segunda-feira, 31 de março de 2014


50 anos do golpe militar de 1964: Derrotar a reação capitalista de ontem e de hoje, construir uma alternativa revolucionária do proletariado contra a direita fascista e a política de colaboração de classes!

Traumas sofridos na infância de um garoto de apenas 6 anos, em um período onde o 'cheiro podre' do regime militar se exalava em quase todas as esquinas do Rio de Janeiro, vieram a 'gravar' em minha personalidade de homem uma forte convicção de profundo ódio à ditadura e posteriormente a todas as formas de dominação do capital. Já passava da meia noite quando uma 'agitação e um barulho infernal' tomou conta da pequena rua Gago Coutinho de apenas dois quarteirões, no bairro de Laranjeiras. Logo todos saíram às janelas do edifício para ver o que se passava, inclusive eu advertido a voltar para cama. Eram jipes militares e muitos soldados armados (fardados para a 'guerra') que ocuparam a rua e iam entrando em todos os prédios, vasculhando apartamento por apartamento. Meus pais logo me disseram inocuamente que eu não me preocupasse, que não tínhamos 'nada a ver com aquilo' (anos mais tarde meu irmão mais velho seria preso em Ilha Grande sob acusação alta indisciplina militar), poucos minutos depois chegaram os militares e revistaram nossa casa saindo logo em seguida em direção ao apartamento vizinho. Era uma noite de junho de 1968 e os genocidas golpistas estavam a 'caçar' um suposto 'aparelho' onde estaria escondido o dirigente comunista Luís Carlos Prestes, a 'busca' teria sido motivada pelo fato do arquiteto Oscar Niemeyer possuir há muitos anos um apartamento nesta rua, que por ironia da história ficava a poucos metros do palácio presidencial onde o facínora Costa e Silva passava os finais de semana na ex-capital federal. 'Caçada' em vão, Prestes já se encontrava em Moscou há algum tempo, bem longe dos porões da tortura que marcaram com 'ferro e fogo' tantos camaradas como o herói do povo brasileiro Gregório Bezerra e muitos outros combatentes da resistência comunista e democrática. Se os fascistas do regime militar nunca conseguiram por as mãos em Prestes, pelos menos naquela fatídica madrugada carioca 'geraram' involuntariamente um 'pequeno' inimigo mortal, que dez anos depois ainda adolescente, abraçaria as primeiras convicções do Marxismo Revolucionário, iniciando assim uma aguerrida militância Leninista contra a ditadura da burguesia e seu Estado capitalista, do qual o regime militar era apenas uma de suas 'modelagens' políticas.

Candido Alvarez
Secretário Geral da LBI

Neste 31 de março de 2014, quando se completam os 50 anos do golpe militar de 1964, os protestos em torno da ação reacionária das FFAA vem ganhando força no país, fazendo um contraponto midiático às “marchas” que reivindicam a intervenção militar tanto no passado quando nos dias de hoje. Ainda que o governo da frente popular capitaneado pelo PT tente capitalizar a “herança” dos que lutaram contra a ditadura militar, esta conduta não pode encobrir que as gestões de Lula e Dilma se aliaram com aqueles que ou colaboraram diretamente com os genocidas, como Sarney e Delfim Neto ou são seus representantes “reciclados”, com as oligarquias reacionárias que historicamente se aliaram com os militares e continuam a se beneficiar do regime da democracia dos ricos. Na verdade, o golpe foi desferido no primeiro de abril, conhecido popularmente como o dia da mentira, data escolhida pelos generais golpistas em conluio com a cúpula da UDN e setores do próprio PSD, para desencadear a ação militar que levaria à renúncia do presidente João Goulart. Passados 50 anos do terrível golpe militar que impôs à nação 21 anos de ditadura, colocando o país sob a tutela direta do imperialismo ianque, os “herdeiros civis e democráticos” dos golpistas montaram uma verdadeira “indústria” estatal para promover a busca da “verdade” sobre os bárbaros acontecimentos perpetrados pelo regime militar e seus agentes sociais. Esta “indústria” produz cargos e comissões altamente remuneradas pelo botim estatal, além de vultosas indenizações a todos aqueles que vítimas da repressão reconheçam na democracia burguesa o regime por que combateram. Em troca, o Estado capitalista lhes assegura também o justo “reconhecimento” de que lutaram “bravamente pela democracia e pelo estado de direito”. Deste “comércio” das indenizações e distribuição de “diplomas do mérito democrático” obviamente estão excluídos aqueles que teimam em reafirmar que a luta contra a ditadura militar representava, na verdade, o combate revolucionário ao regime capitalista da propriedade privada dos meios de produção. Em nossa modesta homenagem aos que tombaram ou foram torturados pelos facínoras a serviço do capital, reafirmamos a vigência do Marxismo-Leninismo, a necessidade da construção do partido revolucionário e a manutenção da estratégia da guerra de classes para sepultar o modo de produção capitalista em todos os seus “formatos” políticos e institucionais, denunciando inclusive os que aceitam as reparações ofertadas pelo Estado capitalista como corresponsáveis por encobrir o caráter reacionário da democracia dos ricos.

O governo de João Goulart (Jango) foi o último de uma geração de governos nacionalistas burgueses, surgidos com Getúlio Vargas e parcialmente Juscelino Kubitschek que defendiam um desenvolvimento nacional “autônomo” da burguesia brasileira. Para isto, tentaram melhorar as condições de infraestrutura para o desenvolvimento da indústria de transformação, como a expansão da siderurgia, das usinas hidrelétricas, a instalação da indústria da construção naval, a expansão da indústria automobilística e a abertura de novas rodovias, unindo regiões até então isoladas do país. Todavia, a industrialização do país fortaleceu numérica e politicamente ao movimento operário. O ascenso das massas e o amadurecimento das condições objetivas para a revolução socialista sempre atemorizaram mais à tacanha burguesia nacional do que submeter-se à condição de sócia minoritária dos negócios do grande capital ianque, renunciando a seus sonhos nacional-desenvolvimentistas. Por isso, historicamente, a burguesia brasileira se mostrou incapaz de romper com o imperialismo e resolver plenamente as tarefas democráticas e de emancipação nacional pendentes no país, como a reforma agrária, a ruptura com o atraso e a dependência econômica frente ao imperialismo, o fim do analfabetismo e das desigualdades regionais. As “Reformas de Base” eram apresentadas como uma solução para a crise gerada pelo atraso nacional. Visando a ampliação do mercado interno, medidas como a desapropriação dos latifúndios improdutivos e a distribuição de terras às massas camponesas tinham como objetivo, além de fomentar o crescimento do número de trabalhadores com poder de compra, estendendo os direitos trabalhistas às massas assalariadas agrícolas, aumentar a produção de gêneros alimentícios a baixo custo para ampliar o mercado consumidor de produtos da indústria nacional. Para aumentar o poder aquisitivo dos trabalhadores urbanos, além do salário mínimo, repouso remunerado, férias e 13º salário, o governo prometia uma nova política habitacional que estimularia a redução dos custos dos aluguéis. O projeto das Reformas de Base buscava também a ampliar o mercado externo por meio do incremento das relações comerciais com os Estados operários, como China e a URSS. Para conter a sangria de recursos financeiros nacionais, propunha a limitação às remessas de lucro das empresas estrangeiras para o exterior. Mas, em si, as “Reformas de Base” estavam longe de representar uma ameaça ao capitalismo. O ascenso do movimento operário e popular, cujas mobilizações, impulsionadas pela luta em defesa das reformas de base, vinham crescendo rapidamente desde o início da década de 1960, era o que realmente constituía o centro das preocupações da burguesia e do imperialismo ianque. As grandiosas manifestações de massas em defesa das reformas eram utilizadas por João Goulart muito mais para chantagear os setores reacionários da burguesia e o imperialismo, exigindo que estes fizessem a opção entre o projeto burguês nacionalista das reformas ou a revolução social e o comunismo. A essa chantagem, os setores conservadores da burguesia nacional, com o apoio da igreja católica e do imperialismo ianque, responderam com a reacionária Marcha da Família com Deus pela Liberdade (que os neonazistas pretendem reeditar agora) e com golpe contrarrevolucionário de 1º de abril de 1964, como uma ação preventiva diante do crescimento do movimento das massas operárias e camponesas, que se manifestava em inúmeras greves e embriões de duplo poder, como as Ligas Camponesas no Nordeste.

Na verdade, as “reformas de base” nunca sairiam do “papel”, ou seja, do plano das intenções nacionalistas da impotente burguesia brasileira. Historicamente, estas reformas capitalistas constituem tarefas de uma revolução democrático-burguesa e, portanto, já não podem ser mais realizadas pela burguesia, que se tornou uma classe reacionária na atual etapa de hegemonia do capital financeiro. Na fase histórica do capitalismo monopolista em sua égide imperialista, essas tarefas só podem ser realizadas por um poder revolucionário, como parte da revolução proletária e da construção do socialismo. O governo Goulart e dos setores nacionalistas da burguesia eram politicamente incapazes de levar adiante o seu próprio projeto reformista, o que ficou confirmado quando o governo não organizou qualquer resistência contra os golpistas, ao contrário, demoveu toda a resistência militar ao golpe, deixando isolados todos que pretendiam organizar a luta armada. Por sua vez, os stalinistas do PCB, que tinham o controle de parte do movimento operário, não desejavam a revolução socialista e a Ditadura do Proletariado, “preferindo” fazer das reformas nacionalistas do governo Jango e da política de colaboração de classes, os fundamentos de seu programa, preparando assim o caminho para a derrota sangrenta do proletariado.

O governo Jango oscilava entre seguir os planos econômicos anti-inflacionários do FMI, que causavam recessão e desemprego e torpes medidas reformistas (extremamente radicais, se comparadas à política pró-imperialista dos governos Lula/Dilma). Ao mesmo tempo, Jango alimentava ilusões de que realizaria mudanças mais profundas no futuro, flertava com os Estados operários (China) e com o bloco dos países não-alinhados. Após o susto da Revolução Cubana, os EUA não queriam permitir que o principal país de seu pátio traseiro, o Brasil, corresse o risco de fugir do seu controle e fazer descarrilar toda a América Latina em meio à guerra fria com a URSS. Esta política “centrista” frustrou o movimento de massas e gerou desconfiança por parte do imperialismo e dos setores mais reacionários das classes dominantes. O golpe orientado pela Casa Branca buscava impor a hegemonia política, militar e econômica sobre o Brasil. O regime militar atacou importantes conquistas da luta dos trabalhadores: revogou a nacionalização das refinarias de petróleo, as desapropriações de terras, e anulou a estabilidade no emprego, substituindo-a pelo FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). Fechou várias indústrias estratégicas, entre elas a FNM (Fábrica Nacional de Motores). No período de 1957/60 havia no Brasil cerca de 1,2 mil fabricantes brasileiros de autopeças, eles foram dizimados neste processo, e para vender suas mercadorias foram obrigados a associar-se às multinacionais. O mesmo aconteceu em outras áreas vitais, como o setor farmacêutico, que foi devorado pelos grandes laboratórios imperialistas. Até o magnata da mídia tupiniquim, Assis Chateaubriand, dono dos Diários Associados e da TV Tupi, foi desbancado e substituído por uma corporação associada ao grupo Time-Life, dando origem à Rede Globo.

A perda de fôlego do ciclo econômico proporcionado pelo nacionalismo, a quebra do pacto oligárquico, a impossibilidade da emulação estatal para a burguesia, a falência e ineficiência do movimento operário atrelado ao Estado, foram as causas do descontentamento dos grandes capitalistas no país. Ao mesmo tempo, no calor da vitoriosa Revolução Cubana, o imperialismo partiu à ofensiva na América Latina para evitar a expansão da mesma pelo continente. Na década de 60, sob o patrocínio da CIA foi aberto um ciclo de golpes e regimes gorilas na América Latina. Nesta conjuntura, o jovem proletariado brasileiro começa a dar seus primeiros passos contra a situação de penúria em que se encontrava devido à falência do projeto nacional-desenvolvimentista levado a cabo por João Goulart. Greves e manifestações pipocam por todo o país sem, entretanto, uma direção revolucionária, uma vez que os stalinistas do PCB – que controlavam os principais sindicatos e ligas camponesas – estavam completamente integrados à legalidade do regime político, extasiados com o democratismo burguês. Em decorrência da crise do nacionalismo, que advinha desde o governo JK, a burguesia associada ao capital financeiro internacional passa a exigir o fim do modelo econômico, enquanto o latifúndio via-se ameaçado pelas mobilizações populares. Desmoronava, assim, o castelo de cartas do pacto populista que vigia desde a época de Vargas. Uma greve em São Paulo (6/10/1963) que mobilizaria cerca de 700 mil trabalhadores deu o pontapé inicial para tantas outras que se estenderiam até mesmo após o golpe, fugindo ao controle dos pelegos. No dia 13 de março de 64, o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, foi o pretexto dos militares para derrubar Jango poucos dias depois. O golpe veio para ceifar as lideranças do movimento operário e atuar como profilaxia à perspectiva de revolução social no país: intervenção nos sindicatos, proibição do direito de greve e implantação do terrorismo de Estado para reprimir, prender, torturar e assassinar dirigentes de esquerda. O imperialismo, para impor à força seu modelo colonial de economia e acumulação de capitais, exigia estabilidade do regime e, em consequência, a eliminação da vanguarda militante a qual viria a se recompor no final da década de 70 com as greves operárias do ABC.

Ao se completar os 50 anos do golpe militar no Brasil a mídia burguesa, aproveitando-se do engessamento do movimento operário pela frente popular, vem tentando revisar, através da falsificação histórica, o real significado do golpe militar de 1964 e o regime que lhe sucedeu. Este ambiente profícuo para as demandas reacionárias vem sendo proporcionado precisamente pela conivência do governo Dilma para com os militares golpistas e torturadores. É preciso entender estes fatos como parte integrante da política do governo federal para criminalizar, perseguir e prender ativistas do movimento operário e popular. Os Marxistas Revolucionários defendem a luta pela revogação da Lei de Anistia e a construção de tribunais operários e populares para julgar e condenar os milicos assassinos, a abertura imediata de todos os arquivos da ditadura militar. Mas o governo Dilma sendo o comandante-em-chefe do recrudescimento do regime não dará isto de mão beijada. É imprescindível que o movimento operário e popular rompa com o engessamento das massas promovido pela CUT, MST, UNE corrompidos até a medula pelo governo da frente popular. É preciso uma luta consequente contra a estrutura de terrorismo de Estado e sua máquina de moer gente através da extinção das PMs, das delegacias de polícia e de todo aparato repressivo. Somente assim podemos fazer a verdadeira justiça aos que derramaram seu sangue em combate à ditadura capitalista.

A iniciativa de “chamar” para o cenário político atual o balanço de uma etapa histórica marcada pela maior derrota da classe operária nos últimos 50 anos, sem sombra de dúvidas partiu do governo da frente popular. Dilma busca catapultar um traço específico de sua trajetória política, ou seja, o fato de ter sido militante de uma organização guerrilheira e torturada nos cárceres da ditadura, por sobre a própria história do “mito” Lula, liderança operária que nunca pertenceu a nenhuma organização “revolucionária”. Outro aspecto importante que levou o atual governo a convocar a “Comissão da Verdade” foi o elemento de tentar equiparar-se “democraticamente” aos parceiros do Mercosul como Argentina e Uruguai, cujos governos de “centro-esquerda” vêm manobrando a questão dos presos e desaparecidos em seu favor. Em um momento onde Dilma procura se cacifar para a reeleição, nada melhor do que uma paródia de apuração da verdade histórica, realizada a partir de um organismo paraestatal composto por figuras “sinistras” e “republicanas” totalmente confiáveis a estabilidade social do regime da democracia dos ricos. Tanto a esquerda “chapa branca” como a revisionista de “oposição”, foram mais uma vez completamente a reboque da iniciativa estatal da frente popular, reivindicando do atual regime democratizante que “faça justiça” e “abra os arquivos da ditadura”. Os eixos programáticos postos por esta “esquerda adaptada” acerca da questão da “reparação” e da própria punição aos militares e torturadores revela a absoluta incompreensão do fenômeno histórico que conduziu ao “poder” o regime militar por quase vinte anos.

O golpe militar não irrompeu na conjuntura para interromper simplesmente um “ciclo” democrático da história política do país. A mudança do regime político em 64 foi uma necessidade do “ciclo” da acumulação capitalista em um país que atravessava um ritmo acelerado de associação ao capital imperialista, particularmente ao norte-americano. O governo João Goulart, identificado com o velho “nacionalismo” getulista, estava claramente tensionado por uma vertente um pouco mais à esquerda do nacionalismo burguês latino-americano, onde ocupava um papel decisivo a figura do cunhado Leonel Brizola, que começava a estabelecer as primeiras relações com a social democracia europeia. Neste sentido, a fase de rápida industrialização, subordinada aos investimentos ianques no Brasil, entrava em flagrante contradição com um regime de corte “protecionista” de setores da burguesia nacional. Em um período de grande polarização mundial, onde a classe operária portava uma forte referência ideológica na antiga URSS, a alternativa da emergente burguesia industrial era a instauração de um regime político de “poucas liberdades” para o proletariado e que potenciasse o processo de acumulação capitalista que levou o país ao “milagre” do patamar de oitava economia mundial.

Ao contrário do “senso comum” amplamente difundido pela mídia capitalista e em parte legitimado pela esquerda palatável, nossos combatentes não foram mortos “lutando pelo restabelecimento da democracia”, tombaram no confronto direto com as forças da repressão pela causa da revolução socialista, mais além dos desvios políticos das direções reformistas e etapistas que hegemonizavam o momento. A concepção da “democracia como valor universal” não permeava as mentes de nenhum dos nossos heróis que deram suas vidas no combate revolucionário contra a ditadura militar. Neste ponto reside a contradição fundamental entre o regime de “exceção” imposto ao país pelas classes dominantes e o conjunto da militância socialista naquela etapa da luta de classes. Salvo alguns setores do “Partidão” que já flertavam com uma “flexibilização” do Leninismo em direção à social democracia, o que anos depois daria origem ao chamado “eurocomunismo”, as organizações de esquerda que se levantaram em armas contra os facínoras adotavam a estratégia da defesa da ditadura do proletariado versus ditadura capitalista, sob a forma concreta assumida em 64 de um regime político militar. Somente após décadas, justamente na transição da ditadura militar à democracia burguesa, regime por excelência do modo de produção capitalista segundo Marx, irá acontecer a “metamorfose” da esquerda reformista assumindo as teses do “triunfo” da democracia sobre o “autoritarismo leninista”. Com a queda do Muro de Berlim em 1989, esta mesma esquerda, já formatada a “Nova República”, se transfere definitivamente de “malas e bagagens” para o campo “republicano” das instituições representativas do capitalismo.

Semear falsas ilusões de que este regime democratizante, seja qual for a tonalidade de sua gerência política, possa fazer um resgate histórico dos combatentes socialistas que morreram lutando contra a dominação capitalista em nosso país é uma trágica armadilha que serve para embotar a consciência das novas gerações de lutadores, ou no pior dos casos, um “trambique” para amealhar algum trocado no balcão de negócios das indenizações pagas pelo Estado burguês às vítimas da ditadura. Por sinal, não só os velhos reformistas entraram de cabeça no “negócio” das indenizações, também os revisionistas do PSTU resolveram abrir sua própria “empresa” neste setor. Exigir que a classe capitalista e seu Estado “pague” pelas consequências dos atos espontâneos de heroísmo da causa socialista corresponde à pior maculação da memória revolucionária de nossos combatentes. Desgraçadamente, viúvas e herdeiros biológicos de nomes honrados como Mariguella e Lamarca vêm caindo nesta prática cretina que denigre a escolha abnegada de cada combatente socialista pela causa da revolução. A verdadeira punição aos torturadores e seus “patronos” capitalistas não poderá ser efetivada por nenhum governo “democrático” no marco de um Estado burguês, pelo simples fato de que a burguesia jamais se “autopunirá” de seus monstruosos crimes históricos. Somente a revolução socialista será capaz de “vingar” nossos heróis e combatentes mortos e torturados por um regime militar posto a serviço das grandes multinacionais imperialistas. A farsa desta “Comissão da Verdade” avalizada inclusive pelos “pilantroskos” do PSTU e PSOL em busca de algumas migalhas do Estado burguês deve ser denunciada vigorosamente por todos aqueles que ainda “ousam” levantar a bandeira da revolução socialista e desta forma homenagear aos heroicos combatentes que nunca se vergaram nem diante dos infames algozes como Fleury e seus comparsas, muitos dos quais ainda em plena atividade e acobertados pelo atual governo da frente popular. A única “reparação” possível, para os Marxistas Revolucionários, é enterrar definitivamente da história da humanidade todo e qualquer regime que venha “cultuar” a exploração da classe operária por um punhado de parasitas, protegidos pelas armas de seu estado capitalista.

Sob o manto frio e escuro da democracia burguesa são escondidos os torturadores de ontem e de hoje. Em outras palavras, a perseguição, prisão, tortura e assassinato são por essência os instrumentos do Estado capitalista para impedir que a classe operária se insurja contra o establishment. Exatamente por isto, os órgãos de inteligência e repressão nunca receberam tantas verbas e incrementos quanto durante o governo do PT. Tudo isto só foi possível realizar mediante uma guerra civil preventiva contra as massas para submeter o país a um parasitismo imperialista jamais visto em nossa história. O principal objetivo do golpe foi dobrar a resistência dos trabalhadores para permitir uma reorientação da concentração das riquezas do país em favor do imperialismo ianque e de seus representantes aqui instalados. É importante destacar que os principais setores capitalistas beneficiados com a ditadura militar (banqueiros, latifúndio, burguesia exportadora, Rede Globo) acumularam lucros fabulosos durante as gestões governos do PT. O atual governo entreguista do PT é a expressão da bancarrota da política burguesa reformista, nacional-desenvolvimentista. Somente a construção de um partido revolucionário do proletariado, que para os marxistas do nosso tempo é a IV Internacional reconstruída, será capaz de impulsionar a evolução da consciência dos trabalhadores para vingar a opressão e a exploração sofridas pelas gerações de lutadores abatida e desorganizada pela ditadura militar.