segunda-feira, 17 de março de 2014


Referendo na Crimeia: Vitória esmagadora da resistência popular à atual ofensiva neoliberal do imperialismo na região de influência da antiga URSS

O referendo realizado na Crimeia neste domingo, 16 de março, aprovou com 96,8 % dos votos seu desligamento político e territorial da Ucrânia e a integração da região a Rússia. O comparecimento às urnas superou 85% de participação popular, legitimando uma decisão histórica que reflete a esmagadora vontade das massas de resistir à política pró-imperialista do “novo” governo ucraniano imposto através de um golpe de estado que contou com o apoio da Casa Branca a partidos reacionários e grupos neonazistas financiados pela CIA. Um milhão e meio de eleitores da península ucraniana foram às urnas e decidiram pela “reunificação com a Rússia como membro da Federação Russa”, porém somente 60% destes têm ligação étnica e linguística com a Rússia. Na verdade, a deliberação retumbante formaliza o que o povo já havia expressado nas ruas repudiando ativamente a política de anexação da Ucrânia a União Europeia. A decisão tem desdobramentos estratégicos e imediatos na luta de classes mundial porque os imperialismos ianque e europeu anunciaram que não reconhecem o resultado do referendo e os EUA ameaçam aplicar imediatamente sanções contra a Rússia. Além disso, o resultado vem estimulando outras regiões da Ucrânia a se desligarem do país a fim de se unificarem com a Rússia (como em Donetsk e outras localidades que ficam no leste) revelando que o governo golpista não tem absolutamente nenhum controle sobre a Ucrânia a não ser na própria capital Kiev. Ciente do perigo, os EUA emitiram um comunicado reafirmando que rejeita o resultado da consulta: “Este referendo é contrário à Constituição da Ucrânia, e a comunidade internacional não reconhecerá os resultados desta votação”, declarou o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney. Cinicamente a nota diz ainda que “as ações da Rússia são perigosas e desestabilizadoras” quando foi o próprio imperialismo que impôs a queda de Viktor Yanukovich por meio de mobilizações reacionárias e tem se especializado em patrocinar “protestos” para fragilizar governos adversários a seus interesses, como vemos na Venezuela, Síria, Irã e na própria Rússia. Em meio a este quadro político extremamente polarizado, os Marxistas Revolucionários saúdam a decisão histórica do povo e dos trabalhadores da Crimeia e, ao mesmo tempo, declaram que se postam incondicionalmente ao lado da Rússia contra o imperialismo e seus agentes neonazistas internos no caso de um enfrentamento bélico com as potências capitalistas e a OTAN! Somente os ratos decompostos da LIT/PSTU, que ainda se reclamam de esquerda, podem afirmar que apoiarão os neonazistas ucranianos em caso de um enfrentamento concreto com as forças militares de Putin, em nome de uma suposta “revolução” em Kiev. Os Bolcheviques Leninistas em caso de uma guerra deflagrada na região de influência geopolítica da antiga URSS saberão levantar as “bandeiras de outubro”, tão sentidas para o proletariado soviético, e na mesma trincheira militar dos restauracionistas russos contra o imperialismo acertarão suas “contas” históricas com aqueles que ajudaram a destruir as conquistas operárias da revolução socialista de 1917.

Logo depois da proclamação do resultado do referendo, Obama voltou a afirmar que os EUA e os países europeus não aceitarão o resultado da votação e encontram-se “preparados” para aplicar sanções a Moscou. Preventivamente, os EUA já removeram as reservas de ouro da Ucrânia (40 toneladas) para seu controle, com o New Federal Reserve tomando a sua custódia, ou seja, o “novo regime” já está pagando a Casa Branca pelo apoio recebido e o imperialismo saqueia o país temendo os desdobramentos de uma guerra futura. Grupos neonazistas que participam do governo de Kiev inclusive ameaçaram destruir o gasoduto que leva gás da Rússia para a Europa como retaliação à decisão do referendo. Não por acaso, Obama alertou Putin que os exercícios militares russos na fronteira da Ucrânia “só aumentam a tensão”. O presidente russo, por sua vez, defendeu o referendo da região ucraniana da Crimeia: “Foi plenamente conforme os princípios do direito internacional e à Carta da ONU, e levou em conta especialmente o precedente de Kosovo”, província sérvia de maioria albanesa que se tornou “independente” com a ajuda do imperialismo ianque, quando a OTAN bombardeou a Sérvia durante quase 80 dias em 1999 para impor a separação da província de Kosovo, onde existe a maior base militar norte-americana fora dos Estados Unidos, Camp BondSteel. Os EUA, além de acusarem Putin de estimular o conflito na Ucrânia com o objetivo de anexar o território da Crimeia, também suspenderam algumas transações comerciais com a Rússia e cancelaram um acordo de cooperação militar com Moscou. A Rússia é ameaçada também de ser expulsa do G8 (grupo dos países mais industrializados do mundo) caso mantenha sua posição. Apesar disso, há fortes divergências de como agir entre os EUA e a Alemanha, já que Merkel teme sérias consequências para a Europa no caso de uma guerra, afetando não só o fornecimento de gás e petróleo, mas colocando em risco os investimentos dos capitalistas alemães na Rússia. O abastecimento de energia da União Europeia depende do gás importado da Rússia. A Rússia não é só o principal provedor de energia da Alemanha como também seu quarto sócio comercial por fora da União Europeia. A França tem importantes investimentos na indústria automotiva russa, além de que Londres e outros lugares contam com os importantes negócios financeiros dos principais burgueses russos.

Até a véspera do referendo o imperialismo usou toda a pressão diplomática possível via Nações Unidas. No sábado, 15 de março, um projeto de resolução do Conselho de Segurança da ONU que condenava o referendo acabou sendo arquivado. O documento recebeu 13 votos favoráveis dos 15 membros do Conselho, mas foi rejeitado devido ao veto da Rússia, que, como membro permanente, pôde bloquear a proposta. A China se absteve, sob o pretexto que o apoio a “independência” da Crimeia da Ucrânia pode abrir um precedente para movimentos separatistas em futuras regiões chinesas como o Tibet. A conduta abjeta do PCCh demonstra na verdade que a covarde política da burocracia restauracionista de Pequim deseja estrategicamente ver o avanço do conflito entre o imperialismo ianque e a Rússia para que no futuro possa ela mesmo ser supostamente a “potência militar” que faça o contraponto aos EUA, ampliando sua área de influência política, econômica e militar. Acontece que esta política do PCCh é suicida na medida em que favorece a sanha genocida da Casa Branca não só contra a Rússia, mas sobre o conjunto das nações que não estão servilmente alinhadas com o interesses dos monopólios ianques e europeus, como o Irã e a própria China. Washington deseja futuramente livrar-se de Putin e seu séquito estrategicamente para impor a sua semicolônia uma nova fase histórica, hoje travada pelos arroubos do Kremlin, que utiliza do poderio militar russo para barganhar áreas de influência regional com o imperialismo ianque. Até antes da crise síria, a Casa Branca pretendia fazer da Rússia um apêndice militar do Pentágono, já que do ponto de vista político desde a era Yeltsin o Kremlin vem seguindo a Casa Branca em seus passos de rapinas imperiais no planeta. Agora este processo encontra-se temporariamente congelado porque o recuo forçado da ofensiva imperialista na Síria e Ucrânia fortaleceu a Rússia como contraponto global à política de neocolonialista do Pentágono.

Em meio ao conflito em curso, os revisionistas do trotskismo, como o PSTU (LIT) e CST (UIT), se colocam mais uma vez ao lado do imperialismo, não só caracterizando o golpe de estado como uma “revolução” como também se opondo a separação da Crimeia. O PSTU afirma que “Qualquer organização que se reivindique revolucionária e os ativistas mais conscientes devem se opor terminantemente a qualquer tentativa de separatismo por parte dos oligarcas da Criméia ou outras regiões do leste. O separatismo, no caso da revolução ucraniana, é sumamente reacionário e não passa de uma jogada para dividir o povo e afastar o proletariado industrial (mais numeroso e concentrado no leste) das mobilizações de Kiev e do oeste” (Dois poderes na Ucrânia, LIT, 05/03). Já a CST vai ainda mais longe e declara “Fora a intervenção militar russa! Não ao referendo que pretende anexar a Criméia!”. Os morenistas canalhas da UIT ainda vociferam que “Após a revolta popular que derrubou o governo reacionário e repressivo pró-russo de Yanukovych, a Rússia, sob a presidência de Putin, interveio militarmente na região da Crimeia sob o falso pretexto da ‘defesa humanitária’ dos concidadãos russos. O governo regional pró Yanukovich convocou um referendo, com o apoio das tropas russas e paramilitares, para 16 de Março a fim de anexar a Criméia à Federação Russa. Não se trata de nenhuma defesa humanitária e nem de uma reivindicação justa à autodeterminação, mas uma armação de Putin para dividir a Ucrânia e rachar o processo de rebelião das massas, manter a base naval de sua frota de guerra em Sebastopol, com mais de 13 mil soldados, e defender os negócios dos mafiosos empresários russos. Por isso, nós chamamos a rechaçar essa intervenção e a tentativa de anexar a Crimeia” (CST, 10/03). Estes agrupamentos que saudaram o fim da URSS como uma “vitória revolucionária” agora se colocam mais uma vez ao lado dos falsos “revolucionários” que na verdade são hordas fascistas! Além disso, se postam no campo militar da OTAN contra a Rússia, como fizeram na Líbia ao apoiar os “rebeldes”mercenários contra Kadaffi, na época saudando a “intervenção” dos bombardeios da OTAN! Os revisionistas cretinos que se opõem a ajuda militar russa ao povo da Crimeia, saudada por mobilizações de massas, são os mesmos que pedem armas para o imperialismo a fim de derrubar Al-Assad na Síria! Longe desta política pró-imperialista está colocado para o proletariado mundial e, particularmente, para os trabalhadores das ex-repúblicas soviéticas rechaçarem as investidas da UE, da OTAN, dos EUA e de seus agentes da Ucrânia. Apesar de não depositarmos qualquer confiança no governo burguês de Putin-Medvedev, cuja conduta está voltada a defender os interesses da nascente burguesia russa, as fricções com a Casa Branca objetivamente representam um obstáculo à expansão guerreirista da OTAN na região. Deve ficar claro neste momento que em um cenário mundial onde os governos nacionalistas burgueses são o alvo central da ofensiva neoliberal do capital financeiro, seria criminoso se um partido revolucionário adotasse o abstencionismo como estratégia, ou pior ainda se colocasse no campo programático das “revoluções democráticas” fabricadas nos laboratórios políticos da Casa Branca, como fazem os morenistas e seus satélites a exemplo do PTS argentino.

Desde a LBI defendemos que o proletariado deve atuar com toda firmeza na conformação de blocos táticos, com setores nacionalistas e anti-imperialistas, cujo objetivo central é a derrota em toda linha do “monstro guerreirista” que habita a Casa Branca. Nesse sentido, temos que desmascarar também aqueles grupos que pregam o abstencionismo alegando que a Rússia seria um país imperialista ou mesmo um subimperialismo regional. Esta “teoria” ignora ou rejeita os conceitos desenvolvidos por Lenin e Trotsky acerca da impossibilidade dos países atrasados, no período da égide do capitalismo monopolista, tornarem-se economias imperialistas. Com a vitória da contrarrevolução na URSS em 1991, e aproveitando o caos dos primeiros anos de restauração capitalista sob o governo Yeltsin com a consequente decadência econômica, política e social da ex-URSS, os EUA avançaram sobre a Rússia e sua zona de influência. Com a chegada de Putin ao governo esse curso de desintegração começou a se reverter. Putin estabeleceu um regime que fortaleceu a autoridade estatal, tomou o controle férreo dos principais recursos do país – enfrentando mesmo alguns dos oligarcas que haviam ficado com o botim das privatizações, reconverteu a Rússia de velha potência industrial em um país exportador de petróleo e gás, beneficiando-se amplamente dos altos preços destas matérias-primas e recompôs seu exército. Isso levou a que nos últimos anos a Rússia ressurgisse como uma potência regional e que tenta resistir à política ofensiva das potências ocidentais sob sua esfera de influência mais próxima, com uma série de iniciativas como a União Alfandegária Euro-asiática, ou subsidiar o preço do gás, embora de nenhuma maneira se transformasse em uma grande potência capitalista: sua economia é cada vez mais rentista e dependente do preço do petróleo e do gás. Não nutrimos a menor simpatia política pelos bandos mafiosos restauracionistas que se instalaram no poder na Rússia desde a contrarrevolução de agosto de 1991, ao contrário, nos postamos ao lado da ala da burocracia stalinista (“Bando dos oito”) que tentou barrar a seu modo torpe esse processo. Porém, não apoiamos qualquer “movimento” de fachada democrática patrocinado pelo Departamento de Estado ianque que tenha como objetivo preparar as condições para defenestrar Putin pelas mãos de uma ofensiva imperialista para impor um nome ainda mais alinhado com a Casa Branca. Por termos defendido programaticamente as conquistas operárias existentes na URSS, ao contrário do PSTU, PCO e LER, hoje temos moral política para afirmar que a contrarrevolução que varreu o leste europeu não pariu uma Rússia imperialista. Eliminou sim as conquistas históricas do proletariado soviético, mas não deu lugar ao nascimento de um novo imperialismo. O contemporâneo expansionismo geopolítico e militar russo nada tem a ver com a rigorosa definição leninista de imperialismo, como sendo a “exportação do capital financeiro por meio da força”, ao contrário é reflexo direto da reação nacionalista da “jovem” burguesia russa, oprimida pelo capital imperialista alemão.

Como Marxistas Leninistas devemos denunciar o “novo governo” ucraniano e seu caráter contrarrevolucionário, voltado a fazer no país uma “transição democrática” conservadora aos moldes da que vem sendo operada no Oriente Médio, servindo de Cavalo de Tróia contra a Rússia. Por esta razão, opomos-nos pelo vértice à política dos grupos revisionistas que depois de saudarem a farsesca “revolução árabe” agora apoiam as manifestações da direita assim como festejaram no passado as “revoluções das cores” na Ucrânia, Geórgia, Quirguistão. Tais “revoluções” nada mais eram que a segunda etapa da restauração capitalista em curso nas antigas repúblicas soviéticas, hoje convertidas a países capitalistas atrasados semicoloniais, quando o imperialismo ianque e europeu impuseram títeres nos governos que ainda estavam sob a influência do Kremlin e mantinham relações políticas e econômicas privilegiadas com a Rússia. Agora, a Ucrânia é novamente a bola da vez da reacionária ofensiva do imperialismo, que tomou grande impulso com a derrubada do regime Kadaffi pela OTAN e que no fundo tendo como alvo o próprio Putin no Kremlin! Somente genuínos trotskistas que não se deixaram levar pelo canto de sereia “humanitário” imperialista, que se mantêm firmes na luta para que os povos oprimidos assumam o controle dos recursos energéticos do planeta, pela expulsão dos abutres multinacionais e expropriação do conjunto das burguesias mafiosas, terão autoridade suficiente perante as massas ucranianas, georgianas, ossetas e russas para conduzir a luta estratégica por uma Federação de repúblicas socialistas e soviéticas livres, fundadas por novas Revoluções Bolcheviques. A decisão do povo da Crimeia aponta o caminho..