O "golpe" político da iminência do golpe
parlamentar: Uma surrada manobra que muito serve a ofensiva neoliberal
Estamos nos aproximando do dia 15 de março e a temperatura
política do país subiu ainda mais desde o "panelaço" da classe média
ocorrido com o pronunciamento no último dia 8 onde a presidente convocava a
população para apoiar as medidas neoliberais do famigerado "ajuste".
O simbolismo do dia da mulher trabalhadora foi utilizado por Dilma para a
defesa de uma política que ataca conquistas históricas das mulheres, como por
exemplo o direito a pensão integral em caso de morte de seus companheiros, só
para ficarmos em uma única medida de seu vasto "pacote"
neomonetarista. A reação à fala televisiva do governo foi restrita a pequenos
bolsões de uma elite direitista que nada tem a ver com "panelas
vazias", porém acionou o "alerta vermelho" para o PT e seu arco
político de apoio. A resposta da Frente Popular ao reacionário
"panelaço" veio em forma de um alarido desesperado que anuncia a
iminência de um "golpe de estado", muito provavelmente com a marca de
um impeachment parlamentar. Se as vozes da blogosfera "chapa branca"
já estavam em tom máximo desde a eleição do "fundamentalista" Eduardo
Cunha para comandar com mão de ferro a Câmara dos Deputados, agora com o
pequeno "desastre" político do 8 de março projetam que a tucanalha
tem todas as ferramentas para aglutinar uma maioria congressual (com a ajuda
das ratazanas pemedebistas) para depor Dilma ainda neste semestre. A esta
"corrente de pensamento" oficialista também aderiu de malas e
bagagens o PCO e seus acólitos, que chegaram até a acusar delirantemente forças
da esquerda não governista, como o MTST, de "rachar" a mobilização do
dia 13 em apoio ao governo e sua ofensiva neoliberal contra as massas. Alguns
grupelhos do PSOL mais entusiastas de uma aliança com o PT, como o RPR,
chegaram a falsificar que o MTST e MES estariam organizando um "ato
divisionista" para este dia 11 de março. Óbvio que nenhuma atividade do
MTST ocorreu hoje, porém no afã de defender a pauta governista do dia 13 vale
até atacar uma entidade combativa nos seus melhores traços políticos, ou seja, a
independência frente ao Estado burguês. Quanto a suposta posição tomada pelo
MES nem vale a pena comentar este delírio acerca dos zig-zags desta organização
oportunista, que contou com o apoio do RPR nas últimas eleições presidenciais.
Mas se estamos realmente diante de um golpe parlamentar em pleno andamento, os
apologistas da surrada tese de "juntar todos contra a direita"
teriam que nos explicar como o Congresso Nacional acaba de ratificar o veto da
presidente na questão do reajuste da tabela do imposto de renda. Não ficou só
por aí, este mesmo congresso "golpista" aprovou hoje (11) por
maioria a cínica proposta do ministro Levy de um reajuste mínimo e escalonado
para a tabela do IR, que na prática mantém o confisco sobre os salários mais baixos
dos trabalhadores. Antes de decidir sobre a tabela do IR, o Congresso manteve
outros 8 vetos presidenciais. Nas palavras do próprio líder do PMDB na Câmara,
Leonardo Picciani: "A nova MP vem ao encontro do anseio da sociedade. Foi
uma construção do PMDB com a equipe econômica do governo”. Como já afirmamos
exaustivamente este Congresso, seu núcleo mais fisiológico e corrupto, seguirá
firme apoiando o governo Dilma em sua política de favorecer rentistas e o
agro-negócio, apesar do "estardalhaço golpista" da oposição burguesa
conservadora. É verdade que a mídia "murdochiana" joga pesado na
tática do sangramento político do governo, estimulando a mobilização
reacionária do dia 15 de março. Mas a alternativa correta e proletária a marcha
da direita não serão os atos governistas do dia 13, cujo até mesmo o PT pensa
em desarmar. Nossa tarefa é a construção de uma mobilização independente deste
governo neoliberal, contando com o apoio político do MTST e de outras entidades
combativas e organizações da esquerda classista. Chamamos a combater a direita
tucana e forças golpistas desde um ângulo da classe operária e seus aliados
históricos como o campesinato e o movimento popular. Neste norte programático é
necessário organizar massivas mobilizações em defesa de uma PETROBRAS sob
controle dos trabalhadores, contra as medidas anti-operárias do governo da
Frente Popular e em defesa de nossos direitos sociais conquistados com muita
luta e sangue do proletariado. Um bom começo para por em movimento esta
plataforma classista seria uma ampla articulação dos movimentos sociais para
mobilizar nossa classe no início de abril em um dia nacional de paralisação
contra o "ajuste " neoliberal (defendido pelo PT e PSDB) que ameaça
jogar o país em uma profunda recessão econômica, com desemprego em massa,
arrocho salarial e destruição das estatais que sobrevieram a era FHC.
O pânico político que contaminou a esquerda reformista logo
após o "panelaço gourmet", prevendo o golpe de estado para as "semanas
seguintes" só se justifica na exata medida em que estas organizações estão
totalmente atreladas ao Estado burguês e completamente distantes dos setores
proletários da base mais explorada. Este é o caso do PT, PCdoB e PCO que são
financiados diretamente pelo Fundo Partidário e pela estrutura sindical oficial
(imposto sindical etc...). Por isso não temem verdadeiramente um golpe parlamentar
ou militar que obviamente não está na ordem do dia das tarefas da burguesia
nacional, o receio destes senhores é que Dilma perca o controle da situação e o
PSDB retorne ao leme do aparelho capitalista de estado eliminando assim seus
privilégios de burocratas "chapa branca". A tucanalha novamente no
comando do Planalto dará carta branca a seus próprios sindicalistas corruptos,
cortando também a verba do Fundo Partidário estatal aos pequenos partidos como
o PCO. Enfrentar a profunda polarização social que permeia o país nesta
conjuntura, com a firmeza de uma política revolucionária, nada tem a ver com
agitar o fantasma do golpe da direita para em seguida render apoio ao governo
da Frente Popular.
Mesmo supondo que estivéssemos redondamente equivocados em
nosso prognóstico político e um golpe de estado estivesse se desenhando no
horizonte, não seria com a tática defensiva de legitimar este governo
neoliberal de "esquerda" que poderíamos derrotar as forças
reacionárias. Ou por acaso estes revisionistas de hoje já se esqueceram das
trágicas lições da história deixadas pela política seguidista do PCB em relação
ao governo Jango em 1964. Naquele momento os reformistas afirmavam que as
greves operárias e mobilizações camponesas contra o governo nacionalista
burguês levavam a correnteza para a margem da direita golpista. No Nordeste do
país as combativas ações das Ligas Camponesas de Julião eram fortemente
atacadas pelo então governo de Miguel Arraes do PTB e quase sempre acusadas de
"fazer o jogo da direita". Qualquer semelhança com a prática política
atual do MTST não é mera coincidência. Não por acaso as entidades populares e
correntes revolucionárias que se negaram a chancelar a panaceia oficialista do dia
13 estão sendo taxadas de "ajudantes" dos golpistas.
Se realmente desejam lutar contra a direita e os golpistas,
no sentido mais amplo da expressão, devem começar por impulsionar o combate de
classe contra a corja de Levy e seus "chefes" rentistas que pretendem
solapar cada conquista social da classe trabalhadora e da juventude. Somente
com uma estratégia de total independência de classe frente aos atuais gestores
neoliberais do estado capitalista poderemos estimular a derrota das forças mais
sinistras que se escondem por trás do "cordão de proteção" da
oposição conservadora.