sábado, 22 de março de 2014


Como os Ianques não tem “coragem” de enfrentar militarmente Putin, as sanções econômicas dos EUA e UE contra a Rússia acabarão reforçando os BRICs

O Imperialismo ianque dispõe sem sombra de dúvida do maior e mais avançado aparato bélico do planeta, são capazes de devastar as forças militares de um país sem sequer precisar “sujar” as botas de seus Marines em solo inimigo, como aconteceu recentemente na Líbia. A capacidade de atacar com absoluta precisão alvos muito remotos e até mesmo “neutralizar” eletronicamente equipamentos militares adversários é uma característica muito particular da “extraordinária” máquina de guerra dos EUA, isto é claro sem mencionar seu colossal arsenal nuclear. Mas outra característica marcante das tropas ianques é a sua extrema covardia, própria de um corpo militar composto hoje majoritariamente por elementos mercenários, sem uma “bandeira” para lutar, que ingressam nas forças armadas através de um contrato comercial (temporário) de trabalho, no caso de cidadãos norte-americanos, ou de vantagens jurídicas como vistos de permanência (Green Card) no caso de imigrantes. A rotunda derrota militar do imperialismo na guerra do Vietnã, convulsionando internamente os EUA, impôs todo um reordenamento de seu exército e marinha, chegando mesmo a ter que separar a legendária corporação de “vanguarda” dos Marines de uma de suas armas militares regular, transformando-a institucionalmente em um corpo de mercenários como foi a Legião Estrangeira da França que atuava em suas colônias na África. Estas características atuais do aparato militar ianque explicam em grande parte a covardia do governo Obama em enfrentar adversários de real potencial de resistência, como Coreia do Norte, Irã, Síria e o mais “perigoso” a Rússia. Os “falcões” do Pentágono se mostram muito “valentes” quando se trata de atacar países quase indefesos militarmente, quando uma primeira investida aérea de seus caças já consegue destruir completamente as defesas da nação oprimida. Por isso, na crise internacional deflagrada pela separação da Crimeia do governo fascista instalado em Kiev, os chefes militares dos EUA “aconselharam” Obama a usar o peso econômico do Império e refugar qualquer “aposta” em uma aventura bélica contra a Rússia. O Secretário de Defesa ianque, Chuck Hagel, que parece não querer “imitar” os papéis de seu homônimo belicoso Chuck Norris, em uma longa ligação telefônica com o ministro russo Sergei Shoigu, afirmou que os EUA descarta qualquer possibilidade de confronto com as forças do antigo Exército Vermelho. Restou a Obama coordenar com seus “colegas” imperialistas, como Merkel e Hollande, uma retaliação econômica a Rússia, no sentido de uma gradual retração das importações de gás e commodities agrícolas por parte do continente europeu. Para Putin e seu staff restauracionista na medida em que estas sanções entrarem em vigor restará a Rússia intensificar seu comércio com os mercados da China e Índia, levando objetivamente a um reforço de conjunto das relações financeiras no interior do bloco dos BRICs, o que poderá colocar o Brasil como um novo parceiro preferencial de Moscou.

Na Ucrânia Putin colocou novamente o governo Obama em situação extremamente delicada e que está deixando às claras a covardia do império em enfrentar inimigos com pelo menos alguma capacidade de “resposta” militar. Primeiro foi o recuo na Síria, logo após a Casa Branca anunciar que iria atacar o país em poucos dias a Rússia anunciou que apoiaria Assad em caso de uma agressão externa, Obama vergonhosamente desistiu do bombardeio abrindo um precedente muito perigoso para a nação mais “poderosa do planeta”. Novamente as bravatas do imperialismo ameaçando Moscou no caso da “anexação” da Crimeia caíram como um castelo de cartas, deixando como opção “militar” para o Pentágono a humilhante via de armar bandos fascistas em Kiev, além de tentar organizar uma oposição fundamentalista islâmica entre o povo tártaro que habita a península do Mar Negro. Esta tem sido a “tática” preferencial do imperialismo ianque diante dos regimes nacionalistas burgueses que busca derrocar em todo mundo, ou seja, impulsionar hordas neofascistas e grupos muçulmanos raivosos contra o comunismo, que consideram como o satã na terra. Por mais inacreditável que possa parecer são estes setores alimentados pelos EUA, ultrarreacionários e de extrema-direita, os que são considerados como “revolucionários” pelos revisionistas da LIT/ PSTU.

Os seguidos refugos da Casa Branca diante de Putin tem incrementado com muita força o retorno do nacionalismo russo, que neste momento tenta novamente delinear sua “zona de influência” como nos tempos soviéticos. Desde a destruição contra-revolucionária das conquistas operárias na antiga URSS, o bando restauracionista, inaugurado por Yeltsin, vinha desestimulando qualquer atrito político ou militar com o imperialismo europeu e ianque, neste sentido as parcas manifestações nacionalistas russa eram duramente reprimidas pelo Kremlin. Mas a chamada “revolução laranja” ocorrida em 2004 na Ucrânia ascendeu o “alerta vermelho” para os restauracionistas, era necessário parar de se “agachar” perante os EUA ou se transformariam em mais um “quintal” do imperialismo ianque. Neste período este setor estatal já convertido em burguesia russa (a restauração capitalista havia terminado por completo) era comandado por Putin, um ex-dirigente da KGB e simpatizante distante do velho stalinismo. Com o fortalecimento econômico da Rússia no final da década passada, produto das exportações de Gás e Petróleo para a Europa, os projetos da poderosa indústria bélica foram reiniciados, tendo como marco o lançamento do moderno caça Sukhoi, único supersônico do planeta com capacidade de enfrentar os F-18 norte-americanos.

Ainda é muito cedo para fechar uma caracterização rigorosa sobre a dinâmica política que vem assumindo o “novo” nacionalismo russo, sob a égide de Putin, mas já podemos afirmar que se trata de um fenômeno radicalmente distinto do nacionalismo neofascista ucraniano, por exemplo. Também seria uma completa tolice para o marxismo caracterizar este vetor nacionalista como uma expressão do “neo-imperialismo russo”. A Rússia, desde sua “reconstrução” capitalista (favor não confundir com a destruição da URSS), vem se configurando como uma semicolônia do imperialismo europeu, fornecedora de commodities agrominerais de baixo valor agregado. Sua avançada indústria bélica (herança do Estado operário soviético) sofre um duro bloqueio comercial dos EUA, sendo que poucos países tem a “ousadia” para comprar as armas russas, Venezuela e Síria fazem parte deste “seleto” grupo. Como não pode se basear na venda de equipamentos bélicos para acumular divisas cambiais, a Rússia tem organizado sua economia em torno da Gazprom, principal empresa exportadora do país. Seria tão estúpido, do ângulo científico do Leninismo, considerar a Rússia imperialista tanto como qualificar politicamente seu atual curso nacionalista burguês de enfrentamento com o imperialismo como “reacionário”. A história mundial tem demonstrado que a movimentação social de setores das burguesias nacionais podem oscilar politicamente de acordo com a etapa da luta de classes. Podemos citar o exemplo do nacionalismo “getulista” no Brasil, que transitou da aberta simpatia do fascismo a um tímido anti-imperialismo latino americano, o que lhe custou o segundo governo e a própria vida.

Não seria nenhum absurdo teórico prognosticar que no atual período histórico, de profunda ofensiva neoliberal do imperialismo, venha a ocorrer o deslocamento de setores da burguesia nacional em alguns países, para o campo político do anti-imperialismo. Este foi o caso da Venezuela do coronel Chávez e poderá ser também uma possibilidade para a Rússia do ex-agente da KGB Putin, somente a evolução da luta de classes dará a última palavra. Por hora o certo mesmo é que na medida em que o imperialismo ianque decida como punição a sua “intervenção” política na Crimeia cercar comercialmente a Rússia, reduzindo seu mercado de exportações para a Europa, o bloco do BRIC surja como uma forte alternativa econômica, até então secundarizada pelo governo de Moscou.