segunda-feira, 9 de março de 2015


Um debate necessário sobre o caráter dos atos convocados para 13 de Março

O Blog da LBI publica uma polêmica em torno de nossa posição acerca do caráter do ato convocado pelo PT, PCdoB e CUT para o próximo dia 13 de março. Em um artigo elaborado pelo companheiro Cesar Mangolin, ex-dirigente do PCB, "Uma nova lógica obtusa: nota rápida a partir de um texto trotskista sobre o 13 de março" (publicado no seu Blog) este polemiza com a posição da LBI expressa no Editorial do Jornal Luta Operária intitulado "Nem o 6 do PSTU e tampouco o 13 do PT: Para combater a direita no dia 15 de Março é preciso organizar uma greve geral em defesa dos nossos direitos!". Na sequência reproduzimos a resposta do camarada Roberto Bergoci, dirigente da regional São Paulo da LBI, em que contesta as posições de Mangolin. Cesar Mangolin foi candidato a suplente de Senador pelo PCB-SP nas eleições de 2014 mas ao que parece rompeu com este partido acusando-o de sectário, argumento usado de forma recorrente por diversos setores satélites da Frente Popular também contra a LBI para justificar seu apoio "crítico" ao governo Dilma. Mais além do artigo de Mangolin, suas posições em geral refletem uma tendência à inflexão política pela direita que vem assumindo todo um setor de militantes que romperam recentemente com o PCB e que hoje se sentem atraídos pela velha política de colaboração de classes em apoio ao PT. 

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Uma nova lógica obtusa: nota rápida a partir de um texto trotskista sobre o 13 de março…

Cesar Mangolin (03.03)

Não pretendo aqui discutir qual seria a melhor opção para o cardápio de manifestações marcadas para março, embora tenha posição sobre isso. O que motiva o texto é apenas uma reflexão, ainda que rápida, sobre as loucuras que vivemos… Falo das curiosas posições das organizações de esquerda diante do ato convocado pela CUT para o dia 13 de março.

Meu ponto de apoio será um texto da LBI (pra quem não sabe, um dos grupos trotskistas atuantes no Brasil, responsável por uma das muitas “quartas internacionais”).

O texto tem como título “nem o 6 do PSTU, nem o 13 do PT” e diz, em síntese, mais ou menos o seguinte: há uma “briga” (coloco entre aspas e em itálico expressões do próprio texto) entre as organizações da esquerda sobre as manifestações. O PSTU, que não participará das manifestações do dia 13, convoca sua própria manifestação para o dia 06 e lhe dá o nome pomposo de um “dia de greve geral”. O PCB anunciou que não vai “endossar” manifestações governistas e não diz o que pretende fazer. O PCO, “travestido de antigolpista”, participará das manifestações do dia 13. O PSOL não é citado no referido texto. O autor do texto tem a lucidez temporária de afirmar que “somente no país imaginário 'sonhado' pelos revisionistas do PSTU poderá ocorrer uma greve geral de verdade no final desta semana” e reconhece que a “divisão de forças no campo da esquerda neste momento só irá fortalecer a direita tucana”.

Dito tudo isso, a esperança que bate no coração de qualquer um que mantenha os pés no chão e o raciocínio lógico (mesmo que de lógica formal!), é esperar por uma proposta unificadora, que reconhecendo os limites conjunturais e numéricos das organizações que cita, seja capaz de propor a participação, ao lado dos trabalhadores, das manifestações do dia 13, sabendo defender da sanha golpista as liberdades democráticas e, ao mesmo tempo, capaz de pressionar o governo contra medidas que afetam diretamente os trabalhadores… Enfim, o ato convocado pela CUT terá a presença de movimentos populares importantes (MST, MTST, CMP…), enfim, quem tem conseguido, no final das contas, arrastar multidões às ruas. Não me parece que o MTST e o MST possam ser tratados como meros braços do governo. Quem diz isso é a direita reacionária… Entristece ver gente de esquerda engrossando esse coro…

Mas não… a conclusão é que “só nos resta convocar o proletariado para boicotar as duas inócuas manifestações da esquerda reformista (06 e 13) no sentido de apontar a necessidade de organizar um plano de lutas das principais categorias rumo a uma greve geral de 48 horas que contemple como eixo a derrubada das medidas provisórias palacianas e por uma política de reposição salarial diante da crise inflacionária que se avizinha com a abrupta elevação da cotação do Dólar em relação ao Real.”…. Ai carai...

Meeeeu!!! O sujeito deveria ser diretor de filme! Faria sucesso, porque é capaz de tirar conclusões imprevisíveis e surpreenderia demais seu público! Apenas me responda o seguinte: se alguém aí está em condições para organizar um plano de lutas que nos leve a uma greve geral, por que não fez anda? Está esperando o que??? Mesmo que seja a greve geral com horário para começar e acabar… Parece que ninguém tem força alguma, embora o discurso seja pomposo… Isso pode ser resultado das contradições da conjuntura em que vivemos, sem dúvida, mas é também resultado da burrice esquerdista e infantil que assola todas as organizações citadas. Aliás, se tivéssemos condições de uma greve geral de 48 horas, faríamos a revolução e não reivindicação salarial…

Mas não pára por aí, há uma conclusão triunfalista, que pelo menos manifesta alguma preocupação com a organização da direita!

se impõe a defenestração política destas marchas direitistas planejadas para o dia 15, contando com a mais ampla unidade de ação no campo da esquerda popular para esmagar a reação. Este é a melhor senda política para reforçar o moral do proletariado, colocando sempre o norte do programa socialista e o combate a política de colaboração de classes.”    Mas, ai carai, de novo…

Não é um raciocínio maluco esse??? Mais acima, tudo indica que vão concluir pela necessidade da unidade, contra a direita mais reacionária e pelos direitos dos trabalhadores; daí concluem que não devem participar nem de uma, nem de outra manifestação; por fim, conclamam a unidade da esquerda por um programa minimo que reforce “o moral” (?????) do proletariado, seja lá o que isso queira dizer…

Vou parar por aqui… Quem tem um tanto de bom senso ainda, pense um pouco nessa loucura toda e nessas organizações muito boas em lançar  “notas políticas” e nada mais…

Deixemos que os mortos enterrem seus mortos…

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Um tendência à capitulação diante do PT

Roberto Bergoci (06.03)

Caro camarada Cesar, saudações! Gostaria também de fazer um bem breve comentário sobre sua nota rápida, acerca do editorial da LBI. Primeiramente gostaria de frisar que percebo em seu texto, um certo preconceito infantil contra o que se convencionou chamar de “Trotskysmo” (lhe convido com todo respeito e sem nenhum tipo de lirismo, a estudar da própria fonte a obra continuadora do verdadeiro bolchevismo de Leon Trotsky); além de um certo desprezo pela defesa da reconstituição de uma internacional comunista, tão cara a nossos heroicos camaradas que nos antecederam. Também percebo que em seu texto, há uma clara proposta em se articular no país, uma espécie de “frente única” para defender o PT de um “iminente” golpe articulado pela burguesia nacional comandada pelo imperialismo. No entanto, você – assim como boa parte de setores da esquerda nacional – não percebe que na prática quem vem impondo a verdadeira política da direita e do capital financeiro, dando um verdadeiro golpe contra os trabalhadores e os pobres do país, é justamente a burocracia petista; fato patente e incontestável, quando por exemplo nos deparamos com uma política econômica ultra monetarista bem a estilo da Troika, levada adiante por um “Chicago Boy”, que parece ser o “chefe” do governo. Além de que, a formação ministerial do governo “Dilmista” e seu caráter direitista, contra revolucionário e pró-imperialista, é de fazer inveja a bandidos do naipe de FHC e C&A (fato também incontestável). Um governo com características singulares como o do PT, onde se mescla em seu corpo ministerial banqueiros, industriais, latifundiários, dirigentes traidores de movimentos sociais, burocratas sindicais e etc., é indispensável ao capital em crise sobretudo neste momento, visto que pelo seu peso no movimento operário e o papel que cumpre de traidores e burocratas cooptados por migalhas do Estado burguês, mantém amarrados os trabalhadores facilitando assim o caminho para os ataques patronais; há uma necessidade imperativa do capital mundial em rebaixar de forma aguda o nível de vida das massas trabalhadoras em todo o globo, como única forma deste compensar a queda na taxa de lucro que se acentuou nos últimos anos (não coloco dados aqui pelo caráter rápido e limitado deste comentário),bem como para este sistema senil dar um impulso a sua economia mundial anêmica que mantém atualmente um nível de crescimento muito baixo e em grande medida especulativo, além de que o capitalismo atual se caracteriza pela busca rápida e imediata de lucro através dos mercados financeiros bursáteis, o que se põe na ordem do dia, pela ótica do capital, a necessidade do aprofundamento de políticas ultra neoliberais sob hegemonia e supervisão dos financistas mundiais, o que Dilma através do banqueiro Levy leva adiante e azeita ainda mais. Nestas condições, não seria muito lógico pela parte da direita (mesmo a lógica formal) se aventurar numa empreitada golpista contra um governo que, além de aplicar à risca a mesmíssima política dos tucanalhas, possui uma base social enorme e muito forte, num contexto em que o PT ainda não queimou consideravelmente seu capital político e controla diretamente setores de peso do movimento operário e de massas como por exemplo a CUT, MST e UNE, fato que poderia resultar em uma profunda desestabilização política e social que abalaria profundamente a acumulação capitalista no país. Além de que, a direita nacional carece de quadros políticos fortes com condições de estabilizar a situação convulsionada decorrente de um golpe contra um partido como o PT dentro de um contexto de ataques econômicos e políticos aberto às massas; e essa carência de quadros direitistas se manifesta na profunda crise de todos os partidos burgueses no Brasil, o que os leva a recorrerem aos burocratas petistas para gerenciarem seu Estado. O que parece no momento, é que a burguesia nacional e sua imprensa, sob ordens imperiais, tem como “tática” sangrar o PT até sua morte, levando estes reformistas (sem reformas) a se desgastarem aplicando religiosamente toda a política econômica da direita arrochando qualitativamente o padrão de vida do proletariado nacional e toda classe dos trabalhadores, abrindo assim a porteira para o retorno dos bandidos do PSDB (provavelmente, visto que os prognósticos não são em absoluto uma equação matemática) à gerenciarem diretamente seu estado, sem intermediação dos serviçais burocratas. Por outro lado, também não podemos descartar no futuro a possibilidade de um golpe, mas tudo dependerá do que ocorrer na arena da luta de classe, visto que se a guerra de classe se recrudescer, e Dilma for incapaz de levar adiante o que lhe exige o capital financeiro a burguesia e o imperialismo sem duvida a descartará e não levará em conta todo serviço prestado pelo PT em lhes servir. Disso tudo companheiro, com todo respeito vejo em sua polêmica com a LBI, uma tendência à capitulação diante do PT, assim como vem fazendo boa parte da esquerda do país, desde a Causa Operária, passando pelo MST e etc.; política que na pratica põe uma camisa de força aos trabalhadores e promove uma verdadeira confusão entre as massas, paralisando-as diante da gravidade dos ataques petistas contra as conquistas operárias. Fraternalmente!

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Cesar Mangolin (07.03)

Meu camarada, agradeço a leitura do meu texto e sua crítica. Respeito suas posições, mas bem sabe que divergimos em quase tudo da análise que faz, em particular a que tenta definir a tática para este momento. Conheço bem (o suficiente) a obra de Trotsky e pode ter certeza de que não desprezo a luta de ninguém. Enfim, isso não faz de nós, evidentemente, inimigos. Sigamos na luta! grande abraço!