MTST: “Só sairemos às ruas para defender os direitos dos
trabalhadores, ameaçados pela austeridade neoliberal de Dilma e pelos ataques
direitistas de Alckmin, não usamos a chantagem do ‘golpe’ para conciliar com o
capital”
O jornal Luta Operária entrevistou nesta quinta-feira, 12 de
março, a companheira Jussara Besso, coordenadora estadual de São Paulo do
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na ocupação Nova Palestina,
localizada no bairro do Capão Redondo, zona sul da cidade. A Nova Palestina é
segundo Jussara, a maior ocupação do MTST hoje no Brasil e, possivelmente, a
maior ocupação urbana da atualidade na América latina, contendo aproximadamente
5 mil famílias em uma área de 1 milhão de metros quadrados. Na entrevista, a
companheira faz uma análise da atual conjuntura política nacional,
marcada pela pela pressão do imperialismo, do capital financeiro,
da burguesia nacional e de setores da classe média “paneleira” sobre a Frente
Popular, para que seja levado a fundo contra os trabalhadores uma verdadeira
cruzada neomonetarista aos moldes da troika visando suprimir os direitos
operários. Este ajuste já vem sendo imposto duramente às massas pelas mãos do
ministro Joaquim Levy, através das MP’s 664 e 665, do aumento do custo de vida
dos trabalhadores, bem como o reajuste na tabela do Imposto de Renda que afetará mais
duramente os menores salários. Jussara também criticou duramente os
setores da “esquerda” chapa branca e satélites da Frente Popular, que espantados
pelo fantasma “golpista”, não fazem mais que capitular vergonhosamente diante
da gerência neoliberal petista, além de promoverem uma criminosa deseducação
política entre as massas trabalhadoras, desorientando-as acerca de sua tarefa
central do momento, que é justamente dar combate aos ataques pró-imperialistas de Dilma e da direita. Estes grupos vem nos últimos dias atacando a correta
linha política do MTST, de boicote ao ato petista do dia 13M e em defender uma
verdadeira luta classista e independente contra Dilma e a direita
nacionalmente, como já vem fazendo ocupando o Ministério das Cidades, em Brasília, dirigido
pelo facínora Gilberto Kassab (PSD).
Coordenadora do MTST, Juçara Bessa (ao centro, de preto), junto a companheiros da ocupação Nova Palestina, entrevistada por Roberto Bergoci, do Jornal Luta Operária |
Jornal Luta Operária- Qual a posição do MTST sobre os atos
que ocorrerão neste dia 13 de março em diversas regiões do país defendendo o
governo Dilma?
Jussara Besso- Nossa posição é de que, este não é um governo
dos trabalhadores e cumprindo ordens do grande capital já vem atacando as
massas através das políticas de austeridade, o que resultará em mais
desemprego, miséria e falta de condições dignas de vida para nosso povo.
JLO- Então o MTST não participará dos atos?
JB- Não participaremos, pois não tem cabimento que
organizações de luta da nossa classe defenda um governo que aplica justamente a
mesma política econômica da direita racista, de arrocho contra os
trabalhadores. É só vermos o conteúdo das medidas de Levy, para nos certificarmos
que se trata de um governo que não possui grandes diferenças consideráveis em
relação ao PSDB. Não apoiaremos nenhum tipo de mobilização da direita, mas
também não defenderemos este governo que ataca a população mais pobre.
JLO- E como você vê esses diversos coletivos de “esquerda”
no país impressionados pela pressão da direita sobre o PT, e que acabam
capitulando facilmente?
JB- Na verdade vejo como produto de ignorância política ou
oportunismo.
JLO- Você acompanhou as críticas de alguns grupos ao MTST,
por não participar dos atos do dia 13 de março? Eles os chamaram de
“divisionistas”!
JB- Não cheguei a ver não, mas é vergonhoso a
posição destes grupos, pois perdem toda a independência de classe ao defenderem
na prática, um governo que aplica a mesma política da direita. Só sairemos às
ruas para defender os direitos dos trabalhadores, ameaçados pela austeridade
neoliberal de Dilma e pelos ataques direitistas de Alckmin, não usamos a
chantagem do golpe para conciliar com o capital!
JLO- Como o MTST encara a atual crise hídrica do estado de
SP?
JB- O governo Alckmin
vem descarregando todo o peso desta crise sobre os ombros da população
periférica que sempre é quem paga os desmandos do capital. Na verdade o que
ocorre é que Alckmin está comprometido com os lucros dos acionistas da Sabesp e
corta os investimentos em infra-estrutura que resolveria em parte o problema.
Além de que, enquanto os bairros periféricos sofrem com as constantes falta de
água e seus moradores pagam preços abusivos das contas e multas absurdas por um
eventual “excedente” de uso, Alckmin garante a grandes empresas, condomínios de
luxo e shoppings centers da alta burguesia descontos de 75%, através do contrato
de demanda, onde na prática quem aumenta o consumo de água tem maiores
descontos na conta, um crime contra os trabalhadores pobres.
JLO- E como vê a atual política de habitação no país?
JB- Não há política de habitação séria, os déficits habitacionais são enormes, os espaços urbanos controlados por grandes
proprietários e impera a criminalização dos movimentos de luta por moradia,
além da febre das reintegrações de posse contra as ocupações.
JLO- E como vê nas cidades as políticas de criminalização da
pobreza, percebi por exemplo, quando chegava aqui na região, uma espécie de
militarização total do espaço?
JB- Na verdade vivemos nos grandes centros urbanos, um
verdadeiro período de higienização social imposto pela especulação imobiliária
em busca da valorização de seus empreendimentos cada vez mais concentrados.
Aqui por exemplo, somos constantemente ameaçados pela polícia, já teve caso
inclusive de invasão policial dentro da ocupação para claramente nos intimidar.
O terreno era de um magnata e provavelmente agem a serviço dele.
JLO- Como você vê a possibilidade de uma articulação dos
movimentos sociais no país, apesar do recrudescimento do regime político?
JB- Os movimentos sociais vem numa crescente, apesar do
processo sistemático de criminalização, os movimentos estão combatendo e
intransigentemente lutaremos contra esse sistema injusto, gerador de miséria.