Um debate necessário sobre o caráter dos atos convocados
para 13 de Março
O Blog da LBI publica uma polêmica em torno de nossa posição
acerca do caráter do ato convocado pelo PT, PCdoB e CUT para o próximo dia 13
de março. Em um artigo elaborado pelo companheiro Cesar Mangolin, ex-dirigente
do PCB, "Uma nova lógica obtusa: nota rápida a partir de um texto
trotskista sobre o 13 de março" (publicado no seu Blog) este polemiza com
a posição da LBI expressa no Editorial do Jornal Luta Operária intitulado
"Nem o 6 do PSTU e tampouco o 13 do PT: Para combater a direita no dia 15
de Março é preciso organizar uma greve geral em defesa dos nossos
direitos!". Na sequência reproduzimos a resposta do camarada Roberto
Bergoci, dirigente da regional São Paulo da LBI, em que contesta as posições de
Mangolin. Cesar Mangolin foi candidato a suplente de Senador pelo PCB-SP nas
eleições de 2014 mas ao que parece rompeu com este partido acusando-o de
sectário, argumento usado de forma recorrente por diversos setores satélites da
Frente Popular também contra a LBI para justificar seu apoio "crítico"
ao governo Dilma. Mais além do artigo de Mangolin, suas posições em geral
refletem uma tendência à inflexão política pela direita que vem assumindo todo
um setor de militantes que romperam recentemente com o PCB e que hoje se sentem
atraídos pela velha política de colaboração de classes em apoio ao PT.
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Uma nova lógica obtusa: nota rápida a partir de um texto
trotskista sobre o 13 de março…
Cesar Mangolin (03.03)
Não pretendo aqui discutir qual seria a melhor opção para o
cardápio de manifestações marcadas para março, embora tenha posição sobre isso.
O que motiva o texto é apenas uma reflexão, ainda que rápida, sobre as loucuras
que vivemos… Falo das curiosas posições das organizações de esquerda diante do
ato convocado pela CUT para o dia 13 de março.
Meu ponto de apoio será um texto da LBI (pra quem não sabe,
um dos grupos trotskistas atuantes no Brasil, responsável por uma das muitas
“quartas internacionais”).
O texto tem como título “nem o 6 do PSTU, nem o 13 do PT” e
diz, em síntese, mais ou menos o seguinte: há uma “briga” (coloco entre aspas e
em itálico expressões do próprio texto) entre as organizações da esquerda sobre
as manifestações. O PSTU, que não participará das manifestações do dia 13,
convoca sua própria manifestação para o dia 06 e lhe dá o nome pomposo de um
“dia de greve geral”. O PCB anunciou que não vai “endossar” manifestações
governistas e não diz o que pretende fazer. O PCO, “travestido de
antigolpista”, participará das manifestações do dia 13. O PSOL não é citado no
referido texto. O autor do texto tem a lucidez temporária de afirmar que
“somente no país imaginário 'sonhado' pelos revisionistas do PSTU poderá
ocorrer uma greve geral de verdade no final desta semana” e reconhece que a
“divisão de forças no campo da esquerda neste momento só irá fortalecer a
direita tucana”.
Dito tudo isso, a esperança que bate no coração de qualquer
um que mantenha os pés no chão e o raciocínio lógico (mesmo que de lógica
formal!), é esperar por uma proposta unificadora, que reconhecendo os limites
conjunturais e numéricos das organizações que cita, seja capaz de propor a
participação, ao lado dos trabalhadores, das manifestações do dia 13, sabendo
defender da sanha golpista as liberdades democráticas e, ao mesmo tempo, capaz
de pressionar o governo contra medidas que afetam diretamente os trabalhadores…
Enfim, o ato convocado pela CUT terá a presença de movimentos populares
importantes (MST, MTST, CMP…), enfim, quem tem conseguido, no final das contas,
arrastar multidões às ruas. Não me parece que o MTST e o MST possam ser
tratados como meros braços do governo. Quem diz isso é a direita reacionária…
Entristece ver gente de esquerda engrossando esse coro…
Mas não… a conclusão é que “só nos resta convocar o
proletariado para boicotar as duas inócuas manifestações da esquerda reformista
(06 e 13) no sentido de apontar a necessidade de organizar um plano de lutas
das principais categorias rumo a uma greve geral de 48 horas que contemple como
eixo a derrubada das medidas provisórias palacianas e por uma política de
reposição salarial diante da crise inflacionária que se avizinha com a abrupta
elevação da cotação do Dólar em relação ao Real.”…. Ai carai...
Meeeeu!!! O sujeito deveria ser diretor de filme! Faria
sucesso, porque é capaz de tirar conclusões imprevisíveis e surpreenderia
demais seu público! Apenas me responda o seguinte: se alguém aí está em
condições para organizar um plano de lutas que nos leve a uma greve geral, por
que não fez anda? Está esperando o que??? Mesmo que seja a greve geral com
horário para começar e acabar… Parece que ninguém tem força alguma, embora o
discurso seja pomposo… Isso pode ser resultado das contradições da conjuntura
em que vivemos, sem dúvida, mas é também resultado da burrice esquerdista e
infantil que assola todas as organizações citadas. Aliás, se tivéssemos
condições de uma greve geral de 48 horas, faríamos a revolução e não
reivindicação salarial…
Mas não pára por aí, há uma conclusão triunfalista, que pelo
menos manifesta alguma preocupação com a organização da direita!
“se impõe a defenestração política destas marchas
direitistas planejadas para o dia 15, contando com a mais ampla unidade de ação
no campo da esquerda popular para esmagar a reação. Este é a melhor senda
política para reforçar o moral do proletariado, colocando sempre o norte do
programa socialista e o combate a política de colaboração de classes.” Mas, ai carai, de novo…
Não é um raciocínio maluco esse??? Mais acima, tudo indica
que vão concluir pela necessidade da unidade, contra a direita mais reacionária
e pelos direitos dos trabalhadores; daí concluem que não devem participar nem
de uma, nem de outra manifestação; por fim, conclamam a unidade da esquerda por
um programa minimo que reforce “o moral” (?????) do proletariado, seja lá o que
isso queira dizer…
Vou parar por aqui… Quem tem um tanto de bom senso ainda,
pense um pouco nessa loucura toda e nessas organizações muito boas em
lançar “notas políticas” e nada mais…
Deixemos que os mortos enterrem seus mortos…
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Um tendência à capitulação
diante do PT
Roberto Bergoci (06.03)
Caro camarada Cesar, saudações! Gostaria também de fazer um
bem breve comentário sobre sua nota rápida, acerca do editorial da LBI.
Primeiramente gostaria de frisar que percebo em seu texto, um certo preconceito
infantil contra o que se convencionou chamar de “Trotskysmo” (lhe convido com todo
respeito e sem nenhum tipo de lirismo, a estudar da própria fonte a obra
continuadora do verdadeiro bolchevismo de Leon Trotsky); além de um certo
desprezo pela defesa da reconstituição de uma internacional comunista, tão cara
a nossos heroicos camaradas que nos antecederam. Também percebo que em seu
texto, há uma clara proposta em se articular no país, uma espécie de “frente
única” para defender o PT de um “iminente” golpe articulado pela burguesia
nacional comandada pelo imperialismo. No entanto, você – assim como boa parte
de setores da esquerda nacional – não percebe que na prática quem vem impondo a
verdadeira política da direita e do capital financeiro, dando um verdadeiro
golpe contra os trabalhadores e os pobres do país, é justamente a burocracia
petista; fato patente e incontestável, quando por exemplo nos deparamos com uma
política econômica ultra monetarista bem a estilo da Troika, levada adiante por
um “Chicago Boy”, que parece ser o “chefe” do governo. Além de que, a formação
ministerial do governo “Dilmista” e seu caráter direitista, contra
revolucionário e pró-imperialista, é de fazer inveja a bandidos do naipe de FHC
e C&A (fato também incontestável). Um governo com características
singulares como o do PT, onde se mescla em seu corpo ministerial banqueiros,
industriais, latifundiários, dirigentes traidores de movimentos sociais,
burocratas sindicais e etc., é indispensável ao capital em crise sobretudo
neste momento, visto que pelo seu peso no movimento operário e o papel que
cumpre de traidores e burocratas cooptados por migalhas do Estado burguês,
mantém amarrados os trabalhadores facilitando assim o caminho para os ataques
patronais; há uma necessidade imperativa do capital mundial em rebaixar de
forma aguda o nível de vida das massas trabalhadoras em todo o globo, como
única forma deste compensar a queda na taxa de lucro que se acentuou nos
últimos anos (não coloco dados aqui pelo caráter rápido e limitado deste
comentário),bem como para este sistema senil dar um impulso a sua economia mundial
anêmica que mantém atualmente um nível de crescimento muito baixo e em grande
medida especulativo, além de que o capitalismo atual se caracteriza pela busca
rápida e imediata de lucro através dos mercados financeiros bursáteis, o que se
põe na ordem do dia, pela ótica do capital, a necessidade do aprofundamento de
políticas ultra neoliberais sob hegemonia e supervisão dos financistas
mundiais, o que Dilma através do banqueiro Levy leva adiante e azeita ainda
mais. Nestas condições, não seria muito lógico pela parte da direita (mesmo a
lógica formal) se aventurar numa empreitada golpista contra um governo que,
além de aplicar à risca a mesmíssima política dos tucanalhas, possui uma base
social enorme e muito forte, num contexto em que o PT ainda não queimou
consideravelmente seu capital político e controla diretamente setores de peso
do movimento operário e de massas como por exemplo a CUT, MST e UNE, fato que
poderia resultar em uma profunda desestabilização política e social que
abalaria profundamente a acumulação capitalista no país. Além de que, a direita
nacional carece de quadros políticos fortes com condições de estabilizar a
situação convulsionada decorrente de um golpe contra um partido como o PT
dentro de um contexto de ataques econômicos e políticos aberto às massas; e
essa carência de quadros direitistas se manifesta na profunda crise de todos os
partidos burgueses no Brasil, o que os leva a recorrerem aos burocratas
petistas para gerenciarem seu Estado. O que parece no momento, é que a burguesia
nacional e sua imprensa, sob ordens imperiais, tem como “tática” sangrar o PT
até sua morte, levando estes reformistas (sem reformas) a se desgastarem
aplicando religiosamente toda a política econômica da direita arrochando
qualitativamente o padrão de vida do proletariado nacional e toda classe dos
trabalhadores, abrindo assim a porteira para o retorno dos bandidos do PSDB
(provavelmente, visto que os prognósticos não são em absoluto uma equação
matemática) à gerenciarem diretamente seu estado, sem intermediação dos
serviçais burocratas. Por outro lado, também não podemos descartar no futuro a
possibilidade de um golpe, mas tudo dependerá do que ocorrer na arena da luta
de classe, visto que se a guerra de classe se recrudescer, e Dilma for incapaz
de levar adiante o que lhe exige o capital financeiro a burguesia e o
imperialismo sem duvida a descartará e não levará em conta todo serviço
prestado pelo PT em lhes servir. Disso tudo companheiro, com todo respeito vejo
em sua polêmica com a LBI, uma tendência à capitulação diante do PT, assim como
vem fazendo boa parte da esquerda do país, desde a Causa Operária, passando
pelo MST e etc.; política que na pratica põe uma camisa de força aos
trabalhadores e promove uma verdadeira confusão entre as massas, paralisando-as
diante da gravidade dos ataques petistas contra as conquistas operárias.
Fraternalmente!
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Cesar Mangolin (07.03)
Meu camarada, agradeço a leitura do meu texto e sua crítica.
Respeito suas posições, mas bem sabe que divergimos em quase tudo da análise
que faz, em particular a que tenta definir a tática para este momento. Conheço
bem (o suficiente) a obra de Trotsky e pode ter certeza de que não desprezo a
luta de ninguém. Enfim, isso não faz de nós, evidentemente, inimigos. Sigamos
na luta! grande abraço!