sexta-feira, 21 de março de 2014


O escândalo da compra da refinaria de Pasadena no Texas pela Petrobras representa bem mais do que um caso de corrupção estatal... é o reflexo da política “estratégica” de subordinação do Brasil ao imperialismo ianque

O governo Dilma e a principal empresa estatal do país, a Petrobras, estão sob fogo cerrado (“amigo e inimigo”) diante das denúncias acerca da compra “superalavancada” em 2006 de uma pequena refinaria de petróleo no estado norte-americano do Texas. Trata-se da refinaria de Pasadena, que teve 50% de suas ações arrebatadas pela Petrobras das mãos da empresa belga Astra Oil Company, no valor de 360 milhões de Dólares. A transnacional Astra, que já opera há muitos anos nos EUA, tinha comprado a refinaria inteira de Pasadena em 2005 por escassos 42,5 milhões de Dólares. Em apenas um ano a Astra obteve do negócio realizado com a Petrobras um lucro de mais de mil por cento! Mas o enorme prejuízo com a compra da metade acionária de Pasadena era apenas o começo, o pior para a Petrobras ainda estava por vir! Para obter o aval positivo do Conselho de Administração da Petrobras, que na época era presidido por Dilma na condição de ministra do governo Lula, a empresa belga alegou que teria comprado Pasadena inativa e, portanto, realizado investimentos financeiros necessários para colocá-la novamente em funcionamento. Com o volumoso aporte monetário do conselho da Petrobras, a Astra tenta colocar novamente em funcionamento a velha e ultrapassada refinaria do Texas, mas logicamente os resultados são desastrosos, Pasadena não consegue processar, por patente insuficiência tecnológica, nem o petróleo marítimo brasileiro e tampouco a maioria do extraído hoje nos EUA (xisto), o resultado não poderia ser outro a não ser um rotundo prejuízo. Mas para a transnacional Astra não haveria o menor risco, mesmo no pior cenário comercial possível de Pasadena, o motivo era uma cláusula no contrato de associação com a Petrobras que garantia um lucro incondicional a empresa belga de 6,9% ao ano. Ao questionar na corte de justiça norte-americana os termos financeiros da “parceria” com a Astra, a Petrobras foi condenada em 2012 a comprar a outra metade de Pasadena, em função de outra cláusula contratual, chamada de “Put Option”. Desta vez pelos outros 50% do “elefante Branco” de Pasadena a Petrobras foi obrigada a pagar a “irrisória” quantia de 820,5 milhões de Dólares, totalizando um montante de 1,2 bilhão de Dólares pagos a Astra. Avaliação realizada hoje por “especialistas” do setor energético estimam que o preço de mercado da refinaria de Pasadena não ultrapasse a soma de 15% do total do valor desembolsado pela Petrobras, gerando um rombo para o caixa da estatal na ordem de um bilhão de Dólares! Mas o que queremos debater neste artigo não é somente mais um caso crônico de corrupção estatal, onde com certeza uma dúzia de políticos burgueses e tecnocratas da estatal engordaram um pouco mais suas contas em paraísos financeiros, para “cegarem” por completo na leitura de um contrato “surrealista”, tão danoso ao interesse do país quanto aos dos trabalhadores da Petrobras. Queremos trazer à tona com o escândalo de Pasadena uma discussão bem mais profunda, ou seja da visceral subordinação da burguesia nacional aos interesses históricos do imperialismo ianque, que impõe há décadas ao Brasil a insuficiência tecnológica no processamento do petróleo, gerando a dependência do país em relação aos derivados refinados do óleo cru, como o diesel, gasolina, nafta e o querosene para a aviação civil e militar. Na atual etapa da luta de classes, pós “Guerra Fria”, em um cenário mundial hegemonizado pelos EUA, um país que não possui autonomia energética não pode ser plenamente soberano. Não basta produzir a “commodity” petróleo para vendê-la para as grandes corporações internacionais e depois comprá-la mais caro na forma de múltiplos derivados, isto não é e nunca será “autossuficiência”. Foi nesta lógica de submissão “estratégica” a sobrevivência do decadente monoimpério que meia dúzia de políticos burgueses corruptos que controlam de fato a Petrobras caíram no “conto do vigário” e compraram uma refinaria imaginária na lua... digo no Texas...

Mas para uma “gigante” do setor de energia, como a Petrobras, mesmo um prejuízo criminoso no montante de um bilhão de Dólares não seria suficiente para “abalar” sua reputação no mercado acionário e tampouco desvalorizar seus ativos e patrimônio em cerca de um terço só nos últimos quatro anos, afinal o que está acontecendo com a principal e mais conceituada estatal brasileira? A resposta a esta questão está longe de ser um consenso entre os “estudiosos” da economia nacional. Estamos assistindo constantemente a publicidade dos governos petistas anunciarem o “pré-sal” como a “redenção” do atraso do país e contraditoriamente a Petrobras caminha agonicamente na direção da falência... Só no ano passado o rombo da estatal margeou a casa de 15 bilhões de Dólares. Para os neoliberais de todos os calibres a questão se resume as “desastrosas” gestões petistas, que segundo o Tucanato se recusaram a reajustar o preço dos combustíveis ao patamar exigido pelas grandes distribuidoras. No entanto, o que nem os neoliberais nem os frentepopulistas podem afirmar, em função de seus vínculos orgânicos com o capital, é que o “modelo” em seu conjunto está falido!

Desde a quebra do monopólio estatal do petróleo, no governo da “privataria” tucana, nossas reservas de gás e óleo vem sendo “vendidas” pela ANP, para as transnacionais de energia, a um preço muito inferior da cotação real no mercado mundial. Mas isto é apenas a “ponta do iceberg”, enquanto a extração marítima de petróleo vem crescendo lentamente na ordem de 5% ao ano, na última década, a importação dos derivados do óleo cru vem evoluindo na marca de 15% a cada ano e com viés de alta (só no ano passado alcançaram a casa de 20%). Com um ritmo de crescimento alucinante da frota rodoviária, em um país que sucateou sua malha ferroviária, não fica muito difícil prever em breve um colapso da chamada “conta petróleo”. Não precisa ser muito esperto para adivinhar de onde importamos 70% de nossos combustíveis fósseis, que agora já alimentam até nossas usinas termoelétricas... Se pensou no Tio Sam “acertou na mosca”, que possui pelo menos 20 vezes o número de nossas refinarias. Enquanto isso a refinaria de petróleo mais nova construída no país data de 1980, não passando de dez em todo o Brasil com plena capacidade de funcionamento. Os projetos das novas plantas de refinarias, cerca de meia dúzia, estão todos atrasados, inclusive o principal o COMPERJ, no município de Campos interior fluminense.

Neste quadro absolutamente deficitário de energia fóssil refinada, como também no setor petroquímico, o péssimo desempenho da Petrobras nos últimos anos já afeta o resultado da balança comercial brasileira, que só não entrou no “vermelho” em 2013 por conta de manobras contábeis da equipe econômica palaciana. Como se pode facilmente aferir no “veto” da Casa Branca na direção da expansão de novas refinarias nacionais tem suas múltiplas razões de ser, desde a questão estratégica militar (não podemos esquecer que no golpe militar de 64 a primeira medida do governo ianque foi trazer para nossa costa navios tanques para o abastecimento de blindados e aviões em caso de uma guerra civil) até os “generosos” lucros facilmente obtidos na venda dos derivados do petróleo. Os governos da Frente Popular, Lula e Dilma, nada fizeram para reverter a privataria Tucana, seja propondo a retomada do monopólio estatal do petróleo ou o “expurgo” dos interesses imperialistas no interior da Petrobras, pela via dos chamados “investidores privados” da estatal.

As “gerências” petistas a frente do Estado capitalista também não impulsionaram a construção de novas refinarias no país (seguindo à risca os “conselhos” do Tio Sam), ao contrário retardaram ao máximo a implantação dos complexos petroquímicos de Campos e Recife, e ainda por cima meteram as “mãos pelos pés” na compra da sucata texana... Somente um governo operário, profundamente identificado com as causas nacionais do nosso povo, terá capacidade para enfrentar a questão secular de nossa subserviência aos ditames imperiais que pretendem manter por muitos séculos o atraso do nosso país, e que neste momento ameaçam a existência da própria Petrobras.