Como os Ianques não tem “coragem”
de enfrentar militarmente Putin, as sanções econômicas dos EUA e UE contra a
Rússia acabarão reforçando os BRICs
O Imperialismo ianque
dispõe sem sombra de dúvida do maior e mais avançado aparato bélico do planeta,
são capazes de devastar as forças militares de um país sem sequer precisar “sujar”
as botas de seus Marines em solo inimigo, como aconteceu recentemente na Líbia.
A capacidade de atacar com absoluta precisão alvos muito remotos e até mesmo “neutralizar”
eletronicamente equipamentos militares adversários é uma característica muito
particular da “extraordinária” máquina de guerra dos EUA, isto é claro sem mencionar
seu colossal arsenal nuclear. Mas outra característica marcante das tropas
ianques é a sua extrema covardia, própria de um corpo militar composto hoje
majoritariamente por elementos mercenários, sem uma “bandeira” para lutar, que
ingressam nas forças armadas através de um contrato comercial (temporário) de
trabalho, no caso de cidadãos norte-americanos, ou de vantagens jurídicas como
vistos de permanência (Green Card) no caso de imigrantes. A rotunda derrota
militar do imperialismo na guerra do Vietnã, convulsionando internamente os
EUA, impôs todo um reordenamento de seu exército e marinha, chegando mesmo a
ter que separar a legendária corporação de “vanguarda” dos Marines de uma de
suas armas militares regular, transformando-a institucionalmente em um corpo de
mercenários como foi a Legião Estrangeira da França que atuava em suas colônias
na África. Estas características atuais do aparato militar ianque explicam em
grande parte a covardia do governo Obama em enfrentar adversários de real potencial
de resistência, como Coreia do Norte, Irã, Síria e o mais “perigoso” a Rússia.
Os “falcões” do Pentágono se mostram muito “valentes” quando se trata de atacar
países quase indefesos militarmente, quando uma primeira investida aérea de
seus caças já consegue destruir completamente as defesas da nação oprimida. Por
isso, na crise internacional deflagrada pela separação da Crimeia do governo
fascista instalado em Kiev, os chefes militares dos EUA “aconselharam” Obama a
usar o peso econômico do Império e refugar qualquer “aposta” em uma aventura
bélica contra a Rússia. O Secretário de Defesa ianque, Chuck Hagel, que parece
não querer “imitar” os papéis de seu homônimo belicoso Chuck Norris, em uma
longa ligação telefônica com o ministro russo Sergei Shoigu, afirmou que os EUA
descarta qualquer possibilidade de confronto com as forças do antigo Exército
Vermelho. Restou a Obama coordenar com seus “colegas” imperialistas, como
Merkel e Hollande, uma retaliação econômica a Rússia, no sentido de uma gradual
retração das importações de gás e commodities agrícolas por parte do continente
europeu. Para Putin e seu staff restauracionista na medida em que estas sanções
entrarem em vigor restará a Rússia intensificar seu comércio com os mercados da
China e Índia, levando objetivamente a um reforço de conjunto das relações
financeiras no interior do bloco dos BRICs, o que poderá colocar o Brasil como
um novo parceiro preferencial de Moscou.
Na Ucrânia Putin colocou
novamente o governo Obama em situação extremamente delicada e que está deixando
às claras a covardia do império em enfrentar inimigos com pelo menos alguma
capacidade de “resposta” militar. Primeiro foi o recuo na Síria, logo após a
Casa Branca anunciar que iria atacar o país em poucos dias a Rússia anunciou
que apoiaria Assad em caso de uma agressão externa, Obama vergonhosamente
desistiu do bombardeio abrindo um precedente muito perigoso para a nação mais “poderosa
do planeta”. Novamente as bravatas do imperialismo ameaçando Moscou no caso da “anexação”
da Crimeia caíram como um castelo de cartas, deixando como opção “militar” para
o Pentágono a humilhante via de armar bandos fascistas em Kiev, além de tentar
organizar uma oposição fundamentalista islâmica entre o povo tártaro que habita
a península do Mar Negro. Esta tem sido a “tática” preferencial do imperialismo
ianque diante dos regimes nacionalistas burgueses que busca derrocar em todo
mundo, ou seja, impulsionar hordas neofascistas e grupos muçulmanos raivosos
contra o comunismo, que consideram como o satã na terra. Por mais inacreditável
que possa parecer são estes setores alimentados pelos EUA, ultrarreacionários e
de extrema-direita, os que são considerados como “revolucionários” pelos
revisionistas da LIT/ PSTU.
Os seguidos refugos da
Casa Branca diante de Putin tem incrementado com muita força o retorno do
nacionalismo russo, que neste momento tenta novamente delinear sua “zona de
influência” como nos tempos soviéticos. Desde a destruição contra-revolucionária
das conquistas operárias na antiga URSS, o bando restauracionista, inaugurado
por Yeltsin, vinha desestimulando qualquer atrito político ou militar com o
imperialismo europeu e ianque, neste sentido as parcas manifestações
nacionalistas russa eram duramente reprimidas pelo Kremlin. Mas a chamada “revolução
laranja” ocorrida em 2004 na Ucrânia ascendeu o “alerta vermelho” para os
restauracionistas, era necessário parar de se “agachar” perante os EUA ou se
transformariam em mais um “quintal” do imperialismo ianque. Neste período este
setor estatal já convertido em burguesia russa (a restauração capitalista havia
terminado por completo) era comandado por Putin, um ex-dirigente da KGB e
simpatizante distante do velho stalinismo. Com o fortalecimento econômico da
Rússia no final da década passada, produto das exportações de Gás e Petróleo
para a Europa, os projetos da poderosa indústria bélica foram reiniciados,
tendo como marco o lançamento do moderno caça Sukhoi, único supersônico do
planeta com capacidade de enfrentar os F-18 norte-americanos.
Ainda é muito cedo para
fechar uma caracterização rigorosa sobre a dinâmica política que vem assumindo
o “novo” nacionalismo russo, sob a égide de Putin, mas já podemos afirmar que
se trata de um fenômeno radicalmente distinto do nacionalismo neofascista
ucraniano, por exemplo. Também seria uma completa tolice para o marxismo
caracterizar este vetor nacionalista como uma expressão do “neo-imperialismo
russo”. A Rússia, desde sua “reconstrução” capitalista (favor não confundir com
a destruição da URSS), vem se configurando como uma semicolônia do imperialismo
europeu, fornecedora de commodities agrominerais de baixo valor agregado. Sua
avançada indústria bélica (herança do Estado operário soviético) sofre um duro
bloqueio comercial dos EUA, sendo que poucos países tem a “ousadia” para
comprar as armas russas, Venezuela e Síria fazem parte deste “seleto” grupo.
Como não pode se basear na venda de equipamentos bélicos para acumular divisas
cambiais, a Rússia tem organizado sua economia em torno da Gazprom, principal
empresa exportadora do país. Seria tão estúpido, do ângulo científico do
Leninismo, considerar a Rússia imperialista tanto como qualificar politicamente
seu atual curso nacionalista burguês de enfrentamento com o imperialismo como “reacionário”.
A história mundial tem demonstrado que a movimentação social de setores das
burguesias nacionais podem oscilar politicamente de acordo com a etapa da luta
de classes. Podemos citar o exemplo do nacionalismo “getulista” no Brasil, que
transitou da aberta simpatia do fascismo a um tímido anti-imperialismo latino
americano, o que lhe custou o segundo governo e a própria vida.
Não seria nenhum absurdo
teórico prognosticar que no atual período histórico, de profunda ofensiva
neoliberal do imperialismo, venha a ocorrer o deslocamento de setores da
burguesia nacional em alguns países, para o campo político do
anti-imperialismo. Este foi o caso da Venezuela do coronel Chávez e poderá ser
também uma possibilidade para a Rússia do ex-agente da KGB Putin, somente a
evolução da luta de classes dará a última palavra. Por hora o certo mesmo é que
na medida em que o imperialismo ianque decida como punição a sua
“intervenção” política na Crimeia cercar comercialmente a Rússia,
reduzindo seu mercado de exportações para a Europa, o bloco do BRIC surja como
uma forte alternativa econômica, até então secundarizada pelo governo de
Moscou.