Recuo forçado da
ofensiva imperialista na Síria e Ucrânia fortaleceu a Rússia como contraponto
global à política de “terra arrasada” dos “Donos do Mundo”
A firme postura da
Rússia na atual crise ucraniana poderá ter surpreendido muitos analistas políticos
acostumados a assistir às constantes capitulações diante do imperialismo
ianque do bando restauracionista que tomou o poder na ex-URSS a partir do
início dos anos 90. Os EUA tripudiou impunemente do Estado líbio, arrasando
e saqueando uma nação inteira, sem ter encontrado uma única resistência
internacional em oposição à sua investida assassina contra um país soberano.
Obama seguia tranquilo e impunemente a trilha política deixada pelo facínora Bush,
que invadiu o Iraque e Afeganistão sem que as outras duas potências militares
mundiais, China e Rússia, movessem uma “única palha” para deter a sanha
criminosa do imperialismo ianque. Porém, a “águia imperial” quando já afiava
suas garras para atacar a Síria, vítima da mesma estratégia da CIA de fomentar “revoluções
democráticas” em países adversários, encontrou desta vez uma considerável “trave
militar” no eixo formado pelo Irã e Rússia em socorro do regime Assad. Obama
que já tinha anunciado em cadeia mundial o ataque à Síria, baseado em uma
covarde provocação montada pelos “rebeldes”, foi obrigado a recuar ante a
possibilidade de deflagrar um conflito militar internacional envolvendo o
poderio bélico russo. Acontece que os abutres ianques se mostram muito “corajosos”
quando se trata de agredir uma nação que sequer conseguiu colocar sua frota de
caças no ar para se defender, como ocorreu na Líbia, mas quando a questão é
combater em igualdade de condições os Mig ou Sukoy (projetados ainda na era
soviética), os F16 ou F18 norte americanos não demonstram a mesma “valentia”.
Na Ucrânia os atuais “revolucionários” da praça Maidan em Kiev, amantes de
Mussolini e Obama, não tiveram muita dificuldade para afugentar do governo o
covarde Yanukovich, apesar das mortes que ocorreram em ambos os lados, mas
quando Putin anunciou que não deixaria isolados os compatriotas da Crimeia,
logo as milícias fascistas foram pedir ajuda ao Tio Sam que além de “espernear”
e ameaçar a Rússia com sanções econômicas, não se mostrou disposto mais uma vez
a enfrentar militarmente os remanescentes
do antigo Exército Vermelho.
Ceder a península da Crimeia
para a centralização de um governo abertamente manietado por Washington, como é
o caso de Turchinov do Partido Pátria, significaria para a Rússia não somente
perder seu controle histórico de suas bases navais no Mar Negro, mas deixar no “vazio”
uma região muito próxima dos graves conflitos militares que se avizinham, a
saber Irã e a própria Síria. A camarilha de Putin, apesar de ser herdeira política
direta da contrarrevolução social comandada por Boris Yeltsin, que colocou a “grande
Rússia” de joelhos diante dos EUA, pensa em retomar o velho projeto
nacionalista de um setor da burocracia stalinista, só que agora não mais
voltado a Europa do Leste e sim ao lado oriental e asiático. A Rússia de hoje
não está mais “quebrada” financeiramente como na era Yeltsin, sua vertiginosa
recuperação econômica após o verdadeiro saque sofrido logo após a restauração
capitalista é produto das grandes reservas naturais (gás, petróleo e minerais)
que não puderam ser roubadas e também do avançado acúmulo tecno-científico
oriundo do Estado soviético. Os que afirmaram que na URSS só existia “sucata”
agora são obrigados a se calar quando estão sendo colocados em marcha os
projetos “arquivados” (nos setores espacial e bélico) pelo bêbado entreguista
Boris Yeltsin.
Contra as atuais iniciativas
da Rússia no cenário mundial se levantam as vozes da esquerda reformista (PCs)
e revisionista (LIT e similares) afirmando que se trata de um “novo
imperialismo”, tão letal e “autoritário” para os povos quanto o velho
imperialismo europeu ou norte-americano. Nós Trotsquistas da LBI que estivemos
na primeira fileira da defesa da URSS e dos Estados operários do leste europeu
quando estes estavam sendo atacados pelas forças internas da “contrarrevolução
democrática”, fomos acusados de “stalinofílicos” por revisionistas de grande
calibre como o PSTU e o PCO. Estes agrupamentos defenderam raivosamente o que
qualificavam de “revoluções antiburocráticas”, seja na queda do Muro de Berlim
ou o golpe de estado de Yeltsin desferido contra os generais stalinistas. O PCO,
por exemplo, chegou a saudar a anexação capitalista da Alemanha Oriental como o
maior “fato revolucionário do final do século XX” (talvez tenha sido exatamente
o contrario!). Por termos defendido programaticamente as conquistas operárias
existentes na URSS, hoje temos moral política para afirmar que a
contrarrevolução que varreu o leste europeu não pariu uma Rússia imperialista.
Eliminou sim as conquistas históricas do proletariado soviético, mas não deu
lugar ao nascimento de um novo imperialismo. A possibilidade da queda da URSS,
pela via da reação fascista interna, foi teorizada por Trotsky em seu clássico
livro “A revolução traída”, onde este afirmou categoricamente que no caso da
restauração capitalista ocorrer a URSS seria transformada: “Em uma grande semicolônia
do imperialismo”. O contemporâneo expansionismo geopolítico e militar russo
nada tem a ver com a rigorosa definição Leninista de imperialismo, como sendo a
“exportação do capital financeiro por meio da força”, ao contrário é reflexo direto
da reação nacionalista da “jovem” burguesia russa, oprimida pelo capital
imperialista alemão.
Para um setor da
esquerda reformista (PCdoB, MEP, PRC etc...) a Rússia já era imperialista desde
a época que integrava a URSS. Para os “teóricos” desta ala da esquerda o fato
da URSS ter criado o Pacto de Varsóvia, como um contraponto militar à formação
da OTAN, era a comprovação material de suas teses políticas acerca da
existência do “social imperialismo”. O que o regime nacionalista burguês que Putin
busca instaurar hoje na Rússia, e paralelamente também como uma afirmação
militar internacional, se assemelha mais é ao antigo Pacto de Varsóvia (embora
com outra natureza de classe) do que do caráter clássico do imperialismo,
intervindo em nações para subordiná-las ao capital financeiro no cassino de Wall Street. Não por
coincidência, neste mesmo momento “crítico” que vive a Ucrânia, Putin anunciou
a disposição de seu governo em instalar bases militares russas na Venezuela, Cuba, Nicarágua, Vietnã e Irã.