sexta-feira, 13 de março de 2015


MTST: “Só sairemos às ruas para defender os direitos dos trabalhadores, ameaçados pela austeridade neoliberal de Dilma e pelos ataques direitistas de Alckmin, não usamos a chantagem do ‘golpe’ para conciliar com o capital”

O jornal Luta Operária entrevistou nesta quinta-feira, 12 de março, a companheira Jussara Besso, coordenadora estadual de São Paulo do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na ocupação Nova Palestina, localizada no bairro do Capão Redondo, zona sul da cidade. A Nova Palestina é segundo Jussara, a maior ocupação do MTST hoje no Brasil e, possivelmente, a maior ocupação urbana da atualidade na América latina, contendo aproximadamente 5 mil famílias em uma área de 1 milhão de metros quadrados. Na entrevista, a companheira faz uma análise da atual conjuntura política nacional, marcada pela pela pressão do imperialismo, do capital financeiro, da burguesia nacional e de setores da classe média “paneleira” sobre a Frente Popular, para que seja levado a fundo contra os trabalhadores uma verdadeira cruzada neomonetarista aos moldes da troika visando suprimir os direitos operários. Este ajuste já vem sendo imposto duramente às massas pelas mãos do ministro Joaquim Levy, através das MP’s 664 e 665, do aumento do custo de vida dos trabalhadores, bem como o reajuste na tabela do Imposto de Renda que afetará mais duramente os menores salários. Jussara também criticou duramente os setores da “esquerda” chapa branca e satélites da Frente Popular, que espantados pelo fantasma “golpista”, não fazem mais que capitular vergonhosamente diante da gerência neoliberal petista, além de promoverem uma criminosa deseducação política entre as massas trabalhadoras, desorientando-as acerca de sua tarefa central do momento, que é justamente dar combate aos ataques pró-imperialistas de Dilma e da direita. Estes grupos vem nos últimos dias atacando a correta linha política do MTST, de boicote ao ato petista do dia 13M e em defender uma verdadeira luta classista e independente contra Dilma e a direita nacionalmente, como já vem fazendo ocupando o Ministério das Cidades, em Brasília, dirigido pelo facínora Gilberto Kassab (PSD). 

Coordenadora do MTST, Juçara Bessa (ao centro, de preto), junto a companheiros da
ocupação Nova Palestina, entrevistada por Roberto Bergoci, do Jornal Luta Operária 

Jornal Luta Operária- Qual a posição do MTST sobre os atos que ocorrerão neste dia 13 de março em diversas regiões do país defendendo o governo Dilma?
Jussara Besso- Nossa posição é de que, este não é um governo dos trabalhadores e cumprindo ordens do grande capital já vem atacando as massas através das políticas de austeridade, o que resultará em mais desemprego, miséria e falta de condições dignas de vida para nosso povo.

JLO- Então o MTST não participará dos atos?
JB- Não participaremos, pois não tem cabimento que organizações de luta da nossa classe defenda um governo que aplica justamente a mesma política econômica da direita racista, de arrocho contra os trabalhadores. É só vermos o conteúdo das medidas de Levy, para nos certificarmos que se trata de um governo que não possui grandes diferenças consideráveis em relação ao PSDB. Não apoiaremos nenhum tipo de mobilização da direita, mas também não defenderemos este governo que ataca a população mais pobre.

JLO- E como você vê esses diversos coletivos de “esquerda” no país impressionados pela pressão da direita sobre o PT, e que acabam capitulando facilmente? 
JB- Na verdade vejo como produto de ignorância política ou oportunismo.

JLO- Você acompanhou as críticas de alguns grupos ao MTST, por não participar dos atos do dia 13 de março? Eles os chamaram de “divisionistas”!
JB- Não cheguei a ver não, mas é vergonhoso a posição destes grupos, pois perdem toda a independência de classe ao defenderem na prática, um governo que aplica a mesma política da direita. Só sairemos às ruas para defender os direitos dos trabalhadores, ameaçados pela austeridade neoliberal de Dilma e pelos ataques direitistas de Alckmin, não usamos a chantagem do golpe para conciliar com o capital!

JLO- Como o MTST encara a atual crise hídrica do estado de SP?
JB- O governo Alckmin vem descarregando todo o peso desta crise sobre os ombros da população periférica que sempre é quem paga os desmandos do capital. Na verdade o que ocorre é que Alckmin está comprometido com os lucros dos acionistas da Sabesp e corta os investimentos em infra-estrutura que resolveria em parte o problema. Além de que, enquanto os bairros periféricos sofrem com as constantes falta de água e seus moradores pagam preços abusivos das contas e multas absurdas por um eventual “excedente” de uso, Alckmin garante a grandes empresas, condomínios de luxo e shoppings centers da alta burguesia descontos de 75%, através do contrato de demanda, onde na prática quem aumenta o consumo de água tem maiores descontos na conta, um crime contra os trabalhadores pobres.

JLO- E como vê a atual política de habitação no país?
JB- Não há política de habitação séria, os déficits habitacionais são enormes, os espaços urbanos controlados por grandes proprietários e impera a criminalização dos movimentos de luta por moradia, além da febre das reintegrações de posse contra as ocupações.

JLO- E como vê nas cidades as políticas de criminalização da pobreza, percebi por exemplo, quando chegava aqui na região, uma espécie de militarização total do espaço?
JB- Na verdade vivemos nos grandes centros urbanos, um verdadeiro período de higienização social imposto pela especulação imobiliária em busca da valorização de seus empreendimentos cada vez mais concentrados. Aqui por exemplo, somos constantemente ameaçados pela polícia, já teve caso inclusive de invasão policial dentro da ocupação para claramente nos intimidar. O terreno era de um magnata e provavelmente agem a serviço dele. 

JLO- Como você vê a possibilidade de uma articulação dos movimentos sociais no país, apesar do recrudescimento do regime político?
JB- Os movimentos sociais vem numa crescente, apesar do processo sistemático de criminalização, os movimentos estão combatendo e intransigentemente lutaremos contra esse sistema injusto, gerador de miséria.