segunda-feira, 3 de julho de 2017

HÁ 55 ANOS A ARGÉLIA DECLARAVA SUA INDEPENDÊNCIA DO JULGO COLONIALISTA FRANCÊS: VITÓRIA DA RESISTÊNCIA NA GUERRA PELA LIBERTAÇÃO NACIONAL ENQUANTO O PCF E PS APOIAVAM O “SEU” IMPERIALISMO

“O movimento revolucionário nos países avançados na verdade seria uma fraude completa, se em sua luta contra o capital, os trabalhadores da Europa e da América não estivessem intimamente e completamente unidos com as centenas de centenas de milhões de escravos coloniais que são oprimidos pelo capital” 
(V.I Lenin, no Segundo Congresso da IC)


Em 3 de julho de 1962, a Argélia proclama sua independência nacional após 132 anos de colonização francesa, que teve início em 14 de junho de 1830 com o desembarque de forças francesas na costa de Sidi Fredj. Depois da assinatura dos Acordos de Evian em 18 de março de 1962 e a declaração de cessar-fogo no dia seguinte, foram necessários 4 meses para que a Argélia conquistasse totalmente sua independência. A Guerra de Independência ou de Libertação Nacional (descrita no clássico filme de Gillo Potencorvo, "A Batalha de Argel" reproduzido abaixo) foi um conflito que se estendeu de 1954 a 1962. Os primeiros disparos foram ouvidos na noite de 31 de outubro para 1º de novembro de 1954. Jovens argelinos, integrantes da até então desconhecida FLN (Frente de Libertação Nacional), iniciavam assim a luta para acabar com o domínio francês, que começara através da invasão do norte da África em julho de 1830, consolidando-se nos 17 anos seguintes. Num panfleto, os rebeldes conclamavam à criação de um Estado independente na Argélia, cujo sistema social deveria ser uma mescla de social-democracia e islamismo e que garantisse também direitos iguais a todos os cidadãos. Sempre existira insatisfação popular quanto ao domínio francês na Argélia, pois uma minoria europeia imperava sobre a maioria do povo argelino, constituído de árabes e berberes. No decorrer dos anos, os franceses começaram a tratar a colônia norte-africana como se fosse uma parte do território da França e os argelinos, como estrangeiros no próprio país. A resistência começou a aparecer paulatina e cautelosamente. Um primeiro sinal de alarme para os franceses ocorreu em 1950, com um assalto ao correio central de Oran, comandado por Ahmed Ben Bella. O líder rebelde argelino tinha servido no Exército francês durante a Segunda Guerra Mundial, como muitos dos seus compatriotas, tendo sido altamente condecorado pelas suas ações nos campos de batalha da Itália. Ben Bella transformou-se na figura símbolo da luta argelina de libertação e foi, posteriormente, o primeiro chefe de governo da Argélia independente. Inicialmente, porém, a repressão francesa da rebelião ficava a cada dia mais cruel. Depois dos primeiros disparos de 31 de outubro de 1954, milhares de argelinos foram presos. Mas todas as manifestações antifrancesas eram punidas com extremo rigor. Com isto, o ódio dos argelinos tornou-se sempre mais profundo, chegando ao auge quando o Exército francês na Argélia foi reforçado com 500 mil homens. Isto – e a pressão da FLN sobre muçulmanos hesitantes – consolidou a frente da rebelião. A situação ficou ainda mais tensa quando a Tunísia e o Marrocos conquistaram a independência, mas a França continuava enviando os líderes argelinos para a prisão. Os colonizadores rebelaram-se duas vezes, mas acabaram não podendo impedir que ocorresse aquilo que temiam, a libertação da Argélia, quando o movimento de resistência vitoriosa derrotou militarmente o exército francês, que deixou o país, quando logo depois De Gaulle acordou a realização de um "plebiscito" para dar aparência democrática a retumbante derrota do imperialismo francês na Argélia


Durante o transcurso da guerra pela independência, os brutais métodos colonialistas empregados pelo exército francês (métodos que aprenderam do exército argentino para reprimir em 1976), entre os quais se destacavam a tortura, foram criando um clima de repudio à política imperialista mesmo na França, especialmente nas universidades. O PS francês também defendeu a dependência desta colônia desde seu governo de Frente Popular em 1937 no chamado Estatuto Blue-Violette. O PCF prestou “apoio crítico” ao imperialismo francês durante a guerra colonial. Os ativistas se nucleavam por fora do PCF em organizações clandestinas de ajuda à causa argelina, organizavam manifestações contra a guerra colonial com milhares de estudantes universitários e secundaristas, reuniam fundos para os combatentes argelinos e realizavam tarefas de propaganda no exército francês por meio de panfletos e inserção de núcleos de militantes nos regimentos. Se criaram em Sorbonne comitês de ação antifascista que rapidamente reuniram centenas de militantes e conseguiram limpar os fascistas do bairro latino de Paris. No dia da proclamação da independência argelina, se içou em Sorbonne uma bandeira da FLN (Frente de Libertação Nacional da Argélia), com os grupos trotskistas no país apoiando essa luta pela independência nacional, ainda que com uma política de capitulação a linha de conciliação nacional da FLN. Essa história da colonização e intervenções militares é a que nos permite compreender o ódio que foram acumulando durante anos os povos oprimidos contra os grandes impérios do Ocidente, neste caso contra o francês em particular.

De acordo com o internacionalismo proletário, o proletariado e os comunistas das nações opressoras devem apoiar ativamente tanto o direito das nações oprimidas à independência nacional quanto as suas lutas de libertação. Com o apoio das nações oprimidas, o proletariado das nações opressoras será mais capaz de vencer sua revolução, uma lição renegada pelo PCF. Durante muito tempo, os líderes do PCF se recusaram a reconhecer o direito da Argélia à independência nacional; eles seguiram os monopólios capitalistas franceses, bradando que “Argélia é parte inalienável da França” e que a França “deveria ser uma grande potência africana, agora e no futuro” (Maurice Thorez, Discurso em Argel, fevereiro de 1939). Thorez e outros estavam mais preocupados com o fato que a Argélia poderia fornecer à França “um milhão de cabeças de ovelhas” e grandes quantidades de trigo por ano para resolver o problema dela de “escassez de carne” e “sanar nosso déficit em grãos”. Era uma prova do chauvinismo febril por parte dos dirigentes do PCF! Ao tomarem essa posição chauvinista, eles traíram os interesses fundamentais do proletariado internacional e os interesses essenciais do proletariado francês

Vale destacar que haviam duas correntes principais no movimento de libertação nacional na Argélia. Uma era o MNA (Movimento Nacional Argelino), dirigido por Messali Hadj, que tinha uma base mais urbana e adotava métodos pacíficos. A outra era a FLN (Frente de Libertação Nacional), de Boumediénne e Frantz Fanon, baseada no campo e que estava organizando a luta armada. Era necessário defender militarmente os dois movimentos, mas tendo claro que pelos seus limites políticos e de classe nenhum deles seria capaz de libertar a Argélia do imperialismo. Por isso, os revolucionários não deveriam dar a eles nenhum apoio político. Tanto o MNA quanto a FLN eram movimentos policlassistas, sem programa revolucionário e que cairiam facilmente na conciliação de classe com a burguesia. A política correta seria defender a frente única de ação anti-imperialista com essas organizações argelinas, lutando pelas sua vitória militar diante do imperialismo francês, buscando organizar paralelamente na sua base um núcleo trotskista para forjar um partido revolucionário dos trabalhadores argelinos que fizesse da luta democrática pela libertação nacional um móvel pela Revolução Socialista, como nos ensinou Trotsky no Programa de Transição.