no movimento. Neste 15M, a Globo News passou quatro horas de sua programação ao vivo cobrindo os protestos com sua âncora elogiando literalmente (segundo suas próprias palavras) o “exercício da cidadania através de manifestações pacíficas e bem organizadas”, apenas reclamando da presença de “vândalos e mascarados” que estavam manchando “a imagem da festa democrática” do 15M. Durante os próximos protestos essa “infiltração” midiática tende a aumentar para que adentrem nas manifestações setores de classe média reacionária com suas bandeiras “verde e amarela” entoando o hino nacional, os principais porta-vozes raivosos do “Fora Dilma” que chegaram a expulsar os partidos de esquerda das manifestações de junho de 2013.

Esta realidade em nenhum momento é ressaltada pelo PSTU ou mesmo pelo PSOL, ávidos por também capitalizar o desgaste do governo Dilma no terreno eleitoral. No balanço que o PSTU fez do 15M não há uma única linha sobre a tentativa de “infiltração” do PIG ou qualquer alerta sobre o perigo da direita “verde e amarela” engrossar as próximas manifestações pautando o movimento com um corte reacionário ou mesmo fascista como vimos em certos atos nas “Jornadas de Junho”. Para os morenistas “O dia de mobilizações mostrou a revolta da população contra as injustiças da Copa, as remoções forçadas e os bilhões gastos com o evento. Também serviu como um passo na unificação dessas lutas com as diversas categorias em greve ou mobilizadas em todo o país, que lutam contra o descaso com os serviços públicos e a corrosão dos salários causada pela inflação. O governo Dilma, além de não atender as reivindicações, desdenhou dos protestos, classificando-o como um ‘fracasso’”. Em resumo, com seu eterno tom exitista, PSTU e PSOL visam “acumular” as manifestações para em uma frente tática com a direita, desgastar o PT e repartir os dividendos eleitorais entre as “oposições”. No outro extremo, vemos o PCO se colocar contra o movimento “Não vai ter Copa” alegando o perigo (inexistente) do “golpe em curso contra o governo do PT”. Causa Operária em editorial intitulado “Independente do governo, mas não a reboque da direita” (17/05) chega a afirmar sobre o 15M que “A própria natureza da mobilização é antipopular, o que se pode ver pelo fato de que a taça da Copa foi exibida para visitação pública em Macapá, uma cidade de cerca de 370 mil habitantes, e cerca de 20 mil pessoas foram visita-la, o que mostra que o repúdio à Copa tão divulgado pela imprensa capitalista é pura balela”. Como se pode observar, o PCO passou do abstencionismo estéril para a defesa aberta do Mundial da mafiosa FIFA, não intervindo no movimento para derrotar a “infiltração” da direita que ainda é embrionária. A obrigação de uma organização que se diz marxista e revolucionária é justamente atuar nestes movimentos demarcando uma posição comunista contra as tentativas da burguesia de pautá-los como ocorreu com as manifestações multitudinárias de junho passado, onde pela falta de uma política correta e centralizada da “esquerda”, o PIG influenciou diretamente os rumos do movimento. O tragicômico é que enquanto abre mão de disputar a consciência da classe contra a pequena-burguesia e a direita, o PCO rompe com todo critério de classe para apoiar os “rebeldes” da CIA na Líbia e Síria no início da chamada “Primavera Árabe”, caracterizando estes como revolucionários quando defendiam abertamente a contrarrevolução imperialista e a recolonização do Oriente Médio e do Norte da África. Dessa forma, todo o catastrofismo dessa gente vai ao ar quando se necessita de sua atuação política prática, saindo do mundo das fantasias.

De agora até a abertura da Copa (em 12 de junho) mais protestos populares vão sacudir o país, cabendo aos lutadores intervirem nestas lutas para construir uma alternativa revolucionária que denuncie o conjunto do regime da democracia dos ricos, rechaçando inclusive a tentativa do PIG, da direita demo-tucana de tentar usar o sentimento popular que vai ganhando corpo contra a Copa para se catapultar na disputa eleitoral. Desde a LBI militamos para que a luta contra a mafiosa FIFA e seu mundial feito sob medida para as elites dominantes engordarem ainda mais seus bolsos à custa do suor e sangue dos trabalhadores seja um ponto de apoio para a ação direta dos trabalhadores contra os ataques dos patrões aos seus direitos. Por isso é fundamental a tarefa da delimitação política com a direita burguesa que mesmo “faturando” bilhões com a Copa pretende sabotar o evento para capitalizar eleitoralmente o desgaste do governo Dilma. Para os marxistas trata-se exatamente do inverso, ou seja, de denunciar ativamente o conjunto do modo de produção capitalista, que para acumular capital em época de crise financeira “fabrica” os megaeventos bancados pelo caixa do Estado burguês. Em resumo, diante da ofensiva repressiva da frente popular e o “assanhamento” da direita com o desgaste petista, os leninistas devem intervir ativamente no movimento “Não vai ter copa” e não agir como avestruz, em um abstencionismo covarde que somente ajuda a direita e o PIG.