quarta-feira, 4 de setembro de 2013


Famiglia Marinho: Autocrítica do apoio à quartelada militar ou prenúncio de um novo golpe de estado por outras vias?

Em um editorial recente o pastelão O Globo anunciou uma “autocrítica” pelo “apoio editorial” ao golpe militar desferido contra o povo brasileiro em 1964. A primeira leitura deste tardio “perdão” poderia apontar para uma singela readequação da mafiosa famiglia aos novos tempos de “democracia”. Afinal de contas este regime vigente da “democracia dos ricos” caiu como uma luva aos interesses comerciais do poderoso grupo de comunicações, que manteve praticamente inalterada sua hegemonia no setor. Não se pode esquecer que o apoio (na verdade uma conspiração) a todo processo que culminou na derrubada do governo nacionalista de Goulart, teve como primazia os interesses comerciais do empreendimento dos Marinho. Com a sedimentação da ditadura militar o jornal O Globo transformou-se rapidamente em uma rede nacional de TV, desbancando o império das comunicações nacional, construído por Assis Chateaubriand. Em plena sintonia com o imperialismo Ianque, que financiou inicialmente todo o megaprojeto dos Marinho em parceria com o grupo Time Life, a TV Globo converteu-se na principal base de apoio de “massas” do regime militar (o monopólio da cobertura da copa do mundo em 70 foi o ponto determinante da inflexão), sendo muito bem gratificada pelos serviços prestados. Mas se no caso dos milicos a “ideologia” reacionária dos Marinho casava muito bem com seus interesses empresariais, não se pode dizer o mesmo da última década dos governos petistas, onde mesmo sendo beneficiada com generosas verbas estatais (faturadas diretamente por anúncios públicos ou via empréstimos do BNDES) a rede Globo não consegue digerir uma longa sequência histórica de “poder” da Frente Popular. Por suas viscerais ligações com o grande “Amo do Norte”, os Marinho se oferecem mais uma vez para serem parceiros da ofensiva imperialista contra os governos da “centro-esquerda” na América Latina, só que desta vez “jurando amor” pela democracia!

Somente muito tolos ou inocentes úteis podem acreditar que a participação dos Marinho em 64 se restringiu a um “apoio editorial” aos militares golpistas. Como esquecer nas páginas de O Globo a fotografia de nossos combatentes sendo expostas com a chamada de “Procura-se os perigosos terroristas”! Será que a “amnésia” dos Marinho os fizeram esquecer de seus inúmeros editoriais, ao longo de vinte anos celebrando figuras sinistras como os torturadores  Fleury, Costa e Silva e Médici. E quando vociferaram por repressão brutal ao movimento operário, os Marinho por acaso estavam vivendo em um momentâneo “surto” autoritário? Mas não mais que de repente a rede Globo se declarou contrária a censura e até “protetora” de intelectuais comunistas perseguidos pelos militares, e como justificar a completa legitimidade que deu ao famigerado AI-5? Realmente a “autocrítica” dos Marinho não é capaz de convencer a ninguém minimamente esclarecido sobre a história recente do país, parece mesmo estar voltada a sinalizar para a burguesia nacional que tomarão outro caminho político para “encurtar” a era estatal petista, ou seja o do golpe constitucional, desta vez em nome da democracia!

O controle político que os Marinho hoje detém da maioria do STF, produzindo midiaticamente a figura de seu presidente como um “herói nacional” em pleno “combate” aos corruptos dirigentes do PT, é um claro sinal de seus objetivos golpistas, que podem percorrer várias trilhas. Só este elemento deveria receber a mais veemente repulsa de todo o arco das forças que reivindicam a democracia formal em nosso país, a exigência da renúncia do conjunto desta comprometida Corte Suprema se coloca como tarefa imediata do movimento de massas. Desgraçadamente muitos dos que fazem oposição de “esquerda” ao governo Dilma pensam que é progressiva a “chicana” feita pelo STF contra o PT, ignorando que se trata de um ataque ao conjunto da esquerda e das próprias liberdades democráticas.

A primeira opção dos golpistas e seu partido midiático, o PIG, ainda é o tradicional processo eleitoral. Neste terreno possuem todos os instrumentos possíveis para a manipulação contra o PT e a favor das candidaturas conservadoras. Também contam com o fraudulento sistema da urna eletrônica, criado como um recurso preventivo da burguesia para evitar resultados eleitorais inaceitáveis. Mas a ofensiva imperialista em curso “trabalha” com variantes que necessariamente não podem esperar somente pelo resultado das urnas, por mais manietados que estes sejam. Nesta via entram em cena as alternativas golpistas “constitucionais”, lastreadas nas próprias instituições do regime vigente (como recentemente ocorreu em Honduras e no Paraguay), que necessitam de forte legitimação nos setores da população desorganizada. Este processo está em plena gestação em países como Venezuela, Bolívia e Equador e de forma mais embrionária na Argentina e Brasil. A Globo, seguindo a orientação imperial, ao anunciar sua “autocrítica” em relação ao apoio dado a quartelada militar, na verdade pretende declarar a “praça” que está bem ativa na organização golpista “constitucional”.