Obama prepara golpe contra Maduro na Venezuela... No Brasil,
Casa Branca prefere ver Dilma sangrar aplicando o programa neoliberal
Logo após as eleições na pátria do chavismo, a direita golpista ligada diretamente ao imperialismo ianque anunciou que não reconhecia os resultados das urnas e partiu para ataques fascistas contra várias sedes do partido chavista pelo país, incendiando-as e deixando um rastro de sangue de sete mortos. Sem dúvida alguma, houve um avanço da contrarrevolução na Venezuela, com a burguesia nativa e a Casa Branca partindo para uma dura ofensiva diante da aberta polarização política e social, que definitivamente não se revolverá no terreno eleitoral. Este quadro político dramático que dividiu a Venezuela ao meio confirmou plenamente o acerto da posição principista da LBI de convocar o apoio crítico a Maduro, com total independência do chavismo e seu programa nacionalista burguês. Longe de patrocinar ilusões na candidatura do PSUV afirmamos que ela expressava deformadamente o sentimento e a tendência política das massas de lutar contra o imperialismo e seus marionetes. Por esta razão, apontamos em plena campanha eleitoral, que era necessário combater centralmente nas ruas, fábricas e no campo os inimigos de classe do proletariado, perspectiva que só se reforçou após o resultado eleitoral apertado. No caso de um êxito eleitoral de Capriles, em um cenário imediatamente após o assassinato de Chavez, as consequências políticas seriam trágicas não só para o proletariado da Venezuela, mas para o conjunto da América Latina. A tarefa que se impõe nesta polarizada conjuntura, acompanhando a evolução política das massas, é a construção do partido operário revolucionário, única forma de combate consequente ao Estado capitalista, cabendo à vanguarda do proletariado adotar uma política de “estimular” as tendências de radicalização dos trabalhadores para que se choque com os limites impostos pelo próprio Maduro e a direção do PSUV a frente do governo!
Lembremos que em meio ao debate sobre o segundo turno das
eleições presidenciais brasileiras, onde diversos setores da “esquerda” não
integrados diretamente a frente popular passaram a professar o “voto crítico em
Dilma”, alguns revisionistas contestam porque a LBI não defendeu o apoio à
candidata do PT “para derrotar a direta” já que em 2013 advogamos o voto
crítico em Maduro na Venezuela contra a ameaça concreta da direita golpista.
Antes de mais nada é preciso compreender que a defesa do Voto Nulo (e também a
participação nas eleições burguesas) não é uma questão de princípios para nossa
corrente trotskista. O próprio núcleo fundador da LBI reivindica o voto crítico
em Lula em 1989 porque naquele momento a candidatura da frente popular
expressava (ainda que deformadamente) um enfrentamento de classe com o conjunto
do regime político da “Nova República”, inclusive sendo o catalizador de
diversas lutas diretas dos trabalhadores do campo e da cidade, apesar do
programa de conciliação de classes do PT. De lá para cá (35 anos), houve a
completa integração do PT a democracia burguesa e, mais particularmente em
2002, o partido de Lula assumiu o governo central no país em compromisso direto
com o imperialismo ianque e a burguesia nativa de sustentação da ordem
capitalista. O PT passou a ser um representante de classe do grande capital
apesar da sua origem no movimento operário. Nesse sentido, deixou de ser um
canal de expressão (mesmo limitado) da luta da classe operária contra a
burguesia. O pacto social celebrado pela frente popular durante seu 12 anos de
gerência é uma prova inquestionável do que afirmamos. Impôs o esmagamento das
tendências de luta do povo pobre e bloqueou a radicalização dos combates nas
ruas e locais de trabalho, optando-se por incrementar as políticas sociais
“compensatórias” para os setores mais desorganizados e empobrecidos da
sociedade capitalista e repressão a vanguarda classista enquanto foi garantido
o lucro crescente aos bancos, empreiteiras e rentistas internacionais, como
declarou recentemente o presidente do Bradesco, não por acaso apoiador da
reeleição de Dilma.
A realidade venezuelana veio no sentido inverso desde que
Chávez assumiu a presidência em 1999. O quadro político-eleitoral do país foi
levando a uma radicalização da luta de classes, ao ponto do próprio Chávez
denunciar o seu envenenamento pela CIA, assassinato que foi antecedido por uma
tentativa de golpe de Estado (2002) que teve inclusive o sequestro do
presidente. A morte do líder bolivariano levou milhares às ruas em mobilizações
multitudinárias contra a direita golpista/fascista e colocou a candidatura de
Maduro diretamente no centro deste enfrentamento protagonizado por gigantescas
marchas de cunho anti-imperialistas. Não por acaso, durante a campanha
eleitoral várias sedes do PSUV foram incendiadas e houveram enfrentamentos de
ruas com dezenas de mortes. A vitória apertada de Maduro contra o fascista
Capriles não foi sequer reconhecida pela Casa Branca, que incentivou a
continuidade das mobilizações contra o “chavismo”. Neste quadro, foi mais do
que justo chamar o voto crítico em Maduro para “estimular” as tendências de
radicalização do setor popular e camponês que apoia o nacionalismo burguês,
estabelecendo uma unidade tática eleitoral com o chavismo contra a candidatura
de Capriles e sua “oposição unificada” arquitetada e dirigida desde a Casa
Branca, sem capitular politicamente ao seu programa. Os marxistas apoiaram na
Venezuela a tendência de giro à esquerda do movimento operário, utilizando os
próprios instrumentos concretos construídos pela luta de classes, ainda que não
sejam absolutamente “puros”, do ponto de vista de uma estratégia classista. A
conjuntura de brutal ofensiva imperialista de “ajuste” contra suas semicolônias
e o covarde assassinato do maior símbolo contemporâneo da resistência
nacionalista a esta ofensiva imperial, obrigaram os marxistas a estabelecerem a
tática da frente única, que no caso venezuelano aplicou-se também no terreno
eleitoral.
Desde já declaramos que
poderíamos até mesmo estabelecer um bloco com o PT, a ala esquerda da
burguesia, mas não no terreno eleitoral e em outra conjuntura, onde a direita
burguesa ameaçasse realmente o movimento de massas com um golpe fascista, como
ocorreu na Venezuela e volta a acontecer agora. Neste momento a única ameaça
concreta é a continuidade da política de “ajuste” neoliberal, que já vem sendo
levada a cabo pelo governo do PT e com a possibilidade da volta do PSDB com
certeza se intensificará, mas se trata de uma diferença de grau dentro das
gerências da burguesia e não um conflito de classe. A “gerentona” petista que
não faz nenhuma demagogia social e de “esquerda” para as massas como o chavismo,
não tendo qualquer vínculo com o movimento operário! Estas diferenças são
marcantes para definir a posição dos revolucionários tendo o marxismo como um
“guia para a ação” e justamente é este o critério que adotamos na Venezuela mas
que não estão atualmente presentes na realidade do Brasil.
Fazendo uma “comparação”, o governo do PT expressa um
alinhamento político de “centro-esquerda” burguesa, mas suas iniciativas no
campo estatal estão muito aquém de governos "progressistas" da
América Latina como o de Maduro na Venezuela. Dilma adota um corte neoliberal
em seu governo muito próximo ao próprio tucanato (privatizações), diferente
portanto do governo nacionalista burguês de Maduro, que muito se assemelha
Kadaffismo e ao Sandinismo nos 60 e 70, que tinham choques abertos com o imperialismo
e eram considerados seus adversários políticos publicamente. Por sua vez, a
atual coalizão encabeçada pelos tucanos não pode ser definida teoricamente como
fascista, apesar do seu caráter reacionário e francamente direitista. A própria
dinâmica da luta de classes, indicando uma etapa de correlação de forças
abertamente favorável a burguesia não impõe as classes dominantes a necessidade
de um regime fascista ou mesmo algo assemelhado no Brasil. Isto não significa
de modo algum que no interior do PSDB, ou mesmo do REDE, não se fomente um
“feto” com simpatias políticas pelo neonazismo, estamos evidentemente falando
do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, um candidato talhado para derrotar
a Frente Popular em 2018 (ou antes mesmo do calendário eleitoral) com métodos
golpistas e de “guerra civil” se necessário for. A ameaça fascista é uma
resposta da burguesia a uma avanço da classe operária sobre as instituições
apodrecidas do Estado burguês, corresponde a uma polarização aguda da luta de
classes o que desgraçadamente está muito longe do que ocorre hoje no Brasil mas
que estava presente claramente na Venezuela em 2013 e ainda mais atualmente. Neste marco,
sem patrocinar nenhuma ilusão nestes gerências “progressistas”, declaramos que
a ofensiva pró-imperialista que se avizinha deve ser combatida com os métodos de
luta direta da classe operária na senda da construção de uma alternativa
revolucionária de poder dos trabalhadores da cidade e do campo!