Merkel no seu terceiro
mandato: Ditadura do neoliberalismo ou paraíso da democracia?
No último domingo, 22 de
setembro, a chanceler conservadora alemã Angela Merkel foi reeleita para seu
terceiro mandato consecutivo através da coalizão “União” formada pela União
Democrata-cristã (UDC), a Democracia Cristã (CDU) e a União Social-cristã (CSU).
A “União” obteve 41,5%, contra 25,7% da PSD (Social Democracia), o que lhe
conferiu 311 assentos no Bundestag (Parlamento) do total de 630. Em que pese a
vitória, a coalizão de Merkel não atingiu a maioria, sendo obrigada a
“negociar” com a oposição. Os Verdes receberam 8,3% dos votos, a esquerda “Die
Linke” 8,6%. Como não poderia deixar de ser, a mídia “murdochiana” e o
“mercado” internacional logo aplaudiram efusivamente a reeleição da Sra.
Merkel, a qual na verdade foi cimentada na dura política de austeridade e a
custa do enorme sacrifício do proletariado alemão que vem pagando a conta da
crise financeira que abala o Velho Continente. Os severos anos de “ajuste”
visando dar estabilidade ao Euro através do férreo controle do Banco Central
Europeu (BCE) favoreceram de forma significativa os ganhos de uma classe média
extremamente conservadora e o incremento dos lucros das grandes empresas e
banqueiros como há muito não acontecia, setores dos quais vieram o grosso dos
votos. A Alemanha, diferentemente dos outros países europeus que entraram em
ebulição social devido à crise econômica, passou praticamente incólume ao mesmo
processo. Espanha, Portugal, Grécia, Itália, Irlanda foram obrigados a recorrer
aos fundos do Euro controlados pela Alemanha, possibilitando que em plena crise
econômica europeia conseguisse alçar voos maiores em cima da “desgraça de seus
parceiros” no Continente. Em comum Merkel e os governos europeus tem a drástica
espoliação de seus proletariados que em função da política neoliberal foram com
o passar dos anos sendo subtraídos de direitos e conquistas, cristalizando
governos cada vez mais ditatoriais como o atual que tende a aprofundar os
ataques à classe trabalhadora alemã e europeia com a ajuda dos socialdemocratas
no período que se avizinha.
Evidentemente que estando a serviço dos rentistas europeus, a imprensa mundial tratou de ungir a Sra. Merkel como uma das “pessoas mais importantes do mundo”, o pastelão Der Spiegel, por exemplo, chega ao ponto de afirmar que ela atua como a “Mutti” (mãe) dos alemães. A reacionaríssima The Econonomist declarou que a vitória da UDC “é a melhor opção não só para a Alemanha, mas para a Europa inteira”, louvando um suposto autêntico “paraíso” democrático a ser aberto! Mas a verdade é bem outra. Trata-se da continuidade de um regime político que em décadas vem se fechando após a queda do Muro de Berlim articulado desde as obscuras salas do Pentágono e da CIA como parte integrante do processo de destruição da ex-URSS e os Estados operários do Leste europeu. A ascensão do neoliberalismo na política econômica mundial através de Reagan e Thatcher na década de 80 foi marcada pela destruição do “estado de bem estar social” (saúde, previdência social, educação, moradia, corte nos gastos públicos etc.) nas potências capitalistas e posteriormente estendido para as semicolônias. O curso à direita dos países europeus não tem sido propriamente uma novidade para os marxistas revolucionários, que previram estas tendências ante as análises catastrofistas dos revisionistas do trotskismo. Antes mesmo das últimas eleições, já nas provinciais da Baviera, o estado mais rico do país, a CSU – União Social Cristã, aliada da conservadora União Democrata Cristã de Merkel – representante da extrema-direita obteve uma vitória esmagadora sobre seus oponentes (o SPD ficou com 20,6% e os Verdes, com 8,6%, os demais nem conseguiram superar a “cláusula de barreira”).
A reeleição de Merkel
repete a lei férrea da luta de classes, ou seja, se não há uma direção
revolucionária com peso de massas nas lutas de resistência que abalaram a
Europa durante um determinado período, a tendência era não só que a burguesia
utilizasse a crise econômica para incrementar sua investida contra as
conquistas operárias em todo o planeta, mas que esta situação abriria uma etapa
política de ascensão de governos de direita ou extrema-direita nos países mais
castigados pela débâcle financeira, ao contrário do que afirmara a esquerda
revisionista do trotsquismo, que o Velho Continente estava “à beira da revolução”.
Nas explosões sociais que ocorreram principalmente na Espanha e Grécia, a
característica marcante foi a ausência da classe operária enquanto agente de
transformação e enfrentamento com o regime capitalista, tarefa que as “novas
vanguardas” como os outrora bajulados (pelos calhordas da LIT, CMI, PTS, PO)
“Indignados” e o “Ocuppy”, fracassaram retumbantemente e acabaram por
conduzi-los à completa diluição nos movimentos de direita e seu consequente
desaparecimento.
Já na Alemanha, a
direita representada pela UDC ganhou, mas como a “União” não atingiu a maioria
do Bundestag, certamente terá que governar negociando com a “oposição”
comandada pelos sociais-democratas (SPD). Obviamente esta aliança se dará no
sentido de implementar e aprofundar as medidas neoliberais iniciadas desde a
queda contrarrevolucionária do Muro de Berlim, não sob as formas da “Grande
Coalizão” edificada no primeiro mandato de Merkel, mas em questões chaves
acerca da economia alemã e europeia em se tratando da defesa dos interesses do
grande capital industrial e financeiro. O aprofundamento da política de forte
corte orçamentário em gastos sociais, a elevação da taxa de desemprego e
aumento do déficit fiscal com a concessão de subsídios tributários a grandes
empresas será a tônica desta “nova” gestão como produto da velha receita
neoliberal, claro com a mão de ferro de um regime de exceção, ou seja, através
de uma ditadura do capital, ao contrário de um suposto “paraíso democrático”
tal como cinicamente tem apresentado a mídia “murdochiana” em seus pastelões. A
velha Europa não consegue superar a recessão econômica iniciada em 2009 e à
exceção dos centros imperialistas como Alemanha, caminha para completar uma
década de regressão em suas forças produtivas. A única vereda para superar a
agonia do capital e a barbárie social que dela decorre é a via da revolução
socialista e a demolição violenta da atual sociedade de classes e edificar
sobre seus escombros um novo modo de produção, o socialismo.