Obama recua
temporariamente da agressão militar diante da fragilidade dos “rebeldes” em
terra! É hora de organizar mobilizações anti-imperialistas em defesa da Síria!
O imperialismo ianque
recuou temporariamente da agressão militar a Síria. A fragilidade dos
“rebeldes” pró-OTAN em terra, que vem sofrendo derrotas acachapantes nos
últimos meses, acabou por aprofundar a divisão interna dos grupos mercenários,
cenário pantanoso que forçou a Casa Branca a suspender o ataque e sentar a mesa
para discutir a proposta apresentada pela Rússia de que Assad entregue seu
arsenal de armas químicas para a ONU. Por outro lado, a oposição popular a ação
militar dentro do próprio EUA e na Europa deixou a Casa Branca receosa de
seguir em sua aventura bélica, como se viu no veto do parlamento inglês para o
governo Cameron apoiar a intervenção militar ianque. Por conta destes revezes,
nesta sexta-feira, 13/08, o secretário ianque Jonh Kerry e ministro das
relações exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, se reuniram junto com o mediador
internacional para a Síria, Lakhdar Brahimi, para analisar a proposta de Putin
de que o governo Bashar Al-Assad entregue o controle do arsenal químico sírio
para a “comunidade internacional”. Muitas correntes políticas que apoiam a
Síria, particularmente ligadas ao stalinismo e ao nacionalismo burguês, se
mostraram simpáticos à proposta russa, já que ela conseguiu adiar
temporariamente a agressão militar imperialista prevista para ocorrer nesta
semana. Este espectro político chegou a declarar que Putin havia aplicado um
“xeque-mate” em Obama. Ainda que consideremos que a iniciativa russa não passe
de uma manobra para ganhar tempo ou mesmo que ao final das negociações Assad
não venha a entregar todo seu arsenal de armas químicas, os trotskistas
revolucionários que defendem a nação oprimida síria frente a iminente agressão
imperialista compreendem que esta avaliação exitista não corresponde à
realidade dos acontecimentos. Não nos opomos que o governo sírio e seus aliados
burgueses lancem mão de medidas políticas e diplomáticas para impedir o ataque
dos EUA e de seus parceiros da OTAN. Entretanto, compreendemos que a entrega
integral das armas químicas sírias para a ONU de forma alguma é o melhor
caminho para barrar a ação militar ianque, ao contrário, esta concessão
político-militar pode permitir que o enclave sionista de Israel, que poderia
ser alvo de um ataque de armas químicas da Síria, sinta-se ainda mais fortalecido
para incrementar as provações contra o próprio território sírio e o povo
palestino, impondo uma derrota ainda mais profunda aos seus adversários na
região. Para se opor ao isolamento provocado pela odiosa e mentirosa campanha
da mídia “murdochiana”, repetida pelos papagaios revisionistas do trotskismo,
de que foi o governo Assad o responsável por lançar um ataque químico na
periferia de Damasco, defendemos que o caminho justo para a luta em defesa da
soberania nacional síria é justamente a ampla denúncia da farsa montada pelo
imperialismo e seus “rebeldes”, chamando a solidariedade internacional dos
trabalhadores e das nações oprimidas, assim como unidade militar em torno da
defesa da Síria. Efetivamente há no planeta um amplo sentimento de rechaço a possível
agressão dos EUA a Síria, entretanto faz-se necessário estimular esta tendência
política não para o pacifismo pequeno-burguês como temos vista em várias
manifestações “pela paz” ou em favor de uma “transição política” (que de fato
signifique a rendição da Síria), mas para impulsionar a luta internacionalista
do proletariado mundial no sentido da defesa da nação oprimida contra os
“rebeldes”, o imperialismo ianque, Israel e as petromonarquias árabes! No
caminho oposto ao apresentado por Putin, os marxistas revolucionários
defendemos incondicionalmente o direito da Síria a utilizar todos seus recursos
militares (convencionais ou não) em resposta a agressão imperialista à
soberania de seu território, inclusive as armas químicas contra o enclave
sionista de Israel!
A proposta russa veio à tona depois que o secretário ianque Jonh Kerry afirmou em entrevista que “Assad poderia entregar cada uma de suas armas químicas à comunidade internacional ainda essa semana. Entregue. Entregue tudo. E sem demora. E permita total transparência. Mas é claro que ele não fará isso, nem a coisa pode ser feita, é óbvio”. Obviamente a fala de Kerry demonstrava o temor da Casa Branca em dar curso a sua aventura militar com os “rebeldes” completamente carentes de apoio popular e debilitados no terreno militar. Imediatamente Israel apoiou a proposta de planos para pressionar a Síria a entregar suas armas estratégicas, o que, é claro, deixaria a Síria sem meios para retaliar contra ataques sionistas e impediria que estas armas caíssem futuramente nas mãos de grupos islâmicos caso Assad viesse a cair. Em seguida o ministro de Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, declarou “Já encaminhamos ao Ministro sírio de Relações Exteriores o oferecimento para que a Rússia trate dessa transferência das armas químicas, e esperamos receber resposta rápida e positiva. E estamos preparados para trabalhar imediatamente com Damasco”, sendo a proposta aceita pelo pressionado e isolado governo Assad. Apesar de defendermos a unidade de ação com o governo sírio para combater a agressão imperialista, com total independência política diante do regime Assad, não temos qualquer acordo com as decisões anunciadas por Damasco diante da pressão russa, tanto que na reunião do Comitê em defesa da Síria realizada em São Paulo no último dia 10/08 expressamos publicamente nossas diferenças. Uma prova de que a proposta russa só enfraquecerá a resistência síria a futura agressão imperialista se revela a partir das próprias declarações do secretário-geral da ONU, o ventríloquo ianque, Ban Ki-moon. Nesta sexta-feira, 13/09, ele afirmou “Acredito que o relatório será um relato esmagador, esmagador, de que as armas químicas foram usadas, embora eu não possa dizer isso publicamente antes de receber o relatório”. Ban Ki-moon acusou o regime sírio de ter cometido “muitos crimes contra a humanidade”. O relatório da equipe de inspetores-espiões de armas químicas da ONU, liderada pelo sueco Ake Sellstrom, será divulgado na próxima semana, vai determinar se armas químicas foram usadas no ataque de 21 de agosto nos subúrbios de Damasco e deve acusar o governo Assad de ser responsável por tal ataque. Na verdade armas químicas letais fabricadas pelos EUA foram utilizadas por grupos ligados a Al Qaeda no sentido de incriminar o regime Assad pela morte de crianças e mulheres, um total de 1400 vítimas fatais. Não por coincidência, alguns dias antes dos covardes atentados terroristas desembarcava em Damasco uma equipe de inspetores da ONU com a “missão” de inspecionar a utilização de armas químicas na guerra civil síria. Um pequeno “detalhe”: Ake Sellstrom foi o mesmo líder do seleto grupo de inspetores de armas químicas da ONU no Iraque, ou seja, o responsável por criar tecnicamente a farsa acerca da existência das armas de destruição em massa iraquianas que foram usadas de pretexto para os EUA atacarem o regime de Sadam Hussein...
Vale a pena citar parte
do extenso artigo de Putin “Um apelo por cautela, da Rússia” publicado no The
New York Times nte dia 11/08 para ter a dimensão da proposta russa. Segundo
ele, “Desde o princípio, a Rússia defendeu um diálogo pacífico que permitia aos
sírios desenvolver um plano de compromisso para o seu próprio futuro. Não
estamos protegendo o governo sírio, mas o direito internacional. Precisamos
usar o Conselho de Segurança da ONU e acreditar que preservar a lei e a ordem
neste mundo atual complexo e turbulento é uma das poucas formas de impedirmos
que as relações internacionais resvalem para o caos. A lei ainda é a lei, e
precisamos segui-la, quer gostemos ou não. Ninguém duvida que o gás venenoso
foi usado na Síria. Mas há todas as razões para acreditarmos que não foi usado
pelo Exército sírio, e sim pelas forças da oposição, para provocar uma
intervenção dos seus poderosos patronos estrangeiros, que estariam tomando o
lado dos fundamentalistas. Denúncias de que os militantes estão preparando um
novo ataque, desta vez, contra Israel, não podem ser ignoradas.. Os Estados
Unidos, a Rússia e todos os membros da comunidade internacional precisam
aproveitar a disposição do governo sírio para colocar seu arsenal químico sob o
controle internacional para a subsequente destruição. A julgar pelas
declarações do presidente Obama, os EUA veem [esta medida] como uma alternativa
à ação militar”. Na verdade, o Pentágono ainda não deu o sinal verde para a
ação contra a Síria, justamente porque não conseguiu conformar um comando
militar “rebelde” único e confiável que dê o suporte necessário para a
intervenção da OTAN. Por isso acena, para ganhar tempo, com a possibilidade de
negociar com a Rússia as condições para uma rendição de Assad. Kerry e Lavrov
se reuniram nesta sexta-feira em Genebra com o emissário internacional da ONU
para a Síria, Lakhdar Brahimi, antes da retomada das discussões sobre o
controle do arsenal químico sírio. O secretário ianque declarou nesta ocasião:
“Ambos concordamos com uma nova reunião em Nova York mais ou menos durante a
Assembleia Geral da ONU, por volta do dia 28, para ver se é possível encontrar
uma data para a conferência”. Brahimi é responsável por preparar uma
conferência internacional, conhecida como “Genebra 2”, para encontrar uma
solução política ao conflito sírio. Os
abutres imperialistas estão nervosos e impacientes por um rápido desfecho na Síria,
temem perder o “time”, obtido graças à farsa terrorista montada pelos
“rebeldes”. Entretanto o “falcão negro” da Casa Branca aguarda ainda um
desfecho das negociações com a Rússia e China para iniciar o serviço sujo, já
que os mercenários em terra são muitos frágeis e vem sofrendo derrotas seguidamente.
Como se viu no caso da
Líbia e agora na Síria, o governo Putin pelo próprio caráter de classe burguês
gerente de um país semicolonial, é incapaz de se por ao avanço político e
militar do imperialismo na Ásia, África e Oriente Médio. Diferente dos idiotas
no interior da esquerda que apresentam a Rússia como uma poderosa superpotência
capitalista e mesmo como um país imperialista, a verdade é que com a destruição
do Estado operário soviético a Rússia assumiu o papel de semicolônia dos EUA, sem
grande margem de autonomia política frente à Casa Branca. O processo de
submissão da Rússia ao imperialismo ianque avançou no último período, com a
assinatura em 2010 de um pacto de limitação de arsenais nucleares. Diante da
política abertamente defensiva de Moscou, a OTAN anunciou que o escudo deve ser
concluído em quatro fases até cerca de 2020, sob o pretexto de conter uma
resposta militar do Irã, mas de fato serve para interceptar os mísseis
balísticos intercontinentais russos. Mas esse objetivo só pode começar a ser
alcançado de fato quando a Casa Branca eliminar o regime iraniano e voltar suas
baterias de forma mais centrada para Rússia e China. No meio do caminho desse
plano neocolonialista está a Síria... Obama deseja que a Rússia recue em seu apoio
militar a esse país, medida fundamental para que o imperialismo possa impor
seus interesses na região e avançar rumo a Ásia. A Rússia tem uma base militar
na Síria, porta-aviões estacionados na costa do país além de ser parceira
estratégica do programa nuclear iraniano. Ademais, se opõe parcialmente à
criação do sistema de defesa antimíssil para Europa controlado pela OTAN,
voltado justamente para neutralizar qualquer reação militar russa a uma
possível agressão imperialista. Washington também deseja livrar-se futuramente
de Putin e seu séquito para impor a sua semicolônia uma nova fase histórica,
hoje travada pelos arroubos do Kremlin, que utiliza do poderio militar russo
para barganhar áreas de influência regional com o imperialismo ianque. A Casa
Branca pretende fazer da Rússia um apêndice militar do Pentágono, já que do
ponto de vista político desde a era Yeltsin o Kremlin vem seguindo a Casa
Branca em seus passos de rapinas imperiais no planeta.
Antes da proposta russa,
o regime Assad havia prometido “incendiar” a região caso a OTAN interviesse, as
milícias do Hezbollah já estavam prontas para atacar Israel e convocar a
“guerra santa” contra os genocidas de Sion. O temor dos EUA é que a Síria use
seu arsenal militar de armas químicas contra as forças invasoras. Lembremos que
armas químicas letais já vêm sendo usadas fartamente pela OTAN em toda a região
denominada de Oriente Médio e África, só na guerra civil da Líbia foram
utilizadas mais de cem toneladas de mísseis com urânio empobrecido, com capacidade
de contaminação radioativa em um raio de mais de 30 quilômetros. No próprio
atentado terrorista que vitimou parte da cúpula militar do regime sírio em
2012, há fortes indícios da utilização de mísseis disparados a partir de drones
norte-americanos lançados do território turco, onde existe uma base da OTAN. A
Rússia e a China na verdade trabalham para operar uma transição pactuada do
regime “fechado” de Assad para um governo “aberto” a investimentos
imperialistas (principalmente no setor de gás e minerais) e que encerre a
querela militar com o gendarme sionista. Como última opção, caso a oligarquia
Assad não ceda o governo diante dos “apelos” internacionais, o imperialismo
executará a intervenção militar, com resultados imprevisíveis no marco das
tensões regionais já existentes. A Rússia aparece como “interlocutora” para a
busca de uma “solução política” para o conflito. Na verdade, o governo russo
busca um acordo global com Washington para manter sua influência política e
militar na região. Até o momento Rússia e China vetavam uma agressão militar
direta usando como pretexto o desejo de aplicar um “plano de paz”. No futuro é
possível que Pequim e Moscou tentem fechar um acordo com Washington que permita
a renúncia de Assad sem a necessidade de uma intervenção militar direta da
OTAN, visando assim preservar seus interesses econômicos no país. Ainda há
resistência do grosso da burguesia síria e de sua base social, incluindo o
Hezbollah e a resistência palestina, a essa “saída de consenso”, que abre o
caminho para novas investidas do imperialismo cujo alvo principal é o Irã.
Justamente por isso, a Rússia acaba de enviar mais navios de guerra para sua
base militar em Tartus, na Síria, visando barganhar um acordo com a Casa Branca
em melhores condições. Vale lembrar que a Síria é a principal posição para a
presença russa no Oriente Médio e Damasco comprou no ano passado o equivalente
a 1 bilhão de dólares em armas da Rússia ou 8 por cento do total das
exportações bélicas de Moscou.
Diante do evidente recuo
da Casa Branca é hora de organizar mobilizações antiimperialistas em todo
planeta em defesa da Síria! No caminho inverso ao que propõe Putin, está mais
do que na hora dos países que se opõem em palavras à agressão neocolonialista
contra a Síria (Irã, Rússia, China e Venezuela) forneçam armas e enviem
brigadas ao país, assim como o Hezbollah e a resistência palestina ataquem
Israel, que patrocina os mercenários do ELS. As milícias populares que apoiam o
governo Assad ou se colocam contra a agressão ao país devem exigir, por sua
vez, que o governo sírio abra os depósitos de armas e munição para os
militantes nacionalistas e voluntários de outros países. Uma posição
revolucionária neste exato momento passa por estabelecer uma frente única
militar com as forças que estejam dispostas a lutar na defesa do atual regime,
contra os rebeldes da reação imperialista, com absoluta independência de classe
em relação ao governo nacionalista burguês. O único caminho para derrotar a
ofensiva contra a Síria é chamando a unidade anti-imperialista em nível
mundial. Como marxistas revolucionários defendemos incondicionalmente o direito
da Síria a utilizar todos seus recursos militares (convencionais ou não) contra
a agressão imperialista à soberania de seu território, inclusive as armas
químicas contra o enclave sionista. Por esta razão nos opomos a proposta russa.
Entretanto declaramos sem a menor hesitação que a nossa trincheira de combate
contra a OTAN é a nação Síria, incluindo a conformação de uma frente única
militar com o regime nacionalista burguês de Assad, mas sem capitularmos a ele
e nem a seus aliados burgueses!