segunda-feira, 16 de março de 2015


É hora de defender o governo Dilma frente ao ascenso da reação?
Os principais balanços políticos da esquerda sobre manifestações de ontem já estão publicados, havendo "análises" para todos matizes da conjuntura segundo a ótica programática de cada corrente. As avaliações permeiam desde a miopia de ignorar o peso dos atos como fez o PCO ("meia dúzia de coxinhas") até mesmo projetar uma "marcha golpista" dirigida pela "extrema-direita" como afirmou o PCdoB. Em comum estes balanços padecem do mesmo "mal" político: a profunda subordinação ao governo burguês da Frente Popular. Para o reformismo de "esquerda e direita" o momento é de defesa do regime democrático, supostamente ameaçado pela iminência de um golpe de estado. Não pretendemos de forma alguma minimizar a dinâmica conservadora que tomou conta do país com as grandes manifestações do último domingo protagonizadas de forma hegemônica por setores reacionários da classe média urbana. Porém a situação atual logo impõe uma analogia histórica, como ocorreu em 64, estamos diante de uma mobilização golpista contra um governo que ameaça "ferir" algum interesse econômico da burguesia ou do imperialismo? O frágil governo Jango foi alvo de uma conspiração cívico- militar justamente porque pretendia promover "reformas de base" que desagradavam o latifúndio e o imperialismo. Seu projeto de estabelecer o controle sobre a remessa de lucros das empresas multinacionais instaladas no país recebeu uma "sentença de morte" vinda de Washington. Já a reforma agrária proposta por Jango, mesmo passados 50 anos, era bem mais ousada do que todos os assentamentos realizados em 12 anos de governos do PT, atraiu o ódio declarado da burguesia agrária. Apesar de seu caráter nacionalista burguês em pouco mais de dois anos de governo, Jango promoveu pequenos avanços sociais que "decretaram" sua "sentença de morte", proferida pela elite dominante apoiada pela Casa Branca. As reacionárias marchas da "família" contra Jango se assemelham sim aos atos do dia 15, mas seus objetivos finais são distintos. Enquanto em 64 se organizava a "céu aberto" um golpe de estado, com o aval das FFAA e do parlamento, hoje as mobilizações da direita guardam um caráter "institucional" do próprio regime democratizante, um temido "terceiro turno" eleitoral nas palavras da esquerda "chapa branca". Dilma não ameaça nenhum interesse da burguesia nacional ou do capital financeiro, ao contrário, seu governo está inteiramente dedicado a servir estes segmentos. Seu segundo mandato está voltado a reestabelecer os vínculos comerciais do Brasil com os EUA, a agenda de uma reunião com Obama em abril é uma das demonstrações desta inflexão. Não venham nos dizer agora que impulsionar o consumo e crédito das classes "C e D" nestes últimos dez anos é algo que "enfureceu" a burguesia levando a preparação de um golpe de estado. É bem verdade que estes mesmos setores da "classe média alta" que ganharam muito dinheiro com as gestões petistas exigem hoje ensandecidas o impeachment da presidente, conclamando o Congresso Nacional a desferir um "golpe parlamentar". Sob a roupagem do "combate a corrupção" outorgam aos piores corruptos da história do país, a tucanalha, a tarefa de se "livrar do PT" pela via da pressão parlamentar. A linha política da burguesia de conjunto não é a do golpe de estado, incluindo a mídia corporativa, mas a de sustentar nas cordas o governo diante do encurralamento social, estimulando ao máximo seu "sangramento" seja no Congresso ou nas mobilizações de rua que tendem a crescer ainda mais. Por seu turno o comando do governo "pactuou" com a burguesia esta orientação defensiva, ou seja, absorveu as manifestações do dia 15 como uma "expressão democrática" e anunciou que seguirá inflexível com a política do "ajuste" contra as massas. Para os Marxistas Revolucionários não se trata de perfilar, em unidade de ação, com o governo burguês contra a falácia de um golpe de estado em marcha. Também não se coloca a defesa em geral do regime democrático supostamente ameaçado por uma conspiração militar. Caso estivessem postos estes elementos na conjuntura, como estiveram em 64, não hesitaríamos em momento algum de impulsionar uma frente única com o governo Dilma contra o golpe e imperialismo. Porém a situação nacional aponta em outra direção, este governo segue contando com o apoio "crítico" do imperialismo para implementar as "contra-reformas" impostas pelo capital financeiro internacional. A plataforma de lutas do movimento operário deve se concentrar em derrotar o "ajuste" pela via da ação direta dos explorados.

Muitos companheiros classistas que anseiam por esmagar a direita podem questionar nossa caracterização de que a burguesia não planeja um golpe imediato contra Dilma, apoiando-se no fato das manifestações estarem cheias de cartazes reivindicando a volta do regime militar. Além deste elemento "simbólico" é absolutamente certo afirmar que grupos fascistas organizados povoaram os atos do último dia 15. Porém seria um equívoco atribuir a política geral da burguesia a estes comandos neofascistas. Nós da LBI fomos a primeira corrente na esquerda nas Jornadas de Junho de 2013 a alertar sobre a hegemonia de bandos reacionários e anticomunistas neste processo, quando todo o revisionismo em uníssono declarava estar ocorrendo uma "revolução no país"... Agora não menosprezamos a presença da direita golpista nas marchas, ao contrário, convocamos o defenestramento político da reação disfarçada de movimentos contra a corrupção. Porém não podemos confundir a estratégia do imperialismo neste momento para o Brasil com o delírio golpista de bandos simpáticos ao nazismo. Mas a verdade deve ser dita para além do impressionismo "chapa branca", não estamos na iminência do golpe de estado, os atos do dia 13 de março de 2015 foram bem diferentes em seu conteúdo político do grande ato da Central do Brasil realizado em 13 de março de 1964. No primeiro caso as entidades governistas (CUT/ CTB) chamaram o povo para apoiar o "ajuste" fiscal do capital financeiro, no segundo o CGT convocou as massas na defesa das "Reformas de Base", como a estatização das refinarias ianques, desapropriação de terras e confisco de parte do lucro das multinacionais. Com esta plataforma, mesmo que restrita a ordem vigente, Jango teria que se preparar para um golpe das classes dominantes o que desgraçadamente não aconteceu.

Diante do cerco social inexoravelmente imposto pelo dia 15, o patife Levy em mais uma reunião com grandes empresários frisou que é "preciso acelerar o ajuste", enquanto Dilma ainda reúne condições de governabilidade. Para esta "missão suja" (ordenada desde Wall Street) o calhorda ainda afirmou que é "necessário ter coragem", chamando para si a condução econômica do governo petista. Já os ministros patetas originários do PT, Rosseto e Cardoso, pensam enganar tolos prometendo enviar ao Congresso um pacote para "acabar com a corrupção" no país. A anturragem Dilmista está convicta de que sua tarefa "gerencial" neste novo mandato é mesmo preparar uma "transição democrática" para a oposição Demo-Tucana retornar ao Planalto em 2018. Para isso não medirá esforços, desnacionalizando a economia (quebra parcial da Petrobras e abertura do que resta de reserva de mercado) provocando portanto a maior recessão dos últimos 15 anos no Brasil. Todavia não está descartada um encurtamento do calendário institucional, sob intensa pressão Dilma pode até mesmo renunciar ante enfrentar o início de um processo de impeachment. É importante ressaltar para os chantagistas da Frente Popular que mesmo que se avance no médio prazo em uma manobra parlamentar do impedimento, após o "sangramento" total, a burguesia nacional não está disposta a romper com a ordem institucional democratizante, já que o PT não ameaça o "Status Quo" do regime de propriedade da burguesia nacional.

Não por coincidência são estes mesmos chantagistas cooptados pelos "favores" do governo, que pregam a formação de uma "frente única com o PT contra o fascismo", espertamente alardeando que o golpe de estado está dobrando a esquina...A classe operária precisa sim constituir uma frente de ação, mas não com Levy, Dilma e o PT. É necessário galvanizar as organizações de massa independentes (ou mesmo parcialmente autônomas), a esquerda revolucionária e classista, as combativas entidades populares e da juventude para a imediata organização de uma frente de luta direta contra o "ajuste" do imperialismo e a direita fascista. Neste campo da barricada serão inclusive muito bem vindos setores do PT e da CUT que venham a se desprender da falência política do governo Dilma e da liderança lulista, incapazes de esboçar a mínima reação progressista diante do isolamento social a que estão submetidos.