quarta-feira, 11 de março de 2015


O "golpe" político da iminência do golpe parlamentar: Uma surrada manobra que muito serve a ofensiva neoliberal

Estamos nos aproximando do dia 15 de março e a temperatura política do país subiu ainda mais desde o "panelaço" da classe média ocorrido com o pronunciamento no último dia 8 onde a presidente convocava a população para apoiar as medidas neoliberais do famigerado "ajuste". O simbolismo do dia da mulher trabalhadora foi utilizado por Dilma para a defesa de uma política que ataca conquistas históricas das mulheres, como por exemplo o direito a pensão integral em caso de morte de seus companheiros, só para ficarmos em uma única medida de seu vasto "pacote" neomonetarista. A reação à fala televisiva do governo foi restrita a pequenos bolsões de uma elite direitista que nada tem a ver com "panelas vazias", porém acionou o "alerta vermelho" para o PT e seu arco político de apoio. A resposta da Frente Popular ao reacionário "panelaço" veio em forma de um alarido desesperado que anuncia a iminência de um "golpe de estado", muito provavelmente com a marca de um impeachment parlamentar. Se as vozes da blogosfera "chapa branca" já estavam em tom máximo desde a eleição do "fundamentalista" Eduardo Cunha para comandar com mão de ferro a Câmara dos Deputados, agora com o pequeno "desastre" político do 8 de março projetam que a tucanalha tem todas as ferramentas para aglutinar uma maioria congressual (com a ajuda das ratazanas pemedebistas) para depor Dilma ainda neste semestre. A esta "corrente de pensamento" oficialista também aderiu de malas e bagagens o PCO e seus acólitos, que chegaram até a acusar delirantemente forças da esquerda não governista, como o MTST, de "rachar" a mobilização do dia 13 em apoio ao governo e sua ofensiva neoliberal contra as massas. Alguns grupelhos do PSOL mais entusiastas de uma aliança com o PT, como o RPR, chegaram a falsificar que o MTST e MES estariam organizando um "ato divisionista" para este dia 11 de março. Óbvio que nenhuma atividade do MTST ocorreu hoje, porém no afã de defender a pauta governista do dia 13 vale até atacar uma entidade combativa nos seus melhores traços políticos, ou seja, a independência frente ao Estado burguês. Quanto a suposta posição tomada pelo MES nem vale a pena comentar este delírio acerca dos zig-zags desta organização oportunista, que contou com o apoio do RPR nas últimas eleições presidenciais. Mas se estamos realmente diante de um golpe parlamentar em pleno andamento, os apologistas da surrada tese de "juntar todos contra a direita" teriam que nos explicar como o Congresso Nacional acaba de ratificar o veto da presidente na questão do reajuste da tabela do imposto de renda. Não ficou só por aí, este mesmo congresso "golpista" aprovou hoje (11) por maioria a cínica proposta do ministro Levy de um reajuste mínimo e escalonado para a tabela do IR, que na prática mantém o confisco sobre os salários mais baixos dos trabalhadores. Antes de decidir sobre a tabela do IR, o Congresso manteve outros 8 vetos presidenciais. Nas palavras do próprio líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani: "A nova MP vem ao encontro do anseio da sociedade. Foi uma construção do PMDB com a equipe econômica do governo”. Como já afirmamos exaustivamente este Congresso, seu núcleo mais fisiológico e corrupto, seguirá firme apoiando o governo Dilma em sua política de favorecer rentistas e o agro-negócio, apesar do "estardalhaço golpista" da oposição burguesa conservadora. É verdade que a mídia "murdochiana" joga pesado na tática do sangramento político do governo, estimulando a mobilização reacionária do dia 15 de março. Mas a alternativa correta e proletária a marcha da direita não serão os atos governistas do dia 13, cujo até mesmo o PT pensa em desarmar. Nossa tarefa é a construção de uma mobilização independente deste governo neoliberal, contando com o apoio político do MTST e de outras entidades combativas e organizações da esquerda classista. Chamamos a combater a direita tucana e forças golpistas desde um ângulo da classe operária e seus aliados históricos como o campesinato e o movimento popular. Neste norte programático é necessário organizar massivas mobilizações em defesa de uma PETROBRAS sob controle dos trabalhadores, contra as medidas anti-operárias do governo da Frente Popular e em defesa de nossos direitos sociais conquistados com muita luta e sangue do proletariado. Um bom começo para por em movimento esta plataforma classista seria uma ampla articulação dos movimentos sociais para mobilizar nossa classe no início de abril em um dia nacional de paralisação contra o "ajuste " neoliberal (defendido pelo PT e PSDB) que ameaça jogar o país em uma profunda recessão econômica, com desemprego em massa, arrocho salarial e destruição das estatais que sobrevieram a era FHC.

O pânico político que contaminou a esquerda reformista logo após o "panelaço gourmet", prevendo o golpe de estado para as "semanas seguintes" só se justifica na exata medida em que estas organizações estão totalmente atreladas ao Estado burguês e completamente distantes dos setores proletários da base mais explorada. Este é o caso do PT, PCdoB e PCO que são financiados diretamente pelo Fundo Partidário e pela estrutura sindical oficial (imposto sindical etc...). Por isso não temem verdadeiramente um golpe parlamentar ou militar que obviamente não está na ordem do dia das tarefas da burguesia nacional, o receio destes senhores é que Dilma perca o controle da situação e o PSDB retorne ao leme do aparelho capitalista de estado eliminando assim seus privilégios de burocratas "chapa branca". A tucanalha novamente no comando do Planalto dará carta branca a seus próprios sindicalistas corruptos, cortando também a verba do Fundo Partidário estatal aos pequenos partidos como o PCO. Enfrentar a profunda polarização social que permeia o país nesta conjuntura, com a firmeza de uma política revolucionária, nada tem a ver com agitar o fantasma do golpe da direita para em seguida render apoio ao governo da Frente Popular.

Mesmo supondo que estivéssemos redondamente equivocados em nosso prognóstico político e um golpe de estado estivesse se desenhando no horizonte, não seria com a tática defensiva de legitimar este governo neoliberal de "esquerda" que poderíamos derrotar as forças reacionárias. Ou por acaso estes revisionistas de hoje já se esqueceram das trágicas lições da história deixadas pela política seguidista do PCB em relação ao governo Jango em 1964. Naquele momento os reformistas afirmavam que as greves operárias e mobilizações camponesas contra o governo nacionalista burguês levavam a correnteza para a margem da direita golpista. No Nordeste do país as combativas ações das Ligas Camponesas de Julião eram fortemente atacadas pelo então governo de Miguel Arraes do PTB e quase sempre acusadas de "fazer o jogo da direita". Qualquer semelhança com a prática política atual do MTST não é mera coincidência. Não por acaso as entidades populares e correntes revolucionárias que se negaram a chancelar a panaceia oficialista do dia 13 estão sendo taxadas de "ajudantes" dos golpistas.

Se realmente desejam lutar contra a direita e os golpistas, no sentido mais amplo da expressão, devem começar por impulsionar o combate de classe contra a corja de Levy e seus "chefes" rentistas que pretendem solapar cada conquista social da classe trabalhadora e da juventude. Somente com uma estratégia de total independência de classe frente aos atuais gestores neoliberais do estado capitalista poderemos estimular a derrota das forças mais sinistras que se escondem por trás do "cordão de proteção" da oposição conservadora.