segunda-feira, 3 de março de 2014


Recuo forçado da ofensiva imperialista na Síria e Ucrânia fortaleceu a Rússia como contraponto global à política de “terra arrasada” dos “Donos do Mundo”

A firme postura da Rússia na atual crise ucraniana poderá ter surpreendido muitos analistas políticos acostumados a assistir às constantes capitulações diante do imperialismo ianque do bando restauracionista que tomou o poder na ex-URSS a partir do início dos anos 90. Os EUA tripudiou impunemente do Estado líbio, arrasando e saqueando uma nação inteira, sem ter encontrado uma única resistência internacional em oposição à sua investida assassina contra um país soberano. Obama seguia tranquilo e impunemente a trilha política deixada pelo facínora Bush, que invadiu o Iraque e Afeganistão sem que as outras duas potências militares mundiais, China e Rússia, movessem uma “única palha” para deter a sanha criminosa do imperialismo ianque. Porém, a “águia imperial” quando já afiava suas garras para atacar a Síria, vítima da mesma estratégia da CIA de fomentar “revoluções democráticas” em países adversários, encontrou desta vez uma considerável “trave militar” no eixo formado pelo Irã e Rússia em socorro do regime Assad. Obama que já tinha anunciado em cadeia mundial o ataque à Síria, baseado em uma covarde provocação montada pelos “rebeldes”, foi obrigado a recuar ante a possibilidade de deflagrar um conflito militar internacional envolvendo o poderio bélico russo. Acontece que os abutres ianques se mostram muito “corajosos” quando se trata de agredir uma nação que sequer conseguiu colocar sua frota de caças no ar para se defender, como ocorreu na Líbia, mas quando a questão é combater em igualdade de condições os Mig ou Sukoy (projetados ainda na era soviética), os F16 ou F18 norte americanos não demonstram a mesma “valentia”. Na Ucrânia os atuais “revolucionários” da praça Maidan em Kiev, amantes de Mussolini e Obama, não tiveram muita dificuldade para afugentar do governo o covarde Yanukovich, apesar das mortes que ocorreram em ambos os lados, mas quando Putin anunciou que não deixaria isolados os compatriotas da Crimeia, logo as milícias fascistas foram pedir ajuda ao Tio Sam que além de “espernear” e ameaçar a Rússia com sanções econômicas, não se mostrou disposto mais uma vez a enfrentar militarmente os remanescentes  do antigo Exército Vermelho.

Ceder a península da Crimeia para a centralização de um governo abertamente manietado por Washington, como é o caso de Turchinov do Partido Pátria, significaria para a Rússia não somente perder seu controle histórico de suas bases navais no Mar Negro, mas deixar no “vazio” uma região muito próxima dos graves conflitos militares que se avizinham, a saber Irã e a própria Síria. A camarilha de Putin, apesar de ser herdeira política direta da contrarrevolução social comandada por Boris Yeltsin, que colocou a “grande Rússia” de joelhos diante dos EUA, pensa em retomar o velho projeto nacionalista de um setor da burocracia stalinista, só que agora não mais voltado a Europa do Leste e sim ao lado oriental e asiático. A Rússia de hoje não está mais “quebrada” financeiramente como na era Yeltsin, sua vertiginosa recuperação econômica após o verdadeiro saque sofrido logo após a restauração capitalista é produto das grandes reservas naturais (gás, petróleo e minerais) que não puderam ser roubadas e também do avançado acúmulo tecno-científico oriundo do Estado soviético. Os que afirmaram que na URSS só existia “sucata” agora são obrigados a se calar quando estão sendo colocados em marcha os projetos “arquivados” (nos setores espacial e bélico) pelo bêbado entreguista Boris Yeltsin.

Contra as atuais iniciativas da Rússia no cenário mundial se levantam as vozes da esquerda reformista (PCs) e revisionista (LIT e similares) afirmando que se trata de um “novo imperialismo”, tão letal e “autoritário” para os povos quanto o velho imperialismo europeu ou norte-americano. Nós Trotsquistas da LBI que estivemos na primeira fileira da defesa da URSS e dos Estados operários do leste europeu quando estes estavam sendo atacados pelas forças internas da “contrarrevolução democrática”, fomos acusados de “stalinofílicos” por revisionistas de grande calibre como o PSTU e o PCO. Estes agrupamentos defenderam raivosamente o que qualificavam de “revoluções antiburocráticas”, seja na queda do Muro de Berlim ou o golpe de estado de Yeltsin desferido contra os generais stalinistas. O PCO, por exemplo, chegou a saudar a anexação capitalista da Alemanha Oriental como o maior “fato revolucionário do final do século XX” (talvez tenha sido exatamente o contrario!). Por termos defendido programaticamente as conquistas operárias existentes na URSS, hoje temos moral política para afirmar que a contrarrevolução que varreu o leste europeu não pariu uma Rússia imperialista. Eliminou sim as conquistas históricas do proletariado soviético, mas não deu lugar ao nascimento de um novo imperialismo. A possibilidade da queda da URSS, pela via da reação fascista interna, foi teorizada por Trotsky em seu clássico livro “A revolução traída”, onde este afirmou categoricamente que no caso da restauração capitalista ocorrer a URSS seria transformada: “Em uma grande semicolônia do imperialismo”. O contemporâneo expansionismo geopolítico e militar russo nada tem a ver com a rigorosa definição Leninista de imperialismo, como sendo a “exportação do capital financeiro por meio da força”, ao contrário é reflexo direto da reação nacionalista da “jovem” burguesia russa, oprimida pelo capital imperialista alemão.

Para um setor da esquerda reformista (PCdoB, MEP, PRC etc...) a Rússia já era imperialista desde a época que integrava a URSS. Para os “teóricos” desta ala da esquerda o fato da URSS ter criado o Pacto de Varsóvia, como um contraponto militar à formação da OTAN, era a comprovação material de suas teses políticas acerca da existência do “social imperialismo”. O que o regime nacionalista burguês que Putin busca instaurar hoje na Rússia, e paralelamente também como uma afirmação militar internacional, se assemelha mais é ao antigo Pacto de Varsóvia (embora com outra natureza de classe) do que do caráter clássico do imperialismo, intervindo em nações para subordiná-las ao capital financeiro no cassino de Wall Street. Não por coincidência, neste mesmo momento “crítico” que vive a Ucrânia, Putin anunciou a disposição de seu governo em instalar bases militares russas na Venezuela, Cuba, Nicarágua, Vietnã e Irã.

Como Marxistas Revolucionários não devemos subordinar os interesses históricos, nem tampouco a independência de classe do proletariado mundial a nenhum regime capitalista, seja nacionalista burguês ou não. Mas não podemos ocultar a profunda polarização política que hoje cruza o planeta, e onde desgraçadamente o proletariado não joga o papel protagonista principal. Neste cenário mundial onde os governos nacionalistas burgueses são o alvo central da ofensiva neoliberal do capital financeiro, seria criminoso se um partido revolucionário adotasse o abstencionismo como estratégia, ou pior ainda se colocasse no campo programático das “revoluções democráticas” fabricadas nos laboratórios políticos da Casa Branca. A Rússia começa a emitir os primeiros sinais políticos, ainda bem fracos é verdade, que pretende galvanizar um movimento internacional para bloquear parcialmente a ofensiva imperialista contra os povos e nações em pleno curso máximo. O proletariado deve guardar uma “saudável desconfiança” destes movimentos militares dirigidos pela burguesia restauracionista russa no teatro de operação de guerra, assim como sempre atuar com toda firmeza na conformação de blocos táticos, com setores nacionalistas e anti-imperialistas, cujo objetivo central é a derrota em toda linha do “monstro guerreirista” que habita a Casa Branca. Só nesta senda recolocaremos a questão da revolução socialista, como o primeiro ponto da pauta na construção de um novo poder proletário global.