Dilma na ONU: enquanto critica espionagem ianque, negocia entrega do país aos trustes econômicos
norte-americanos!
Jogo de Cena. Assim pode
ser analisado o discurso da presidente Dilma Rousseff na Assembleia Geral da
ONU que ocorreu nesta terça-feira, 24 de setembro. Sua fala dedicou-se à
denúncia da espionagem promovida pela Casa Branca via suas agências de
inteligência CIA/NSA. No máximo, propôs que a ONU fiscalizasse o monitoramento
de informações pelos EUA, ou seja, nada de concreto. Abordou a espionagem que
atingiu a comunicação oficial da presidente e também a Petrobras, entretanto
não propôs romper relações comerciais ou mesmo suspender leilões petrolíferos
de áreas espionadas, como o do Campo de Libra marcado para 21 de outubro. Tão
logo saiu da sede da ONU Dilma e seu staff foram encontrar-se com
representantes do governo Obama e empresários ianques para “fechar negócios”...
ou melhor, negociatas. Nesta quarta-feira Dilma dedicará sua agenda para
“assegurar a investidores norte-americanos que o comércio bilateral não será
afetado pelo mal-estar entre os dois países”. A gerentona petista discursará em
um seminário sobre oportunidades de investimentos no Brasil, promovido pelo
banco norte-americano Goldman Sachs (que representa os especuladores piratas
ianques que saqueiam a economia nacional) e falará sobre oportunidades de
negócios na área de infraestrutura às vésperas da Copa do Mundo e das
Olimpíadas... ou seja, a semicolônia continua de braços abertos para a rapina
do “Tio Sam”. Ao mesmo tempo em que joga para a mídia (de olho nas eleições de
2014), criticando o “ataque a soberania brasileira”, Dilma deixou claro que a
relação amistosa com o imperialismo ianque não deve ser afetada
substancialmente, mesmo sabendo que é Marina Silva a mais nova aposta da Casa
Branca para o Brasil, patrocinada pelos “verdes” dólares da oligarquia
financeira.
O assessor da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, e o embaixador do Brasil em Washington, Mauro Vieira, afirmaram que o governo do PT quer preservar os “interesses comuns” entre Brasil e EUA: “A situação comercial não muda. São questões paralelas [as desavenças políticas e a relação econômica]”, disse Marco Aurélio Garcia. “Temos muitos interesses em comum e isso permanece. Não será afetado”, enfatizou o embaixador do Brasil em Washington. Além de Dilma, a equipe econômica do governo e presidentes de bancos públicos brasileiros estarão no evento desta quarta com investidores estrangeiros, inclusive o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. O seminário desta quarta será aberto com um discurso do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que apresentará dados sobre a expectativa econômica do Brasil e as oportunidades de investimentos em obras de rodovias, aeroportos e ferrovias. O ministro já se encontrou, enquanto Dilma discursava, com presidentes de grandes fundos de investimentos para apresentar as perspectivas de aplicação de recursos no país. “Estamos convidando investidores a participar de investimentos em infraestrutura. A infraestrutura vai puxar a economia brasileira”, disse Mantega após a reunião. Antes, Dilma já havia se reunido com o presidente da Telefônica, Carlos Izuel. Entre quinta (25) e sexta (27), o ministro de Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, irá se reunir com o Secretário de Estado norte-americano, John Kerry, para tratar das ações de espionagem dos EUA, como mais um capítulo do teatro montado para enganar tolos, tanto que na sua fala na ONU Dilma anunciou “propostas para o estabelecimento de um marco civil multilateral para a governança e uso da internet” em nível mundial visando a “uma efetiva proteção dos dados”.
Como se vê, não há
resultados práticos no adiamento da viagem que Dilma iria fazer em outubro para
os EUA como chefe de Estado. Cancelar viagens, jantares e rapapés não soluciona
a situação obviamente. Dilma deveria romper o acordo militar com os EUA e
suspender imediatamente o leilão do Campo de Libra que, se já era vergonhoso,
agora é mais ainda, com a descoberta da espionagem à Petrobras. Na ONU, a
presidente Dilma fingiu-se de indignada e cobrou mais uma vez explicações do
governo ianque, mas sua reação não teve qualquer desdobramento concreto, porque
esta relação de servilismo é própria do papel semicolonial que o Brasil assume
na divisão internacional do trabalho e do comércio mundial. Obama, que
discursou logo depois da presidente Dilma, sequer tocou no assunto da
espionagem e dedicou integralmente em sua fala a atacar a Síria e o Irã, alvos
da ofensiva bélica ianque no próximo período. O que o governo Dilma deveria
fazer diante do escândalo da espionagem ianque que teve como alvo a própria
presidente era suspender as relações comerciais e diplomáticas com os EUA e
romper imediatamente todos os acordos firmados de cooperação policial e de “inteligência”
com os EUA, sob pena da completa desmoralização nacional. Entretanto, como
vimos na sua apresentação na assembleia na ONU e negócios (entrega) que estão
sendo fechados em Nova York, a frente popular seguirá fingindo indignação com a
espionagem da CIA, enquanto cretinamente mantém os tratados de cooperação
militar e comercial com os EUA, que por sua vez seguirão jurando “inocência” no
caso das bases de monitoramento em Brasília.
Dilma se finge de
indignada na mídia burguesa, mas o que a imprensa capitalista não comenta é que
de fato os acordos com a NSA/CIA estarão valendo em plena etapa dos supostos
riscos de “terrorismo” nos “grandes eventos” (Copa do Mundo e Olimpíadas) que o
Brasil sediará entre 2014 e 2016 em pleno mandato da gerentona, que deve ser
reeleita. Na verdade, ela engavetou um projeto de Política Nacional de
Inteligência, que cria diretrizes se prevenir contra ações de espionagem
internacional. PT e PCdoB cinicamente aplaudiram o “discurso duro” de Dilma
apresentando-o como uma expressão de nossa soberania. Nada mais falso! Longe de
alimentar esta farsa, cabe aos genuínos combatentes anti-imperialistas levantar
a bandeira da expulsão dos agentes (civis e militares) ianques em toda América
Latina, assim como a dos grandes trustes econômicos norte-americanos que trazem
exploração e miséria ao nosso povo, aproveitando os escândalos de espionagem
para denunciar que esta rede de monitoramento também está a serviço da agressão
imperialista a Síria!