Famiglia Marinho: Autocrítica
do apoio à quartelada militar ou prenúncio de um novo golpe de estado por
outras vias?
Em um editorial recente
o pastelão O Globo anunciou uma “autocrítica” pelo “apoio editorial” ao golpe
militar desferido contra o povo brasileiro em 1964. A primeira leitura deste
tardio “perdão” poderia apontar para uma singela readequação da mafiosa famiglia
aos novos tempos de “democracia”. Afinal de contas este regime vigente da “democracia
dos ricos” caiu como uma luva aos interesses comerciais do poderoso grupo de
comunicações, que manteve praticamente inalterada sua hegemonia no setor. Não
se pode esquecer que o apoio (na verdade uma conspiração) a todo processo que
culminou na derrubada do governo nacionalista de Goulart, teve como primazia os
interesses comerciais do empreendimento dos Marinho. Com a sedimentação da
ditadura militar o jornal O Globo transformou-se rapidamente em uma rede
nacional de TV, desbancando o império das comunicações nacional, construído por
Assis Chateaubriand. Em plena sintonia com o imperialismo Ianque, que financiou
inicialmente todo o megaprojeto dos Marinho em parceria com o grupo Time Life,
a TV Globo converteu-se na principal base de apoio de “massas” do regime
militar (o monopólio da cobertura da copa do mundo em 70 foi o ponto
determinante da inflexão), sendo muito bem gratificada pelos serviços
prestados. Mas se no caso dos milicos a “ideologia” reacionária dos Marinho
casava muito bem com seus interesses empresariais, não se pode dizer o mesmo da
última década dos governos petistas, onde mesmo sendo beneficiada com generosas
verbas estatais (faturadas diretamente por anúncios públicos ou via empréstimos
do BNDES) a rede Globo não consegue digerir uma longa sequência histórica de “poder”
da Frente Popular. Por suas viscerais ligações com o grande “Amo do Norte”, os
Marinho se oferecem mais uma vez para serem parceiros da ofensiva imperialista
contra os governos da “centro-esquerda” na América Latina, só que desta vez “jurando
amor” pela democracia!
Somente muito tolos ou inocentes úteis podem acreditar que a participação dos Marinho em 64 se restringiu a um “apoio editorial” aos militares golpistas. Como esquecer nas páginas de O Globo a fotografia de nossos combatentes sendo expostas com a chamada de “Procura-se os perigosos terroristas”! Será que a “amnésia” dos Marinho os fizeram esquecer de seus inúmeros editoriais, ao longo de vinte anos celebrando figuras sinistras como os torturadores Fleury, Costa e Silva e Médici. E quando vociferaram por repressão brutal ao movimento operário, os Marinho por acaso estavam vivendo em um momentâneo “surto” autoritário? Mas não mais que de repente a rede Globo se declarou contrária a censura e até “protetora” de intelectuais comunistas perseguidos pelos militares, e como justificar a completa legitimidade que deu ao famigerado AI-5? Realmente a “autocrítica” dos Marinho não é capaz de convencer a ninguém minimamente esclarecido sobre a história recente do país, parece mesmo estar voltada a sinalizar para a burguesia nacional que tomarão outro caminho político para “encurtar” a era estatal petista, ou seja o do golpe constitucional, desta vez em nome da democracia!
O controle político que
os Marinho hoje detém da maioria do STF, produzindo midiaticamente a figura de
seu presidente como um “herói nacional” em pleno “combate” aos corruptos
dirigentes do PT, é um claro sinal de seus objetivos golpistas, que podem
percorrer várias trilhas. Só este elemento deveria receber a mais veemente
repulsa de todo o arco das forças que reivindicam a democracia formal em nosso
país, a exigência da renúncia do conjunto desta comprometida Corte Suprema se
coloca como tarefa imediata do movimento de massas. Desgraçadamente muitos dos
que fazem oposição de “esquerda” ao governo Dilma pensam que é progressiva a “chicana”
feita pelo STF contra o PT, ignorando que se trata de um ataque ao conjunto da
esquerda e das próprias liberdades democráticas.
A primeira opção dos
golpistas e seu partido midiático, o PIG, ainda é o tradicional processo
eleitoral. Neste terreno possuem todos os instrumentos possíveis para a manipulação
contra o PT e a favor das candidaturas conservadoras. Também contam com o
fraudulento sistema da urna eletrônica, criado como um recurso preventivo da
burguesia para evitar resultados eleitorais inaceitáveis. Mas a ofensiva
imperialista em curso “trabalha” com variantes que necessariamente não podem
esperar somente pelo resultado das urnas, por mais manietados que estes sejam.
Nesta via entram em cena as alternativas golpistas “constitucionais”,
lastreadas nas próprias instituições do regime vigente (como recentemente
ocorreu em Honduras e no Paraguay), que necessitam de forte legitimação nos
setores da população desorganizada. Este processo está em plena gestação em
países como Venezuela, Bolívia e Equador e de forma mais embrionária na
Argentina e Brasil. A Globo, seguindo a orientação imperial, ao anunciar sua “autocrítica”
em relação ao apoio dado a quartelada militar, na verdade pretende declarar a “praça”
que está bem ativa na organização golpista “constitucional”.