HÁ 55 ANOS A ARGÉLIA DECLARAVA SUA INDEPENDÊNCIA DO JULGO
COLONIALISTA FRANCÊS: VITÓRIA DA RESISTÊNCIA NA GUERRA PELA LIBERTAÇÃO
NACIONAL ENQUANTO O PCF E PS APOIAVAM O “SEU” IMPERIALISMO
“O movimento revolucionário nos países avançados na verdade
seria uma fraude completa, se em sua luta contra o capital, os trabalhadores da
Europa e da América não estivessem intimamente e completamente unidos com as
centenas de centenas de milhões de escravos coloniais que são oprimidos pelo
capital”
(V.I Lenin, no Segundo Congresso da IC)
Em 3 de julho de 1962, a Argélia proclama sua independência nacional após 132 anos de colonização francesa, que teve início em 14 de junho de 1830
com o desembarque de forças francesas na costa de Sidi Fredj. Depois da
assinatura dos Acordos de Evian em 18 de março de 1962 e a declaração de
cessar-fogo no dia seguinte, foram necessários 4 meses para que a Argélia
conquistasse totalmente sua independência. A Guerra de Independência ou de
Libertação Nacional (descrita no clássico filme de Gillo Potencorvo, "A
Batalha de Argel" reproduzido abaixo) foi um conflito que se estendeu de 1954 a 1962. Os
primeiros disparos foram ouvidos na noite de 31 de outubro para 1º de novembro
de 1954. Jovens argelinos, integrantes da até então desconhecida FLN (Frente de
Libertação Nacional), iniciavam assim a luta para acabar com o domínio francês,
que começara através da invasão do norte da África em julho de 1830,
consolidando-se nos 17 anos seguintes. Num panfleto, os rebeldes conclamavam à
criação de um Estado independente na Argélia, cujo sistema social deveria ser
uma mescla de social-democracia e islamismo e que garantisse também direitos
iguais a todos os cidadãos. Sempre existira insatisfação popular quanto ao
domínio francês na Argélia, pois uma minoria europeia imperava sobre a maioria
do povo argelino, constituído de árabes e berberes. No decorrer dos anos, os
franceses começaram a tratar a colônia norte-africana como se fosse uma parte do
território da França e os argelinos, como estrangeiros no próprio país. A
resistência começou a aparecer paulatina e cautelosamente. Um primeiro sinal de
alarme para os franceses ocorreu em 1950, com um assalto ao correio central de
Oran, comandado por Ahmed Ben Bella. O líder rebelde argelino tinha servido no
Exército francês durante a Segunda Guerra Mundial, como muitos dos seus
compatriotas, tendo sido altamente condecorado pelas suas ações nos campos de
batalha da Itália. Ben Bella transformou-se na figura símbolo da luta argelina
de libertação e foi, posteriormente, o primeiro chefe de governo da Argélia
independente. Inicialmente, porém, a repressão francesa da rebelião ficava a
cada dia mais cruel. Depois dos primeiros disparos de 31 de outubro de 1954,
milhares de argelinos foram presos. Mas todas as manifestações antifrancesas
eram punidas com extremo rigor. Com isto, o ódio dos argelinos tornou-se sempre
mais profundo, chegando ao auge quando o Exército francês na Argélia foi
reforçado com 500 mil homens. Isto – e a pressão da FLN sobre muçulmanos
hesitantes – consolidou a frente da rebelião. A situação ficou ainda mais tensa
quando a Tunísia e o Marrocos conquistaram a independência, mas a França
continuava enviando os líderes argelinos para a prisão. Os colonizadores rebelaram-se
duas vezes, mas acabaram não podendo impedir que ocorresse aquilo que temiam, a
libertação da Argélia, quando o movimento de resistência vitoriosa derrotou
militarmente o exército francês, que deixou o país, quando logo depois De
Gaulle acordou a realização de um "plebiscito" para dar aparência
democrática a retumbante derrota do imperialismo francês na Argélia
Durante o transcurso da guerra pela independência, os
brutais métodos colonialistas empregados pelo exército francês (métodos que
aprenderam do exército argentino para reprimir em 1976), entre os quais se
destacavam a tortura, foram criando um clima de repudio à política imperialista
mesmo na França, especialmente nas universidades. O PS francês também defendeu
a dependência desta colônia desde seu governo de Frente Popular em 1937 no
chamado Estatuto Blue-Violette. O PCF prestou “apoio crítico” ao imperialismo
francês durante a guerra colonial. Os ativistas se nucleavam por fora do PCF em
organizações clandestinas de ajuda à causa argelina, organizavam manifestações
contra a guerra colonial com milhares de estudantes universitários e
secundaristas, reuniam fundos para os combatentes argelinos e realizavam
tarefas de propaganda no exército francês por meio de panfletos e inserção de
núcleos de militantes nos regimentos. Se criaram em Sorbonne comitês de ação
antifascista que rapidamente reuniram centenas de militantes e conseguiram
limpar os fascistas do bairro latino de Paris. No dia da proclamação da
independência argelina, se içou em Sorbonne uma bandeira da FLN (Frente de
Libertação Nacional da Argélia), com os grupos trotskistas no país apoiando
essa luta pela independência nacional, ainda que com uma política de
capitulação a linha de conciliação nacional da FLN. Essa história da
colonização e intervenções militares é a que nos permite compreender o ódio que
foram acumulando durante anos os povos oprimidos contra os grandes impérios do
Ocidente, neste caso contra o francês em particular.
De acordo com o internacionalismo proletário, o proletariado
e os comunistas das nações opressoras devem apoiar ativamente tanto o direito
das nações oprimidas à independência nacional quanto as suas lutas de
libertação. Com o apoio das nações oprimidas, o proletariado das nações
opressoras será mais capaz de vencer sua revolução, uma lição renegada pelo
PCF. Durante muito tempo, os líderes do PCF se recusaram a reconhecer o direito
da Argélia à independência nacional; eles seguiram os monopólios capitalistas
franceses, bradando que “Argélia é parte inalienável da França” e que a França
“deveria ser uma grande potência africana, agora e no futuro” (Maurice Thorez,
Discurso em Argel, fevereiro de 1939). Thorez e outros estavam mais preocupados
com o fato que a Argélia poderia fornecer à França “um milhão de cabeças de ovelhas”
e grandes quantidades de trigo por ano para resolver o problema dela de
“escassez de carne” e “sanar nosso déficit em grãos”. Era uma prova do
chauvinismo febril por parte dos dirigentes do PCF! Ao tomarem essa posição
chauvinista, eles traíram os interesses fundamentais do proletariado
internacional e os interesses essenciais do proletariado francês
Vale destacar que haviam duas correntes principais no
movimento de libertação nacional na Argélia. Uma era o MNA (Movimento Nacional
Argelino), dirigido por Messali Hadj, que tinha uma base mais urbana e adotava
métodos pacíficos. A outra era a FLN (Frente de Libertação Nacional), de
Boumediénne e Frantz Fanon, baseada no campo e que estava organizando a luta
armada. Era necessário defender militarmente os dois movimentos, mas tendo
claro que pelos seus limites políticos e de classe nenhum deles seria capaz de
libertar a Argélia do imperialismo. Por isso, os revolucionários não deveriam
dar a eles nenhum apoio político. Tanto o MNA quanto a FLN eram movimentos
policlassistas, sem programa revolucionário e que cairiam facilmente na
conciliação de classe com a burguesia. A política correta seria defender a
frente única de ação anti-imperialista com essas organizações argelinas,
lutando pelas sua vitória militar diante do imperialismo francês, buscando
organizar paralelamente na sua base um núcleo trotskista para forjar um partido
revolucionário dos trabalhadores argelinos que fizesse da luta democrática pela
libertação nacional um móvel pela Revolução Socialista, como nos ensinou
Trotsky no Programa de Transição.